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Óticas Boris: o camelô que criou a ótica mais lembrada do Ceará
Reportagem Seriada

Óticas Boris: o camelô que criou a ótica mais lembrada do Ceará

| José Airton Boris Ponte | O fundador da Boris, que completará 50 anos de atividades no próximo ano, tem muito orgulho da sua história que começou nas ruas do Centro de Fortaleza. Hoje, a marca é a mais citada há 14 anos pela população, de forma espontânea no segmento óptico, na pesquisa Anuário Datafolha Top Of Mind
Episódio 3

Óticas Boris: o camelô que criou a ótica mais lembrada do Ceará

| José Airton Boris Ponte | O fundador da Boris, que completará 50 anos de atividades no próximo ano, tem muito orgulho da sua história que começou nas ruas do Centro de Fortaleza. Hoje, a marca é a mais citada há 14 anos pela população, de forma espontânea no segmento óptico, na pesquisa Anuário Datafolha Top Of Mind
Episódio 3
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O apelido Boris foi uma herança do pai que tinha uma certa semelhança com o ator britânico Boris Karloff.

Por viver na companhia do pai, ainda jovem, recebeu com amor o codinome que mais tarde se tornaria a marca de ótica mais lembrada pelos cearenses e seu sobrenome no papel, em 2004.

José Airton Boris Ponte, o senhor Boris, conta com orgulho a trajetória árdua que o tornou comerciante renomado(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES José Airton Boris Ponte, o senhor Boris, conta com orgulho a trajetória árdua que o tornou comerciante renomado

José Airton Boris Ponte, 73, ou melhor, senhor Boris, como é conhecido por todos desde a segunda infância já mostrava a facilidade em empreender, comunicar-se e, ainda, ser marqueteiro.

Venda de água em quartinha (vaso de barro) na estação, sandálias no interior da vida e óculos escuros nas ruas de Fortaleza são alguns exemplos da aptidão para o comércio varejista.

No seu caso, o pouco estudo não fez diferença para conseguir chegar aonde desejava. O que facilitou seu caminho?

As boas amizades que fez pela vida e, segundo os próprios amigos, o jeito único de reunir em seu caráter qualidades como carinhoso, simpático, honesto, trabalhador e agradável.

Senhor Boris coloca ainda nessa conta estar sempre disponível para servir, o sorriso no rosto, a esposa Fátima, e os filhos, especialmente os que fazem parte da empresa familiar, Clayton e Ângelo.

Apesar de responder como presidente, além de fundador das Óticas Boris, que completará 50 anos em 2023, descreve seu papel mais como um conselheiro, pois o filho Clayton já assumiu os negócios e conta com o apoio do irmão Ângelo para a parte administrativa.

Ainda hoje, senhor Boris circula pelas lojas e atende clientes pessoalmente, e alguns gostam de registrar esses momentos(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Ainda hoje, senhor Boris circula pelas lojas e atende clientes pessoalmente, e alguns gostam de registrar esses momentos

Os anos difíceis e o atual momento econômico não desanimam Boris, que aprendeu com o pai a nunca transferir a responsabilidade e culpar ninguém pelos períodos difíceis, que já foram muitos ao longo da vida.

Da mãe vem o dever de ser honesto em qualquer ocasião, a qualquer hora, do trabalho até a vida pessoal.

Para os filhos transmite o que julga correto tanto para si como para a sociedade. E não fazer com os outros o que não quer para si.

Sente-se feliz por poder trabalhar com os dois lado a lado e, apesar de já ter se aposentado há 12 anos, prevê no mínimo mais cinco no dia a dia dos negócios.

Para o futuro da marca deseja expandir as franquias por todo o Estado. Confira o bate-papo exclusivo com O POVO sobre lembranças, família, valores, trabalho, empreendedorismo e vida.

 

 

Conheça os números da empresa

O POVO - O senhor nasceu em Sobral e lá iniciou no comércio, aos  10/11 anos, vendendo água de quartinha na estação. Quais os ensinamentos que aquela vida simples trouxe?

