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R. do Sol: A babá que não sabia costurar e foi parar na moda praia internacional
Reportagem Seriada

R. do Sol: A babá que não sabia costurar e foi parar na moda praia internacional

| Almira Gomes | Resiliência marca a história da jovem que perdeu a mãe aos 14 anos e ajudou o pai a cuidar dos irmãos. A decisão acertada de vir para Fortaleza acumula trabalho de babá e costureira em uma confecção até empreender e ter a sua própria empresa e grupo de moda praia
Episódio 11

R. do Sol: A babá que não sabia costurar e foi parar na moda praia internacional

| Almira Gomes | Resiliência marca a história da jovem que perdeu a mãe aos 14 anos e ajudou o pai a cuidar dos irmãos. A decisão acertada de vir para Fortaleza acumula trabalho de babá e costureira em uma confecção até empreender e ter a sua própria empresa e grupo de moda praia
Episódio 11
Tipo Notícia Por

 

O nome que Almira Gomes escolheu para sua marca, a R.do Sol, traduz para ela as palavras força, determinação e brilho. São reflexos de sua trajetória de vida, segundo os mais próximos.

Mesmo tendo uma infância pobre no interior do Piauí, a empresária de beachwear (moda praia) é só gratidão de tudo que aconteceu em sua vida.

Ainda jovem, aos 14 anos, perdeu a mãe na hora do parto com um irmão na barriga. Viu-se no comando da família ao lado do pai para criar os irmãos que se mantêm unidos até hoje.

Veio de uma conhecida de sua cidade natal o convite para mudar para Fortaleza e a chance de prosperar para arrumar dinheiro para sobrevivência dos irmãos.

Considera que as rezas fortes do pai foram determinantes e o que a manteve longe dos perigos da cidade grande, na chegada a Fortaleza. Por aqui, diz que só encontrou pessoas que lhe estenderam a mão e espaço para colocar o que melhor sabe fazer: cuidar do próximo.

Almira Gomes Ferreira chegou em Fortaleza ainda na adolescência para trabalhar de babá e empregada doméstica. Hoje é dona de uma das grandes marcas de beachwear do Estado(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Almira Gomes Ferreira chegou em Fortaleza ainda na adolescência para trabalhar de babá e empregada doméstica. Hoje é dona de uma das grandes marcas de beachwear do Estado

O primeiro emprego de babá permanece até hoje na lembrança. Depois a coragem de ir trabalhar em uma confecção sem ao menos costurar. Aprendeu e executou muito bem. Hoje, a grande oportunidade, que a fez cumprir a promessa feita ao pai de trazer todos para Fortaleza, virou terapia no fim do dia.

Com a chegada do primeiro filho, Felipe, e sem condições de trabalhar fora, a saída foi empreender e alugou uma máquina de costura.

Seus biquínis fizeram sucesso no Conjunto Rosalina, bairro que morava, nas comunidades vizinhas, no Beco da Poeira, no Maraponga Mart Moda, na avenida Monsenhor Tabosa, na Beira-Mar, no Beach Park, em Jericoacoara, em Salvador, no Rio de Janeiro, em Punta Cana, em Dubai e nos Estados Unidos. Agora a meta é conquistar a Europa.

Aos 57 anos, casada e com dois filhos, Felipe, 29, e Lucas, 24, Almira abriu sua casa, sua fábrica e sua vida ao contar essa trajetória, com o desejo de seguir trabalhando até mais de 80 anos e que os filhos prossigam com a empresa e a tornem centenária. Confira a entrevista exclusiva concedida ao O POVO.

 

 

Conheça os números da empresa

O POVO - Quais as lembranças da infância no interior do Piauí? Como era a relação com seus pais (agricultor e dona de casa), familiares e os irmãos?

Almira Gomes - Minha infância foi bem legal dentro do que a gente tinha lá. A gente era normal, porque a gente não tinha energia elétrica, não tinha veículos de comunicação, digamos.

A gente brincava com o que tinha, brincadeiras de roda, brincadeira de pega-pega, fazíamos bonecos das árvores e das espigas de milho. Era divertido e eu era bem feliz. A relação com meus pais foi uma relação muito boa, nós somos seis irmãos, sou a mais velha.

Almira e os irmãos nasceram no interior do Piauí(Foto: Arquivo Empresa R de Sol)
Foto: Arquivo Empresa R de Sol Almira e os irmãos nasceram no interior do Piauí

Era uma relação de muito carinho, de muito amor, meus pais eram muito humildes, mas eram muito amorosos. Convivi com a minha mãe até os quatorze anos, foi quando ela faleceu “de parto” do oitavo filho.

Lá, como não tinha recurso, ela faleceu com o bebê na barriga, não tinha como saber, então ela foi enterrada com bebê na barriga. Era tempo de parteiros.

