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Sorvetes Frosty: Da venda de ferro velho até a fábrica de picolés
Reportagem Seriada

Sorvetes Frosty: Da venda de ferro velho até a fábrica de picolés

| Edgard Segantini Junior | As sequelas da meningite, como perda de audição, não limitaram os sonhos do empresário paulista em mudar de vida e prosperar. Hoje, aos 53 anos, além de comandar a maior empresa de sorvetes do Nordeste, e já contar com sucessão familiar, é o presidente do Sindsorvetes
Episódio 14

Sorvetes Frosty: Da venda de ferro velho até a fábrica de picolés

| Edgard Segantini Junior | As sequelas da meningite, como perda de audição, não limitaram os sonhos do empresário paulista em mudar de vida e prosperar. Hoje, aos 53 anos, além de comandar a maior empresa de sorvetes do Nordeste, e já contar com sucessão familiar, é o presidente do Sindsorvetes
Episódio 14
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Foi na periferia da capital paulista que Edgard Segantini Junior nasceu e passou a primeira infância. A vida difícil dentro de casa com os pais e dois irmãos mais novos fez com que desde cedo aprendesse a valorizar o trabalho e o dinheiro.

Ainda aos 10 anos conheceu o primeiro trabalho que era vender ferro velho que encontrara na rua para comprar seus próprios doces. Além disso, ajudava a mãe (Neuza) nas tarefas domésticas e a costurar, o ganha pão materno. Seu pai era tecelão.

Sempre de olho nas oportunidades, no verão, fazia geladinho - também conhecido como dindin ou sacolé - para vender.

A primeira receita rendeu 15 unidades, mas quase faliu pela falta de prática. Era esse seu primeiro contato com o universo dos gelados, o qual o consagraria como um futuro empresário.

Nascido em São Miguel Paulista, periferia de São Paulo, Edgard Segantini Junior, desde jovem ajudou a mãe e desenvolveu seu tino empreendedor(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Nascido em São Miguel Paulista, periferia de São Paulo, Edgard Segantini Junior, desde jovem ajudou a mãe e desenvolveu seu tino empreendedor

Despois foram os picolés nos estádios de futebol. Na década de 1990, inventou o cascão e ia vender em Santos. O pai estava desempregado e ajudava na produção.

Já a mãe financiava todas essas atividades na condição de sócia, o que exerce até hoje, na Frosty. No leque de empreendimentos que tentou tocar, teve até lojas em que ele vendia tudo por R$ 1. 

Em Fortaleza encontrou seu destino por intermédio de um amigo de Sertãozinho, interior de São Paulo, que fazia máquinas de sorvetes e tinha cliente aqui.

Em março de 2002, veio com o amigo e ficou no Ceará. Tornou-se primeiro sócio da Frutbiss e depois, em 2006, adquiriu 100% da Frosty, que à época tinha dívidas. 

Edgard sempre teve o sonho que os três filhos seguissem seus passos, mas depois da entrada do Filipe, 22, há quatro anos, ele visa que a sucessão já está no caminho certo e liberou Daniel, 13, para ser jogador de futebol e Ana Ruth, 9, uma futura médica. Para os filhos, opta pela transparência e conta seus erros e acertos até aqui. 

Com a chega do filho mais velho na Frosty, Filipe, Edgard Segantini Junior sente-se confiante num plano de sucessão dos negócios(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Com a chega do filho mais velho na Frosty, Filipe, Edgard Segantini Junior sente-se confiante num plano de sucessão dos negócios

No seu caminhar, ainda houve as dificuldades e a superação que ele teve de se adaptar após ter pedido 50% da audição por ocasião de uma meningite. Esses e outros temas foram trazidos na entrevista exclusiva ao O POVO, que ainda aborda os negócios e o futuro da Frosty.

 

 

Conheça os números da empresa 

O POVO - Sua infância foi em São Paulo. Quais as principais recordações da época e da relação com seus pais e avós?

