A neta de José Bastos, cearense que dá nome a uma das principais avenidas de Fortaleza, Ana Lúcia Bastos Mota, comanda uma das principais indústrias de porcelanato e cerâmica do País. Com resiliência atravessou fases difíceis à frente da Cerbras, incluindo questões financeiras.
Apesar de ter consciência que a empresa seguiria muito bem sem sua presença, ainda responde pela Presidência, que considera mais institucional do que executiva.
Além dela, os três filhos, Ticiana, Felipe e Mariana, e a neta Isabel, seguem o sonho e o legado do pai e avó, Tarcísio, que se despediu em vida da esposa, em 1994, quatro anos após criar sua última, e mais importante empresa, a Cerbras.
Do marido que já se foi, a empresária credita o tino empreendedor dos filhos. Dela, a ética, que herdou dos pais, e os gastos conscientes repassados pelas origens paternas.
Mas os caminhos nem sempre foram agradáveis. Assumir uma indústria quando não era do ramo. Na verdade, antes de entrar na empresa com o esposo, ela trabalhava na
Após seis anos sem o esposo, com dívidas e salários dos colaboradores atrasados, Ana Lúcia pensou em tirar a própria vida. Por sorte repensou e, numa viagem profissional à Itália, trouxe na bagagem a esperança de dias melhores que vieram após dois anos de muita luta.
Juntamente aos filhos, que sempre estiveram ao lado da mãe de forma natural no trabalho, começou a exportar em 2004 e viu sua produção quintuplicar desde a fundação, com fabricação de 650.000 m²/mês de cerâmica.
Daí para frente os bons ventos chegaram e a Cerbras, que desde 1990 passou por seis expansões, aumentou o portfólio dos produtos com modelos de dimensões maiores, melhorou a cada ano na qualidade e adquiriu material tecnológico de ponta em países referência do setor.
Segundo a matriarca, tudo isso é fruto da dedicação e profissionalismo dos filhos que só agregam desde que chegaram.
Atualmente, a empresa produz 3.300.000 m²/mês entre cerâmica e porcelanato, lançou recentemente novos formatos de porcelanato, nos tamanhos 94,5x94x5 cm; 60x120 cm; e 120x120 cm, e remodelou a logomarca para consolidar este momento.
A exportação segue bem, com ênfase para os Estados Unidos e, no mercado interno, as principais praças são Ceará, com mais de 40% do destino local; Rio Grande do Norte; Maranhão e voltou a figurar entre os primeiros lugares do segmento entre os clientes que atende.
Nos planos, consolidar a presença da empresa em todo o Brasil e aumentar as exportações. Confira o bate-papo com a executiva sobre memórias, família, valores, dificuldades, superação e o potencial feminino em administrar.
O POVO - Quais suas primeiras recordações quando criança?
Ana Lúcia Bastos Mota - Foi num sítio no Mondubim (bairro de Fortaleza). A família do meu pai era de lá, inclusive meu avó, José Perdigão Bastos, que fundou uma igreja no local e a Avenida José Bastos é uma homenagem a ele.
Naquela época não tinha nem energia elétrica, nem água encanada e tínhamos que usar lampiões. Eu pescava e tomava banho de lagoa, aprendi a fazer cajuína. Essas recordações me marcaram para sempre.
O POVO - O que aprendeu de mais relevante com seus pais?
Ana Lúcia - Foi a questão da ética do meu pai e da minha mãe também. Uma vez eu peguei uma vela usada de uns primos meus, que eram ricos, e a minha mãe perguntou que vela era aquela. Eu respondi que peguei lá da casa deles.
Ela questionou se eu pedi a eles. Eu falei não. Ela informou que era um roubo e quando eu voltasse lá eu deveria colocar no lugar que encontrei.
Essa lição eu nunca esqueci porque ética é tudo na vida. Meu pai era também uma pessoa muito preocupada com essa questão de não gastar mais do que do o necessário.
Quando eu saía de um quarto e eu deixava a luz acesa ele dizia volte para apagar que você não é sócia da Coelce (Companhia Energética do Ceará, fornecedora de energia no Estado, hoje Enel).
Isso passei para os meus filhos e venho instruindo os netos sobre a ética e o compromisso com o gasto, o consumo consciente.
O POVO - Desde jovem a senhora buscou uma formação. Conte um pouco sobre essa fase e o início profissional...
Ana Lúcia - Eu me formei em Geografia e fui trabalhar. Também fiz datilografia e o meu primeiro emprego foi como secretária e, posteriormente, fui para Teleceará (Telecomunicações do Ceará).