José Airton Boris Ponte - Lá eu percebi que tinha muita gente com sede e precisava tomar água e eu fui vender. Eu vendia a quinhentos réis o copo e três copos por mil réis.

Ou seja, eu com 11 anos de idade era marqueteiro e procurava matar a sede das pessoas que estavam realmente com vontade de tomar um copinho com água. Assim foram meus primeiros 15 dias vendendo água na quartinha na estação e ganhando dinheiro.

Com relação ao aprendizado, fui percebendo que eu tinha uma tendência, que não tinha notado, que já naquela época eu era uma pessoa com tendência para o negócio. Porque tudo que eu ia fazer dava certo. Foi um sucesso total.

Só que o meu pai me tirou muito cedo da estação, porque era perigoso, mas guardo minha quartinha até hoje.

O POVO – De lá o senhor foi vender chinelas nas cidades vizinhas. Como foi?

Boris - Com a tendência e a necessidade de ganhar dinheiro eu resolvi, então, partir para um novo negócio.

Comprei cem pares de sandálias, aliás eu não comprei porque não tinha dinheiro, uma senhora me confiou e me cedeu cem pares de sandálias Havaianas.

Naquele tempo essas sandálias eram coisas para pobre, não era para rico como são hoje. Coloquei tudo dentro do saco de estopa, subi em um caminhão e fui para a serra do Tianguá, Serra Grande. 

Naquela época quem fazia isso era conhecido como maloqueiro. A gente juntava uma turma em Sobral de quinze a vinte pessoas.

Demorou também pouco tempo, porque depois disso meu pai voltou de Brasília e já arrumou um emprego em Fortaleza na Assembleia Legislativa.

Mas antes, em 1964, fui gerente de um restaurante em Sobral, trabalhei oito meses como empregado, pedi demissão, pois eu queria ir para uma cidade maior.

O POVO - Nessa época quais valores aprendeu com seus pais que mantém até hoje?

Boris - Uma das coisas mais bonitas do meu pai era estar sempre feliz com a vida e não reclamar da vida por nada.

Meu pai não colocava o insucesso dele estar vivendo um mau momento a ninguém. O meu pai me deu um exemplo de vida de nunca atribuir um fracasso a ninguém.

Ele teve mercearia, teve estiva "Carregamento e descarregamento de uma embarcação" e foi considerado um homem rico na cidade do Interior, mas ele tinha um vício de jogar baralho a dinheiro e esse baralho foi o que atrapalhou a vida dele. Meu pai chegou a ser vereador em Sobral em 1956. 

E uma coisa muito bonita que aprendi com minha mãe foi quando ela me deu cinco conto de réis para fazer uma compra na bodega do senhor Manuel e eu fui.

Comprei e ele me colocou o troco na mão e voltei para casa. Quando ela viu percebeu que o troco estava errado, ele tinha dado dinheiro a mais.

Voltei lá, ele foi grosseiro, mas insisti dizendo que minha mãe falou que nunca tinha visto uma nota de dez. Então, mesmo passando necessidade, a minha mãe me ensinou que o que é dos outros é dos outros. Até hoje mantenho esse exemplo.

Aos 73 anos, senhor Boris se sente grato por tudo que vivenciou e conseguiu conquistar na vida pessoal e nos negócios(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Aos 73 anos, senhor Boris se sente grato por tudo que vivenciou e conseguiu conquistar na vida pessoal e nos negócios

O POVO - Comente sobre a chegada a Fortaleza (1964) e o início da sua vida profissional como ambulante aos 15 anos...

Boris - Meu pai fez um concurso para o Estado e foi trabalhar na Assembleia Legislativa "Ficava no Palácio Senador Alencar, inaugurada em 1871 e ficou lá por 106 anos. Atualmente o palácio abriga o Museu do Ceará."  (era no Centro) em 1963 e um ano depois que ele já estava com alguns membros da nossa família na cidade (Fortaleza) eu vim.