O POVO - O que aprendeu com seus pais que traz até hoje e repassa aos filhos?

Almira – Ser muito honesta, muito amorosa, muito família. Ele trabalhava para a gente, para nossa família, ele é agricultor, mas eu tinha muito cuidado, então tudo dele era para família. Isso veio, eu aprendi muito de ser uma pessoa de compartilhar, ele compartilha muito as coisas assim.

Morávamos em uma comunidade que eram meus avós, meus tios e nós. A gente morava às margens do Rio Parnaíba, na Coroa de São Remígio, em Buriti do Norte. Essa questão de ser muito amoroso, de compartilhar, dividir as coisas, eu acho que eu trouxe isso.

Lucas (branco) cuida das questões operacionais da fábrica, já Felipe Guimarães atua nas questões administrativas do Grupo AGF(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Lucas (branco) cuida das questões operacionais da fábrica, já Felipe Guimarães atua nas questões administrativas do Grupo AGF

Meus filhos são disso também de ser muito proativo com a família, o que é nosso a gente divide, a gente trabalha pelo mesmo objetivo.

Meu pai era um homem muito sábio. Ele era analfabeto, mas se ele era um homem muito sábio. Ele também tinha ficado órfão quando criança e criou os irmãos e aí depois criou os filhos sozinho, né?

O POVO - Tem alguma coisa que ele lhe dizia que ficou na mente da senhora?

Almira - Quando eu vim para Fortaleza eu era muito menina e meu pai dizia: 'Minha filha, seja muito honesta, nunca tire de ninguém, porque você é levado em dobro do que você pegou'. Ele ensinava muito essa questão da honestidade e de ser uma pessoa que acredite muito no ser humano.

Ele acreditava que eu vinha pra cá e nada de ruim ia me acontecer, porque ele tinha certeza que eu ia encontrar pessoas boas. Ele ficou lá com o coração partido, mas ele tinha aquela esperança que o mundo era bom, porque lá a gente não conhecia maldade nenhuma.

Fui criada num ambiente de muito carinho, de que não tinha maldade, que não tinha esse medo do mundo, esse medo das pessoas não.

O POVO – Voltando para a perda da sua mãe aos 40 anos dela e 14 seus. Como se sentiu naquele momento?

Almira - Uma menina no Interior com 14 anos, nos anos de 1980, achava que ia ficar com minha mãe a vida toda, que ela ia morrer na velhice. Então eu fiquei sem chão. Ela e meu pai viviam para a família, vivam para gente, então o meu pai deu todo esse apoio para a gente.

Eu falo muito assim do meu pai porque lá no Interior, quando um homem ficava com seis crianças pequenas, eu era mais velha com 14 e de lá vinha descendo, somos diferença de um ano só, e as pessoas pediam: 'Dá essa menina para eu criar', porque ele tinha que trabalhar na roça para criar gente.

Ainda no Piauí, aos 14 anos, Almira perdeu mãe na hora do parto de um irmão e decidiu ajudar o pai a criar os demais irmãos(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Ainda no Piauí, aos 14 anos, Almira perdeu mãe na hora do parto de um irmão e decidiu ajudar o pai a criar os demais irmãos

Mas ele nunca deu e sempre falou que ia dar conta de criar a gente. Ele foi muito presente na nossa vida. Aí quando eu vim, vim com uma promessa de trazer ele. Mas eu não tinha nem noção de distância de lá para Fortaleza.

E eu vim com esse propósito de vir trabalhar para trazer a minha família para cá. E eu trouxe todos eles!

O POVO – E por que Fortaleza?

Almira - Tinha uma pessoa que morava aqui em Fortaleza que era lá do meu Interior e ela voltou lá para visitar os pais. Quando ela chegou, ela disse que precisava levar uma pessoa junto para ser babá.

Me convidou e aceitei o desafio de vim. Conversei em casa e disse: "Papai, eu tenho que ir porque é uma oportunidade deu trabalhar e mandar dinheiro para o senhor e para ajudar a criar meus irmãos". Vi uma oportunidade, pois ali só ia ajudar a cuidar, mas não ia ter dinheiro para ele comprar alimentação. 

Passei a responsabilidade para minha irmã que estava com 13 anos cuidar deles. Eu vim e, graças a Deus, encontrei pessoas muito boas. Eu era muito criança já para trabalhar e as pessoas me acolheram muito bem, foi meu primeiro emprego esse de babá.

Eu cuidava de uma menina e eu passei muito tempo nessa casa até eu ir para confecção. Mandava todo o dinheirinho que recebi.

O POVO - Depois suas irmãs também vieram?

