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Desenvolvimento com a Transnordestina: potencial chega a 6 novos empregos a cada vaga gerada no NE
Reportagem Seriada

Desenvolvimento com a Transnordestina: potencial chega a 6 novos empregos a cada vaga gerada no NE

Dividida em 11 trechos que cortam o Ceará, a obra da Transnordestina tem sete trechos em andamento, faltando licitar outros quatro. Já foram aportados mais de R$ 1,5 bilhão em recursos na ferrovia, mas o orçamento total é previsto em R$ 15,7 bilhões
Episódio 2

Desenvolvimento com a Transnordestina: potencial chega a 6 novos empregos a cada vaga gerada no NE

Dividida em 11 trechos que cortam o Ceará, a obra da Transnordestina tem sete trechos em andamento, faltando licitar outros quatro. Já foram aportados mais de R$ 1,5 bilhão em recursos na ferrovia, mas o orçamento total é previsto em R$ 15,7 bilhões
Episódio 2
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A avaliação de que o início da operação da ferrovia Transnordestina promoverá um salto de desenvolvimento econômico para o Nordeste é amplamente compartilhada pelos diversos entes envolvidos.

Um comentário, em especial, chama a atenção de quem acompanha o transcorrer do projeto no dia a dia: o diretor da Marquise Infraestrutura, Renan Carvalho.

O executivo destaca os detalhes da obra e seus impactos desde as pequenas cadeias econômicas. No projeto da Transnordestina, no interior do Ceará, a escala da obra gera uma verdadeira revolução no panorama local.

 Renan Carvalho, diretor da Marquise Infraestrutura(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Renan Carvalho, diretor da Marquise Infraestrutura

Renan enfatiza que, segundo o cálculo, a cada emprego direto gerado no projeto, surgem outros seis indiretos.

"Obras de infraestrutura são diferentes de obras urbanas. No Interior, as cidades não estão preparadas para receber projetos dessa magnitude e acabam se desenvolvendo junto com a obra."

"Por exemplo, em cidades como Senador Pompeu, alugamos casas para alojar equipes, instalamos canteiros de apoio e movimentamos o comércio local. Isso gera empregos diretos e indiretos: borracharias, farmácias, espetinhos, entre outros", afirma.

Dividida em 11 trechos que cortam o Ceará, a obra da Transnordestina tem sob a responsabilidade da construtora cearense Marquise sete trechos em andamento, faltando licitar outros quatro.

Segundo a empresa, já foram aportados mais de R$ 1,5 bilhão em recursos nas fases assumidas pela companhia. Em novembro passado, o Governo Federal assinou aditivo para que o Banco do Nordeste aplique os R$ 3,6 bilhões restantes para conclusão das obras. Deste montante, foram liberados R$ 400 milhões no dia 10 de janeiro de 2025.

"Essa é a maior obra em execução sob a responsabilidade da Marquise, sendo também uma das maiores do Brasil e é bom destacar isso. A obra está voando, avançando com muita força, muita gente trabalhando", continua Renan.

O diretor da Marquise lembra que esse ritmo foi possível a partir de 2023. Detalha ainda que a obra passou a década anterior caminhando lentamente por falta de repasse de recursos. Mas, nos últimos dois anos, o recurso foi garantido e os trabalhos intensificados, com entregas dos lotes 1, 2 e 3 (entre os municípios de Missão Velha e Iguatu).

Trechos 1, 2 e 3 já foram concluídos pela Marquise Infraestrutura(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Trechos 1, 2 e 3 já foram concluídos pela Marquise Infraestrutura

A ferrovia agora avança sobre os lotes 4, 5 e 6 (cortando os municípios de Acopiara, Icó e Quixeramobim), que devem ser entregues até o início de 2026, atingindo mais de 50% da obra. Em novembro foi assinado a ordem para início da obra do trecho 7 (liga Quixadá a Itapiúna).

"Já iniciamos as obras neste último, com explosões e terraplenagem. Ao todo, temos mais de 200 km em curso, o que representa um volume impressionante. São mais de 2 mil trabalhadores e uma frota gigantesca de equipamentos", destaca.

Dentro do contexto de reunião de aparato e destreza técnica para condução de uma obra dessa magnitude, Renan lembra que esse é um marco importante: ter uma empresa cearense conduzindo o trabalho.

Ele lembra que obras de grande porte em nível Brasil que também foram realizadas no Estado, como a construção do Açude Castanhão e o Aeroporto de Fortaleza, foram feitas por construtoras de outros estados.