Não sabia ao certo o que ia fazer ou vender por aqui e resolvi observar os vendedores de óculos na calçada próximo à Assembleia e à Praça dos Leões (Praça General Tibúrcio).

Achei muito animado vários vendedores com os óculos na mão e achei que a maneira que eles tratavam o cliente era muito grosseira.

Falavam alto e cobravam valor além do preço para poder sair baixando muito. Na época pediam 10 contos de réis por um óculos e eu observei que dava para pedir 2 contos e 500 réis.

Então me distanciei e observei onde eles compravam o produto. Que era na Casa Freitas, Casa Colombo, Casa Fátima... Meu dinheiro era pouco e comprei apenas um par de óculos e me posicionei distante deles.

Quando o cliente passava por eles e não comprava eu os abordava, mostrava e dizia o valor mais baixo. Aquilo impactava os clientes deles.

Terminava que o cliente aceitava e eu colocava os óculos no rosto do cliente, mostrava um espelho redondinho para eles se verem. Eles ficavam satisfeitos e eu também.

O POVO – O que o senhor fazia com o dinheiro da venda?

Boris – Eu fui e comprei outros óculos e no fim da tarde já tinha dinheiro para comprar dois. Fui aumentando e fui aumentando até que eu enchi a camisa de óculos e me meti mais perto dos vendedores de lá.

"Apanhei muito, batiam as mãos na minha cabeça para eu sair. Eles eram mais velhos e eu um menino. Eu levava na brincadeira e saía de perto, mas continuava vendendo mais do que eles e continuava aumentando o montante. Até que eu fiz o tabuleiro." José Airton Boris Ponte

O POVO – O senhor foi o primeiro?

Boris – Sim. Mangavam "Termo cearense para tirar sarro da pessoa" de mim. Até hoje tem uns lá que mangam de mim. Eu fui aumentando o tamanho do meu tabuleiro (colocado na rua Floriano Peixoto, na porta da Casa Blanca) e depois fui juntando uns rapazes para me auxiliar a vender os óculos.

Isso depois de uns quatro meses. Também tive o apoio do dono da Casa Fortaleza, vendi também na frente da Casa Freitas. Os comerciantes sempre foram generosos comigo e não se incomodavam com a minha presença.

O POVO – Onde o senhor ficou mais tempo?

Boris – Fiquei uns dois anos na frente da Casa Blanca, eles me deram guarida. Depois de um tempo não tinha mais perseguição do "Gíria que se refere a carro da Prefeitura que conduz fiscais e policiais pelas ruas para apreender mercadorias de vendedores ambulantes sem registro" rapa , que tomava as mercadorias. Perdi poucas, pois pegavam as minhas e eu conseguia alguém para ir buscar.

O POVO – Como foi a evolução nos negócios?

Boris – Quando a banquinha dos óculos começou a crescer e eu ter os outros vendedores em porta de outras lojas, meu pai voltou a trabalhar em Sobral, mas eu disse que não voltava.

Aluguei uma pensão para eu morar no Centro, em 1967. Tive a felicidade de conhecer três agentes da Polícia Federal que queriam se hospedar na pensão.

Meu quarto era o mais simples, não tinha 10 metros e tinham duas caminhas, era sem banheiro, mas um deles se hospedou no mesmo quarto.

Foi aí que as coisas começaram a melhorar para mim. Ele era muito bom, educado e honesto, foi um verdadeiro pai para mim, Aureliano Duarte da Silva era seu nome.

Assim acabaram as perseguições, quando o rapa levava algum que trabalhava comigo, eu contava para ele que me ajudava, pois sabia que eu trabalhava para ajudar meu pai a sustentar meus irmãos, pois o salário do meu pai não dava.

