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Grupo Diamantes: a ex-revendedora que hoje fabrica 1,5 milhão de peças por mês no Ceará
Reportagem Seriada

Grupo Diamantes: a ex-revendedora que hoje fabrica 1,5 milhão de peças por mês no Ceará

| Claudênia Régia | A filha do meio do casal Francisca e José Claúdio viu sua vida transformada, aos 10 anos, com a partida repentina do pai aos 40. Após começar a trabalhar cedo para ajudar a mãe e os irmãos, em lanchonete, loja de móveis, entre outros, foi revender lingerie
Episódio 30

Grupo Diamantes: a ex-revendedora que hoje fabrica 1,5 milhão de peças por mês no Ceará

| Claudênia Régia | A filha do meio do casal Francisca e José Claúdio viu sua vida transformada, aos 10 anos, com a partida repentina do pai aos 40. Após começar a trabalhar cedo para ajudar a mãe e os irmãos, em lanchonete, loja de móveis, entre outros, foi revender lingerie
Episódio 30
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 Assista ao vídeo com Claudênia Régia


Uma vida antes e depois da partida repentina do pai, quando tinha somente dez anos. É assim que a sócia-fundadora da Diamantes Lingerie, Claudênia Régia, divide seus momentos quando se lembra da infância.

Dos dias que antecederam a despedida do genitor, revive emocionada. Momentos que a transportam para um lugar de dor e luto.

Passado o fato, a mãe, Francisca, foi surpreendida por dívidas do marido, mas não hesitou em cumprir todos os compromissos e escalar os filhos, Claúdia, Claudênia e Júnior para trabalharem ainda crianças.

Aos 44 anos, Claudênia Régia comanda ao lado do irmão, Cláudio Júnior, o Grupo Diamantes(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Aos 44 anos, Claudênia Régia comanda ao lado do irmão, Cláudio Júnior, o Grupo Diamantes

Desde essa época, Claudênia assumiu os cuidados com o irmão mais novo, Júnior, com quem anos depois viria abrir uma sociedade, ele com o dinheiro conseguido com a sucata que tinha, e ela com trabalho.

Depois de passar por muitas ocupações e até fazer biscoitinhos e saladas de frutas para vender, trabalhou em um colégio e de lá foi com a mãe e a irmã “tomar conta” de uma loja de lingerie, em Sobral.

Assim, foi conhecendo e se apaixonando pelo segmento de lingerie. Conheceu a cidade de Frecheirinha (a 286,09 km de Fortaleza), polo de moda íntima no Ceará, e resolveu junto com a família produzir calcinhas.

Quando era pequena, Claudênia Régia, assim como a irmã e a mãe, ganhava calcinhas enfeitadas quando o pai viajava(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Quando era pequena, Claudênia Régia, assim como a irmã e a mãe, ganhava calcinhas enfeitadas quando o pai viajava

A inocência e a falta de experiência fizeram com que pensassem que uma única máquina fizesse todas as partes de uma peça íntima. Pensou em desistir quando viu todo o processo e custos.

Nessa época já tinha dois, dos três filhos, e ficava viajando de Sobral para Frecheirinha, onde começaram a fábrica com sete pessoas.

O irmão não a deixou interromper o sonho de prosperar e há 19 anos seguem assim, um apoiando o outro.

Uma fábrica se tornou cinco, com dois mil colaboradores, 60 mil revendedoras e presença em 50 lojas, especialmente no Nordeste.

Dona Francisquinha, a matriarca da família ao lados dos filhos, fundadores da Diamantes Lingerie(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Dona Francisquinha, a matriarca da família ao lados dos filhos, fundadores da Diamantes Lingerie

Diz ser grata a Deus por cada momento que passou e aprendeu. Hoje o filho mais velho já entrou no negócio para estagiar.

Enquanto prepara os sucessores, ela e o irmão têm planos de chegar a faturar R$ 1 bilhão em 2030, atender todo o Nordeste e, depois, entrar no mercado paulista.

O POVO - A senhora nasceu em Crateús, em 1980, filha da Francisca e do José Cláudio de Araújo Júnior. Quais as memórias da infância?