Almira - Sim. Depois de um tempo veio essa, que ficou cuidando deles, para Fortaleza e a mais nova antes dela ficou no lugar. Depois ela veio também. Chegamos a ser três aqui, trabalhávamos e mandávamos todo o dinheiro para lá.

Minha irmã trabalhava numa casa que a pessoa era muito bacana com ela. Aí quando eu arranjei um dinheiro trabalhando já na confecção, mas não tinha onde morar. Aí fui pedir para a patroa da minha irmã um quartinho para ela me alugar.

Eu não tinha nem dinheiro para alugar, mas fui pedir (risos). Ela não me alugou e disse para eu ficar lá, sem pagar, e ela disse para eu juntar o dinheiro para eu e minhas irmãs para comprar um local para morar e trazer meu pai.

Assim nós fizemos. Juntamos nosso dinheiro, nessa época já eram três irmãs trabalhando, e compramos uma casa em oito anos.

O POVO - Quais os aprendizados da vida como babá, no seu primeiro emprego?

Almira - De cuidar. Acho que de cuidar do outro. De estar ali cuidando de uma pessoa não só pelo dinheiro, mas ter uma responsabilidade. Eu fui uma mãe prematura, porque eu fui uma mãe para os meus irmãos, e tive que assumir ali o papel da minha mãe.

Depois eu vim cuidar de uma criança que também repassei esse sentimento de cuidado. É uma espécie de uma responsabilidade muito jovem. Eu sempre fui uma pessoa muito responsável. Eu sempre fui a melhor funcionária, quando eu trabalhei nas empresas, eu me doavam muito.

E acredito que sou uma boa patroa e cuido dos outros. Temos uma menina que mora aqui com a gente há muito anos. Ela engravidou e teve o bebê dela aqui, ela o criou aqui e ele está com 10 anos.
Esse ano, por conta do colégio, ela foi para o bairro que morávamos, demos uma casa para ela morar.

Tenho o cuidado com os que estão mais próximos, plantando uma sementinha e passando esse legado de estar cuidando do outro.

O POVO - Por que decidiu procurar emprego em confecção mesmo não sabendo costurar?

Almira - Eu queria um salário melhor e a costura era o que eu conhecia mais próximo de profissão. Como eu vim do Interior, as pessoas lá ou eram costureiras ou eram professoras e eu me identificava muito com a costura.

Após aprender a costurar por necessidade, hoje a máquina serve como hobby para no fim do dia aliviar a agenda atribulada (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Após aprender a costurar por necessidade, hoje a máquina serve como hobby para no fim do dia aliviar a agenda atribulada

Foi na costura que eu vi a oportunidade de um emprego. Eu fui para a fábrica mesmo sem saber costurar pois era um desafio. Eu não sabia costurar mas tinha a certeza que eu ia aprender, como aprendi os outros processos além da costura.

 

 

Conheça o legado familiar: descendentes

Filhos - Lucas e Felipe / Netos - Não tem 

 

O POVO - Como foi a chegada dos filhos na família e a ideia de empreender?

Almira - A chegada de um filho muda toda a sua vida. É muito esperado, mas muda toda a sua rotina. E com a chegada do meu filho o que mudou foi que eu não consegui mais trabalhar fora. Eu não tinha como pagar uma pessoa para cuidar dele.

Assim que o primeiro filho nasceu, Felipe, Almira alugou uma máquina de costura para começar a empreender em casa. Esse foi o primeiro passo para o crescimento(Foto: Arquivo Empresa R de Sol)
Foto: Arquivo Empresa R de Sol Assim que o primeiro filho nasceu, Felipe, Almira alugou uma máquina de costura para começar a empreender em casa. Esse foi o primeiro passo para o crescimento

Então eu tinha que cuidar e eu tinha que ter algum trabalho que fosse em casa para eu poder cuidar dele e ter o sustento. Como eu já estava na área da costura, resolvi comprar tecidos, eu mesma fazia, eu mesma vendia.

Primeiro eu comecei vendendo no bairro para os vizinhos, depois para os amigos pois morávamos num residencial que era pequeno. Foi quando eu decidir procurar venda fora. Eu até encontrei uma pessoa, eu fabricava e ele vendia, estava tudo tranquilo, mas essa pessoa sofreu um acidente e veio a falecer.

Mais uma vez o destino me colocou mais um desafio, de procurar o cliente. Foi quando eu fui para as feiras vender.

O POVO - Sua irmã Rosa Almira a ajudava nessa época? Começaram vendendo 10 biquínis no Beco da Poeira?

Almira – Fui lá, levei as peças e vendi super bem e aí veio a procura, foi aumentando, aumentando e foi quando eu chamei minha irmã para trabalhar comigo. Foi muito bacana, porque quando eu cheguei na feira para vender o meu produto já era diferenciado.