"Cheguei a ter 20 “sócios”, colaboradores, pois eu dividia o lucro. Hoje tem vários deles que são comerciantes, mas não gostam que eu diga os nomes, pois não têm a humildade de dizer que já foi ambulante. Tem muita gente que não diz que foi camelô. Eu tenho orgulho de dizer." José Airton Boris Ponte

Senhor Boris quando em um caderno todos os recortes de matérias e anúncios que saiam nos jornais sobre a Boris(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Senhor Boris quando em um caderno todos os recortes de matérias e anúncios que saiam nos jornais sobre a Boris

O POVO – Quando o senhor começou a fazer compras em São Paulo?

Boris – Minha primeira viagem para São Paulo foi em 1970. Cheguei a fazer 40 viagens consecutivas para lá. Eram 12 dias e 12 noites dentro de um ônibus, pois o capital ainda era pouco.

Eu comprava a mercadoria, colocava dentro de uma bolsa e trazia. Chegava aqui e vendia em três dias e voltava para lá novamente.

O POVO - Quais eram seus diferenciais como vendedor naquela época?

Boris – Era marcar sempre um ponto. Tratar bem e respeitar as pessoas. Além de comprar bons produtos com qualidade e bons fornecedores. Faço isso até hoje, para obter um bom preço e repassar a qualidade e preço para os clientes.

"Sempre respeitei muito o dinheiro do cliente. Nunca amassei as cédulas das vendas, alisava e admirava. Com dinheiro não se brinca. Até hoje, gosto de arrumar as cédulas." José Airton Boris Ponte

O POVO – O que mantém até hoje daquela época?

Boris – Respeitar o cliente. Sempre procurei fazer com que o meu cliente me encontrasse fácil. Nunca me escondi se ele quisesse devolver ou trocar algo.

Já menino eu criei um cartãozinho Boris, o Rei dos Óculos. Queria me destacar de alguma forma e que o cliente marcasse alguma coisa ao meu respeito. O sorriso para mim é algo muito importante. 

O POVO - Como foi transformar um apelido do seu pai em uma marca líder da categoria no Ceará há anos?

Boris - Aos oito anos andava muito com meu pai e percebia que ele tinha esse apelido e era muito querido na Cidade. Meu pai era muito respeitado. Começaram a me chamar de Boriszinho. E eu gostei porque eu gostava muito do meu pai também.

Mas a história do Boris pai é que ele jogando bola fez um gol e diziam que ele era um monstro. Naquela época estava passando um filme com Boris Karloff, um artista de cinema. Aí botaram esse apelido no meu pai.

Em 1973 eu abri a loja e tinha botado na cabeça que se eu abrisse colocaria o nome de Boris e fiz.

"Quando foi em 2004 eu entrei com uma ação na Justiça pedindo para incorporar no meu nome o Boris, porque aqui em Fortaleza ninguém sabia e nem sabe que meu nome é José Airton. Quem é que sabe?" José Airton Boris Ponte

E foi muito interessante essa história porque quando eu pedi ao advogado para botar o meu nome tinha um cidadão, pai de uma juíza, que eu nem sabia que o pai dela era meu amigo, e que trabalhava no segmento de relógio.

E o processo caiu na mão dela e a juíza perguntou:

- 'Papai o senhor conhece José Airton Ponte?'

- 'Conheço não, minha filha'

- 'Mas, papai, ele trabalha com ótica. O senhor conhece o Boris?'

- 'Esse eu conheço, é meu amigo.'

Aí ela confirmou que José Airton ninguém conhecia, mas Boris todo mundo conhecia. Então eu incorporei o Boris e é uma responsabilidade muito grande.

Eu digo a qualquer pessoa que tome muito cuidado para colocar o seu nome o nome da sua empresa, porque é uma coisa que se torna público de tal forma que qualquer coisinha pode prejudicar muito mais do que ajudar.

Então eu incorporei porque eu já era o garoto-propaganda da empresa.

O POVO - Como surgiu a possibilidade de abrir a primeira loja (na galeria Brandão, número 2), na Capital, em 1973? O que mais se recorda daquela época?

Boris – Surgiu uma vaga de servente na Polícia Federal e eu ia me candidatar, mas o meu amigo Aureliano não deixou, disse que iria me atrapalhar nisso.

