Tudo começou com a produção caseira de bolos, doces e salgados para as festas da família. Dona Noélia com três filhos pequenos fazia com suas próprias mãos todos os quitudes para celebrar a vida dos pequenos e os momentos importantes com eles.
O que era uma necessidade, já que era mais barato fazer do que comprar fora, virou hobby e caiu no gosto dos vizinhos que queriam contratar Noélia para suas festividades, mas com toda sua gentileza e amabilidade pedia só os ingredientes, sem cobrar pela mão de obra.
Mas o boca a boca foi se alastrando e amigos dos vizinhos, parentes mais próximos também queriam e aquilo virou um negócio. Foi de um apartamento para uma casa, tudo em família, com os três filhos Igor, Yuri e Yves ajudando na cozinha e o marido, José Mario, apoiando financeiramente.
No começo era tudo diversão e para poderem sair para brincar com os colegas, eles os convidavam para colocar a mão na massa para tudo ficar pronto mais rápido.
O pagamento? Cascas dos bolos... Assim, o amor, pitada certa nas receitas de dona Noélia, conquistou mais e mais pessoas até que um quarto virou a primeira lojinha de portas abertas no Montese.
Depois outro e outro cômodo até que a casa toda virou uma loja, em 1997. Yuri, o filho do meio, que já estava acostumado a fritar os salgadinhos, entre as várias funções, experimentou novos ares, por sete anos, mas voltou por amor e saudade a família.
Nesse retorno, o primeiro desafio foi a montagem da loja Sul, segunda da dona Noélia, dessa vez no bairro Parque Manibura. De 2017 para cá, só sucesso com as aberturas, inclusive em shopping, e da cozinha industrial, que virou referência no Ceará e no Nordeste.
Yuri destaca sempre a criatividade e a determinação da mãe que deve estampar seu nome em lojas em São Paulo e fora do Brasil, nos Estados Unidos. Se depender do filho, que cuida dos planos e estudos de expansão da marca, mais uma cearense fará sucesso mundo afora. Ele acredita que o dom da mãe transformou-se em negócio de família.
O momento mais difícil que atravessaram, além do início sem um fluxo de caixa, foi um câncer com a matriarca, contado pela própria Noélia durante o café da manhã, momento de emoção a todos. Yuri lembra que mesmo diante do grave problema de saúde, dona Noélia, que tinha um bolo de casamento para confeitar, cumpriu seu compromisso horas antes de entrar na cirurgia que teve muito sucesso.
Confira o bate-papo exclusivo com Yuri, o filho da dona Noélia, que conta sobre a história da sua mãe, dos irmãos e da família. As lições de empreender e o que fez a marca que começou em casa ter um portfólio com mais de 450 produtos.
O POVO - Como foi sua infância e adolescência? As festinhas da família eram regadas a quitutes da dona Noélia...
Yuri Fontenelle – A lembrança que a gente tem é que era muita fartura. Minha mãe tem até hoje essa característica e, como ela fazia isso em casa, me lembro que as nossas festas eram regadas realmente de muitos salgadinhos, docinhos, tortas salgadas e isso era motivo para atrair muitas pessoas por perto da gente, família grande e amigos. Nossas festas também eram bem animadas.
Eu e meus irmãos brincávamos, além de irmos para a cozinha (risos), mas a gente levava o trabalho como diversão e acabamos nos adaptando. Nossa diferença é muito pequena de idade. Nós tínhamos nosso momento de brincadeira, de infância e adolescência e naturalmente um momento também de ajudar a dona Noélia.
O POVO - Como era a relação com seus pais e o que de mais marcante aprendeu com eles que traz até hoje?
Yuri – A questão dos valores que nossos pais transmitiram, principalmente a minha mãe, que a gente estava mais perto no dia a dia, foi a questão do trabalho.
O valor de respeito, no caso dela com o cliente e com o funcionário, e com o meu pai respeitar o próximo, ter amor ao próximo e, além disso, além disso, valia o lado da cobrança e da disciplina com a gente. A história da nossa família se confunde muito a história da Noélia e acho que com isso a gente teve um processo de amadurecimento mais rápido. Passei por ciclos de vida que eu não passaria se eu não tivesse um negócio dentro de casa.
A gente conseguiu amadurecer, conseguiu enfrentar um pouco mais e já ter contato com alguns problemas de uma vida adulta, por exemplo.