Edgard Segantini Junior – A minha infância foi em São Paulo, na Capital, em um bairro chamado São Miguel Paulista. Até hoje é uma periferia, fica próxima ao campo do Corinthians. Foi um infância difícil, a gente não tinha muita posse, minha mãe era costureira e sempre trabalhando bastante.

Meu pai saía cedo para trabalhar como tecelão e só voltava à noite, pois o trabalho era longe. Nas oportunidades que tínhamos na rua a gente brincava de futebol. Quando não chovia, porque a rua era de terra e não tinha como jogar.

Eu tenho um irmão mais novo, com diferença de um ano e uma irmã mais nova com sete anos a menos que eu. Lembro que ajudávamos minha mãe fazendo os deveres de casa, lavávamos louça, arrumávamos a cama, e a costurar também. Isso com sete, oito anos.

Ainda adolescente, Edgard foi morar no interior de São Paulo, em Sertãozinho, com a família(Foto: Arquivo empresa Frosty)
Foto: Arquivo empresa Frosty Ainda adolescente, Edgard foi morar no interior de São Paulo, em Sertãozinho, com a família

O POVO – O senhor começou a trabalhar cedo também. O que fazia?

Edgard - Quando eu tinha dez anos eu queria ganhar dinheiro e havia momento de ganhar dinheiro. Eu comecei vendendo ferro velho. Pegava na rua para vender. O meu objetivo era comprar meus doces. Não ganhava muito, mas aquele dinheiro era para comprar.

Na época que chegou o calor em São Paulo comecei fazer geladinho, dindin (ou sacolé) aqui em Fortaleza e na época lá era juju. Eu pedi minha mãe para comprar o saquinho que a gente ia fazer. Eu era muito tímido então meu irmão saiu para vender. Na primeira produção quase a gente quebra.

Porque eu não enchi tanto o saquinho, porque pensei que na hora que colocasse na geladeira ele ia encher. Mas só que não aconteceu isso. Ele ficou todo amassado. Nós pegamos e derretemos, aí eu aprendi que tinha que encher todo.

Ia dar menos geladinho e eu queria ganhar mais dinheiro. A primeira receita rendeu 15 geladinhos. Vendíamos em casa na semana e aos sábados meu irmão ia na feira. Depois de um tempo eu comprei a parte dele, eu já queria empreender mais desde aquela época. Era uma coisa muito natural minha.

O POVO – O que mais fez?

Edgard - Minha atividade empreendedora sempre foi de comprar e vender. Então eu comecei a fazer pulseirinha com os nomes das pessoas. Comprei uma e vi como fazia e comecei a fazer as minhas. Nessa época eu já tinha uns 13 anos.

Todo mundo da classe já tinha comprado minha pulseirinha então eu tinha que inovar. No fim de semana todo mundo ia para o campo de futebol aí eu comecei a vender picolé lá. No primeiro tempo eu já vendia todos os picolés e aí eu ficava vendo o jogo. Aí o time não se classificava e eu tinha que parar de vender.

O POVO – Também ajudava sua mãe nas negociações dela desde pequeno...

Edgard - Quando eu tinha uns 13/14 anos, em Sertãozinho, fui negociar uma casa para minha mãe, que ela queria fazer uma loja para vender o que ela costurava. Era um ponto comercial muito bom em frente a dois supermercados. Eu era muito magrinho fui de bermuda, chinelo, ele não acreditava em mim.

Demorei três meses para conseguir fechar com o dono. Minha mãe fez a loja e no fundo a gente fez a primeira sorveteria. Antes disso eu saía de bicicleta levando uma mala cheia de moletom para vender nas lojas. Eu comecei a vender por vontade própria, porque precisava fazer o negócio crescer.

Edgard Segantini ajudou a mãe na primeira sorveteria da família em Sertãozinho, interior de São Paulo(Foto: Arquivo empresa Frosty)
Foto: Arquivo empresa Frosty Edgard Segantini ajudou a mãe na primeira sorveteria da família em Sertãozinho, interior de São Paulo

Sempre quis ajudar a família para a gente ter oportunidades. Meu sonho na época, como eu gostava muito de filme, era comprar um videocassete. Isso, em 1984, era muito caro.