Diferentemente do que as pessoas costumavam comprar, ele tinha qualidade, era bem-acabado. A gente fabricava dez, eu levava, vendia tudo, depois levava cem, eu chegava lá era só para entregar. Foi muito bom assim, ela está comigo desde início e de todo crescimento da empresa.

Depois trouxe minha segunda irmã, Francisca das Chagas, depois o meu irmão, a minha cunhada e a gente foi formando uma equipe. A empresa foi crescendo daí a gente já não estava dando conta dos pedidos, foi quando pensamos em registrar a empresa e contratar pessoas. Contratamos e deslanchamos mesmo para vendas.

Solteiros, ambos os filhos, residem com os pais e compartilham na vida pessoal algumas pautas do trabalho(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Solteiros, ambos os filhos, residem com os pais e compartilham na vida pessoal algumas pautas do trabalho

O POVO – Do começo das dez peças até esse registro da empresa e começar a tua equipe foram quantos anos? - E a primeira fábrica foi lá no bairro mesmo?

Almira – Foram uns três anos. Deu um boom quando saí do bairro e comecei a vender em outros locais da Cidade. Começamos na sala da minha casa e depois quando vieram as demandas eu fiz um galpão no quintal. Foi quando eu registrei a empresa.

Com o crescimento eu comprei a casa em frente e aí eu troquei. Construí a minha casa e a minha casa eu fiz a fábrica. Ficamos bastante tempo no bairro, 18 anos, a empresa cresceu lá e nossos colaboradores eram de lá.

Entre os planos de expansão da R. do Sol está a conquista do mercado europeu(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Entre os planos de expansão da R. do Sol está a conquista do mercado europeu

Dávamos prioridade para pessoas de lá. Eles eram do Conjunto Rosalina, no Parque Dois irmãos. Com o crescimento começaram a vir de outros bairros ao redor também.

Hoje, mudamos para o Distrito Industrial de Maracanaú, para a empresa crescer, quando mudamos tinham mais de 50 colaboradores que moravam vizinho a fábrica.

Nós os levamos para lá. E fazíamos na comunidade muitos trabalhos manuais. Nesses 18 anos a fábrica teve um impacto muito bom dentro do bairro.

O POVO – Em Maracanaú, como foi a chegada?

Almira – Veio a necessidade de ir para lá, por conta do crescimento e já não cabia mais a empresa dentro de um bairro. Temos uma parceria com uma multinacional e todos os critérios já não cabiam mais ali dentro para crescermos com essa empresa. Tínhamos que ir para um galpão maior.

Após a fábrica no Conjunto Rosalina, no Parque Dois irmãos, ficar pequena para os negócios a empresa mudou-se para Maracanaú(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Após a fábrica no Conjunto Rosalina, no Parque Dois irmãos, ficar pequena para os negócios a empresa mudou-se para Maracanaú

O POVO - Quais foram os desafios com esse salto da R.do Sol?

Almira – De positivo foi o crescimento da empresa. Se eu tinha necessidade de registrar é porque eu já estava mais segura daquilo que estava me propondo a fazer. Estava deixando de ser informal e tinha um novo mercado para desbravar.

E eu só conseguiria desbravar esse mercado realmente se eu fosse formalizada. Ainda com muito medo, porque tem todas essas questões tributárias e custos que tem que levar para dentro do produto que eu antes eu não tinha. Minha insegurança era essa.

O POVO – Estar com o apoio dos irmãos e dos meninos ao lado foi fundamental?

Almira - Foi muito fundamental ter o apoio da minha família, dos meus irmãos, pois a gente se fortalece. Eu vi que ali os desafios não iam ser tão difíceis com eles, estava fazendo dos desafios uma escada e estávamos unidos.

Eu sempre dizia a eles que se tudo desse errado, nós estávamos juntos, e começaríamos de novo. Sem nenhum problema. É de negativa eu acredito que não foram tantas coisas, porque eu não almejei ter uma empresa, eu queria ter uma oportunidade para trabalhar.

Entre os 150 colaboradores do Grupo AGF estão os filhos, irmãos, sobrinhas e o tio de Almira(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Entre os 150 colaboradores do Grupo AGF estão os filhos, irmãos, sobrinhas e o tio de Almira

Essa oportunidade ela virou gerou um negócio que não estava nem almejando. E as coisas foram acontecendo, foram crescendo e os desafios foram aparecendo em outras proporções. Os desafios não param ser empreendedor é isso.

O POVO - Quando aconteceu a virada de chave com o evento em São Paulo, em 2010?

Almira – Foi quando eu planejei fazer uma coleção, eu já tinha aberto uma loja na rua Monsenhor Tabosa e aí eu vi que no varejo era preciso planejar as coleções. Entrando no calendário da moda mesmo. Eu vi que o meu produto tinha uma demanda, que já estava além daquilo que eu tinha planejado aqui para o mercado local.