O POVO - Como foi ver a aceitação dos produtos da sua mãe dentro da família e depois expandindo para a vizinhança? Isso tudo começou no Montese...
Yuri – Isso. A gente morava, na década de 1980, num prédio que era um muito familiar com sete apartamentos. A proximidade e a relação era como se todos fossem uma grande família mesmo. Minha avó e meus pais contavam que minha mãe, desde quando era adolescente, com 14 anos, gostava de cozinhar aos finais de semana.
E começou a cozinhar para os pais dela e para os irmãos. Aí, depois que ela se casou, fazia faculdade, e com a dificuldade daquela época ela fazia toda a nossa comida das festas e, como a gente chamava o prédio todo, com o passar do tempo as pessoas queriam que ela também fizesse.
Diziam: 'Noélia deixa eu te contratar, eu vou te pagar e tal'. E ela dizia: 'Não, só comprar os ingredientes que eu faço.'
O POVO - Ela tinha um livro de receitas?
Yuri – Tinha. Eu me recordo que a minha avó Teresinha tinha um livro dela de receitas todo escrito à mão. Algumas receitas eram da minha outra avó, a paterna. O pão de ló que minha mãe faz é dessa minha avó Maria Luiza. Com o passar do tempo, eu e meus irmãos fomos para a cozinha e também usávamos o caderno dela.
A história da Noélia Doces e Salgados é bem fundida com a da nossa família. Porque o Yves, que é o caçula, com seis, sete anos, já ajudava na cozinha e eu lembro também eu com uns nove já ajudando. O Igor, o mais velho, também ajudava.
À medida que minha mãe foi aumentando o cardápio a gente meio que ajudava ela especificamente em algumas coisas. Eu fritava muito salgados, o Yves fez torta e fez docinho, meu outro irmão fazia os salgados. Adora fazer aos domingos um bolo de sorvete, receita da minha avó.
O POVO – Curioso ter três filhos homens, pela nossa cultura estrutural, e irem para cozinha. Era tranquilo para vocês?
Yuri – Super foi tranquilo. Mamãe até falava assim: 'Rapaz, ainda bem que eu tive três filhos homens. Talvez se fossem três mulheres elas não fossem para a cozinha.' A gente tinha que ajudar, a gente via muito o trabalho da minha mãe. A gente via a luta dela. Não tinha como a gente não apoiar e não se envolver.
O POVO - Vocês sentem orgulho e admiração...
Yuri – Sim, os valores que ela mostrou para gente, que ela apresentou, a gente leva até hoje. Ela é muito determinada e guerreira. Em alguns momentos, mesmo o negócio sendo dentro de casa, ela abria mão também da família.
Ela é muito determinada, não se abalava por problemas, ia e enfrentava mesmo. Sempre foi muito forte. Na época meu pai trabalhava como gestor de tecnologia. Ele tinha as limitações dele também de ajuda, mas ajudava fazendo as compras aos finais de semanas.
Eu lembro também que uma época assumi o financeiro, depois o Yves, com dez, 11 anos, assumiu e fazia os pagamentos. Quando meu pai viu que o negócio estava crescendo muito, porque tinha horas que o nosso apartamento era todo com materiais, ele passou por um plano de demissão voluntária em 1997 e aceitou.
Ele pegou o dinheiro da rescisão e comprou a casa no Montese, onde foi nossa primeira loja. A casa era dos meus avós maternos. Ele comprou as partes dos meus tios. Hoje é toda nossa. Nessa época ele já entrou no negócio e fez uma cozinha atrás da casa, bem estruturada.
Nessa época fazíamos sob encomendas via o boca a boca. Além daqueles vizinhos do prédio anterior, começamos a vender para os familiares deles que iam nas festas. Depois vieram os colegas de trabalho dos vizinhos.
O POVO - Acompanhava o crescimento da empresa quando os funcionários de fábrica da região começaram a encomendar? O que lembra dessa época?
Yuri – Me lembro muito da campainha tocando e a gente atendendo e entregando as comidas, tinha um corredor que nos levava até a cozinha no fim. Se não estávamos na escola estávamos ajudando minha mãe.
Lembro que chegamos a uma decisão, em um dia de muito movimento, de abrirmos uma loja e quando o cliente viesse pegar a gente teria alguma coisa à disposição, um lanche, um bolo.
Se não me falhe a memória, foi em 2007 ou 2008 que abrimos a lojinha ali mesmo na casa do Montese, usamos um quarto para isso. Aí o movimento foi aumentando. Nessa época colocamos pagamento com cartão de crédito. Foram pequenas decisões que a gente foi testando e conseguiu ver resultado.