Claudênia Régia - Eu e a minha irmã (Cláudia) somos de Cratéus (a 355,07 km de Fortaleza). E, mais ou menos em 1982, a minha mãe foi para Sobral, aí engravidou do Júnior. Moramos lá até 2005. Quando eu tinha 10 anos perdemos o nosso pai e aí eu tenho memórias da infância, não muita coisa.

Dona Francisquinha com os filhos Cláudia, Claudênia Régia e Júnior(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Dona Francisquinha com os filhos Cláudia, Claudênia Régia e Júnior

Mas tenho mais memórias depois do falecimento dele. É como se existisse uma vida antes e outra depois. A gente gostava muito de brincar na calçada. Eu, o Júnior e a Claudia sempre fomos muito unidos, mas, com o Júnior, eu sempre tive um cuidado maior.

Tanto é que, quando a gente saía, a minha mãe sempre me responsabilizava por cuidar dele. Então eu cresci querendo ser a mãe do Júnior, mas nós três sempre fomos muito unidos. 

O meu pai ficou pouco tempo com a gente, mas o tempo para formar o nosso caráter. Os valores vêm muito dele. Sobre as brincadeiras, eu lembro muito de brincar de carimbo, de andar de bicicleta, de enfeitar a bicicleta, essas coisas.

Claudênia Régia, Júnior e Cláudia que tiveram que começar a trabalhar ainda pequenos, após o falecimento do pai(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Claudênia Régia, Júnior e Cláudia que tiveram que começar a trabalhar ainda pequenos, após o falecimento do pai

O POVO - Seus pais se conheceram em Fortaleza e depois mudaram para o Interior...

Claudênia -  Quando o pai da minha mãe faleceu, ela veio para Fortaleza, ela era de Aracatiaçu (distrito de Sobral), e aqui conheceu meu pai. Ele trabalhava no Mercado São Sebastião e ela sempre foi muito danada para vender.

Ela era aquela pessoa que vendia e ele era aquela pessoa mais relacional. Acho até o Júnior parecido com a mamãe e eu sou o meu pai. Eles se conheceram, ela já tinha uma lojinha que o irmão dela tinha ajudado a colocar.

Claudênia Régia avalia que o irmão, Júnior, e a mãe, Francisquinha, se parecem em termos de personalidade(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Claudênia Régia avalia que o irmão, Júnior, e a mãe, Francisquinha, se parecem em termos de personalidade

Eles casaram, ele saiu do mercado e foi trabalhar com ela na loja. Mas logo quando ela casou, o meu tio, que é o irmão mais velho dela, foi morar em Crateús e convidou ela. Foi quando ele começou a trabalhar na loja e ela ficou em casa comigo e com a Cláudia.

Nesse período, eles passaram por situações financeiras complicadas. O mesmo irmão dela depois a convidou para ir para Sobral e eu acredito que ela tenha ido por isso também.

Dona Francisquinha sempre foi empreendedora e ao longo da vida começou alguns negócios(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Dona Francisquinha sempre foi empreendedora e ao longo da vida começou alguns negócios

Ela tinha esse lado empreendedor de comprar as coisas e só depois avisar a ele, tudo era na mão dela. Ele tinha uma confiança muito grande nela e ela sempre foi assim.

Por exemplo, ela comprava um telefone, que na época não era tão barato ter em casa, de comprar um Corcel, que na época ela comprou. Era como se meu pai vivesse o momento e minha mãe já estivesse sempre pensando no futuro, mais ou menos dessa forma. 

José Cláudio de Araújo, pai da Claudênia Régia, da Claudia e do Júnior(Foto: Arquivo pessoal Claudênia Régia/Divulgação Grupo Diamantes)
Foto: Arquivo pessoal Claudênia Régia/Divulgação Grupo Diamantes José Cláudio de Araújo, pai da Claudênia Régia, da Claudia e do Júnior

O POVO - E o que mais aprendeu com seus pais que ficou na memória?

Claudênia - Nosso pai sempre nos ensinou o correto, a lealdade, a honestidade, a dedicação ao trabalho, a visão de futuro. Apesar de não ter muita formação, meu pai era uma pessoa que ligava muito para isso.

