É possível que você não reconheça o nome de primeira, mas com certeza identificará a imagem. Zendaya é, antes de tudo, um fenômeno premeditado. E no melhor tipo de conotação que há: a atriz é um exemplo de planejamento de carreiras e de postura para o que se espera de figuras públicas nos dias de hoje.
Zendaya Maree Stoermer Coleman nasceu em Oakland, Califórnia (EUA), no dia 1º de setembro de 1996. Mas desde que estreou como atriz mirim na Disney Channel, em 2009, ela responde por um único nome, sem adicionais: Zendaya. E, não, a pronúncia não é ZendÁia, mas ZendÊia. “É um nome meio real, meio inventado”, costuma introduzir toda vez que é questionada sobre a pronúncia e origem do nome.
É derivado do nome Tendai, que significa “agradecer” em shona, uma língua nativa do povo Shona de Zimbábue. A partir dele, os pais juntaram o termo Zen, mais a palavra Day (dia em inglês, pronunciado com som de E) e, voilá ― garantiram à mais nova de seis filhos um nome artístico tão marcante quanto Madonna e Prince.
No Disney Channel, a atriz protagonizou a série No Ritmo, ao lado de Bella Thorne, interpretando a divertida e inteligente Rocky Blue. Ela teve a oportunidade de dar visibilidade a todos seus talentos, atuação, dança e canto. Fez alguns filmes na empresa e depois protagonizou a série Agente K.C., estrelando uma família negra de agentes secretos.
Mas não foi a Disney que garantiu à Zendaya o título de pessoa mais jovem a receber o prêmio Emmy de Melhor Atriz em Série Dramática. Na verdade, esse caminho é longo, organizado e fruto da visão assertiva de uma das atrizes mais influentes da indústria do entretenimento atual.
“Algo que me ajudou a criar um caminho próprio, que estava além da Disney Channel, foi a moda”, conta Zendaya em entrevista de 2021. E funcionou! No mesmo ano, a atriz recebeu o Prêmio de Ícone Fashion, da CFDA, virando a mais jovem a receber a honraria na história. E, talvez tão impactante quanto isso, entrando na mesma lista de premiadas como Naomi Campbell (2018), Beyoncé (2016) e Rihanna (2014).
Antes disso, em 2019, ela lançou a primeira colaboração no mundo da moda com Tommy Hilfiger, intitulada Tommy X Zendaya. Atualmente, é o rosto das marcas Lancome, Bulgari e Valentino. Chique, né?
A estratégia para se desvencilhar da imagem de garota da Disney, então, foi aparecer em eventos com looks tão incríveis que ninguém poderia evitar notá-la. “É, eu ia para eventos que eu não tinha porque estar. Só para eu ser vista, sabe?”, ri. Oscar, MET Galas… Diga qualquer grande reunião de famosos, Zendaya provavelmente estava lá.
“A moda virou algo meu. Me vestia muito bem em eventos que não precisava estar. E depois minha sacada foi: ‘Agora eu preciso provar que eu deveria estar aqui, que eu mereço estar aqui!’ E é aí que a diversão começa.”
O mais engraçado é que, na verdade, ela é uma pessoa muito tímida e introvertida. Então ela ia para as festas, era fotografada com um estilo de tirar o fôlego, e depois procurava a primeira brecha para voltar para casa. Ficar com a família, assistir documentários true crime e jogar videogame com o assistente e amigo Darnell Appling são alguns dos passatempos favoritos da atriz.
Por outro lado, Zendaya nunca deixou a introversão impedi-la de administrar a carreira. Ela aprendeu a ter conversas fiadas com possíveis parceiros de projeto (o truque, diz, é ser mestre na arte de fazer perguntas e deixar que os outros falem) e determinou quais espaços ela queria ocupar.
Quando tinha dois anos, os avós de Zendaya a levaram para ter as cores da sua aura lidas. “Aparentemente”, diz em entrevista à Vogue em 2019, “minha aura é principalmente roxa, o que sinaliza que você é uma pessoa criativa. E também tinha um pouco de verde, o que representa coisas práticas. Negócios.”
Se a leitura de aura funciona mesmo, isso é outra discussão. Mas é bem verdade que Zendaya é uma pessoa prática e muito centrada quando o assunto é escolhas profissionais.
Após assinar alguns contratos ruins quando era criança ― ela não diz quais, mas um deles definitivamente envolveu sua breve carreira musical na Disney ―, ela virou uma expert em analisar documentos. Mesmo odiando ler, pediu para os advogados indicarem livros que garantiriam a ela compreensão total sobre o juridiquês da indústria do entretenimento. A partir de então, a principal dica da atriz para jovens artistas é: “Leiam e estudem bem esses contratos!”