E foi quando nós fomos para a feira, que foi um desafio, pois fomos sem ter agendamento de cliente e na busca de estar ali fazendo a captação de clientes. E foi muito positivo.

Lucas Guimarães ajuda a mãe no dia a dia operacional da produção das peças de moda praia e resort(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Lucas Guimarães ajuda a mãe no dia a dia operacional da produção das peças de moda praia e resort

Tivemos contato com empresas, fechamos negócios. Foi só nossa equipe da fábrica, mas tiramos vários pedidos e tivemos vários contatos, um deles foi muito positivo que é uma parceria que a gente já está há mais de dez anos com uma empresa francesa.

Ela só cresce. Foi essa parceria de private label que tornou a empresa mais formal. Eles me ensinaram o que é um parque industrial. Hoje trabalhamos com processos e estamos preparados para a exportação. Foi uma escola, eles nos ajudaram muito. Foi uma escola. Temos auditorias constantes.

O POVO - A senhora tem filhos e irmãos nos negócios o que é o melhor em trabalharem juntos?

Almira – É muito prazeroso e isso me traz uma segurança e uma certeza de que eles vão dar continuidade. Felipe vai fazer 30 anos e o Lucas 25. O chão de fábrica foi minha escola e minha faculdade, mas eu precisava e preciso de conhecimento e a cada dia a gente está buscando se preparar melhor, mas os meninos já têm a teoria e a prática.

Felipe fez Engenharia de Produção e o Lucas está fazendo Administração e Economia. Isso me dá uma segurança, porque estamos em família e eles estão cuidando do próprio negócio. Eles estão trazendo essa parte técnica. Eles me dizem: 'Mamãe, a senhora trouxe até aqui sem esse conhecimento técnico, mas precisamos aprimorar'. Acredito que eles ainda farão melhor.

Quanto temos reuniões a gente debate, mas sempre chegamos num consenso. O que mistura é que o trabalho acaba vindo para casa, pois os meus dois filhos ainda moram comigo.

O POVO – Como concilia os filhos, irmãos, sobrinhos e tio trabalhando na empresa?

Almira - Não é difícil. Porque eles são bem disciplinados. É até prazeroso trabalhar com a família. A gente não mistura, quando eles estão aqui, eles estão trabalhando. Nossos momentos familiares são fora.

Aqui dentro, apesar de a empresa ser uma empresa familiar, a gente sabe dividir isso. Aqui dentro eles têm horários, metas. Pelo outro lado é muito satisfatório, porque como eu sempre digo para os meus filhos que tudo foi para a família e eu consegui trazer eles para a empresa.

Isso é muito gratificante (emociona-se). Temos resultado trabalhando no ambiente industrial e familiar ao mesmo tempo.

O POVO – E como é a rotina?

Almira – Eu acordo mais cedo que os meninos e já vou para a fábrica e costumo ser a última a sair. Gosto de tomar café na fábrica, com a equipe. Eu sou pé fincado na fábrica, assim como Lucas. Já Felipe, por ser administrativo, também vai a reuniões externas e no escritório na avenida Santos Dumont, em Fortaleza.

Aos fins de semana a gente, quando está em casa, às vezes, ainda discute os negócios (risos). Eu trabalho de segunda a sábado até fim da tarde. Eu gosto muito do que eu faço. É muito prazeroso.

E aos domingos eu vou para o bairro onde morava e toda a minha família mora lá. Como moramos muito tempo lá é bom ir lá. O bairro é familiar com cadeiras nas calçadas. Converso com os vizinhos, todos se conhecem. É prazeroso ir lá.

O POVO - O que é mais gratificante na vida de empresária?

Almira - Eu pude, através da minha empresa, oferecer para minha família aquilo que eles não tiveram. (emoção e lágrima). A gente trabalha para conseguir ajudar o próximo. E ver a conquista de cada um, da minha família, dos colaboradores... Isso é muito gratificante. Eu ver a transformação da vida das pessoas que conheço.

Funcionários que compraram casa própria e estão realizando sonhos, carro, colocaram filhos na faculdade, tudo isso é uma vitória para mim. Tem chão de fábrica com filhos cursando Medicina.

Mesmo da minha família, tenho sobrinhos fazendo Direito e Medicina. A gente trabalha muito junto para um objetivo junto. Isso é muito gratificante. O que eu tenho a gente usufrui juntos. Como empresária me dá uma satisfação, porque eu sinto que fui escolhida e eu digo assim: "Deus me deu uma missão".