Na primeira metade de 2024, Lula visitou o Ceará e disse que não faltará recursos para a conclusão da Transnordestina(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Na primeira metade de 2024, Lula visitou o Ceará e disse que não faltará recursos para a conclusão da Transnordestina

Agora, na Transnordestina, a demanda por todo um aparato tecnológico e atenção aos aspectos de gestão ambiental, social e de governança fazem parte do dia a dia.

Exemplo disso é o mapeamento da fauna local, conduzindo os animais que estão no caminho dos trilhos para locais seguros até que as explosões e intervenções de engenharia sejam concluídas. Para isso são realizadas parcerias com instituições especializadas no manejo de animais.

Outro diferencial é o uso de equipamentos tecnológicos, como o monitoramento dos trabalhos via 500 equipamentos em campo com sistemas de digitais, drones e sensores. Isso permite o acompanhamento em tempo real do progresso da obra.

"A Transnordestina é um projeto transformador para o Nordeste e para o Brasil. Estamos mostrando que empresas locais têm competência para liderar projetos dessa magnitude. Continuaremos trabalhando para entregar resultados de qualidade e reforçar o papel das empresas cearenses no cenário nacional", pontua.

Para relembrar, a Transnordestina foi lançada no primeiro mandato de Lula (PT), em 6 de junho de 2006. Ela começou do meio, em Missão Velha, no Cariri cearense.

À época, o custo era de R$ 4,5 bilhões e o prazo de entrega 2010. A ferrovia foi desenhada como um T invertido, com 1.753 quilômetros (km), passando por 81 cidades do Ceará.

Começava em Eliseu Martins, no cerrado do Piauí, chegando ao Porto de Suape (PE) e subia ao do Pecém (CE), recuperando ao longo do caminho cerca de 1.100 km de trilhos e construindo do zero 600 km. A ideia era escoar a produção agrícola, minérios e combustíveis pelos portos.

Em duas décadas, o projeto esbarrou em processos, e o Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a barrá-lo por cinco anos. Devido aos imbróglios, a obra foi até retomada em 5 de abril de 2024, mas menor e mais cara. Agora o tamanho chega a 1.206 km, com entrega total em 2029 e a chegada ao Pecém em 2027.

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), companhia privada da área de siderurgia, por meio da empresa criada Transnordestina Logística SA (TLSA), resolveu fazer a parte em L do Piauí até o Ceará. O restante que formava o T ficou a cargo do Governo Federal.

Depois das modificações, relatório do TCU aponta que já foram consumidos, até agora, R$ 7,9 bilhões. Mas a TLSA já comunicou que são mais R$ 7,8 bilhões para concluir tudo. Com isso, a obra chegaria a R$ 15,7 bilhões.

 

 

Value Global Group: "Estudamos a possibilidade de investimento no CE há 7 anos" 

A implantação de portos secos ao longo da Transnordestina entre o Piauí e o Ceará para potencializar a logística do Porto do Pecém já está estudada há pelo menos uma década. O CEO da Value Global Group, Ricardo Azevedo, dono da subsidiária Value Port (empresa responsável pela implantação do porto seco de Quixeramobim) é quem dá as afirmações.

O executivo afirma, em entrevista exclusiva ao O POVO, que previu a sobrecarga no Porto de Itaqui, no Maranhão, e passou a olhar com maior atenção o projeto da Transnordestina.

"Há sete anos, começamos a conversar com o pessoal do Porto do Pecém, operadores, administração e até com o Governo do Estado. Naquela época, começamos a desenhar o projeto, propondo algumas adequações ao Porto do Pecém, prevendo a sobrecarga de Itaqui devido às operações da região do MA-TO-PI-BA", explica.

Para a Value, houve a percepção de que o investimento no Ceará representaria um "marco importante". A empresa atua internacionalmente, com presença física nos Estados Unidos, Alemanha e China, além de operações via parcerias em mais países, como Bélgica, Indonésia, Rússia, Ucrânia, Austrália, Turquia e Argentina.

"Com o avanço da Transnordestina, percebemos que seria um marco importante. Então, decidimos antecipar nosso primeiro projeto no Brasil para acompanhar esse desenvolvimento. Nosso objetivo é ser o maior cliente da ferrovia, contratando o maior espaço disponível", reforça Ricardo, lembrando ainda que a Value já trabalhou em outras operações com o grupo CSN, proprietários da Transnordestina Logística.