Ele me dizia que eu tinha nascido para ser um empresário, comerciante e não funcionário público ou empregado.

Quando eu disse que a situação com as vendas nas ruas estava melhorando ele me cobrou que eu saísse de lá e tivesse um ponto.

Eu já havia comprado uma casa e a vendi, aos 23 anos, com o aval da primeira esposa, para montar a loja.

Ao centro um dos colaborados mais antigos das Óticas Boris, Arnodo Boto, que começou ainda nas ruas com o fundador da marca(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Ao centro um dos colaborados mais antigos das Óticas Boris, Arnodo Boto, que começou ainda nas ruas com o fundador da marca

O POVO - O que o senhor sentiu?

Boris – Muita alegria de não ser mais chamado de marreteiro de meio de rua. O vendedor de rua é visto como marreteiro e como ladrão e isso é uma coisa absurda.

Apesar de ser a mesma pessoa, passei a ser visto como lojista. Passei a ser visto como um homem de sucesso, um empreendedor. A minha essência era a mesma, mas o modo como as pessoas me viam mudou.

Em 1983, a esposa atual, Fátima, me ajudou a organizar a loja. Deixei de vender óculos de camelô e ingressei no segmento de ótica.

O POVO – O que o senhor achava que aquele menino Airton despertava nesses amigos?

Boris – Eles viam uma pessoa carinhosa, simpática, honesta, trabalhadora e agradável. Era o que eles diziam, que viam um futuro grande para mim. E a vontade de servir.

A toda hora eu procurava saber o que eles queriam para eu poder servir. Eu sempre procurei agradar. Eu não sei o que é preguiça e as pessoas gostam de gente assim. Todo mundo quer ajudar a quem quer ser ajudado.

Sempre tive muita sorte de construir, ao longo da vida, amizades importantes e influentes que colocavam a mão no meu ombro e diziam: 'Eu estou do seu lado'. Eu nunca perdia a oportunidade.

O POVO - Quais aprendizados e valores destacaria nessa sua trajetória profissional que repassou aos descendentes?

Boris – A trajetória de valores é fazer as coisas corretas como devem ser feitas por todo mundo, não só por mim. É fazer com que as pessoas acreditem em você e que você faça o correto.

É procurar fazer as coisas certas dentro do máximo que você puder. Não fugir daquilo que você se compromete.

Não é nenhum favor você falar a verdade, procurar ajudar as pessoas para que as pessoas lhe vejam como uma pessoa que, também no dia em que você precisar de uma ajuda, tenha a quem recorrer. Não faça aos outros aquilo que você não quer que faça a você.

 

 

Conheça o legado familiar: descendentes

 

Filhos: Leila, José Clayton, Francisco Ângelo e Jairta

Netos: Emanuel, Leticia, Catherine, Bruno, Airton e Vanessa

 

O POVO – Como Clayton e Ângelo chegaram à Ótica? Com quantos anos e como eles começaram a sinalizar o interesse pelo comércio?

Boris - Clayton começou mais cedo. O Ângelo a mãe poupou até os 22/23 anos que não era para ir para o trabalho. Tinha que estudar. E eu não podia interferir e levar ele mais cedo para ir trabalhar. Já o Clayton não, deixou para se formar depois. Bem depois.

Tanto é que o Ângelo foi fazer Administração de Empresas, me lembro como se fosse hoje, quando ele terminou. Pronto! Agora você está preparado e é administrador e pode tomar conta. Negativo! Não é assim não! Tem que ir se se preparando primeiro.

E aí chegou um ponto que eu disse para o Clayton que ele tinha que se preparar também e a área dele seria, como ele é mais solto, de Comunicação, Marketing e Propaganda. E assim foi feito. É muito bom, porque um tem a formação de administrador e o outro tem de comunicador.

Ora, aí dá uma dupla perfeita E só não vai se eles realmente não quiserem. Porque tem tudo para levar. A minha faculdade na realidade foi na porrada, em cima do caminhão, nas lonas, na estação e nas ruas de Fortaleza.