Almira tem paixão pelo que faz e trabalha de segunda a sábado semanalmente para acompanhar todos os processos(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Almira tem paixão pelo que faz e trabalha de segunda a sábado semanalmente para acompanhar todos os processos

Quando ele me escolheu ele sabia que era um desafio para mim, mas que eu ia honrar. É muito difícil hoje você ser empreendedor. Tem as dificuldade, a gente passou aí por um período bem complicado que foi a Covid-19.

Eu ia todos os dias, pois eu recebi um documento da Prefeitura de Maracanaú, que dava direito para eu transitar. Era um dos momentos mais difíceis, porque dentro da minha trajetória de empresária eu fui só galgando, crescendo dentro do negócio e quando veio a pandemia tudo parou e eu não sabia o que ia acontecer depois daquele ali.

O POVO – Como foi com os funcionários?

Almira – Paramos numa quinta-feira, em março, achando que voltaríamos na segunda, mas não aconteceu. Mas o salário dos funcionários era a nossa prioridade.

Não mandamos ninguém embora. Conseguimos mandar máquinas para a casa dos funcionários e mandávamos os produtos e eles puderam trabalhar de casa, entre março e junho.

Como tínhamos pessoas de idade, eles não podiam voltar. Nós reinventamos e começamos a fazer máscaras e aventais para de alguma forma ajudar. Além do salário era uma renda extra para as colaboradoras. Fizemos para a Prefeitura de Maracanaú.

Após iniciar os negócios alugando uma máquina de costura, Almira comanda uma ampla equipe de costureiras(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Após iniciar os negócios alugando uma máquina de costura, Almira comanda uma ampla equipe de costureiras

Quando vinha para cá e via tudo vazio dava um desespero. Perdemos pessoas, minha primeira costureira, pessoas da família, minha cunhada. O medo chegou. Até então eu não tinha, mas quando chegou perto pensei, que não podíamos brincar com isso.

Fechamos a fábrica com uma coleção inteira pronta e não podíamos mandar, porque as multimarcas estavam fechadas. Nesses quase 30 anos foi o momento mais difícil. Mas quando voltou, graças a Deus, tínhamos produtos prontos e conseguimos vender.

Isso serviu de aprendizado também, pois não tínhamos uma venda de e-commerce, omnichannel, novas parcerias. A gente já era humano e nos tornamos mais humanos ainda.

O POVO - O que pensa quando lembra do início de tudo há mais de trinta anos?

Almira - Eu nem imaginei isso aqui e Deus me deu através de muito trabalho, de muito esforço, e de muita parceria. Valeu muito a pena. Há trinta anos eu jamais imaginaria que eu estaria aqui com esse número de funcionários, nessa estrutura, sendo premiada pelo RioMar.

Fazendo parte da moda, porque eu entrei na moda pela necessidade. Isso é muito gratificante. Penso: "Será que eu ia ter coragem de começar tudo de novo?" Sim, eu não me arrependo de nada. Não sei se começando hoje seria da mesma forma, pois o mercado mudou, os desafios seriam diferentes.

O que trouxe a gente até aqui não necessariamente é o que vai levar a gente para frente. Não abaixo a cabeça para nenhum problema, dou meu jeito e resolvo.

O POVO – Quando a senhora percebeu que a empresa poderia extrapolar os limites do Ceará?

Almira – Com o feedback dos clientes e a participação nas feiras, pois eu via a procura pelo produto. Fizemos desfiles, por exemplo, na Casacor Ceará e impactamos o público. Fizemos feiras e também impactamos e isso eu recebi como mais oportunidades de mercado para desbravar ainda mais.

Com a evolução da moda e adaptação de mercado, a R, do Sol além das estampas exclusivas passou a produzir peças lisas e com foco em resort(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Com a evolução da moda e adaptação de mercado, a R, do Sol além das estampas exclusivas passou a produzir peças lisas e com foco em resort

Vou agarrar esse mercado e essa oportunidade. Foi aí que ficou bem claro na minha cabeça que eu não poderia trabalhar só no comércio local. Eu tinha a oportunidade e a chance de levar isso para o Brasil e para o mundo.

O POVO - Quando decidiu criar o grupo AGF Confecções para reunir todos os trabalhos? E a outra marca Sand Blue?

Almira – A gente fez um reposicionamento da R.do Sol em 2010. Quando eu voltei da feira eu já senti ali o desejo de fazer isso. Foi uma trajetória bem complicada. Porque você tirar uma marca de onde ela estava e reposicionar para outro mercado é muito difícil.

Saindo do atacado, do Maraponga Mart Moda, para o varejo, nas multimarcas. Nisso tive a necessidade de abrir a Sand Blue para ela ocupar aquele espaço no mercado. Também vieram novas oportunidades de negócios com o private label. Estamos no mercado há mais de 20 anos, nosso know how é todo em beachwear.

