Alguns zeros à mais para a direita fizeram com que o arremessador e rebatedor japonês de beisebol Shohei Ohtani, de 29 anos, redefinisse os padrões contratuais no mundo dos esportes. Ao assinar um histórico acordo de dez anos no valor de 700 milhões de dólares com o Los Angeles Dodgers, o jogador foi alçado ao topo da lista de atletas mais bem pagos do mundo. Figuras como Cristiano Ronaldo e Messi, por exemplo, passam a ser coadjuvantes frente à estrela asiática dos gramados americanos.
Nascido na tradicional cidade de Oshu, na provincia de Iwate, em 5 de julho de 1994, Ohtani absorveu desde muito jovem o amor pelo beisebol de seu pai, Koru, e de sua mãe, Kayoko, uma jogadora de badminton. Apesar de ser reconhecido como verdadeiro “Yakyu shonen” – basicamente uma criança que vivia, comia e respirava beisebol –, o rapaz foi para a natação, onde inicialmente assumiu certo destaque.
Mas a paixão pelo beisebol foi mais forte e lhe puxou de volta. Nos gramados, Ohtani tornou-se um fenômeno no ensino médio, destacando-se em solo japonês e estabelecendo-se como uma promessa nacional e mundial. Ele até cogitou cruzar o mundo para os Estados Unidos quando mais jovem, mas o início de sua carreira profissional aconteceu no Hokkaido Nippon-Ham Fighters, do norte do Japão, em 2013.
Por lá, passou a ser protegido do clube, sendo afastado o máximo possível dos holofotes midiáticos. Prova disso é que ele seguia uma rígida rotina dividida apenas entre deslocamentos aos locais de treinamento, aos estádios de jogo e a seu próprio alojamento. Com isso, a equipe nipônica conseguiu segurá-lo até 2017, isso porque sua ida para a América era inevitável.
No ano seguinte, Ohtani desembarcou no Los Angeles Angels, onde logo de cara fez um ano de 2018 magistral. Fez 15 home runs e 50 entradas logo na temporada de estreia, algo que um rookie (novato) não fazia há mais de um século. O último a alcançar tal feito havia sido o histórico Babe Ruth.
Babe Ruth atuou pelos Red Sox, Yankees e Braves, estabelecendo muitos recordes em rebatidas e como arremessador.
Ele é um dos grandes heróis do esporte americano e é considerado por muitos o maior jogador de beisebol da história.
Foi um dos cinco primeiros a entrar para o National Baseball Hall of Fame and Museum, em 1936.
A ascensão meteórica de Ohtani acontece também devido à sua alta regularidade em campo como rebatedor e arremessador, o que o tornou figura central no cenário do beisebol americano. Os números nas temporadas seguintes à sua estreia constatam essa afirmação, pois passaram a impressionar a todos nos EUA.
Em 2021, por exemplo, o atleta fez um ano considerado impecável, colocando-se como o primeiro na história da Major League Baseball (MLB, sigla inglês para Liga de Beisebol) com dez ou mais home runs e vinte ou mais bases roubadas como rebatedor. Já como arremessador, contou com 100 ou mais strikeouts.
Em 2022 e em 2023, mais duas temporadas de alto nível que o qualificaram ao status de um dos maiores da história do beisebol graças às suas contribuições tanto ofensivamente quanto como arremessador. O destaque foi tamanho que Ohtani passou a ser chamado de “o novo Babe Ruth”.
É o ponto culminante de uma partida, em que o jogador rebate a bola para além do campo, podendo anotar de 1 a 4 pontos.
Do inglês “Earned Run Average”, a ERA é a média de corridas ganhas que um arremessador permite a cada nove entradas.
Ocorre quando um arremessador lança a bola três vezes e o adversário não consegue rebater nenhuma delas.
Ocorre quando um corredor avança à próxima base enquanto o arremessador está enviando a bola ao ponto de início do jogo.
Além do campo, Ohtani passou a se mostrar como um exemplo de humildade. Fontes ligadas ao atleta já chegaram a relatar à imprensa que ele mantém viva a tradição japonesa de deixar tudo impecável. Para tanto, não deixou de lado a necessidade de ter um intérprete para garantir uma comunicação sem ruídos com seus companheiros.