Em relação à operação, Ricardo destaca que somente a parte administrativa vai demandar 300 funcionários. Com os terceirizados para os demais serviços, o número de empregos diretos sobe para 1,3 mil.

Ele destaca ainda que a Value Port já fechou com mais empresas além da Vibra Energia, mas que ainda não pode confirmar todas.

Atividades em curso já demonstram o potencial de geração de empregos da Transnordestina na Região(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Atividades em curso já demonstram o potencial de geração de empregos da Transnordestina na Região

Além da geração de emprego, é de interesse da Value promover o desenvolvimento social de Quixeramobim. Ricardo diz que a intenção é que ocorra um crescimento organizado e sustentável.

A empresa diz isso para que uma operação tão grande quanto a projetada encontre viabilidade para atrair profissionais especializados necessários para o empreendimento.

"Já estamos alinhados com a prefeitura para garantir um crescimento organizado e sustentável. É importante que a urbanização acompanhe o desenvolvimento do complexo, garantindo infraestrutura para os profissionais que virão de outros estados e até países. Além disso, queremos atrair investimentos para o município, promovendo qualidade de vida e segurança para todos".

E complementa: "Esse crescimento transformará Quixeramobim em um grande centro econômico do Ceará, competindo com regiões como Fortaleza e o Cariri".

Em novembro passado, Ricardo esteve em Fortaleza reunido com o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT). Ele elogia o ambiente de negócios e a vontade política que encontrou.

"O governador entendeu a importância estratégica desse investimento, pois sem estruturas como a nossa, o Porto do Pecém pode enfrentar gargalos em breve, o que impactaria negativamente a economia regional", aponta.

Situação de empregos e número de estabelecimentos nas regiões de influência da ferrovia

Clique nos municípios do mapa para ler as informações


 

Quixeramobim: efeito da ferrovia deve transformar cidade em centro de nova região metropolitana

A formação da região metropolitana de Quixeramobim está mais próxima a partir da inauguração da ferrovia Transnordestina e de porto seco. Essa é a perspectiva dos gestores do município, localizado no Sertão Central cearense e distante 212 km de Fortaleza.

A comparação que se faz é de que o município cresça a ponto de se tornar referência sub-regional, tais como Juazeiro do Norte é para o Cariri e Sobral para a Região Norte.

Ciente do impacto dos terminais multimodais, o governo cearense busca assegurar os investimentos no Estado(Foto: Carlos Gibaja/Governo do Ceará)
Foto: Carlos Gibaja/Governo do Ceará Ciente do impacto dos terminais multimodais, o governo cearense busca assegurar os investimentos no Estado

A perspectiva do secretário do Desenvolvimento Econômico de Quixeramobim, Afrânio Feitosa, é que cerca de 10 mil empregos sejam gerados, o que deve promover também o crescimento populacional do município, que já trabalha, inclusive, em planejamento urbano para avançar de forma sustentável.

Além da infraestrutura logística ligada à ferrovia, outros negócios já buscam o município. Entre os contratos firmados está o de construção de um shopping center, o Boulevard Quixeramobim, que ocupará terreno de 26 mil metros quadrados e deve gerar 1,5 mil empregos.

Indústria de embalagens com previsão de mais 1 mil empregos e outras empresas expandindo operações também foram negociadas para o município.

A indústria extrativa é outro alvo. A gestão trabalha para tornar viável o crescimento da exploração de minérios e minerais, como a turmalina preta e quartzo.

"Sem dúvida (Quixeramobim está se transformando em um polo econômico importante para o Estado). Estamos focados na atração de investimentos com um plano estruturado em parceria com o Governo do Estado", afirma Afrânio.

Value Global Group inicia trabalhos topográficos do porto seco de Quixeramobim(Foto: Arquivo SDE Quixeramobim/Divulgação)
Foto: Arquivo SDE Quixeramobim/Divulgação Value Global Group inicia trabalhos topográficos do porto seco de Quixeramobim

Ele destaca que tudo que está acontecendo no município não é à toa. Um pacote de novas legislações municipais foi trabalhado para tornar Quixeramobim mais aprazível aos investidores.

Exemplo disso é a preparação que o município tem feito para confirmar o investimento no porto seco. Em meados de dezembro, Afrânio liderou comitiva em visita ao porto seco de Foz do Iguaçu-PR, o maior do tipo na América Latina.

"Através da visita pude entender melhor a estruturação desse complexo portuário que gera milhares de empregos diretos e indiretos e fomenta toda uma cadeia produtiva do município de Foz do Iguaçu, assim como acontecerá em Quixeramobim pelos próximos anos", disse.

