Baleada na volta da escola, a biografia de Malala Yousafzai é um perfeito retrato do que é crescer sob o Talibã. Do Vale de Swat, no noroeste de um país conservador onde se espera que as mulheres fiquem em silêncio e sirvam apenas para cozinhar e criar os filhos, a voz corajosa da garota despertou os olhares do mundo para a realidade das meninas em uma nação em conflito: a perda do direito à educação.
Inconformada desde pequena com a sociedade que impunha como as mulheres deveriam pensar e agir, Malala começou a ganhar destaque quando tinha entre 11 e 12 anos, época em que passou a registrar seu cotidiano sob um pseudônimo em um blog para a emissora britânica BBC.
Malala começou a escrever em língua urdu (idioma do Paquistão), sob o pseudônimo de Gul Makai — nome de uma heroína do folclore local
Com o anúncio do fechamento de todas as escolas de meninas, as garotas que insistiam em estudar precisavam esconder uniformes e livros para não serem identificadas como estudantes — além de serem obrigadas a usar a burca, o que, segundo escreveu Malala na época, “torna o ato de andar difícil”.
Ao narrar as dificuldades da vida sob o domínio do grupo fundamentalista que controlava a região fronteira entre Paquistão e Afeganistão desde 2007, a adolescente teve sua identidade descoberta pela vizinhança e imprensa local, o que chamou a atenção da mídia internacional e a fez receber ainda mais visibilidade.
Com a aparição pública, Malala também se tornou mais vulnerável: ela e seu pai passaram a ser perseguidos e receber ameaças. No período, a jovem já dava entrevistas e fazia discursos, sendo considerada um símbolo na luta pelos direitos femininos — o que quase lhe custou a vida.
Em 2012 a adolescente virou uma vítima por, de acordo com declaração do Talibã, “promover a educação secular”: na época com 15 anos, voltava para casa no ônibus escolar quando foi surpreendida por três disparos, um deles atingindo sua cabeça.
Uma das balas atravessou o crânio e foi parar no ombro, o que deixou Malala em estado crítico e a fez passar por uma cirurgia delicada para retirada do projétil de seu cérebro. Desenganada por alguns médicos, foi transferida para a Inglaterra e conseguiu sobreviver ao atentado apenas com sequelas no rosto.
Clique nas fotos para ampliá-las e nos ícones de pin para mais informações
A partir daí seu reconhecimento global foi consolidado, e desde então a ativista paquistanesa vive na Inglaterra com a família, onde continuou seus estudos e criou um fundo para apoiar o estudo de meninas ao redor do mundo, o Malala Fund.
Apesar da mudança de país, Malala ainda sonha em voltar para sua terra natal e já declarou, em entrevistas, que sente falta dos amigos, das tradições e de sua casa
Em 2014, aos 17 anos, Malala recebeu o Prêmio Nobel da Paz por sua “luta contra a supressão das crianças e jovens e pelo direito de todos à educação” e se tornou a pessoa mais jovem a ser laureada com a honraria.
"Nossos livros e nossos lápis são nossas melhores armas. A educação é a única solução, a educação em primeiro lugar"
A autobiografia foi banida das escolas privadas paquistanesas por ser “má influência” e “desrespeitar o islão”.
No livro, ela reúne detalhes do domínio brutal dos talibãs, seu desejo de entrar para a política e narrativas inspiradoras de uma mulher que acredita que as palavras têm o poder de mudar o mundo.
Todos conhecem Malala como vítima, ativista e ícone. O que pouco se observa, no entanto, é Malala, a jovem de 25 anos. Apesar da maturidade e de ter sido catapultada para o cenário mundial muito nova sob circunstâncias pesadas, ela ainda é uma mulher que, como muitas de sua idade, gosta de dançar, assistir séries, ler livros e ouvir música.