Isso dava segurança e pensávamos em dar o próximo passo. Com menos de um ano a gente já pegou o outro quarto e foi indo. Até que passamos a casa para o andar de cima e embaixo ficou tudo loja. Nos últimos anos as coisas foram acontecendo de forma mais rápida.
Depois vimos que a casa estava ficando pequena e veio a escolha de abrir um outro ponto, a segunda unidade ou a gente aumentava mais ainda. Naquela época meu pai passou quatro anos morando em Salvador, eu e meu irmão estávamos na faculdade e decidimos crescer orgânico no próprio local. Também trabalhei num banco nessa época.
O POVO – O que foi mais difícil nessa época?
Yuri - Eu acho que é um erro que muitos empresários que quando estão iniciando cometem. A gente viu só o valor do investimento. A gente esqueceu do fluxo de caixa.
Investimos todo o dinheiro do meu pai e ficamos sem reserva para iniciar a operação. Nós passamos quatro anos de muita dificuldade financeira. Em alguns momentos atrasando o pagamento, em alguns momentos a gente teve que negociar com fornecedor, parcelamento e tal.
Isso foi um grande aprendizado para a gente. Hoje uma coisa que a gente respeita muito é o caixa da empresa. A disciplina financeira é muito grande. E, por esse motivo, graças a Deus, conseguimos superar uma pandemia.
O POVO – Como era quando estava fora?
Yuri – Em 2014 eu estava trabalhando na BSPAR e o Yves me ligava, trocávamos ideia. Ele me usou como um confidente para tirar as dúvidas. A gente tem um elo muito forte. O Yves nunca saiu da empresa com a minha mãe e eu passei sete anos fora.
Esse ano, insistimos para minha mãe comprar um apartamento e sair do Montese, que ela não queria sair do bairro. O apartamento ficou pronto e ela não quis, usamos o dinheiro dele para comprarmos uma outra casa, que é onde fizemos a loja Sul, no Parque Manibura.
O POVO - E por que voltou?
Yuri – Vi que o Yves estava com muita coisa e eu saía da BSPAR ia à noite para encontrar com ele alguns dias na semana para montarmos esse novo projeto para a loja. Até que um dia eu disse: "Cara, vou sair da BSPAR."
Foi uma decisão difícil, pois eu estava fora desse mercado há um tempo e bem-posicionado no atual emprego, mas ao mesmo tempo eu me sentia muito longe da nossa família. Ela sempre foi muito unida. Ele falou: 'Cara, cuidado'. Ele tinha os medos dele, mas eu apostei muito, pois eu acreditava muito no nosso negócio.
E aí em 2015 saí do meu emprego e voltei para a Noélia. Aí a gente decidiu realmente fazer a loja Sul. A obra começou em novembro de 2015. A gente tinha uma reserva para começar a obra e eu fui tocar a obra. A gente abriu a loja em julho de 2017.
O POVO - E como está o organograma atual da empresa?
Yuri – Hoje a administração da empresa é feita por mim e pelo Yves. Minha mãe hoje tem um papel fundamental institucionalmente perante a equipe.
Hoje minha mãe tem o papel de criação e da qualidade, ela é a diretora de Criação. Eu sou o diretor Comercial e hoje faço hoje a área comercial, o marketing e os novos negócios da empresa.
O Yves é o responsável pelo financeiro, pela produção e pela logística, ele é operacional. Teremos algumas mudanças, pois contratamos um diretor administrativo ele vai assumir o financeiro e Yves vai focar mais na parte de produção e logística.
Eu estou cedendo uma parte comercial para nossa gerente de operações, a Emília, e ficarei com a parte mais estratégica de expansão da empresa. Meu pai faz parte do Conselho.
O POVO – Você está montando um novo negócio. O que seria?
Yuri – Com a abertura da segunda loja, sentimos muita dificuldade de produção. O dezembro de 2018 foi ótimo, mas um nível de estresse muito alto para podermos entregar. Em janeiro eu e Yves sentamos e falamos: "Vamos resolver isso para não passarmos por isso no fim do ano novamente."
Quebramos a cabeça para encontrarmos um modelo centralizado. Pensamos em abrir a cozinha central no Eusébio, mas meu irmão pediu para ser perto de uma das lojas para facilitar a logística. Entendemos que a Noélia já estava em outro porte, não era mais o porte quando iniciamos.
