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Xabi Alonso: o lendário craque que se tornou o técnico sensação da Europa
Reportagem Seriada

Xabi Alonso: o lendário craque que se tornou o técnico sensação da Europa

O ex-meio-campista que brilhou em gigantes europeus como Real Madrid-ESP, Liverpool-ING e Bayern de Munique-ALE, além da seleção espanhola campeã mundial de 2010, levou sua experiência e inteligência tática para o mundo da gestão esportiva

Xabi Alonso: o lendário craque que se tornou o técnico sensação da Europa

O ex-meio-campista que brilhou em gigantes europeus como Real Madrid-ESP, Liverpool-ING e Bayern de Munique-ALE, além da seleção espanhola campeã mundial de 2010, levou sua experiência e inteligência tática para o mundo da gestão esportiva
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Consagrado como um dos grandes nomes do futebol mundial, Xabi Alonso está agora deixando sua marca como técnico do Bayer Leverkusen e próximo de fazer história na Bundesliga, o campeonato nacional da Alemanha. Sob o comando do espanhol, os Leões podem conquistar o torneio pela primeira vez e quebrar a hegemonia do rival Bayern de Munique, que já dura 11 temporadas.

O ex-meio-campista, que brilhou em gigantes europeus como Real Madrid-ESP, Liverpool-ING e Bayern de Munique-ALE e na seleção da Espanha campeã mundial de 2010, trouxe sua experiência e inteligência tática para o mundo da gestão esportiva.

Ele é atualmente um dos treinadores mais desejados do mundo. Tanto que especulações apontam para o interesse de seus ex-clubes, o Liverpool e o Bayern de Munique.

Pouco mais de um ano após assumir o comando do Bayer Leverkusen, Xabi Alonso encanta os amantes de futebol pela qualidade técnica e invencibilidade de sua equipe. Na atual temporada, os Leões seguem sendo o único clube invicto dentre as principais ligas europeias.

Os números impressionam. O time está invicto na temporada após disputar 37 partidas. Até o momento, são 32 vitórias e cinco empates.

O escrete alemão ostenta um ataque letal que já marcou 103 gols, média de quase três tentos por jogo, enquanto a defesa foi vazada 28 vezes.

Na Europa League, o Bayer garantiu a classificação para as quartas de final em 14 de março, após virada emocionante sobre o Quarabag.

Os alemães perdiam por 2 a 0 para o rival do Azerbaijão até os 27 minutos do segundo tempo, quando Frimpong diminuiu. Os gols do empate e da virada só foram marcados nos acréscimos, aos 48 e 53 minutos, por Patrik Schick, que saiu do banco para se tornar herói.

“Estou feliz que estejamos juntos e tenhamos esse espírito de equipe, é talvez o mais importante dessa temporada, construir isso. Acreditar, ter apetite competitivo, isso para mim é lindo. Não só hoje. Eu sei que esse time quer o sucesso. A atmosfera, a festa com os torcedores, esse sentimento e crença são muito importantes, temos que aproveitar isso”, afirmou Xabi após o triunfo emocionante.

O resultado garantiu o avanço do Leverkusen, que enfrentará o West Ham-ING nas quartas de final, e manteve a invencibilidade na épica temporada.

O clube comandado por Alonso – mesmo sendo uma das equipes mais tradicionais da Alemanha – não possui uma sala de troféus invejável.

O Bayer Leverkusen é detentor, até então, apenas de uma Copa da Alemanha, uma Copa da Uefa e um título da segunda divisão alemã. Entretanto, nesta temporada, os Aspirinas seguem vivos na disputa por uma Tríplice Coroa inédita (Bundesliga, DFB Pokal e Europa League).

Líder isolado da Bundesliga a sete rodadas do fim do campeonato, o Leverkusen vê a oportunidade de encerrar a hegemonia do Bayern de Munique, atual hendecacampeão. No momento, dez pontos separam os Leões dos Bávaros, vice-líder do campeonato nacional.

Mas afinal de contas, o que levou o casamento entre Xabi Alonso e Bayer Leverkusen a dar tão certo? Quais pilares fazem o espanhol sustentar o bom desempenho e brigar por um título inédito para o clube de quase 120 anos?

 

 

O legado dentro das quatro linhas

Nascido na pequena cidade de Tolosa, ao norte da Espanha, em 25 de novembro de 1981, Xabier Alonso Olano cresceu em um ambiente influenciado pelo futebol. Filho do ex-jogador e ex-treinador Periko Alonso, Xabi não hesitou em seguir os passos do pai.

Os dois irmãos de Xabi também seguiram carreiras no futebol, mas não no mesmo patamar do campeão mundial.

Mikel Alonso, seu irmão mais velho, atuou como meio-campista em times da La Liga, entre eles Real Sociedad e Tenerife. Enquanto Jon Alonso, o caçula, se tornou árbitro de futebol.

O destino de Xabi estava ligado ao futebol e foi ele o responsável pela carreira mais brilhante da família no esporte. O jovem espanhol iniciou a trajetória profissional em 1999, aos 18 anos, no Real Sociedad, alçado das categorias de base. O time sediado na região autônoma do País Basco já foi treinado pelo pai do ex-meia.