A grande virada de chave da R. do Sol aconteceu em 2010 com a participação no extinto Salão Moda Brasil, em São Paulo(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE A grande virada de chave da R. do Sol aconteceu em 2010 com a participação no extinto Salão Moda Brasil, em São Paulo

A minha equipe já trabalha há muito tempo, tenho mão de obra especializada, tenho o parque fabril e aí eu vi no mercado essa oportunidade de fazer o private label. Assim trouxemos mais negócios para dentro e criamos formalmente o Grupo AGF Confecções há quatro/cinco anos.

Hoje na fábrica os grupos de trabalhos são todos divididos. Aqui fazemos tanto o desenvolvimento completo das coleções para outras marcas como também apenas a confecção.

Almira Gomes assumiu, ao longo de sua vida, a missão de cuidar das pessoas, assim como fez com seus familiares, repassa o gesto aos colaboradores(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Almira Gomes assumiu, ao longo de sua vida, a missão de cuidar das pessoas, assim como fez com seus familiares, repassa o gesto aos colaboradores

Hoje o Brasil é referência de beachwear e o Exterior, como Punta Cana, quer a nossa moda praia. O caso da França foi um desafio, pois começamos com a modelagem deles, mas hoje eles seguem a nossa modelagem.

A empresa que atendemos é de modelos esportivos, para esportes aquáticos. Começamos com 5 mil peças ano e hoje estamos com 400 mil peças ano.

O POVO – Como estão divididos os negócios da empresa?

Almira - A R.do Sol já tem pouco mais de 50%; a Sand Blue também está passando por reestruturação, representa de 10% a 15% e o resto é de private label.

O POVO - O Ceará já foi um grande produtor de moda do País. Hoje a situação já não é a mesma. Como avalia, atualmente, o mercado no Estado? 

Almira - O Brasil é referência em moda praia e o Ceará se destaca muito nesse segmento, temos grandes marcas cearenses. E a cada dia estão nascendo marcas novas, mais voltadas para o fastfashion.

Já para atendimento de multimarcas não vemos tantas marcas. Mas o Ceará em si ainda é muito forte.
Nossa loja de Jericoacoara é muito visitada por estrangeiros e de lá vêm muitos contatos para exportação.

O POVO - Como a empresa pesquisa e lança suas tendências?

Almira – Realizamos pesquisas e nos baseamos nas tendências. Realizamos viagens. A R.do Sol é muito forte na estamparia, a gente fazia 100%, mas hoje já temos 50%. Essa mudança aconteceu, pois acompanhamos o mercado e temos que ter uma moda mais sustentável.

Trabalhamos só com estampas exclusivas e fomos para o segmento resort, que as peças não vão só para praia, mas para o pós-praia, restaurante. Hoje somos 50% resort com peças leves que usam no dia a dia. Damos start nas coleções após as pesquisas e definição das cores.

Mesmo com todas as variáveis no mercado em 2022, a empresa conseguiu crescer 10% em relação a igual período do ano anterior(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Mesmo com todas as variáveis no mercado em 2022, a empresa conseguiu crescer 10% em relação a igual período do ano anterior

O POVO - Como a R.do Sol encerrou o ano de 2022 nos negócios?

Almira – Esperávamos crescer mais em 2022, mas foi um ano atípico em que os clientes demoraram para fazer as programações. Foi um ano que as pessoas apostaram menos.

Tivemos pandemia no início do ano, Copa do Mundo em mês diferente, eleições... Foi atípico. Mesmo assim foi um ano positivo, vimos no segundo semestre que o mercado está aquecendo. Ele retraiu um pouco no final, mas agora no início de 2023 já melhorou.

Foi o ano em que abrimos a nossa loja no Rio de Janeiro, em dezembro, era para ser apenas uma pop up até o Carnaval, mas decidimos com os sócios ficarmos com a loja. Tivemos no ano um crescimento de 10%. E no fim do ano tivemos pedidos e novos private label nos procuraram.

Fechamos mais representantes e começamos a vender em Dubai, nos Emirados Árabe. E 2022 foi um ano de equilíbrio, de olhar para dentro, restruturação de pessoas e processos.

O POVO - Qual a expectativa e planos para este ano e os próximos?

Almira - Nós contratamos uma consultoria para reorganizar, contratar pessoas, fortalecer os setores, porque esse ano a gente terá a expansão da R.do Sol nas multimarcas e precisamos contratar novos representantes.

Estamos em mais de 250 multimarcas e esperamos aumentar 30% ao ano. Esperamos chegar a 300 multimarcas até o meio do ano. Estamos com projeto de parcerias para aberturas de lojas, mais uma no Rio de Janeiro para o segundo semestre 2023.