Tudo por causa de um irmão meu que me dava conselhos, ele estudou e se formou no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Trabalhou no DAE (Departamento de Arquitetura e Engenharia) e depois na Teleceará.
Ele me avisou de um concurso lá e eu fiz. Assim comecei a trabalhar na área de atendimento ao cliente de lá, saí, depois voltei e fiz um concurso para programador e fui ser programadora na década de 1960. Isso me ajudou, e muito, a administrar a fábrica.
O POVO - E os passos seguintes?
Ana Lúcia - Meu marido era sócio do pai na loja de material de construção (L Mota Companhia) e ele ficava insistindo para eu sair da Teleceará e ir trabalhar com eles. No início eu não aceitava muito, mas ele insistiu e eu acabei pedindo demissão.
"Na época, uma amiga minha disse que quando eu fosse pedir a demissão, não me demitir e sim pedir para eles me botarem para fora para eu ganhar muito mais dinheiro. Mas eu disse que não achava correto, pois era eu que queria sair."
Quando eu fui trabalhar com meu marido as coisas não iam bem nos negócios e aquele dinheiro que eu ganhava estava fazendo falta na família e no dia a dia. Como eu tinha pedido a demissão, solicitei a minha volta e fui aceita.
Foi aí que apareceu, naquela época, o concurso para programador e eu passei. Essa vivência que tive na Teleceará como programadora foi essencial para tocar a Cerbras depois. Descobri, pelos números, os problemas sérios que aconteciam.
O POVO - Como foi a perda do seu esposo e o que a motivou a permanecer nos negócios?
Ana Lúcia - Ele era muito empreendedor e ele sempre lutou muito durante toda a vida nessa relação com as empresas. Quando eu o conheci ele tinha uma fábrica de mosaicos (Mosaicos Mota) e trabalhava no Banco do Nordeste (BNB).
Ele também teve a sociedade com o pai e daí eu não podia deixar a fábrica porque eu acho que ele merecia que eu continuasse. A luta dele foi muito grande para chegar até a Cerbras, que não era nem Cerbras, era Cerâmica Topázio.
O POVO - O que se recorda mais deste período?
Ana Lúcia - Mariana (a filha caçula) tinha 14 anos quando o pai morreu. Ela acompanhou toda a história, que foi muito difícil no começo. Inclusive ela fez algo que eu não esqueço jamais, linda a atitude dela. O meu marido quando faleceu deixou um seguro de vida.
Porque à época ele tinha perdido três irmãos, dois foram vítimas de acidente de carro e o outro com problemas no coração. Então ele resolveu deixar um seguro. Como ela só tinha 14 anos eu a emancipei e depositei o dinheiro na conta dela.
E eu, o Felipe e a Ticiana já tínhamos colocado o nosso dinheiro na fábrica, não tínhamos mais de onde tirar e a fábrica precisava pagar os funcionários. Eu pedi a ela e ela emprestou.
Fizemos vários cheques para pagá-la, eles venciam e nós não tínhamos como quitar. Chegou um outro momento que nós íamos precisar do restante do dinheiro que ela tinha.
O POVO - E como fizeram?
Ana Lúcia - Ela ainda não trabalhava na Cerbras, mas já cursava arquitetura. Eu liguei e pedi para ela emprestar o restante, sabia que eu ia ouvir assim: 'Eu não acredito que você ainda vai colocar dinheiro nessa fábrica.'
'Mãe, você não está vendo que essa fábrica não vai, eu já emprestei dinheiro e a senhora não me pagou'. Eu tinha certeza de que ela ia dizer isso. Mas ela disse: 'Mamãe, eu chego já aí para assinar o cheque'. Não vou esquecer isso nunca. Então é uma relação forte que temos.
Ela gosta muito da fábrica, ela trabalha gostando do que faz. E foi ela quem foi buscar qualidade da cerâmica que produzimos. Ela é inovadora, ela vai atrás, sabe?
Eu estou muito contente com os três ao meu lado. Eu digo que eu já posso morrer ou me aposentar, porque eles já cuidam da fábrica melhor do que eu. Isso eu tenho certeza.
O POVO - Quando e como abordava o tema trabalho em família?
Ana Lúcia - Após a morte do Tarcísio, o Felipe já trabalhava e continuou. Ele fazia faculdade de Informática influenciado por mim. Enquanto todo mundo dava Atari (vídeo game) para os filhos eu dava computador.
A Ticiana era arquiteta e quando a fábrica melhorou nós decidimos ampliar e eu pedi para ela vir trabalhar conosco. Posteriormente veio a Mariana, que também é arquiteta, e se envolveu muito com a fábrica.