Meu grau de escolaridade foi muito pequeno, porque não tive esse hábito de alguém mandando ir para o colégio ou ir estudar. Eu só almoçava e jantava se eu trabalhasse. Eu tinha mais irmãos que estavam me esperando para poderem ser ajudados.

A família Boris vive em harmonia e se completam nas diferenças(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES A família Boris vive em harmonia e se completam nas diferenças

O POVO - Qual o lado positivo e negativo de trabalhem juntos?

Boris – O lado positivo sempre foi muito positivo. É olhar para a direita e para a esquerda e ver a família ali do lado. Sim. Não tem ensinamento mais honesto do pai para os filhos.

Então eu procuro passar o que eu julgo que seja correto e eles procuram assimilar. Tanto é que até hoje eu não tenho um filho que beba, que fume, que ande enganando os outros, fazendo besteira no meio da rua.

Então eu acho que isso valeu muito e vale muito. Agora, no momento que vai passando hoje o aprendizado deles é tamanho que hoje eu já estou é consultando a eles algumas coisas.

Hoje eu sou um conselheiro da empresa, hoje eu não sou mais um homem de frente.

O POVO - Tem alguma algo que não seja tão legal?

Boris - Eu acho mais difícil para de que é pra mim. Porque quando eles estão correto que eu possa também estar errado eu sou o pai e uso a autoridade pai. Para mim não tem problema não.

O POVO - Tem algum processo ou forma de agir que o senhor mantenha igual desde o início? Por quê?

Boris – Não esquecer a hora do compromisso que eu assumi. Sou muito chato com horário. Dá muita atenção a as coisas que não saíram como eram para sair e procurar consertar o mais rápido possível.

Sou muito chato no que diz respeito ao compromisso com as pessoas. Sou muito chato, sou muito chato. Ainda hoje se eu passo um negócio para um empregado eu saio correndo atrás olhando o que está fazendo.

Às vezes eles reclamam que eu pediu para duas pessoas, eu digo já vou pedir terceiro porque está chegando a hora que eu prometi.

O POVO -  A marca é líder, desde 2004, na pesquisa Anuário Datafolha Top Of Mind. Propaganda é a alma dos negócios e das Óticas Boris?

Boris - Eu nunca tive dúvida que a propaganda é realmente a chave. Mas é lógico que você precisa aliar a propaganda dentro do veículo correto, do programa correto e para o segmento que você quer atingir. E ter as pessoas e o produto correto para fechar o negócio.

O POVO - O que isso representa para o senhor? E como aproveita estar na pesquisa?

Boris - Foi um dia muito feliz na minha vida saber que o recall da ótica era alto e estarmos na preferência do povo do estado do Ceará. Mostrou que a gente vinha fazendo um trabalho correto, respeitando os nossos clientes, tratando como eles realmente merecem.

Com dignidade, vendendo a eles um produto de excelente de qualidade, que é o que fazemos até hoje. Tanto é que de 2004 até 2022 nós nunca perdemos a liderança. 

O POVO - A criação da Boris Trading é uma forma de expandir um negócio de tradição familiar para outras pessoas que sonham em fazer parte de um legado?

Boris - Isso é muito gratificante, pois veio encaixar com o momento de conhecimento de que nós tínhamos realmente espaço pra abrir várias lojas.

O povo necessitava de abertura de lojas em pontos diversos, porque começou a ficar distante dos bairros e do Centro. Nós tínhamos que crescer e como?

Só tinha essa maneira: vamos criar uma nova empresa, de franquia, que eu chamo de licenciamento de uso da máquina para que possamos atingir as pessoas que estão mais distantes, tanto no Interior como nos bairros.

Foi sucesso total. Muita gente que tinha um pouco de dinheiro ou se aposentado e não sabia o que fazer, agora, encontrou o lugar certo.

Com R$ 200 mil a R$ 300 mil abre-se uma loja, já entra num nome conhecido e já começa a faturar e a a ganhar um dinheirinho.