E tinha esse lado de gostar de ler livro, de participação. Era aquele tipo de pessoa que sabia conversar sobre todos os assuntos, aquela pessoa inteligente. Hoje, eu sei distinguir inteligência de sabedoria. É como se ele fosse inteligente, minha mãe é sábia.

E a minha mãe sempre foi aquela pessoa de guardar as coisas, de saber economizar para gastar no tempo certo, de saber economizar para conquistar o futuro. Então ela sempre ensinou esses passos para a gente e eu acredito que tudo isso formou o nosso caráter.

Era muito claro para nós que a união era fundamental, que a gente jamais poderia estar brigando por qualquer besteira.

Dona Francisquinha sempre ensinou os filhos a economizar dinheiro e a trabalharem para dar valor ao que têm(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Dona Francisquinha sempre ensinou os filhos a economizar dinheiro e a trabalharem para dar valor ao que têm

O POVO - Os três irmãos começaram a trabalhar muito cedo para ajudar após o falecimento do pai em 1990. Como a falta dele tocou na senhora? 

Claudênia - A perda dele foi totalmente inesperada, porque a gente via ele sempre muito bonito, muito saudável, apesar de fumar muito e ser bem gordinho.

Mas a gente não tinha noção que um dia ia perder ele tão cedo, porque ele não chegou a adoecer e enfartou aos 40 anos.

Claudênia Régia se emociona ao contar da partida repentina do pai, aos 40 anos, acometido por um infarto(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Claudênia Régia se emociona ao contar da partida repentina do pai, aos 40 anos, acometido por um infarto

A gente foi para um casamento no sábado e ele começou a passar mal de madrugada e na quarta ele já faleceu. Naquela quarta, ele amanheceu super bem, trabalhou o dia todo e à noite faleceu.

Quando eu digo que existe outra vida antes e depois desse episódio é porque a partir daquela hora que eu recebi a notícia é como se nada mais pudesse ser esquecido, foi aquele choque. Eu tinha 10 anos, a Claúdia 12 e o Júnior sete.

O POVO - Tudo mudou aí...

Claudênia - Foi a partir daqui que tudo começou a entrar na minha mente de outra forma. Foi ter a notícia, de ir até o hospital e ter visto uma pessoa que trabalhava com ele saindo com a blusa dele molhada e uma caneta dele, que ele andava no bolso, o meu amor pelas canetas também vem dele.

Aí tive que esperar ele vir no caixão, ver ele naquela madrugada, ter que se despedir em casa, vou querer chorar… 

Claudênia Régia e Cláudio Júnior começaram a empresa com economias que o caçula guardou da sucata que tinha(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Claudênia Régia e Cláudio Júnior começaram a empresa com economias que o caçula guardou da sucata que tinha

O POVO - Com tudo isso, sua mãe foi empreender...

Claudênia - Quando ele faleceu a minha mãe teve uma grande surpresa, porque ele era aquela pessoa respeitada, muito correto, mas estava passando por momento financeiro muito complicado e ela não sabia. Ele não transparecia isso para ela e nem a nossa vida mudou em nenhum momento por conta disso.

Mesmo ele estando financeiramente aperreado, a loja tinha passado por uma reforma e a loja de calçados estava muito bem, mais bonita do que era, ela não desconfiou. 

Ele tinha ficado devendo muito e uma das coisas que ela sempre fez foi querer honrar o nome dele acima de tudo.

Teve um irmão que chegou para ela e disse assim: 'Se eu for te ajudar, eu vou ficar pior do que você'. E ela logo se afastou, isso foi uma das coisas que marcou muito ela.

Após a perda do marido e descobrir um dívida da loja de sapatos da família, dona Francisquinha contou com a ajuda dos filhos, ainda pequenos - Cláudia, Claudênia e Júnior(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Após a perda do marido e descobrir um dívida da loja de sapatos da família, dona Francisquinha contou com a ajuda dos filhos, ainda pequenos - Cláudia, Claudênia e Júnior

Sempre quis honrar tudo, ela sabia que aquilo era muito importante para ele. Minha mãe também passou por muita humilhação. A gente via minha mãe chegando em casa chorando de noite, ter que se deitar, estava com a cabeça cheia.