Fã de “Crepúsculo”, em Mingora costumava brincar com a melhor amiga, Moniba, fingindo que eram vampiras. “Eu gosto de Edward, o vampiro, mais do que Jacob, o lobisomem, porque os vampiros vivem para sempre”, ela diz ao se referir aos personagens centrais da saga.
“É divertido sair do mundo real e entrar em um novo mundo onde você pode tirar sua mente da sua vida diária. Acho isso muito importante”, disse, em entrevista.
Em uma de suas publicações mais recentes no Twitter, a ativista deixou um bilhete elogiando a representatividade de “Ms. Marvel”, uma das produções recentes do Universo Cinematográfico Marvel. A série apresenta a primeira heroína muçulmana do MCU, Kamala Khan - vivida por Iman Vellani.
“Não é todo dia que ligo a TV e encontro um personagem que come as mesmas comidas, ouve a mesma música ou usa as mesmas frases em urdu que eu”, escreveu.
Ao ser questionada por seus seguidores do Instagram, a ativista já compartilhou em seus stories que assistiu a sucessos como The White Tiger, Wolfwalkers e Soul. Já no TikTok, a humanista revela que suas coisas preferidas são sapatos, comédia e livros.
Em seu primeiro vídeo para o perfil ‘Malala Fund’, que atingiu 79,5 mil curtidas em 24 horas, ela se apresenta para os espectadores: “Oi, Tik Tok. Meu nome é Malala Yousafzai. Alguns de vocês já devem me conhecer, podem ter ouvido meu discurso na ONU ou podem ter lido meu livro, eu sou Malala”.
“Alguns de vocês podem não me conhecer ainda, então vou me apresentar. Sou recém-formada pela Universidade de Oxford. Minhas coisas favoritas são sapatos, comédia e livros de leitura. Tenho 23 anos e sou uma ativista da educação de meninas”, continua.
Presente nas redes sociais, ela utiliza seu perfil para dividir momentos pessoais com o público, como sua formatura na Universidade de Oxford, em 2020, a vacina contra a Covid-19 em 2021 e seu casamento com Asser Malik no fim do mesmo ano.
Ano passado, a jovem assinou uma parceria com a Apple TV Plus (Apple TV+) para o desenvolvimento de uma programação original para a plataforma, cobrindo desde séries de dramas e comédias, até documentários, animação e séries infantis.
Em seus discursos para o público da internet, Malala também leva a educação como um ponto fundamental de transformação. “Educação é um estado de privilégio, que muitas garotas não têm acesso. Hora pelo extremismo que elas estão enfrentando, hora por razões culturais, de infraestrutura e tantas outras”, declara.
Canceriana, a Nobel da Paz Malala Yousafzai completou 25 anos em 12 de julho de 2022 com um pedido de presente especial: doações para apoiar o trabalho do Fundo Malala e de ativistas pela educação em dez países, incluindo o Brasil.
Além do Brasil, cujas ações podem ser conferidas pelo Instagram @redemalala, o Fundo Malala atua no Afeganistão, Bangladesh, Etiópia, Índia, Líbano, Nigéria, Paquistão, Tanzânia e Turquia por meio de diversos programas.
A ativista preparou uma lista de 25 ações que qualquer pessoa pode tomar para avançar o direito à educação de todas as meninas. Confira o texto traduzido em português:
Hoje eu completo 25 anos! Eu sei, também não consigo acreditar. Parece que foi ontem que me formei no ensino médio, ansiosa por tudo o que o mundo tinha a oferecer. Mas, no meu aniversário de 25 anos, ainda quero o que eu desejava naquela época: que as meninas de todos os lugares tenham a oportunidade de frequentar a escola, aprender e liderar.
Em homenagem aos meus 25 anos, aqui estão 25 ações que você pode tomar agora para apoiar a educação de meninas.
Passe o mouse ou clique nos números e veja as 25 dicas para ajudar na educação de meninas
Série vai explorar personagens - famosos e anônimos - para destacar histórias de vida