O POVO - E o que se passa na cabeça do senhor quando se lembra daqueles óculos pendurados no pescoço e vê hoje as lojas e os seus dois filhos ao seu lado?

Boris - Primeira coisa que vem a minha cabeça é alegria e satisfação. Porque eu sempre acreditei que o trabalho engrandece. Então, vamos trabalhar.

Eu consegui com os óculos na mão colocar um tabuleiro no meio da rua e várias pessoas para vender óculos pra mim e depois comprei uma casa pra morar, vendi a minha casa pra morada, comprei a minha primeira loja na galeria Professor Brandão, que faz 49 anos que estamos aqui.

Passamos momentos de felicidade, de alegria e de agradecimento a muita gente que escolhe as Óticas Boris e preferem até hoje. 

Aos 73 anos, Boris campanha feliz pelo Centro de Fortaleza onde abriu sua primeira loja(Foto: Aurélio Alves)
Foto: Aurélio Alves Aos 73 anos, Boris campanha feliz pelo Centro de Fortaleza onde abriu sua primeira loja

O POVO - O cenário econômico está diferente nos últimos anos, assim como o comportamento do consumidor. Como isso afeta os negócios de óticas?

Boris - A gente sabe que quando as coisas da área financeira do cidadão estão melhores ele troca de óculos de ano em ano.

Quando não está, ele troca de ano e meio, de dois em dois anos e protela mais um pouco. De qualquer forma o faturamento cai e o faturamento não tem sido o mesmo, não está acompanhando a inflação.

Aproximadamente há uns quatro anos que não se tem crescimento de empresa no segmento de ótica.

O POVO - Como deve fechar 2022 em relação a aumento de número de lojas, crescimento e faturamento?
Boris – Neste ano tivemos o aumento de três lojas, todas em Fortaleza, uma no Centro e duas nos bairros, totalizando 53 com a sede.

A gente acredita que teremos esse ano um crescimento de 5% a 10%. Em setembro e outubro tivemos uma queda atípica, mas esperamos compensar em novembro e dezembro.

O POVO - O que projeta para 2023 em relação a novas lojas e investimentos?
Boris - Fica difícil prever, vamos ver como é que o mercado vai realmente reagir, porque hoje está muito difícil ter previsão. Em outubro ninguém esperava essa queda. Tem loja que chegou a cair 30%.

O POVO - Vai continuar expandindo para o Interior?
Boris – Projeta a gente projeta, precisa ver é se a gente encontra os investidores. A ideia é partir para outras cidades, além e Fortaleza, irmos para cidades que tenham mais de 50 mil habitantes.

O POVO - O senhor já pensa em sucessão e aposentadoria?
Boris - Aposentado eu já estou há mais de 12 anos. Mas enquanto eu tiver saúde eu estou no conselho, não tenho tempo para sair porque ainda preciso trabalhar.

Eu tenho compromisso ainda para saudar nos próximos cinco anos. A sucessão a gente já vem há mais de dez anos trabalhando em cima disso.

O Clayton já assumiu a minha parte que é a exatamente de societário na empresa. Hoje a empresa e Boris Trading já estão no nome do José Clayton.

E ele já assumiu a parte de Comunicação também e é ele quem está pilotando de frente. O Ângelo está ajudando na medida do possível. Somos uma empresa familiar pequena.

Senhor Boris tem prazer em servir e agradar as pessoas, assim conquistou muitos clientes e amigos ao longo dos anos(Foto: Aurélio Alves)
Foto: Aurélio Alves Senhor Boris tem prazer em servir e agradar as pessoas, assim conquistou muitos clientes e amigos ao longo dos anos

O POVO - Mesmo sem precisar, o senhor circula pelas lojas para atender clientes. Por que mantém esse costume? E qual a sensação lhe proporciona?

Boris - Por alegria. Me faz bem. Eu vou observar se os clientes continuam satisfeitos e se o que recomendo está sendo feito. Nós temos várias pessoas que quando eu não posso vão visitar por mim todas as lojas e trazem relatórios.