Na temporada seguinte, Xabi teve uma uma rápida passagem pelo Eibar, mas logo retornou ao Real Sociedad, onde foi destaque por quatro anos seguidos, chegando a ser eleito melhor jogador espanhol em 2002.

Naquela época, Alonso nem imaginava que em breve brilharia com a camisa do Real mais famoso da história do futebol mundial.

Foi durante sua trajetória pelo Liverpool, em 2004, que o moderno volante atraiu holofotes com seu futebol.

A visão de jogo, precisão de passes e habilidade tática fizeram dele um dos volantes mais ilustres de sua época. Sob o comando de Rafael Benítez, Xabi foi peça fundamental do Liverpool na conquista da Uefa Champions League, em 2005.

Na histórica final contra o Milan, duelo que ficou conhecido como o “milagre de Istambul” para a torcida dos Reds, Xabi foi o autor do gol de empate em 3 a 3 que levou a decisão aos pênaltis.

Em 2009, Alonso retornou ao seu país para defender a camisa do poderoso Real Madrid, onde continuou a acumular sucessos.

Com a camisa merengue, Xabi foi titular absoluto até 2014 e ergueu mais uma taça de Champions e duas da La Liga, solidificando seu status como um dos melhores meio-campistas do mundo.

A passagem pelo Bayern de Munique, entre 2015 e 2017, foi igualmente vitoriosa, resultando em cinco títulos nacionais.

Atualmente, por uma dessas ironias comuns ao futebol, Xabi se vê cada vez mais perto de pôr um fim à hegemonia do gigante bávaro pelo qual foi tricampeão.

Como esperado, as habilidades do volante também se traduziram em uma carreira sólida na seleção espanhola.

Ele foi fundamental na conquista da Copa do Mundo de 2010 e da Eurocopa de 2008 e 2012.

Linha do tempo da carreira de Xabi Alonso

  

 

O retorno à Alemanha. Desta vez à beira do campo

Após encerrar a carreira como jogador, em 2017, Xabi Alonso não demorou para retornar aos campos como treinador. Logo que obteve a licença de técnico, assumiu o comando da equipe Sub-14 do Real Madrid, onde começou a aprimorar habilidades de gestão e desenvolvimento de jogadores.

Em seguida, Xabi voltou ao Real Sociedad para comandar o time B. No clube basco, Alonso permaneceu por três temporadas sem obter muito sucesso.

Em 2022, após finalizar a temporada 21/22 em terceiro lugar na Bundesliga e garantir vaga na Champions League, o Bayer Leverkusen manteve a esperança de fazer uma campanha ainda melhor na temporada seguinte sob o comando de Gerardo Seoane, o que não aconteceu.

Durante quase metade da temporada 22/23, o Werkself lutou para se manter fora da zona de rebaixamento, chegando até a assumir a vice-lanterna.

Com a frustração do momento vivido, a diretoria do clube iniciou um processo de reformulação para o restante da temporada 22/23.

A renovação do time passaria pela contratação de Xabi Alonso, que chegou ao rubro-negro por um voto de confiança de Fernando Carro, CEO do Bayer Leverkusen.

Em outubro de 2022, Xabi assumiu o controle do Bayer, criando as melhores expectativas possíveis.

Durante os quatro meses restantes da temporada, o time comandado pelo espanhol engatou uma série de resultados positivos e chegou a ficar em terceiro lugar na tabela. Mas finalizou em sexto, coroando a campanha com a classificação para a Europa League.

 

 

Filosofia de jogo dos Leões de Xabi

Com uma abordagem moderna e eficiente, não demorou para que Alonso adaptasse a equipe rubro-negra ao seu estilo. Xabi implementou uma filosofia de jogo baseada na posse de bola e na construção paciente das jogadas, semelhante ao seu jeito de jogar como meio-campista.

Desde a chegada do treinador espanhol, a equipe alemã tem características bem definidas: time integrado, com muita posse de bola, saída com passes curtos, presença de jogadores polivalentes entre linhas e forte utilização dos três corredores do campo.

Alonso adota o esquema tático 3-5-2 como base, podendo se valer de um 5-4-1 ou 5-2-3 conforme a situação durante as partidas.

Logo, não é tão comum ver a equipe de Alonso jogando com uma linha de quatro na defesa. Entretanto, mais crucial do que as mudanças de sistema tático é como os jogadores interpretam essas estratégias.

A atuação dos cinco defensores, por exemplo, varia de acordo com os objetivos da equipe com a posse de bola e a pressão exercida em cada momento do jogo.

Contudo, a abordagem audaciosa da equipe de Alonso permanece constante em ambas as fases do jogo; eles procuram dominar o campo adversário o máximo possível.

Embora o Leverkusen de Alonso goste de controlar a posse e construir pacientemente, os Leões também têm capacidade de acelerar o jogo – especialmente quando entra no campo adversário.