O POVO – O senhor focava nos sonhos para vender mais?

Edgard – No primeiro momento foi por necessidade, necessidade de comer melhor, de melhorar a casa. Hoje, graças a Deus, a parte básica a gente tem, então os sonhos são outros. Queria trocar de carro, queria ter uma viagem legal.

Eu tenho essa oportunidade hoje com meus filhos de sair e viver uma experiência com eles. É isso que vai ficar. Eu tenho feito muito isso com meus filhos.

O POVO – Quais as lições de vida recorda-se de ter aprendido com seus pais e traz até hoje no seu dia a dia?

Edgard – A atividade empreendedora vem muito da minha mãe. Meu pai era funcionário. E eu peguei isso muito dela e sempre eu tive ideias, mas nunca tinha dinheiro para investir. Minha mãe me emprestava o dinheiro e a gente entrava como sócio.

Edgard Segantini Junior acredita que venha da mãe o gosto pelo empreendedorismo(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Edgard Segantini Junior acredita que venha da mãe o gosto pelo empreendedorismo

A atividade de cascão, aquela casquinha de sorvete, eu comecei a fazer quando ninguém conhecia em 1990. E eu comecei a vender em Santos, locais longe mesmo. E nesta época meu pai estava desempregado então ele fazia, eu vendia e minha mãe financiava.

Nós éramos somos sócios do negócio. Até hoje minha mãe é sócia na empresa também.

O POVO – Fez alguma faculdade?

Edgard - Eu fiz técnica em Eletrotécnica, mas fiquei sabendo que técnico não era engenheiro. Eu nem terminei o quarto e fui fazer a faculdade de engenharia elétrica em Barretos, interior de São Paulo. Fiquei cinco anos lá e me formei, mas eu nunca acabei exercendo.

Porque quando eu estava lá em Barretos, ainda no primeiro ano, abri uma sorveteria em Sertãozinho, onde minha família estava morando e voltava para lá aos fins de semana.

No segundo ano, em 1990, eu já abri já em Barretos e ficava direto lá. Já estava com duas sorveterias. Nessa época minha mãe fabricava o sorvete e eu vendia.

O POVO – Como era trabalhar com sua mãe nessa época?

Edgard - Eu sempre fui mais atirado nos negócios, com ideias e o empreendedorismo e ela o apoio. Eu mostrava que se a gente fizesse isso eu acho que a gente ia ter isso. Ela confiava naquilo que eu estava falando, mostrava para ela e ela investia. Eu falava que ia trazer dois x e eu trazia quatro.

Era tudo tranquilo nessa relação. Há três anos minha mãe se aposentou e nós fechamos a indústria em São Paulo, que ela estava tomando conta. Agora a gente se vê pelo menos três, quatro vezes por ano. Antigamente, até três anos, eu ia muito para lá por conta dos negócios.

Lá a gente tinha a marca Tá Bonzinho, uma cópia da Marujinho. Por mais que eu trouxesse a minha experiência para Fortaleza, o Marujinho é um case aqui. Todo mundo conhece. Eu levei o Marujinho para São Paulo e lá eu chamava Tá bonzinho.

Eu vendi muito lá, mas muito mesmo, muito mais do que vendo aqui. Mas como minha mãe está com 75 anos, encerramos a produção lá e trouxe todo o maquinário para cá.

O POVO - Por que decidiu mudar para Fortaleza? Como a Frosty cruzou o seu caminho?

Edgard - Eu tinha um amigo lá em Sertãozinho que fazia máquina para sorvete e ele falava que estava vendendo uma máquina para cá e, no ano seguinte, ele comprou uma máquina maior, quero conhecer ele não dá conta de vender sorvete?

Isso era março em 2002. Aí eu vim com ele e ele estava procurando um sócio, um investidor.