O POVO - De que forma a Óticas Boris vem contribuindo para o legado comercial e econômico do Ceará?

Boris - Nós sabemos que uma empresa que tem 53 lojas em uma cidade gera, pelo lado social mais de duzentos empregos diretos. Depois vem o recolhimento de impostos para o Estado e para o Município. A Óticas Boris é uma empresa que contribui de todas as formas que pode contribuir, gerando riqueza de todas as formas.

 

 

Linha do tempo

 

 

Bastidores

 

Entrevista

Após algumas conversas e alinhamento de agenda, senhor Boris pediu que eu fosse a uma reunião presencial no escritório da Boris Trading para falar sobre o projeto.

Foram quase duas horas de bate-papo que serviram como prenúncio do que nos aguardava. Com direito a ouvir o refrão cantado por ele e pelos filhos do famoso jingle “Cadê Cacá?” feito com a ajuda do saudoso amigo Irapuã Lima. “Cadê Cacá, Cacá, Cacá? Tá no Boris, Boris, Boris”.

A inspiração foi um personagem de Antônio Fagundes na novela Dancin’ Days que saiu na capa de uma revista usando óculos oval.

Combinamos um café na residência do senhor Boris pessoalmente com dois dos quatro filhos que estão no dia a dia com ele, Clayton, filho do primeiro casamento, e Ângelo, do segundo. Já as filhas Leila e Jairta não puderam estar presentes.

A esposa, dona Fátima, era dúvida, pois estava com problemas de saúde e se preparando para uma cirurgia, mas fez questão de receber a mim e a equipe do audiovisual do O POVO. E a poodle Belinha, que é uma simpatia.

 

Memórias e trabalho

Durante as boas conversas, senhor Boris sempre foi muito educado, cordial e cativante. Contava cada passo que deu, desde que saiu de Sobral com orgulho e satisfação.

Guarda até hoje tanto em casa, como no escritório, uma quartinha (vaso de barro), para se lembrar do primeiro empreendimento que teve, o de vendedor de água na estação na cidade Natal.

Nos contou com alegria sobre a viagem recente que tinha feito a Sobral, na companhia dos irmãos, para celebrar o aniversário de um deles que reside lá. “Teve até jogo de baralho”, recordou-se.

E sobre o trabalho deixou ainda mais claro e evidente a paixão que tem por vender. É algo que faz com muita naturalidade, assim como ser o garoto-propaganda da marca desde o início, algo que já foi herdado pelo filho Clayton.

Ambos adoram contar sobre as clientes que fazem selfies com eles ou ligam para parentes e amigos quando são atendidas pessoalmente em uma das lojas por seu Boris. Do café na residência fomos conferir de perto sua fama em duas lojas do Centro.  


 

Projeto Legados

Essa entrevista exclusiva com o fundador das Óticas Boris, José Airton Boris Ponte, para O POVO dá sequência ao projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios. 

Serão dez entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.

No próximo episódio, contaremos a história e o legado do senhor Aluísio Ramalho, que segue o legado do pai na empresa de redes, Ramalho Têxtil.

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Expediente

  • Direção de Jornalismo Ana Naddaf e Erick Guimarães
  • Coordenação e edição Beatriz Cavalcante e Irna Cavalcante
  • Edição de design e identidade visual Cristiane Frota
  • Edição e coordenação do Núcleo de Imagem Chico Marinho
  • Edição de fotografia Julio Caesar
  • Edição OP+ Beatriz Cavalcante e Regina Ribeiro
  • Texto Carol Kossling
  • Fotografia Aurelio Alves e Jílio Caesar
  • Recursos visuais Beatriz Cavalcante
  • Produção Geral Carol Kossling
  • Audiovisual Arthur Gadelha (direção audiovisual e roteiro); Aurélio Alves e Júlio Caesar (direção de fotografia) Luana Sampaio (direção audiovisual), Carol Kossling (produção e reportagem); Samya Nara (produção); Raphael Góes e Abdiel Anselmo (edição).
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