Por último, veio a Bebel, minha neta, que fez Engenharia de Produção e naturalmente veio trabalhar conosco.
O POVO - Acha que eles aprenderam essa questão de confiança e determinação com a senhora?
Ana Lúcia - Eu acho que tem uma influência, né? Do pai e minha. Porque o pai era muito empreendedor. O Tarcísio quando eu namorei com ele tinha fábrica e a família tinha loja de material de construção e ele colocou também uma fábrica de tintas.
O último empreendimento dele foi essa fábrica, a Cerbras, que ele fundou em 1990. Ela começou a produzir em 1991. Ele era assim, empreendedor. Eu acho que a influência dele também foi muito forte.
Filhos: Ticiana, Felipe e Mariana
Netos: Gabriel, Bernardo, Miguel, Rafael, Isabel, Marcelo, Lucas, Matheus, Marina
O POVO - Pensou em desistir em algum momento?
Ana Lúcia - Eu pensei em desistir em 2000, porque a situação estava dificílima. Pensei até em fazer uma coisa, que eu gosto de contar, pois quantas pessoas não passam pela mesma questão.
"Eu pensei em me suicidar de uma forma que meus filhos não soubessem que eu tinha me suicidado. Eu iria jogar meu carro num barranco para parecer que tinha sido algo no carro."
Mas não fiz e resolvi ir para uma feira de cerâmica na Itália. Eu fui e esse momento foi muito importante na minha vida. Quando eu voltei eu era outra pessoa e as atitudes que tomei, a partir daí, fizeram com que em 2002 a fábrica recomeçasse a dar resultado e saísse do vermelho.
O POVO - Como superou?
Ana Lúcia - Quando soube, em 2000, que tinha a feira na Itália de equipamentos, a Cersaie & Tecnargilla, eu pedi ao senhor que vendia equipamentos para ir com ele. Era uma maneira que eu tinha de me inspirar.
Essa viagem foi fundamental, porque quando chegamos lá ele foi visitar a pessoa que ele representava, o senhor (Umberto) Manfredini (da cerâmica
Manfredini me convidou para almoçar num restaurante que ficava num castelo e para jantar na casa dele.
No ano seguinte, 2001, ele veio para uma feira no Brasil chamada Revestir e eu fui para essa feira com a finalidade de pedir para ele se tornar meu sócio ou comprar a fábrica, porque a situação estava muito difícil.
Mas no dia que eu ia conversar com ele, pois ele tinha compromisso com empresários do setor, essa reunião não aconteceu. Eu chorei muito na hora, depois enxuguei as lágrimas e fui para o jantar que ele tinha organizado com os representantes no Brasil. Pensei: é porque não tinha que ser.
O POVO - E como esse episódio se tornou o mais importante da sua vida profissional?
Ana Lúcia - No ano seguinte, 2002, houve novamente a feira na Itália e eu fui com a Mariana. A Cerbras já estava numa situação melhor e tinha saído do vermelho.
Quando chegamos lá, o Manfredini imediatamente nos convidou para almoçar e eu disse para ele que se quisesse comprar a fábrica, ou ser meu sócio, eu não queria mais (risos).
A firma dele estava comemorando 40 anos e ele fez uma grande festa em Rimini, na cidade que estávamos. Ele convidou 300 clientes de todo o mundo para esse evento e homenageou os representantes, inclusive o meu amigo do Brasil que me levou para feira em 2000.
Fui à mesa dos ceramistas brasileiros e disse: "Vamos fazer algazarra quando chamarem o nome do brasileiro", e fizemos.
Na sequência, Manfredini disse: 'Eu queria homenagear uma ceramista do Nordeste do Brasil, que tinha passado muita dificuldade, mas estava conseguindo superar' e chamou: 'Ana Lúcia!'. Eu chorava de soluçar.
A esposa dele me levou até o palco e eu só chorava de tanta emoção, nem consegui agradecer ou falar nada.
Este dia foi o de maior emoção na minha vida profissional. Em 2003, já consegui comprar equipamento dele e comecei a produzir no ano seguinte. Assim, as coisas mudaram.
O POVO - Como a senhora analisa as diferenças de geração na administração atual da Cerbras?
Ana Lúcia - Eu nunca coloquei dificuldade e sempre acreditei muito nos meus filhos. Tudo sempre caminhou de forma muito natural na transmissão de tarefas.
Sinto que a fábrica já está em boas mãos e realmente venho porque eu gosto. Minha presença já não é mais tão fundamental e mais institucional.