Aí eu entrei no negócio. Era a sorveteria Biss, depois Frutbiss e eu fiquei por três anos e meio lá. Foi quando eu vendi minha parte e a Frosty e ele me chamou para ser sócio de início, mas aí eu vi que poderia comprar. Em 2006, eu assumi 100% da Frosty. Eu já conhecia o mercado.

Após administrar outra marca de sorvetes no Ceará, a Frosty convidou o Edgard Segantini Junior para ser sócio, mas ele viu a possibilidade de adquirir toda a empresa(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Após administrar outra marca de sorvetes no Ceará, a Frosty convidou o Edgard Segantini Junior para ser sócio, mas ele viu a possibilidade de adquirir toda a empresa

O POVO - Qual a história da Frosty e o que avalia que a empresa traz de mais relevante na sua história? Por que decidiu assumir com sua mãe as operações da empresa?

Edgard – A Frosty começou em 1990 numa garagem, na Aldeota. Os fundadores eram o Coronel Tabosa e família, família Rocha e eles começaram um negócio pequeno. Quando eu cheguei, em 2002, eles já estavam no bairro do Passaré, no prédio próprio. Mas era de uma maneira muito simples, não tinha um comercial forte, não tinha um produto bom.

Quando eu entrei na Frosty eu mudei todo esse aspecto de qualidade. Melhorei embalagem, melhorei a qualidade do produto, aumentamos a produção e o estoque.

 

 

Conheça o legado familiar: descendentes

Filhos - Edgard Filipe, Daniel e Ana Ruth

O POVO – Sua esposa trabalhou 15 anos com o senhor e está em um ano sabático e deve voltar. Seu filho mais velho, Filipe, está com o senhor nos negócios. Como concilia essas questões pessoais e laborais?

Edgard – É um desafio grande você trabalhar com a família e depois ter um relacionamento na própria casa. Eu e minha esposa por quinze anos trabalhamos juntos, mas sentimos que o momento estava confundindo um pouco as coisas. Por isso ela agora está saindo para tomar conta da casa, até porque eu tenho uma filha com nove anos que precisa de cuidados.

E eu preciso ter foco no trabalho, principalmente no horário comercial. Atualmente eu não trabalho mais de sábado e domingo, mas no celular direto disponível. Com o Filipe já é uma geração diferente, ele entrou há quatro anos na empresa, com 18 anos.

O Filipe é um rapaz muito preparado. Ele sempre viveu o sorvete, desde criança, e tem uma experiência legal, ele vendia o Marujinho na escola. Pela diferença de idade, ele está com 22 e eu 53, a gente tem embate sim, mas a gente sabe o limite.

Há quatro anos, Edgard Segantini Junior tem o filho Filipe ao seu lado na administração da indústria de sorvetes(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Há quatro anos, Edgard Segantini Junior tem o filho Filipe ao seu lado na administração da indústria de sorvetes

No momento que a situação ferve a gente diz vamos resolver isso amanhã? Vamos pensar um pouquinho. E a gente sempre acha uma saída. Ele me surpreende muito, e é uma cabeça totalmente diferente, uma geração totalmente diferente. Ele me respeita pela experiência e por tudo que eu já fiz.

O POVO - Tem alguma coisa que o senhor não abre mão?

Edgard – Às vezes ele tem uma ideia e eu falo não naquele momento, mas depois de seis meses reavaliamos e aquilo se torna uma realidade. Mas, às vezes, precisamos melhor o tempo, pois poderíamos ter tomado a decisão em três meses. A resistência existe da minha parte, mas cada vez mais ela é quebrada.

O Filipe está entrando mais no negócio, tomando muito mais decisões. Como eu sempre trabalhei sozinho eu era muito centralizador e ele tem uma visão totalmente diferente de liderança.

É através de indicadores, a pessoa desenvolver os líderes. O mundo está mudando muito e estou querendo respirar para ver as mudanças. Mas tem acontecido e tem dado certo.

O POVO - O senhor tem mais filhos que também vão seguir no ramo dos sorvetes?

