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Alain Delon, o histórico e clássico sedutor francês
Reportagem Seriada

Alain Delon, o histórico e clássico sedutor francês

Um dos maiores atores da história do cinema europeu, o francês Alain Delon é o dono de uma beleza estonteante que conquistou corações mundo afora na segunda metade do século passado. Foi estrela em mais de 90 filmes e agora, aos 86 anos, levanta a possibilidade de abreviar sua despedida neste plano por decisão pessoal
Episódio 4

Alain Delon, o histórico e clássico sedutor francês

Um dos maiores atores da história do cinema europeu, o francês Alain Delon é o dono de uma beleza estonteante que conquistou corações mundo afora na segunda metade do século passado. Foi estrela em mais de 90 filmes e agora, aos 86 anos, levanta a possibilidade de abreviar sua despedida neste plano por decisão pessoal
Episódio 4
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Sempre protagonista frente às câmeras, Alain Delon é uma das típicas pessoas que viveram para a arte. Considerado um dos melhores atores europeus da história, o francês ganhou notoriedade ao estrelar em mais de 90 filmes e por ser um símbolo sexual nas décadas de 1960 e 1970. Agora depois de 86 anos vividos, Alain tem o nome estampado em notícias que informam que ele gostaria de controlar a sua própria despedida.

Nascido em Sceaux, cidade próxima a Paris, Alain Fabien Maurice Marcel Delon teve uma vida complicada logo em seus primeiros anos. Aos quatro anos, viu seus pais, Edith e Fabian, se divorciarem e o colocarem para adoção. Pouco depois, viu sua família adotiva ser assassinada e voltou a morar com a mãe biológica. Para completar o combo de uma infância problemática, foi expulso de várias escolas e aos 15 anos largou os estudos.

A arte ainda não havia adentrado em seu cotidiano e aos 17 anos viu o pior lado do ser humano, quando se alistou na Marinha Francesa para lutar na Primeira Guerra da Indochina (1946-1954). Apesar dos horrores vistos no continente asiático, começou uma vida normal nos anos seguintes, período em que trabalhou como porteiro, garçom e vendedor na capital de seu país.

Versátil, nosso personagem foi abençoado na vida com uma aliada inseparável: uma beleza sem igual e que chamava a atenção das pessoas onde quer que ele estivesse. Prova disso foi o convite recebido diretamente do renomado produtor cinematográfico americano David O. Selznick, durante o Festival de Cannes de 1957.

Para atuar sob os comandos do diretor de “...E o Vento Levou”, no entanto, era preciso aprender inglês, afinal de contas Hollywood era o destino que estava de braços abertos para lhe receber. Mas Alain foi convencido pelo diretor e compatriota Yves Allégret a começar sua carreira na própria França.

Em 1957, ele faz então seu primeiro filme, “Quand la femme s'en mele” (Uma tal Condessa). A partir dali sua história e a história do cinema francês se entrelaçavam para sempre.

 

 

Carreira prestigiada e prêmios

Após seu primeiro trabalho diante das câmeras, em “Quand la femme s'en mele” (1957), não demorou muito para que Alain Delon começasse a ganhar destaque. A beleza física construída nos 1,77 metro daquele artista promissor também o ajudou a carimbar seu nome e imagem na fachada dos principais cinemas não só da França, como de toda a Europa.

 

Mas ele não era só mais um rostinho bonito, é verdade. O talento na arte de atuar, seduzir e encantar em cena era nítido desde seu começo na dramaturgia, encurtando assim o caminho para pegar um grande papel: interpretar Tom Ripley, o protagonista de “Plein soleil” (O sol por testemunha), adaptação da série de romances da escritora Patricia Highsmith. O filme, dirigido por René Clément, ajudou a inserir no imaginário da época a intensidade da potência que era Alain Delon.

Seus dois próximos trabalhos, dois clássicos aclamados pela crítica até hoje e considerados entre os melhores títulos da história do Velho Continente: “Rocco e Seus Irmãos” e “O Leopardo”, ambos dirigidos pelo italiano Luchino Visconti. Esse segundo filme rendeu a Alain nada mais nada menos do que uma indicação ao Palma de Ouro, do Festival de Cannes de 1963, na categoria "Melhor ator estreante".