O POVO - O que gosta mais no convívio profissional com eles?
Ana Lúcia - É muito bom trabalhar com a família, desde que exista respeito. Mas acho excelente. E não é só isso não, é porque nós temos uma equipe boa, sem uma equipe não se consegue nada.
Eles respeitam essas equipes. Todos têm pessoas próximas que são excelentes. São mais de 1.300 funcionários que são fundamentais para a fábrica.
Eu sempre valorizo muito as pessoas que trabalham com a gente, meus filhos também fazem isso. Tanto que eles souberam montar bem as equipes deles.
O POVO - Enxerga algo ruim em trabalhar em família?
Ana Lúcia - Nada. É maravilhoso. Vivemos tão intensamente as questões da fábrica na própria empresa que na hora que estamos em família é só família mesmo.
O POVO - Neste ano, decidiu fazer mudanças na marca e na identidade visual. Qual o intuito?
Ana Lúcia - Essa decisão toda faz parte da área da Mariana. É ela quem está no Marketing e está ligada à área industrial, por exemplo, como a da qualidade, os modelos de porcelanatos.
Tudo tem relação com o que ela faz. Assim, ela avaliou que a Cerbras deveria passar por um processo de reposicionamento no mercado com ampliação dos produtos para novos públicos. Uma marca mais moderna para conversar com essa nova fase.
O POVO - A senhora foi homenageada na Casa Cor 2022. Como se sentiu?
Ana Lúcia - Muito feliz, pois a Casa Cor é um evento que nós sempre comparecemos, tanto eu como meus filhos.
Sempre fomos parceiros, pois nossa cerâmica é utilizada em alguns ambientes pelos arquitetos há vários anos. Nesse ano, a Neuma (Figueiredo) resolveu me homenagear e fiquei muito feliz. Neuma é brilhante nesses anos todos que está à frente do evento.
O POVO - Também recebeu a medalha Ivens Dias Branco, honra do mérito industrial, em Maracanaú...
Ana Lúcia - Sempre é muito bom ter um reconhecimento do trabalho da gente. Isso sempre nos deixa felizes.
O POVO - Os colaboradores também se sentem orgulhosos?
Ana Lúcia - Sim. Inclusive, na fábrica tem algo interessante que foi ideia minha. Existem três urnas espalhadas que só eu tenho as chaves dos cadeados.
"Lá os funcionários colocam o que eles querem de forma anônima ou com assinatura. Eu vejo as reclamações e repasso para os setores responsáveis e as atitudes são tomadas para reverter o que está incomodando. Eles se sentem muito felizes com isso, pois são ouvidos."
Antes eles não faziam as reclamações com medo de ter alguma reação por parte do chefe imediato, desta forma, anonimamente fica mais fácil. Eu não passo nem a letra para eles não serem identificados. Só digo a reclamação. Ouvi-los é muito importante.
O POVO - Além de uma grande empresária, a senhora é uma grande mãe para eles?
Ana Lúcia - Eu me sinto assim, como se eles fossem meus filhos.
O POVO - Poucas mulheres são líderes industriais em todo o País. O que é preciso mudar?
Ana Lúcia - Tenho uma percepção em relação a nós, mulheres. Pela educação que recebemos e damos às filhas, as educando para serem donas de casas, brincarem com bonecas e serem mães, mesmo quando casamos e trabalhamos, somos nós que prestamos atenção nos detalhes de tudo.
Isso aconteceu comigo e deve acontecer com a maioria da mulheres. Nós que prestamos atenção se o arroz não vai faltar. Como está a questão alimentar, as vacinas dos filhos. Somos nós que acompanhamos os deveres de casa das crianças, cuidamos da saúde.
Somos nós mulheres, mesmo trabalhando. Por esse motivo, eu digo que as mulheres prestam mais atenção, pois é uma questão de educação. Por isso que administramos melhor. Já os homens ousam, eles são empreendedores. Se não fosse meu marido a fábrica não existiria.
Eles arriscam e nós não gostamos muito de arriscar. Mas, quando estamos à frente, a gente administra melhor, por conta da educação que nós recebemos de prestar mais atenção. Isso de prestar a atenção fez uma diferença enorme na fábrica.
O POVO - O que falta, então, para termos mais mulheres?
Ana Lúcia - Eu acho que as mulheres administrando faz uma diferença enorme. Se os homens perceberem isso e aceitarem nós somos melhores administradoras.
O POVO - O ano de 2022 foi bom para a Cerbras? E para o próximo ano?
Ana Lúcia - Foi um ano muito bom, inclusive, nossas vendas e nossas exportações aumentaram substancialmente.