Com três anos ela se recuperou. Aí nós saímos do aluguel, ela construiu uma casa. Eu tinha, mais ou menos, 14 anos.

Eu comecei a trabalhar com 12, não no sentido de que se não trabalhássemos íamos passar fome, mas ela começou a dizer que a vida já não era mais aquela, que nós não tínhamos mais pai como os nossos amigos.

Após a morte do pai, Claudênia Régia conta que a mãe passou por muita humilhação(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Após a morte do pai, Claudênia Régia conta que a mãe passou por muita humilhação
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O POVO - Foi nessa época que seu irmão e sócio, Júnior, foi trabalhar como camelô? 

Claudênia - Minha irmã mais velha foi vender umas toalhas com minha mãe. E quando o Júnior tinha uns 11 anos, ela disse: 'Meu filho, você tem que fazer alguma coisa, para você logo criar maturidade, responsabilidade, para ter uma coisa maior no futuro'.

E ela foi e incentivou ele a colocar uma banquinha de vender fitas, CDs, fitas, cintos, óculos e tudo. Para ele foi muito bom, porque no começo ele teve resistência de trabalhar.

E foi de lá que começou praticamente tudo. O que ele ganhava, queria juntar para ter algo maior. Foi aí que deu o próximo passo, depois de um ano começou a pagar um consórcio de moto.

Com cerca de 11 anos, a mãe colocou uma banquinha de vender fitas, CDs, fitas, cintos, óculos para Júnior ajudar na renda familiar(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Com cerca de 11 anos, a mãe colocou uma banquinha de vender fitas, CDs, fitas, cintos, óculos para Júnior ajudar na renda familiar

Ele tinha o desejo de andar nessa moto, só que pela idade, quando ele terminou de pagar com 14 anos, não poderia. Vendeu e aí juntou o dinheiro e foi trocar cheques para ter mais renda.

O POVO - A senhora trabalhou em vários locais como mercantil, loteria, lanchonete, loja de móveis, loja de plástico, fez biscoitinho de goiaba para vender, saladas de frutas, trabalhou em um colégio e revendeu lingerie.  E daí veio a paixão pelo segmento?

Claudênia - Sempre digo que ter passado por vários empregos foi um presente de Deus, porque hoje eu entendo que eu tinha que passar por todos eles para eu aprender algo em cada um.

Hoje eu aplico aqui na Diamantes. Nunca deixei de trabalhar em nenhum momento, era sempre saindo de um, procurando outro.

A paixão pela lingerie veio depois do trabalho no Colégio Luciano Feijão. Foi quando a gente conheceu a cidade de Frecheirinha, um polo de lingerie. Fomos saber como era e fizemos a nossa primeira compra com o dinheiro que nós recebemos da saída do Colégio. 

Claudênia Régia acredita que cada experiência profssional que teve a ajudou a se tornar quem é hoje como pessoa e profissional(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Claudênia Régia acredita que cada experiência profssional que teve a ajudou a se tornar quem é hoje como pessoa e profissional

Também teve uma pessoa, Conceição Furtado, que nós temos uma enorme gratidão, que nos deu a oportunidade de tomar conta da loja dela em Sobral. 

E essa paixão pela lingerie começou a partir daí, eu sempre gostei muito de vender e vender o que gosta é muito mais fácil do que vender o que a gente não gosta.

E lá eu fui entendendo que o amor que eu tinha e tenho pela lingerie já foi implantada em mim desde criança. Porque o meu pai, às vezes, viajava para fazer rota, vender calçados na cidade vizinha, e trazia para nós essas calcinhas muito bonitinhas com o bumbunzinho cheio.

Conheça o perfil da empresa

 

Conheça o legado familiar: descendentes 

Filhos Claudênia: Ana Meira, Ana Régia e Reginey


As filhas de Claudênia Régia vão começar a se preparar para entrar na empresa a partir do próximo ano(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal As filhas de Claudênia Régia vão começar a se preparar para entrar na empresa a partir do próximo ano

O POVO - Como foi esse começo? E, em paralelo, o Júnior vendeu tudo para investir na fábrica de lingerie...