Hoje são 450 tipos de produtos e 12 setores de produção. Contratamos um profissional e começamos a visitar feiras em todo o País. Hoje, uma coisa que eu me orgulho muito, é que a Noélia só usa equipamentos reconhecidos mundialmente.
São os melhores equipamentos do mundo. Posso abrir a Noélia em qualquer lugar do mundo que mantemos o padrão. Foi um aprendizado muito grande, começamos a receber gente do Ceará e de outros estados para ver a nossa cozinha. E essa vivência, expertise virou negócio.
Filhos: Igor (à esquerda), Yuri (centro) e Yves (à direita) / Netos: Gabriel, Maria Luíza, Lucas, Davi, Enzo e o Miguel
O POVO - O que é o melhor em trabalhar junto? E o pior?
Yuri - O bom é estar próximo deles. A gente é uma família muito unida. Nossa trajetória proporcionou essa união. A confiança também é muito boa entre nós três. O lado ruim são poucos, mas alguns momentos de dificuldades, às vezes, podem interferir na vida pessoal.
Além de nós três, trabalham no negócio minha cunhada, esposa do Yves, e os pais dela, e um primo. A gente consegue separar tudo muito bem. Nunca ficamos sem nos falar e quando entramos em alguma discordância em 30 minutos nos resolvemos.
O POVO - A empresa está em quantos locais atualmente?
Yuri – Temos lojas nos bairros Montese, Aldeota e Parque Manibura e a de shopping no RioMar Fortaleza. E em junho, previsão, a gente inaugura no North Shopping.
Para a gente entrar em shopping é uma mudança de posicionamento da empresa. O atendimento tem que ser mais rápido e com muita eficiência na cozinha. E estamos cada vez mais próximos do público, porque o shopping é um centro de concentração.
São operações menores, onde eu consigo atender o cliente num espaço de tempo maior até 22 horas. A nossa ideia de expansão agora é ir para os outros shoppings já estamos em negociação com alguns em diferentes regiões da cidade.
O POVO – Pretendem ir para outros estados?
Yuri – A gente recebeu alguns convites. Como para sermos sócios locais no Piauí e em São Paulo. Estão em análise e são coisas para 2025.
O POVO - A questão da gastronomia e da culinária afetiva é uma das principais fontes de renda na atualidade para quem deseja empreender. Como vê isso no Ceará?
Yuri - Eu acho que esse movimento está cada vez mais forte e a internet proporciona isso. Porque temos muitas mulheres e homens talentosos na cozinha que conseguem divulgar o seu trabalho de forma muito mais fácil do que minha mãe na época na década de 80. Isso facilita muito.
Eu apoio e incentivo quem precisar ir para esse caminho. Eu sempre sou convidado pela Unifametro para falar com alguns alunos sobre a prática da Noélia e dar incentivo. É uma coisa que a gente apoia quem for necessário. A gente quer que o mercado se fortaleça. Os tempos são outros e é mais fácil de empreender.
E depois da pandemia as pessoas estão buscando uma renda extra. E cada vez que a pessoa puder procurar, mesmo dentro da informalidade, um profissionalismo, ele vai criando uma base muito mais forte.
Eu acho que pra quem está fazendo em casa se preocupar com segurança alimentar é muito importante, buscar precificação e as fichas técnicas é muito importante também. O Ifood é um meio interessante que facilita o meio de pagamento e a entrega.
Eu acredito que muitas dessas pessoas consigam criar uma trajetória semelhante ou até mesmo melhor do que a da gente. O mercado está muito aberto e é bom ter um mercado competitivo e mais forte.
O POVO - Como a empresa pesquisa e lança novos produtos?
Yuri - A gente tanto pesquisa via internet como em outras praças e em muitas das viagens de família a lazer para fora do País a gente também aproveita para fazer pesquisa.
A minha mãe, além de pesquisadora, tem um dom. Foi desse dom que nasceu realmente a nossa empresa. E a gente se espelha muito e através dela que se criam as receitas.
Às vezes eu pesquiso e dou o meu pitaco, o Yves também, mas é muito centralizado na mão dela e isso é muito bom para a gente. Ela que desenvolveu as tortas, recentemente ela lançou uma banoffee, que ainda não entrou numa esteira de produção, mas ela quer.
Teve uma venda e uma aceitação gigantesca por parte dos clientes. Esse ano a Noélia, dentro do setor de gestão, tem o objetivo de criar o setor de inovação e teremos uma equipe, pois envolve embalagem, proporção. Vamos profissionalizar.