E receber prêmios foram feitos que não faltaram em sua longa e prestigiada carreira. Confira abaixo as principais honrarias recebidas por Alain Delon:

 

Alain Delon atuou em mais de 90 filmes e esteve na produção de outros 30 longas-metragem ao longo de seus 50 anos de carreira. Confira agora os principais títulos que ele estrelou ou dirigiu:

 

 

Carreira premiada e vida pessoal conturbada

“Fui programado para o sucesso, não para a felicidade. Os dois não combinam”, foi o que Alain Delon chegou a comentar em entrevista sobre suas relações amorosas. Apesar disso, o charme que exalava nunca lhe deixou muito tempo longe de romances, tanto é que a lista de mulheres inebriadas pela sua beleza é extensa.

Considerado arrogante e um típico galanteador nos bastidores, Alain Delon não tinha por hábito divulgar seus relacionamentos, mas também dificilmente era visto desacompanhado. Pelo menos cinco nomes femininos podem ser destacados entre seus amores ao longo dos anos.

 

Mesmo não tendo conseguido manter um relacionamento que o acompanhasse pelo resto de seus dias, o sedutor imparável sempre foi considerado “homem de mulheres”. “É nelas que eu consigo a motivação para ser o que sou, para fazer o que faço”, orgulhava-se.

 

 

"Me falta vontade, paixão”

Talvez uma das características que mais diferencia o ser humano do restante da natureza seja o fato de saber que vamos morrer um dia, como reflete o filósofo brasileiro Mário Sergio Cortella. Esse pensamento, diz ele, faz com que a humanidade possa planejar o intervalo entre o nascimento e a morte, isto é: a vida. Mas quando a pessoa já viveu tudo aquilo que queria, conquistou o que sempre quis e agora não vê mais sentido em permanecer neste mundo, teria ela o direito de encerrar sua própria existência?

O debate é amplo e foi trazido por Alain Delon publicamente algumas vezes. Vítima de um duplo acidente vascular cerebral (AVC), em 2019, ele se viu limitado a exercitar diversas atividades do dia a dia, apesar de ter se recuperado do derrame. Com isso, passou a falar abertamente que gostaria de optar pelo “suicídio assistido”, termo adotado para o método utilizado para abreviar a própria vida.

Alain Delon viu amores e amigos encerrarem seus ciclos na Terra, assim como aconteceu com sua carreira, em 2017. Desde então, sua vida foi totalmente voltada para a família, em especial para os netos, o que não lhe impediu de fazer questão em dizer que lhe falta vontade de continuar sua jornada neste plano.

 

"Envelhecer é uma merda!" Alain Delon, ator e empresário francês

 

“Nada me excita realmente e eu era uma pessoa apaixonada. O que me falta é vontade, paixão. Mas vou despertar, talvez", declarou ele à revista Paris Match ainda em 2013. Agora sem a jovialidade e beleza escultural de antes, passou a militar contra a velhice que o abraçou.

“Envelhecer é uma merda! Você não pode fazer nada sobre isso. Você perde o rosto, perde a visão. Você levanta e, caramba, seu tornozelo dói”, reclamou Alain, que também passou a afirmar que não hesitaria em recorrer à eutanásia, caso necessário fosse.

“Sou a favor. Primeiro porque moro na Suíça, onde a eutanásia é legal, e também porque acho que é a coisa mais lógica e natural a se fazer. A partir de uma certa idade, de um certo momento, a pessoa tem o direito de sair tranquilamente, sem passar por hospitais, injeções e o resto...", declarou em entrevista a um canal de televisão suíço local, em março de 2022.

 

"A gente não está bem…" Anthony Delon, filho do ator Alain Delon

 

Com testamento já pronto e assinado, Alain Delon apareceu pela primeira vez após comunicar sua decisão em vídeo publicado pelo filho Anthony Delon, em 22 de abril, no Instagram. Na postagem, o icônico, imponente e histórico ator aparenta dificuldade para falar, enquanto seu filho comenta: "A gente não está bem…".


 

 

Atenção sobre o tema

Apesar de permitido na Suíça, os temas “suícídio assistido” e “eutanásia” são extremamente questionados em todo o mundo. Também não devem ser confundidos com o “suicídio” como conhecemos, que é ato de profundo sofrimento psicológico cujo suas vítimas podem e devem procurar e contar com ajuda.

No Brasil, diversas instituições oferecem atendimento e acolhimento às pessoas que chegam a cogitar tirar a própria vida, como o Centro de Valorização da Vida (CVV) que presta apoio emocional por diferentes meios.

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