Nós estamos vendendo mais de 40% para o Ceará no mercado interno, seguido por Rio Grande do Norte e o Maranhão, que não era há algum tempo, ocupando o terceiro lugar. E a exportação aparece em quarto lugar, principalmente para os Estados Unidos.
"Somos muito cuidadosos, então, no momento certo iremos continuar ampliando. Também colocamos em prática projetos que vinham sendo desenvolvidos e bater recorde de vendas. Expandimos também nossas exportações para outros países."
Paralelo a isto, houve o lançamento dos grandes porcelanatos nos tamanhos 120x120 cm, 60x120 cm, 94,5x94,5 cm. É a nossa abertura de portas para novos mercados. A partir do próximo ano, a expectativa é consolidar a marca em todo o território nacional e aumentar potencialmente as exportações.
O POVO - Com fica a logística com essa expansão?
Ana Lúcia - O Felipe, que cuida mais da questão financeira, administra muito bem a área. Ele é muito responsável.
Para ter ideia, todo o pedido que chega já entra no processo e quando vai carregar um caminhão no estoque já tem o endereço e já vai ao local certo entregar aquela cerâmica e aquele porcelanato, porque a informática é fundamental em uma fábrica.
É muito bom ter todas as áreas trabalhando de maneira informatizada.
O POVO - Já planeja uma vida após a Cerbras?
Ana Lúcia - Eu não vejo. Acho eu vou continuar vindo aqui, porque não venho obrigada eu venho pois me sinto bem na fábrica.
Eu almoço junto com todos os funcionários, no mesmo momento que eles vão. Aqui são várias refeições, pois a fábrica não para e funciona em três turnos. Sei que já posso me aposentar, mas não pretendo fazer isso. Eu sou feliz aqui.
O POVO - E a sucessão já foi definida?
Ana Lúcia - Não e acho que isso será decidido entre eles. Eu prefiro assim do que eu determinar. Os três estão preparadíssimos para assumir a Presidência, mas cabe a eles decidir.
O POVO - Como a Cerbras contribui para o legado industrial e econômico do Ceará?
Ana Lúcia - Eu acredito que contribui muito pelas honrarias que já recebemos da Fiec (Federação das Indústrias do Ceará), de Maracanaú e do Governo (Estadual).
"Há muito tempo trabalhamos dentro da legalidade e isso é fundamental. Pagamos todos os impostos, os funcionários têm participação nos lucros, plano de saúde para eles e para os dependentes. Isso faz a diferença."
Logo no primeiro encontro, Ana Lúcia Bastos Mota, atual presidente da Cerbras, encantou toda a equipe.
Com seu jeito espontâneo e direto não limitou assuntos e já fez piadas que arrancaram risadas de todos, deixando a formalidade de lado para entrar a descontração e o profissionalismo.
Ainda estava indefinida a participação de alguns filhos nas fotos, por timidez, mas não negaram o pedido da mãe e participaram da sessão de imagens em diferentes pontos da fábrica.
Como uma verdadeira anfitriã, Ana Lúcia nos levou para conhecer toda a produção e, ainda, o galpão externo.
Entre seus cantinhos prediletos da fábrica, a sua sala, que nos levou e mostrou cada foto e o seu significado.
Claro, o marido Tarcísio, falecido em 1994, em destaque, faz com que sua presença esteja sempre naquele espaço.
Na estante fotos diversas com políticos e empresários, entre eles os ex-governadores Camilo Santana e Cid Gomes, a atual governadora Izolda Cela, a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins, o secretário e ex-presidente da Fiec, Roberto Macedo.
Na sua gestão foi honrada com a medalha do mérito industrial, uma das poucas mulheres na galeria da entidade industrial. Na ocasião, chamou os colaboradores para o evento.
Outra recordação que guarda com muito amor e cuidado é o quadro com a entrevista que deu, em 2013, para as Páginas Azuis do O POVO a jornalista Teresa Fernandes e fotos do Edimar Soares.
Enquanto nas demais entrevistas do Projeto Legados não incluímos entre os assuntos o tema política, Ana Lúcia fez questão de expor e defender, nos bastidores, suas opiniões e expectativas de melhoras para o País durante a produção.
Essa entrevista exclusiva com a presidente da Cerbras para O POVO dá sequência ao projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.
Serão dez entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.
No próximo episódio, contaremos a história e o legado do senhor José Airton Boris Ponte, das Óticas Boris.
Uma série de entrevistas especiais com grandes empresários que deixam legados para a sociedade e a economia do Ceará