O POVO - Como está dividido o portfólio atual?
Yuri – Pensando no produto em si, posso fazer a divisão macro em tortas, doces e bebidas. Tortas eu tenho as geladas, que a gente criou em 2019, temos apenas quatro sabores – romeu e julieta, chocolate, limão e doce de leite, mas uma das metas esse ano é aumentar esse portfólio, pois é uma torta super saborosa, 100% Noélia, eu não uso nada industrializado nela.
Dentro de doces nós temos a parte de chocolates, docinhos e bolos. Em salgados temos as tortas salgadas, os pães italianos, os pães recheados, salgadinho de festas, tradicional e gourmet, mini pães e as quiches.
O POVO - Como a empresa fechou 2022 nos negócios?
Yuri – Se eu pensar num histórico de 2019/2010 a gente caiu, aproximadamente, 25%. Em 2021 eu cresci 12% e agora, em 2022, eu cresci 47%. A central foi instalada em setembro de 2021 e foi uma decisão muito acertada porque a gente conseguiu ampliar muito a nossa capacidade de atendimento. Hoje eu tenho pouquíssimos casos de não atender clientes por WhatsApp ou por telefone.
A abertura da loja nova foi um marco muito grande, a primeira em shopping. Também analiso, subjetivamente, que o comportamento mudou pós-pandemia e acho que as pessoas estão curtindo viver mais.
Vou aproveitar e ser feliz. Eu acho que o nosso segmento de alimentação tem uma diferença dos outros, pois ele proporciona encontros. Tanto que um dos dados de shopping que eu tive acesso é que o crescimento de alimentação foi maior do que o de varejo.
O POVO - Qual a expectativa e planos para este ano e os próximos?
Yuri – Esse ano a gente tem previsão de abrir em junho uma nova loja no North Shopping e estamos em definição de abrir uma ou mais duas lojas no segundo semestre, em Fortaleza, também em shoppings.
Estamos em negociação avançadas com dois estabelecimentos e outras iniciais com outros dois shoppings.
Em média são 60 dias para elaboração de projeto e 90 dias para execução. Loja de rua estamos estudando no bairro Maraponga para o próximo ano, mas essa leva mais tempo, cerca de um ano e meio.
Hoje o investimento em loja varia. No RioMar Fortaleza foi em torno de R$ 1 milhão e no North Shopping foi de R$ 500 mil. A estimativa de lojas de rua são cerca de R$ 2,5 milhões.
Em relação ao produto vamos lançar, até o meio do ano, novas opções de salgados de festas, talvez cinco sabores entre fritos e assados e novas opções de salgados para o lanche, novas opções de tortas e bolos.
O POVO - Hoje as pessoas vivem numa série de restrições com relação à alimentação ou por questões médicas ou por bem-estar e qualidade de vida. Como que a empresa olha para isso?
Yuri - A gente acredita muito que isso vai ser um caminho sem volta. Só que a gente tem que ter uma responsabilidade muito grande para entrar nesse mercado. Principalmente na parte de alergênicos.
A nossa ideia é criar uma cozinha à parte. Isso está no nosso radar, mas eu não tenho data definida.
Como a gente fez essa produção e nela tenho capacidade de atender até dez lojas, eu tenho que usar melhor o meu investimento. Devemos abrir até o fim do ano que vem de quatro a cinco lojas. Termos o total de nove lojas.
Existe ainda a oportunidade real de ir para outro estado, possivelmente São Paulo. Meu irmão não gosta muito que eu fale isso não (risos). Mas não decidimos se loja de rua ou de shopping.
O POVO - Onde a Noélia Doces e Salgados deseja chegar?
Yuri – Fora do País, nos Estados Unidos, principalmente pela quantidade de brasileiros lá e porque existe o mercado da saudade. Esse mercado de confeitaria está em alta lá. Isso seria para cinco anos, já estamos estudando.
O POVO - Quais os planos de vida pessoal e profissional para os próximos anos? Sua mãe já pensou em sucessão familiar?
Yuri – Em termo de estrutura familiar, minha esposa está grávida do nosso segundo filho, o Miguel, já tenho a Maria. Queria um terceiro, mas vai ser mais difícil (risos).
Estou terminando um MBA Executivo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e quando eu terminar eu vou dar um tempo de seis meses, mas depois vou voltar a estudar. Eu pretendo não parar de estudar mais.