Apaixonado por mangás, especialmente “Slam Dunk”, o atleta nipônico também costuma manter o sono equilibrado, dormindo dez horas ou mais por dia, além de buscar seguir os passos de Hideki Matsui, icônico jogador japonês com passagens marcantes pelos New York Yankees, Los Angeles Angels of Anaheim, Oakland Athletics e Tampa Bay Rays.
Os números extraordinários dentro de campo apresentados por Shohei Ohtani são combinados a uma abordagem inovadora, os quais o mantêm com um estilo de jogo único. Entre suas principais características, está o modo que desenvolveu para praticar o esporte que tem o taco e a bolinha como instrumentos de trabalho. Classificado como “bidirecional”, o atleta é capaz de arremessar a bola com o braço direito e rebater com o lado esquerdo, o que acaba de certo modo confundindo seus adversários.
Apesar de já ter sido considerado o MVP (melhor atleta da temporada) duas vezes pelo Los Angeles Angels, ele e sua equipe amargam um longo jejum de títulos na Major League Baseball (MLB). Os louros da competição costumaram ficar nas últimas temporadas com o maior rival, o Los Angeles Dodgers. Sozinho, o time da mesma cidade venceu dez dos onze últimos títulos da National League West – na tradução “Divisão Oeste da Liga Nacional”, uma das seis divisões da MLB.
Com isso, o histórico vitorioso do Dodgers fez com que Ohtani abrisse os olhos e enchesse os bolsos. Isso porque ele aceitou uma proposta invejável e nunca antes vista no esporte mundial. Após fortes rumores da imprensa americana, Ohtani e Dodgers assinaram um contrato de dez anos no valor de 700 milhões de dólares – o equivalente a mais de R$ 3,4 bilhões.
Pouco ativo nas redes sociais, o jogador fez uma publicação no Instagram comunicando sua transferência. “Peço desculpas por demorar tanto tempo a tomar uma decisão”, escreveu, informando sobre sua escolha pelo Dodgers como sua próxima equipe.
“Gostaria de expressar a minha sincera gratidão a todos os envolvidos com a organização Angels e aos fãs que me apoiaram ao longo dos últimos seis anos, bem como a todos os envolvidos com cada equipe que fez parte deste processo de negociação. Especialmente para os fãs dos Angels que me apoiaram em todos os altos e baixos. O apoio e a torcida de vocês significaram tudo para mim. Os seis anos que passei com os Angels permanecerão gravados no meu coração para sempre”, agradeceu.
Logo na sequência, dedicou o restante da mensagem aos torcedores do Dodgers, de quem defenderá suas cores. “Comprometo-me a fazer sempre o que é melhor para a equipe e continuar sempre a dar tudo de mim para ser a minha melhor versão. Até ao último dia da minha carreira de jogador, quero continuar a esforçar-me não só pelos Dodgers mas pelo mundo do basebol”, completou, dizendo que pretende compartilhar mais detalhes posteriormente em uma entrevista coletiva.
Fora dos campos, Shohei Ohtani se apresenta como uma verdadeira potência econômica. Só em acordos de patrocínio individuais, são mais de 327 milhões de dólares por ano. Também por isso, sua presença nos Estados Unidos acaba se tornando uma inspiração para muitos de seus compatriotas, que o seguem avidamente em suas partidas.
Nesse contexto, sua contratação pelo Dodgers é um feito que estabelece um novo patamar financeiro ao esporte mundial. As cifras geradas pelo atleta japonês estabelecem uma mudança significativa na hierarquia salarial, principalmente quando colocadas frente às de astros como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.
Para se ter ideia, pelo menos dois CR7s e Messis seriam necessários para poder contratar o craque japonês. Isso porque, enquanto Shohei Ohtani custa R$ 3,5 bilhões, Cristiano Ronaldo e Messi apresentam os valores de R$ 839 milhões e R$ 802 milhões, respectivamente.
O modelo de contrato assinado por Ohtani chama atenção não somente pelo volume de dinheiro, mas também pelo seu modo de pagamento. Como forma de não prejudicar financeiramente sua nova equipe, o japonês concordou em receber os 700 milhões de dólares acordados ao longo dos próximos 20 anos de maneira rateada.
Isto é, até 2033, ele receberá “apenas” dois milhões de dólares anuais, temporada por temporada. Depois disso, de 2034 a 2043 serão 68 milhões de dólares ano a ano. Veja abaixo como será essa forma de pagamento.
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