Claudênia - Eu, a Cláudia e a mamãe, a gente tomava conta da loja em Sobral, que chamava Di Pérola, durou dois anos. A partir do momento que não estava dando mais certo, veio a vontade de produzir calcinha infantil.

Ante de pensar em empreender confeccionando lingerie, Claudênia Régia trabalhou em uma loja do segmento, em Sobral, com a mãe e a irmã(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Ante de pensar em empreender confeccionando lingerie, Claudênia Régia trabalhou em uma loja do segmento, em Sobral, com a mãe e a irmã

O Júnior, nesse período, tinha uma sucata, que vendia peças de carros batidos, e ele viu que a gente estava com essa vontade. A gente realmente não tinha dinheiro e quem começou a ajudar no começo foi o Júnior, que disse que estava com a gente.

Não tínhamos noção de como era, achávamos que uma máquina fabricava tudo. O Júnior ajudou muito, entrando logo na sociedade eu, o Júnior e a Cláudia. Mas, entre nós três, a gente resolveu que ela (Cláudia) iria ficar tomando conta das lojas que fôssemos abrindo.

A gente produzia e ela vendia, então ela só foi sócia da gente por um mês, mais ou menos, mas nós somos parceiros com ela até hoje. Ela tem a sua marca.

Para abrir a empresa, Júnior entrou com suas economias e Claudênia com o trabalho(Foto: Usina Entretenimento/Divulgação)
Foto: Usina Entretenimento/Divulgação Para abrir a empresa, Júnior entrou com suas economias e Claudênia com o trabalho

E quem ajudou muito também a começar a Diamantes foi o meu esposo e o meu cunhado, Sávio Mouta, que sempre nos deu muita força, até emprestou cheque para a gente começar.

O Júnior, mesmo depois da Diamantes, continuou com a sucata por uns três anos ainda, porque logo quando a gente começa, vem muito prejuízo. Tem as compras erradas, muita coisa assim, era o Júnior que segurava tudo com a sucata dele.

Ainda em Sobral, nós passamos um mês com duas costureiras, mas fazendo tudo errado. Por a gente conhecer Frecheirinha, tomamos a decisão, depois de um mês, de mudar de vez para lá. Tudo começou com sete colaboradores.

O POVO - A senhora ia para Fortaleza comprar as máquinas de costura sem conhecimento nenhum. Como foi isso?

Claudênia - Pegamos uma peça de lingerie dessa marca que revendíamos e nós procuramos casas de máquinas para saber o que cada máquina fazia. Foi quando tivemos a dimensão do que seria, que era muito mais do que a gente esperava investir.

A Diamantes Lingerie começou com sete colaboradoras e hoje tem mais de 2 mil, cerca de 60% são mulheres(Foto: Usina Entretenimento/Divulgação)
Foto: Usina Entretenimento/Divulgação A Diamantes Lingerie começou com sete colaboradoras e hoje tem mais de 2 mil, cerca de 60% são mulheres

A gente achava que uma máquina fabricava tudo e estava longe de ser isso.

Eu até digo muito assim: "Graças a Deus eu não conhecia uma empresa de lingerie antes, porque, se tivesse conhecido uma Diamantes, teria achado que era grande demais, que envolvia muito dinheiro e que nós não iríamos conseguir, mas graças a Deus que a gente conseguiu".

Até pensei em desistir quando vi todo o processo e custo, porque eu já tinha meus dois primeiros filhos. Minha mãe e o Júnior se mudaram logo de uma vez para Frecheirinha, mas eu passei uns três meses indo e voltando todos os dias. Sem dinheiro não era fácil, era bem complicado com meus dois filhinhos pequenos.

Realmente pensei em desistir, mas o Júnior sempre muito firme e falando: 'Não, a gente não pode. Bora, bora que vai dar certo”. E assim foi, quando um está fraco, um vai fortalecendo o outro.

Claudênia Régia revela que contou muito com o apoio do marido para conciliar as atividades(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Claudênia Régia revela que contou muito com o apoio do marido para conciliar as atividades

No início dos negócios, Claudênia Régia teve dificuldades financeiras para alimentar os filhos(Foto: Usina Entretenimento/Divulgação)
Foto: Usina Entretenimento/Divulgação No início dos negócios, Claudênia Régia teve dificuldades financeiras para alimentar os filhos

O POVO - Como foi se relacionar com outro empreendedor em casa, seu esposo? E a conciliação da maternidade e empreendedorismo?