E talvez uma das novas operações eu possa ficar um tempo fora, mas ainda é questão delicada a ser conversada e decidida em família.
O POVO - Sua mãe já pensou em sucessão familiar?
Yuri – O primeiro movimento de sucessão já foi feito em 2020 e a minha mãe, no último dezembro, já passou a administração total da empresa para mim e para o meu irmão.
Hoje nós dois somos os sócios-administradores, somos co-CEO um do outro. A empresa é de nós três. Esse modelo deve ficar por um bom tempo, acredito que no mínimo 25 anos, pois nossos filhos ainda são menores.
O POVO - Qual legado que a sua mãe passou para você e seus irmãos?
Yuri – Tanto minha mãe como meu pai passaram valor humanos de amor ao próximo, de respeitar as pessoas, de entender e termos empatia. Valores muito forte, eles cobram até hoje da gente.
Uma vez por ano eu vou para operação, para a fritadeira para lembrar que sou um funcionário. Isso me faz lembrar de quando eu era pequeno, com meus nove anos.
A gente tem, sempre teve, uma relação muito próxima com os funcionários e isso é bom, mas naturalmente, a medida que a gente vai crescendo, a gente não tem mais a capacidade de ter essa relação.
Mas temos funcionários de mais de 20 anos, 25 anos e a gente tem essa relação, sabe das famílias, o que a gente pode ajudar, ajudamos.
A gente, como empresário, tem que cuidar das relações, se não vai ficando frio, sem o lado humano. Nosso principal projeto vai ser com gestão de pessoas em 2024.
O POVO - Qual legado que a empresa traz para a economia cearense?
Yuri – Eu acredito que a história que a minha mãe iniciou e que a gente espera dar essa continuidade é de uma empresa que preza pela qualidade, que preza pelo cliente.
Hoje nós temos mais de 100 mil clientes em Fortaleza. Tenho o orgulho de falar que em momentos como o Natal a gente tem uma participação muito efetiva dentro da casa das famílias.
A geração de emprego também é algo muito forte, quando um uma empresa de alimentação gera um emprego ela está gerando mais quatro dentro da cadeia, incluindo indústria, transporte e distribuição.
Se eu tenho hoje 200 funcionários na Noélia e eu estou gerando mais 800 empregos fora da Noélia. A gente tem algumas medidas para proporcionar uma melhoria onde a gente chega, como contratar pessoas da região para a obra no local. Assim acontece quando a loja abre e isso gera mais qualidade de vida para as pessoas.
O legado também é a simplicidade da minha mãe que gosta de ficar próximo aos funcionários, gosta de atender os clientes e eles descobrem que ela é a Noélia, pois pensam que ela é uma velhinha que não trabalha mais.
Fica esse legado dela de garra, muita força de vontade, de coração enorme. O Yves puxou isso da minha mãe, um coração caridoso.
O legado dessa figura institucional dela que serve para inspirar muitas mulheres que lutam e vão atrás dos seus sonhos. Não lembro da minha mãe desanimar e pensar em desistir, mesmo nos momentos de dificuldades. Ela tinha força para ela e para nós. Ela é uma grande líder.
Pela timidez e nervosismo da matriarca da família Fontenelle, dona Noélia, o filho do meio, Yuri, pediu que a entrevista fosse com ele. Assim, ele estaria representando a mãe e o irmão que são todos sócios nos negócios. O cenário da parte familiar foi na casa do Igor, único que não está atualmente nos negócios.
Dona Noélia tem um jeitinho todo especial e carinho de falar e tratar as pessoas. É pura emoção e gentileza. Nos recebeu muito bem, fez questão de que tomássemos café com os quitutes da loja. E as duas noras auxiliaram a composição da mesa.
São utilizados, em média por mês, 10 toneladas de farinha de trigo; 12 toneladas de leite condensado; 6 toneladas de frango; e 500kg de camarão. A Torta de Banana é um dos itens mais vendidos da marca. O Bolo da Vó teve como inspiração uma receita da família para conter uma memória afetiva. A geleia de morango que vai em nossas tortas e bolos é de fabricação própria.
Essa entrevista exclusiva com Yuri Fontenelle, diretor da Noélia Doces e salgados para O POVO encerra a segunda temporada do projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.
Foram nove entrevistas na segunda temporada com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.
Uma série de entrevistas especiais com grandes empresários que deixam legados para a sociedade e a economia do Ceará