Quando a oportunidade se apresenta, a equipe sabe ser vertical apresentando velocidade para definir as jogadas.

Conforme Felipe Rolim, jornalista do Canal Nosso Futebol e analista de desempenho, a intensidade do time alemão pode ser claramente traduzida em números.

“O time tem uma média altíssima de 65% de posse de bola e de 660 passes por jogo na temporada, com acerto próximo a 90%. Os maiores destaques de Xabi Alonso são a intensidade do jogo e o uso constante dos alas, e o que notadamente o diferencia de seus pares na Bundesliga, é praticamente não utilizar o contra-ataque, que é algo cultural no futebol alemão”, destaca o jornalista.

A abordagem tática de Xabi Alonso visa a maximizar o talento individual dos jogadores, ao mesmo tempo em que promove um estilo de jogo coletivo e dinâmico. Isto é um dos fatores que mais chama atenção no time.

O Bayer Leverkusen impressiona ao manter uma performance de alta qualidade pautada no bom desempenho coletivo.

Mesmo aproveitando ao máximo todos os jogadores do plantel, Xabi mantém certos nomes como a base de seu time. “Alguns jogadores são a sua espinha dorsal sem reservas à altura, como o zagueiro Jonathan Tah, o volante Granit Xhaka, o meia Wirtz e o ala Grimaldo, mas em quase todas as outras posições não há um degrau tão grande entre os titulares e suplentes”, analisa Felipe Rolim.

Peças-chave de Xabi Alonso

O trabalho de mostrar um bom desempenho coletivo do Bayer Leverkusen passa diretamente pela potencialização dos jogadores.

Desde que montou o atual elenco, é notável a lapidação que Xabi tem feito em alguns atletas. Dentre os destaques do time, o trabalho de desenvolvimento dos alas Alejandro Grimaldo e Jeremie Frimpong tem sido o mais notável. Com 11 gols marcados, ambos os defensores ocupam a vice-artilharia do time.

No caso de Alejandro Grimaldo, o defensor é o lateral com mais participações em gols dentre as cinco principais ligas europeias nesta temporada. Até o momento, o lateral-esquerdo soma 11 gols e 13 assistências. A boa atuação no Leverkusen, aliás, rendeu ao defensor sua primeira convocação para representar a seleção espanhola, aos 28 anos de idade.

Revelado pelas categorias de base do Barcelona, Grimaldo chegou ao Leverkusen no início da temporada a custo zero, depois de não ter renovado contrato com o Benfica. Mesmo já apresentando forte potencial ofensivo em Portugal, sob o comando de Xabi, Grimaldo passou a atuar com mais liberdade na ala esquerda para concluir as jogadas.

Ao falar sobre o técnico, o jogador não hesita em enaltecer o trabalho feito pelo conterrâneo: "Para mim, Xabi é um treinador muito especial. Está muito claro que eu vim para o Bayer Leverkusen por ele. Ainda há pouco tempo era jogador, e foi um jogador incrível, e também teve grandes treinadores durante a sua carreira. Creio que tudo isso é determinante para que seja o treinador que hoje é. Está muito claro para mim que vai marcar uma era", disse em entrevista ao jornalista Fabrizio Romano.

Outra peça imprescindível para Alonso é o lateral-direito Jeremie Frimpong, que se destaca no time também pelo poderio ofensivo. Sob o comando de Gerardo Seoane, o defensor chegou até a ser utilizado como ponta-direita e centroavante. Mas desde a chegada de Xabi, Frimpong se estabeleceu na ala direita, onde consegue fazer a ligação ataque-defesa com facilidade.

Descoberto nas categorias de base do Manchester City, o jovem holandês chegou do Celtic ao Leverkusen como uma aposta. Em sua primeira temporada pelo clube alemão, Frimpong fez uma campanha tímida, marcando apenas uma assistência em 13 jogos. Já na temporada seguinte, o jogador passou a assumir a titularidade na equipe e se estabeleceu como peça importante na equipe. Sob o comando de Xabi, o holandês vive o melhor momento de sua carreira.

Além de um bom scout, Xabi soube potencializar peças do Bayer Leverkusen. Um exemplo disso é o jovem meia Florian Wirtz, considerado a joia do clube. Revelado na base do Colônia, o jogador se transferiu para o time Sub-19 do Leverkusen em 2019, e não demorou para chamar atenção. Em 2020, Wirtz subiu ao time principal a pedido do ex-técnico Peter Bosz.

O jovem chegou ao time principal e logo assumiu o protagonismo. Camisa 10 do time, o jovem meia foi potencializado por Xabi após ser posicionado de modo a jogar com maior liberdade entre o segundo e último terço do campo. Atualmente, Wirtz é o jogador de primeira divisão com mais participação em gols na temporada.

É perceptível o legado histórico que Xabi Alonso vem construindo desde a sua chegada ao Bayer Leverkusen.
Assumindo o papel de treinador, Xabi está deixando sua marca não apenas nos resultados em campo, mas também na cultura e na identidade do Werkself, estabelecendo um padrão de excelência para o futebol alemão.

 

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