Edgard - Eu tenho o Daniel ele tem 13 anos e está estudando. Ele está jogando no Ceará no sub-14. Ele quer ser jogador de futebol. E tenho a Ana Ruth com nove e quer ser médica. 

No começo queria que todos eles seguissem minha carreira, mas eu vejo que o Filipe está tão bem lá que os outros podem fazer o que quiserem. Eles têm liberdade para tomarem suas decisões e vou apoiar.

O POVO - O que é o melhor em trabalhar junto com o Filipe? E o pior?

Edgard - A gente fica muito alinhado com os objetivos de sonhos. Junto com a minha esposa, mesmo ela sabe onde eu estou. A gente almoça sempre juntos e alinhamos as coisas pessoais também. Estar perto do filho é muito bom.

A única coisa que não é legal é que estamos fazendo algumas viagens em família e sempre tem que ficar alguém na empresa. Ou vai o Filipe ou vai eu.

O POVO - Como são os momentos com os seus filhos?

Edgard – Filipe e Daniel são filhos do meu primeiro casamento e a Ana Ruth do segundo. Eu e todos os meus filhos jogamos ping-pong. Jogamos tênis também. Os três são muito competitivos e é uma disputa muito grande. Eu como pai sempre incentivei eles jogarem xadrez, ping-pong e tênis. O Daniel também gosta de futebol. Eles também jogam beach tênis.

A gente não dá chance para ninguém. Eles não gostam de perder. No pingue-pongue é pau a pau para os três. Ana Ruth já é a melhor do ping-pong na escola dela. Eu jogo com ela uma vez por semana. Avalio que esporte é superação, a minha vida toda foi de superação.

O POVO – Como o senhor trabalha essa questão de superação, humildade com seus filhos já que eles tiveram uma realidade diferente do senhor?

Edgard – Eu sempre mostrei para eles a verdade, que existe dificuldade, que existe derrota, eu fui derrotado. Por exemplo, eu repeti a quarta série do primário e eu falo como brincadeira hoje, mas na época foi muito difícil pra mim.

E eu tive problema de audição quando eu tive meningite. Eu perdi mais de 50% da minha audição. Então isso limitou muitas coisas na minha vida.

Depois que eu entendi que isso era um limitador eu comecei a contrapor com outras coisas que eu estou bom. Sou muito bom em matemática. Eu leio muito rápido.

Como eu perdi a audição, a minha visão é muito rápida. Demorou um pouco para eu aprender a fazer as compensações. Mas quando eu aprendi eu não fiquei sendo vítima. 

Meus esportes são individuais não por acaso, mas porque tinha dificuldade na comunicação. Eu tinha meu esforço, eu dependia de mim. Eu sou muito claro com eles, sempre falei dos meus erros na vida. Se você fala só as coisas boas você começa a pôr um patamar tão alto para os filhos que eles não conseguem ser você, apesar de querer.

Eu digo: "Cheguei aqui e tive dificuldades, vocês também vão ter. O que vocês precisarem de ajuda teu pai vai te apoiar, como a minha mãe me apoiou e me apoia. É para isso que os pais servem, estarem juntos com os filhos no momento que eles precisarem."

O POVO – Comente sobre a nomeação para a Presidência do Sindsorvetes, entidade ligada à Fiec...

Edgard – O sindicato, ele começou as primeiras conversas comigo e com o senhor Tabosa na época. E eu nunca fui presidente. Nos dois últimos mandatos eu fui vice-presidente. E agora, desde janeiro, estou presidente por três anos, até 2025.

Nós já começamos algumas ações como o curso de sorvete junto ao Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), pela segunda vez. Temos também a feira do sorvete que acontece na Fiec, nos dias 4 e 5 de outubro desse ano. Tivemos novas adesões de associados de janeiro para cá. Hoje são 28 (março/2023).

O POVO - Como que o senhor vê o mercado de forma geral, como por exemplo, aumento de energia?

Edgard – A Frosty, como tem um potencial maior de consumo de energia, está no mercado livre (de energia) e também estamos trabalhando com energia solar. Outras empresas também do sindicato optaram por energia solar para diminuir o consumo e não aumentar tanto o sorvete.