E teremos a abertura de uma segunda marca em Salvador, na Bahia, lá a marca é muito querida, também em shopping. Em Fortaleza estamos com expansão da Sand Blue para o varejo, com uma loja na avenida Dom Luís; e outra em Salvador. Nessa marca temos duas amigas na sociedade que são as irmãs Iorrana e Josy Aguiar.

Felipe (preto) e Lucas Guimarães crescendo vendo a mãe costurar e hoje estão ao seu lado na empresa(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Felipe (preto) e Lucas Guimarães crescendo vendo a mãe costurar e hoje estão ao seu lado na empresa

O POVO – E a exportação como está dentro do grupo AGF?

Almira – Na marca própria já estamos em Dubai e estamos vendo para começar a exportar para Portugal. E no private label exportamos para Punta Cana. Em setembro estaremos com um escritório de representação em Portugal. Já fizemos trabalhos com os Estados Unidos e desejamos retomar também.

A ideia é manter a fábrica 100% atuante o ano inteiro. Pegamos a sazonalidade do Brasil com a produção dos outros países. Isso dá para mantermos toda a equipe que já é treinada e qualificada.

O POVO - Onde vocês querem chegar com a R.do Sol?

Almira – Queremos vender para toda a Europa e fortalecer a marca internamente no Brasil todo. Entramos no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Acre e a aceitação está sendo muito boa. Queremos chegar a mil multimarcas no Brasil até 2030.

O POVO - Conte alguma história inusitada que vivenciou nos bastidores da moda nesses anos de empresa...

Almira – Muitas vezes estou aqui na fábrica ou nas lojas e ninguém acha que sou a fundadora da marca. Quando atendo as clientes, atendo super bem, eu gosto de atender, de vender e as clientes iam para as gerentes e falavam nunca perca essa vendedora.  

Almira Gomes orgulha-se de ter trabalhado para dar oportunidade e conhecimento para os filhos levarem a empresa para o centenário(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Almira Gomes orgulha-se de ter trabalhado para dar oportunidade e conhecimento para os filhos levarem a empresa para o centenário

O POVO - Quais os planos de vida pessoal e profissional para os próximos anos? Já pensou em sucessão familiar?

Almira - Meu plano é trabalhar até uns 80/85 anos, lógico que numa carga horária menor. Essa transição, de qualquer forma, já estou fazendo, porque eles estão aqui dentro. Eles estão assumindo cargos de diretores e eu acredito que essa sucessão venha naturalmente com o tempo.

Mas eu sempre vou estar aqui por perto. Nos planos pessoais acredito que daqui a pouco venham os netos, eles já estão dentro e vão me dar mais liberdade para que eu tenha uma carga horária mais reduzida para eu poder curtir um pouco os netos, aquilo que eu não pude e não tive oportunidade de curtir meus filhos quando criança, por conta do trabalho.

O POVO - Qual legado a senhora considera, aos 57 anos, que passou para seus filhos? O que deseja para o futuro de cada um deles?

Almira – O legado que eu deixo é que com muito trabalho, muita honestidade e muita dedicação a gente consegue chegar a onde a gente quiser. Que nossos sonhos são do tamanho que a gente sonha. Eu trabalhei para eles terem oportunidade e conhecimento para eles levarem essa empresa para um centenário. Para eles gerarem empregos. O difícil já passou.

O que fez a gente chegar aqui não é o que vai fazer a gente chegar lá. Eles estão se capacitando e se preparando para isso. É com muito trabalho que a gente consegue. É gostando do que a gente faz, é gratificante, mas a gente precisa ter dedicação, ter foco e simplicidade.

O que passo para eles é a humanização, termos uma empresa humanizada, que vai nos levar ao topo. Não fazemos só um produto, quero que eles cuidem das pessoas e que levem isso para nossos colaboradores e clientes todo esse carinho.

O POVO - Qual legado que R.do Sol traz para a economia cearense?

Almira – Geração de empregos, criando mais oportunidades e tirando as pessoas desse cenário de desemprego. Ajudo o Estado gerando emprego. 

 

 

Linha do tempo


 

Bastidores

 

Projeto Legados

Essa entrevista exclusiva com a fundadora da R.do Sol, Almira Gomes, para O POVO inicia a segunda temporada do projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.

Serão nove entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.

No próximo episódio, conheça a história da Construtora Mota Machado pelo olhar do atual fundador, Assis Machado, que concedeu entrevista ao O POVO.

 

 

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  • Recursos audiovisuais Arthur Gadelha (direção audiovisual e roteiro); Aurélio Alves (direção de fotografia), FCO Fontenele (direção de fotografia); Luana Sampaio (direção audiovisual), Carol Kossling (produção e reportagem); Raphael Góes (edição) e Abdiel Anselmo (edição).
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