Claudênia - Conheci meu esposo quando trabalhava em uma loja que vendia plásticos e era colocada a lanchonete. Eu tinha acabado de completar 18 anos e ele tinha uns 20.

Sei que ele é de Deus, porque minha mãe estava rezando muito para que eu encontrasse uma pessoa bacana para minha vida e ele é uma pessoa extraordinária.

Ele sempre teve uma confiança enorme em mim, nunca me proibiu de nada, sempre me apoiou.

E também tive sorte de encontrar pessoas boas para cuidar dos meus filhos. Nesse começo da Diamantes, eu já tinha o Reginey Filho e a Meirinha, logo que tive ele, fiquei grávida de novo.

Naquele momento, a situação financeira estava bem pesada, não aquela situação de passar fome, mas ficar sem dinheiro. O Júnior já estava começando a investir no negócio e eu entrei apenas com o trabalho.

Meu esposo tinha a lanchonete, mas o mercado tinha sido derrubado e ele também estava totalmente sem dinheiro, estava desempregado.

Asssim como aprendeu com a mãe, a sócia-fundadora da Diamantes Lingerie diz que ensina os filhos o valor do dinheiro(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Asssim como aprendeu com a mãe, a sócia-fundadora da Diamantes Lingerie diz que ensina os filhos o valor do dinheiro

Houve momentos em que, por vergonha de pedir tanta coisa ao Júnior, eu tive vontade de tirar uma lata de leite da minha irmã, da minha sobrinha, porque nós tivemos filhos na mesma época.

Eu tive vontade por estar passando por situações financeiras complicadas, eu sentia esse desejo. Mas eu não cheguei a pegar, só desejar. Tive situações de estar eu e meu esposo parados e eu ficar pensando no que nós iríamos fazer.

No futuro, os três filhos devem entrar para os negócios da família iniciando a segunda geração(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal No futuro, os três filhos devem entrar para os negócios da família iniciando a segunda geração

Depois de um tempo, já estávamos em Frecheirinha trabalhando e eu fiquei louca para engravidar, aí foi onde Deus me deu de presente a Ana Régia.

Nós temos três filhos de personalidades e características completamente diferentes. Acredito muito que cada um deles vai cuidar de uma parte diferente na Diamantes. Um é o financeiro, outro no produto e o outro vai vender.

Ana Régia vai ter muitas lojas, porque ela se expressa muito bem.

Hoje, Claudênia Régia tem orgulho da qualidade com que produz as peças nas fábricas(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Hoje, Claudênia Régia tem orgulho da qualidade com que produz as peças nas fábricas

O POVO - E como é a relação da empresa com esses quase 2 mil colaboradores e também o perfil das consultoras de vendas? 

Claudênia - Hoje, desse montante, talvez 60% sejam feminino. Quando a gente chegou em Frecheirinha para colocar a Diamantes, chegamos com uma clareza muito grande de pagar salário, de assinar carteira, então isso era muito importante para nós.

E através da Diamantes foi mudando um pouco a realidade de Frecheirinha, porque antes muitas pessoas de lá, para ter um emprego, iam embora para Macapá, Brasília…

Primeira fábrica Diamantes Lingerie(Foto: Arquivo pessoal Diamantes Lingerie)
Foto: Arquivo pessoal Diamantes Lingerie Primeira fábrica Diamantes Lingerie

A gente sempre pede muito que Deus honre o dinheiro delas, para que elas saibam usar da forma correta, que é mudando a vida da família. 

O POVO - Na prática, como é trabalhar com um mix tão grande de produtos? 

Claudênia - Produzimos mais de 1,5 milhão de peças por mês. Temos a marca masculina muito forte. Por mês produzimos 450 mil cuecas e do jeito que produz a gente vende. 