O POVO - O consumidor mudou seus hábitos na pandemia. De que forma isso afetou a Frosty?

Edgard – A pandemia, quando ocorreu em 2020, tinham os supermercados abertos e a gente trabalhava muito com os supermercados e o autosserviço. Assim, nós tivemos um crescimento muito grande e quando aconteceu a pandemia o meu filho Filipe estava fazendo um intercâmbio no Canadá.

E um dia antes já tinha acontecido a pandemia lá e ele me mandou uma foto que o supermercado estava vazio e estava faltando tudo, não tinha nem papel higiênico. Entendendo que isso também ia acontecer aqui e que a pandemia chegaria aqui em 19 de março, a gente estava com as compras paradas com estoque alto, não vamos comprar.

E eu fiz um comitê de anti-crise para aumentar todos os pedidos. Porque tinham algumas cargas que estavam vindo para cá, mas a minha Diretoria queria parar a compra porque ia fechar. Eu falei nós vamos é dobrar o pedido. Nós fizemos isso e quando a pandemia realmente ficou forte nós não tivemos dificuldade com matéria-prima. Nós conseguimos preços melhores, porque depois tudo aumentou.

O POVO – E o cliente final?
Edgard - Como os restaurantes estavam fechados compravam sorvetes no supermercado e mesmo depois da pandemia esse hábito ficou. Porque as pessoas viram a facilidade que elas tinham de estar em família tomando sorvete e de forma mais barata. Isso proporcionou um crescimento nas lojas.

O POVO - Atualmente como são desenvolvidos novos sabores e produtos?

Edgard - De 2020 para cá nós fizemos uma separação na Frosty. Tinha uma área de qualidade e aí nós desenvolvemos a de P&D (Pesquisa & Desenvolvimento). São agora duas gerências, uma responsável pela produção e a outra por lançar novos produtos. Depois que fizemos isso, os nossos lançamentos foram muito maiores.

Lançamos toda a linha Gold que é o picolé cruzados. A linha Marujinho feito de forma diferente. Lançamos também o Pura Fruta que é o sorvete zero açúcar, que o lançamento foi feito em março.

Também lançamos as poupas. Como o mercado de sorvete é um mercado de experiência você está levando novos sabores e as pessoas estão se sentindo em novas experiências. Isso tem dado bons resultados.

O POVO - Como analisa novos hábitos alimentares com as restrições, dietas médicas e as saudáveis com foco no baixo consumo de calorias?

Edgard – A Frosty tem o objetivo de atender todo tipo de cliente. Temos o sorvete zero lactose, para quem tem intolerância à lactose. É o sorvete específico sem leite para essas pessoas. Tem a linha Pura Fruta que é a linha zero açúcar e sem leite. E tem também a linha diet sem açúcar. Temos picolés de 23 a 49 calorias.

O POVO - De acordo com pesquisa da Nielsen, a Frosty foi reconhecida como a maior do Nordeste e a quinta do Brasil em volume de vendas por dois anos consecutivos. Como é estar à frente deste negócios?

Edgard - A gente se sente feliz pelo fato que o consumidor está provando nosso produto. E tem cada vez mais consumido mais e com isso temos alcançado várias regiões.

Estamos de Recife (PE) até São Luís (MA)... Teresina (PI), Fortaleza (CE), Mossoró (RN). Estamos chegando a mais consumidores e trazendo mais alegria para essas pessoas. Isso que é importante.

O POVO - Desde a sua entrada em 2006 a empresa cresceu quantos por cento? O que foi fundamental para esse crescimento?

Edgard – Ela cresceu 120 vezes. Acho que primeiramente foi trabalho. Tivemos que trabalhar bastante e veio a tendência do mercado, trazer sempre o melhor ao nosso consumidor.

A gente tem oportunidade de participar de feiras na Itália, nos Estados Unidos, mercados mais avançados, e trazemos as ideias para se colocar aqui no Ceará, no Nordeste e no Brasil.