O investimento previsto para o porto seco é de R$ 650 milhões, com 150 hectares de área (ou 1,5 milhão de m²), que deve ser o maior dentre todas as estruturas logísticas alfandegadas no decorrer da Transnordestina no Estado. O projeto da Value Port Terminais Multimodais já confirmou a primeira âncora desse espaço logístico, que será a Vibra Energia - antiga BR Distribuidora, que já anunciou a ocupação de 10% do espaço total.

 


Missão Velha: município quer ser centro logístico para CE, PB e PE

Localizado na Região do Cariri e distante 527 km de Fortaleza, o município de Missão Velha aposta na localização diferenciada "no centro" do Nordeste para atrair um porto seco para Transnordestina e revolucionar a economia local.

A cidade tem em sua história a fundação de uma das missões de jesuítas instaladas no século XVIII no interior do Nordeste, que tinha como objetivo a catequização dos indígenas da região além de impedir seus sequestros e escravização.

Como o próprio nome do município já denuncia, depois que a missão foi desfeita, o pequeno município do extremo sul do Ceará se emancipou em 1864, mas passou à condição de quase anonimato em relação ao movimento econômico do Cariri.

Obras de terminais devem gerar mais empregos na construção simultânea à da ferrovia(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Obras de terminais devem gerar mais empregos na construção simultânea à da ferrovia

Atualmente, a economia é baseada na agricultura familiar e pecuária de pequeno porte nestas propriedades. Ponto interessante da economia de Missão Velha é a grande incidência de "galegos", que são os vendedores crediaristas, que vendem produtos nas cidades e estados vizinhos.

A atividade econômica de maior destaque de Missão Velha é a produção de banana, com grandes produtores localizados no município.

O prefeito de Missão Velha, Doutor Lorinho (PSB), destaca que o projeto da ferrovia Transnordestina já tem gerado empregos no município desde sua construção - que já foi concluída. Ele destaca que trabalha para implementar um porto seco no município.

"Já somos um dos maiores produtores de banana do Nordeste, estamos próximos das indústrias de calçados de Juazeiro do Norte. Outro ponto relevante é a nossa localização estratégica, a cerca de 500 km de distância de várias capitais nordestinas (como Recife, Natal e João Pessoa)."

Dr. Lorim, prefeito eleito do Município de Missão Velha (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Dr. Lorim, prefeito eleito do Município de Missão Velha

Outro ponto relevante levantado pelo prefeito é que polos econômicos localizados no interior do Nordeste, como o polo gesseiro de Pernambuco, que inicialmente seria contemplado com o ramal pernambucano da Transnordestina, podem demandar a infraestrutura a ser montada no Ceará.

"Não projetamos um número exato de empregos diretos, mas acreditamos que o impacto será transformador. Haverá um antes e depois para Missão Velha, especialmente considerando nossa limitação atual em termos de oportunidades de trabalho", afirma.

Impacto ainda é mensurados pelas prefeituras, como Missão Velha(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Impacto ainda é mensurados pelas prefeituras, como Missão Velha

"Não projetamos um número exato de empregos diretos, mas acreditamos que o impacto será transformador. Haverá um antes e depois para Missão Velha, especialmente considerando nossa limitação atual em termos de oportunidades de trabalho", afirma.

Para que isso ocorra, as conversas com a TLSA, Governo do Estado e com os ministérios de Portos e Aeroportos e dos Transportes já avançam. Um estudo de viabilidade para porto seco está sendo realizado pela Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC).

O Estado já desapropriou terrenos para o futuro empreendimento, conforme já publicado no Diário Oficial (DOE).

O município também quer abrigar o Museu da Transnordestina, com exposição de materiais encontrados durante as escavações para as obras, como fósseis e rochas. Vale lembrar que a região é conhecida internacionalmente por seus geoparques.

 

 

Reportagem parceria O POVO e Fiec

Esta série de reportagens é a primeira de um projeto de conteúdo editorial jornalístico e de dados, resultado de parceria do Grupo de Comunicação O POVO (GCOP) e a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). O conteúdo será publicado ao longo de 2025.

O protocolo de parceria foi assinado em novembro de 2024 e prevê cooperação técnica que visa à produção de reportagens jornalísticas, a partir de levantamento de dados e análises exclusivas produzidas pelo Observatório da Indústria, referentes a diversos segmentos econômicos, nas esferas estadual, nacional e mundial.

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