Além disso, Zendaya precisava encontrar uma maneira de provar que ela era muito mais do que uma atriz “nível Disney”, realmente capaz de interpretar personagens complexas e humanas. “É sobre ser um pouco mais realista e entender porque essas opiniões existem”, pensava. “É claro que eles acham que não consigo, eu ainda não provei o contrário!”
A partir de então, ela decidiu aceitar papéis pequenos e avançar aos poucos, no seu próprio tempo, sem almejar grandes holofotes logo de cara. “Eu prefiro ser uma coadjuvante em um filme incrível a uma protagonista em um filme ruim.”
Nessa lógica, ela estrelou a trilogia Homem Aranha como MJ, o par romântico de Peter Parker (interpretado por Tom Holland, atual namorado de Zendaya). Ela também é personagem na trilogia Duna, com o segundo filme programado para estrear em 2023. “Eu só estou indo no meu tempo. Começando pequeno e construindo, construindo, construindo… E no tempo que eu estiver dando aquele grande passo, será realista.”
Ela deve parte do suporte para conseguir colocar sua felicidade acima das pressões da indústria, principalmente, aos pais. A mãe Claire Stoermer e o pai Kazembe Ajamu Coleman eram professores em Oakland, e o pai largou o emprego para acompanhar a filha na aventura como atriz mirim em Los Angeles. Quando o estresse era muito, eram os pais dela que tentavam acalmá-la e garantir que, caso fosse do desejo dela, eles voltariam para casa e retomariam a “vida normal”.
Tanto esforço deu grandes frutos com a série Euphoria, da HBO Max. Protagonizada por Zendaya (como Rue) e outros atores, o drama adolescente criado e majoritariamente dirigido por Sam Levinson aborda, pela personagem Rue, as diversas facetas do vício em drogas.
Entregando uma atuação crua e sensível, Zendaya conquistou o Emmy de Melhor Atriz em Série Dramática em 2020. Ela estava com 24 anos e foi a mais jovem a receber a honraria na história do Emmy.
A emoção de receber o prêmio foi ainda maior em razão do carinho que Zendaya tem pela personagem. Pela primeira vez, diz, ela precisou acessar sentimentos profundos para interpretar Rue com respeito e dignidade. Mas foi menos difícil do que imaginava: ela conta que Rue logo se manifestava durante as cenas e que, na verdade, sentia que sequer precisava atuar. Apenas sentir profundamente o que era já era real.
O reconhecimento está longe de ser o único objetivo de Zendaya para sua carreira. Extremamente engajada, ela deseja ser uma plataforma para garantir cada vez mais oportunidades para outros artistas negros.
Para isso, ela não só discute e defende abertamente sobre causas sociais ― a exemplo do acompanhamento ativo do movimento Black Lives Matter ―, como também tem participado na produção de muitos projetos em que está envolvida. Exemplo é a própria série da Disney Channel, Agente K.C. (2015 - 2018), à qual Zendaya participou na criação e produção. “Foi a primeira vez em que eu percebi que poderia ter um pouco mais de poder e demandar coisas que eu queria”, explicou em entrevista ao The Hollywood Reporter em 2021.
Uma das exigências foi que a série apresentasse uma família negra, assim como a série As Visões da Raven (Disney, 2003 - 2007). Ela também participou da produção do filme Malcolm & Marie e da série Euphoria.
Zendaya é tão relevante que ela até virou uma boneca Barbie em 2015. A Mattel, empresa da boneca, inspirou-se no look que a atriz usou no Oscar de 2015, com um vestido branco de cetim e dreadlocks. Na época, ela tinha 18 anos e foi vítima de um comentário racista da comentarista Giuliana Rancic. Rancic disse, na época, que o cabelo de Zendaya deveria “feder a marijuana".
“Já existe criticismo suficiente sobre os cabelos afro-americanos na sociedade sem a ajuda de pessoas ignorantes que optam por julgar os outros com base na curvatura dos seus cabelos”, respondeu Zendaya em uma publicação no Instagram. A resposta direta ao ataque sofrido por ela foi uma raridade, já que a atriz geralmente prefere ignorar os discursos de ódio contra ela.
Por isso, o público foi à loucura quando a Mattel transformou Zendaya em uma boneca Barbie negra, com vestido branco e um lindo cabelo com dreadlocks compridos. “Obrigada, Barbie, pela honra e por permitir que eu faça parte da nossa diversificação e expansão da definição de beleza”, comemorou a atriz.
Ela é definitivamente uma voz ativa e influente na indústria, inspirando a atual geração de artistas a persistir nos seus sonhos, além de exigir dos chefões mais oportunidades para as minorias (que, na verdade, são a maioria do público).
Zendaya não sabe se seguirá na carreira de atriz para sempre. Como uma pessoa prática e pé no chão, ela quer deixar espaço para avançar aos poucos e, se der na telha, poder enveredar por outros caminhos. Sempre na busca da felicidade e bem estar.
Série vai explorar personagens - famosos e anônimos - para destacar histórias de vida