O POVO - A empresa adquiriu algumas marcas ao longo da história, como a Marujinho e, recentemente, em 2020, a Barbaresco. Como vê as fusões no segmento e existem novas em planejamento?

Edgard – A Marujinho é uma marca que já existia e muito conhecida e a gente trabalha com ela como fundo de combate. E também produtos para revenda. A Barbaresco é um projeto que a gente já tem a marca, conhecida no mercado na linha gourmet e a gente ainda tem que fazer um trabalho com ela ainda.

Ela está na gaveta aguardando uma oportunidade para que a gente possa lançar ela de maneira que seja um produto mais elitizado. Para novas aquisições estamos vendo mercado. Estamos vendo uma oportunidade no mercado de Recife, principalmente.

O POVO - Como foi 2022 para os negócios da empresa?

Edgard – Crescemos bastante as lojas, com lojas próprias e crescendo tanto no Piauí, como nove lojas em Recife e no Maranhão. O foco mesmo foi na abertura de lojas. Também tivemos uma parceria com a Arco grande, com as marcas 7 Belo e Big Big. Lançamos com exclusividade. Crescemos mais de 30%. Hoje temos 58 lojas.

Até o fim do ano prevemos ter 75 lojas próprias. Temos um projeto de verticalização da empresa que estamos começando pelo produção do chocolate. Todo chocolate e cobertura a gente fabrica. E a ideia agora é fabricar também o nosso estoque de doces, de goiaba, doce de leite e de abacaxi.

O POVO - Qual o futuro da Frosty no curto, médio e longo prazo? Atualmente são 58 lojas nos estados de Ceará, Pernambuco, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte...

Edgard – A meta são 100 lojas até fim de 2024. Teremos mais parcerias em torno do universo do sorvete como a feita com petit gateau.

Lançaremos a cobertura da Frosty, três sabores. Chocolate e morango certeza e caramelo em estudo. Das 20 novas lojas em 2023, teremos mais três em Recife e uma filial; mais uma loja em São Luís.

Algumas serão no interior do Ceará como Itapipoca, Beberibe, outra na Caucaia, Maranguape e algumas em Fortaleza. Para abrir uma loja pequena R$ 60 mil a R$ 70 mil e maior até R$ 140 mil.

Por enquanto só temos lojas próprias, mas a ideia é em seis/sete meses lançarmos franquias. A ideia é que seja fora do Ceará, possivelmente na Bahia. Ficaremos com próprias no Ceará e franquias em outros estados. A ideia é se fortalecer no Nordeste. O crescimento esperado é acima de 35% esse ano.

O POVO - Quais os seus planos de vida pessoal e profissional para o futuro? Já pensa em sucessão?

Edgard – Meu plano pessoal é ficar mais com a família e ter mais tempo para mim. O Filipe já está no caminho da sucessão e que ele tome as rédeas daqui para frente e eu fique um pouco mais longe só observando.

Estou com 53 anos e com 60 anos finalizo a sucessão. Fico ainda na empresa, não vou perder a mania de vir, mas ficarei fora da operação.

O POVO – Qual legado deixou para sua família até o momento?

Edgard – Perseverança, trabalho, amor ao próximo e ajudar as pessoas.

O POVO - Qual legado que a Frosty vem deixando para a economia cearense?

Edgard - As pessoas precisam de emprego para ter dignidade e a Frosty hoje traz muito empregos indiretos e diretos. E o de levar um produto bom e barato com preço justo a todos os cearenses.

 

 

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Projeto Legados

Essa entrevista exclusiva com Edgard Segantini Júnior, CEO da Sorvetes Frosty, para O POVO dá continuidade à segunda temporada do projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.

Serão nove entrevistas na segunda temporada com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.

No próximo episódio, conheça a história da ex-bancária Eliziane Colares, fundadora da Advance Comunicação, que concedeu entrevista ao O POVO.

 

 

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  • Edição e coordenação do Núcleo de Imagem Chico Marinho
  • Editor-adjunto do Núcleo de Imagem Demitri Tulio
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