Hoje, a marca vai muito além de produzir calcinhas e veste das crianças aos avós com peças e moda íntima e praia(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Hoje, a marca vai muito além de produzir calcinhas e veste das crianças aos avós com peças e moda íntima e praia

Não só as cuecas, mas os kit de calcinha de sete peças também. Toda essa diferenciação a gente foi pensando no que não tinha no mercado para a gente colocar. 

Considero que a Diamantes já já vai virar uma gestora de marcas, porque a gente tem muitas marcas funcionando e marcas já registradas para o futuro. 

O POVO - Atualmente são mais de 50 lojas, cinco polos industriais próprios e 60 mil revendedores. Como estão os negócios e os planos até 2030?

Claudênia - Hoje, atendemos um mercado que é lojas e através das revendedoras. Agora começamos a estruturar os canais digitais.

Temos uma vontade muito grande de entrar no varejo e abrir em alguns shoppings. 

Claudênia Régia e Cláudio Júnior vão preparar a empresa para entrar na Bolsa de Valores, porém só mais para frente decidem a real adesão(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Claudênia Régia e Cláudio Júnior vão preparar a empresa para entrar na Bolsa de Valores, porém só mais para frente decidem a real adesão

Nosso foco ainda maior é o Nordeste e vemos oportunidades ali pela Bahia. Ainda falta Recife também, antes de entrar em São Paulo.

Esse ano vamos faturar R$ 280 milhões e o próximo ano é R$ 360 milhões. Em 2030 vamos chegar a R$ 1 bilhão.

O POVO - Como está sendo pensado o plano de sucessão?

Claudênia - O Reginey Filho já está no Marketing e vai passar por todas as áreas. Depois vem a Meirinha e em seguida a Ana Régia.

A governança de trazer os meus filhos para dentro da Diamantes vai começar em 2025. Eles vão ter uma mentora focada no desenvolvimento deles.

A esposa de Júnior e o marido de Claudênia não fazem parte dos negócios da Diamantes Lingerie(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal A esposa de Júnior e o marido de Claudênia não fazem parte dos negócios da Diamantes Lingerie

A esposa do Júnior e meu esposo não fazem parte do negócio. Isso é uma regra entre nós por ser uma empresa de sociedade entre irmãos. 

O POVO - Qual o legado da Diamantes para a sociedade e a economia cearense?

Claudênia - É de ser uma empresa que busca crescer a todo tempo no Brasil e de fazer outras pessoas prosperarem juntos. Estamos organizando a Diamantes para um dia ela ir para a bolsa.

Se nós vamos levar ou não é uma decisão para depois. E estamos organizando a participação de lucro com os funcionários.

Temos uma participação muito interessante no Ceará pelos empregos e pela transformação das famílias em Frecheirinha.

 

 

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Projeto Legados

Esta entrevista exclusiva com a sócia fundadora da Diamantes Lingerie, Claudênia Régia, para O POVO dá continuidade à quarta temporada do projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.

Serão seis entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.

No próximo episódio, conheça a história do José Araújo Sobrinho, fundador da Casa dos Relojoeiros, que teve uma infância na roça do interior da Paraíba, e perdeu a mãe com menos de 10 anos e na juventude mudou-se para Fortaleza, no Ceará, onde renasceu e fez sua vida pessoal e profissional.

Expediente

  • Direção de Jornalismo Ana Naddaf e Erick Guimarães
  • Edição de Design e Identidade Visual Cristiane Frota
  • Edição e coordenação do Núcleo de Imagem Chico Marinho
  • Editor-adjunto do Núcleo de Imagem Demitri Tulio
  • Coordenação e produção geral Carol Kossling
  • Texto Carol Kossling
  • Fotografia Samuel Setubal
  • Pesquisa Roberto Araújo e Miguel Pontes / OPOVODOC
  • Edição OP+ Beatriz Cavalcante e Fátima Sudário
  • Edição de Fotografia Julio Caesar
  • Ilustrações Carlos Campus
  • Recursos Digitais Larissa Viegas
  • Recursos audiovisuais Arthur Gadelha (direção e roteiro); Aurélio Alves (direção de fotografia); Carol Kossling (produção e reportagem); Mariana Lopes (produção); Raphael Goes (coordenador de edição) e Rodrigo Vasconcelos (edição);
  • Usina Entretenimento (captação de imagens).
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