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UFC em Itapajé: um campus, dois projetos
Reportagem Seriada

UFC em Itapajé: um campus, dois projetos

Pensado originalmente como um equipamento dedicado a cursos de licenciatura, o Campus da UFC em Itapajé ganhou, na administração do ex-reitor Cândido Albuquerque, um perfil tecnológico. Dois anos após inauguração, professores e autoridades envolvidos nos dois projetos refletem sobre a repercussão da estrutura na educação e economia município
Episódio 2

UFC em Itapajé: um campus, dois projetos

Pensado originalmente como um equipamento dedicado a cursos de licenciatura, o Campus da UFC em Itapajé ganhou, na administração do ex-reitor Cândido Albuquerque, um perfil tecnológico. Dois anos após inauguração, professores e autoridades envolvidos nos dois projetos refletem sobre a repercussão da estrutura na educação e economia município
Episódio 2
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O Campus de Itapajé, localizado no município de mesmo nome, distante 128 km de Fortaleza, inaugurado com grande pompa e celebração por Cândido Albuquerque e sua equipe em agosto de 2021, está no centro de um debate intenso que, durante sua gestão, ocorreu entre sussurros e desconfianças.

É que o desenho original desse equipamento previa a criação de dez cursos de licenciatura, e o campus inaugurado pelo ex-reitor não só não trouxe tais cursos, como também alterou completamente o perfil do projeto.

O campus inaugurado por Cândido tem três cursos superiores de tecnologia. São eles: Ciência de Dados, Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Segurança da Informação. Os tecnólogos, como são conhecidos esses cursos, têm duração inferior às licenciaturas e bacharelados e são mais focados no mercado de trabalho e no desenvolvimento de habilidades práticas.

O nome do campus, Jardins de Anita, homenageia a esposa do proprietário original do terreno, o empresário José Maria de Sousa Melo(Foto: Arlindo Barreto)
Foto: Arlindo Barreto O nome do campus, Jardins de Anita, homenageia a esposa do proprietário original do terreno, o empresário José Maria de Sousa Melo

Para Cândido e sua equipe de pró-reitores, seria esse o perfil que melhor atenderia às necessidades da região. Segundo afirmou em entrevista a O POVO+, a mudança do perfil do Campus de Itapajé partiu de uma demanda do próprio município: “Vereadores conversaram comigo, e a população também nos procurou buscando encaminhar os cursos para a área de tecnologia”.

Segundo ele, o novo projeto também teve como base estudos que apontavam a deficiência do setor na região. “Foi uma decisão política, a região estava mais necessitada de tecnologia. Era a maneira de ajudarmos no desenvolvimento da área”, argumenta.

Publicado em 2019, o estudo do Observatório da Indústria embasou o projeto de campus implementado pelo ex-reitor Cândido Albuquerque(Foto: Sistema Fiec)
Foto: Sistema Fiec Publicado em 2019, o estudo do Observatório da Indústria embasou o projeto de campus implementado pelo ex-reitor Cândido Albuquerque

Cândido se refere em sua fala ao estudo “Perfis profissionais para o futuro da indústria cearense”, publicado em 2019 e desenvolvido pelo Observatório da Indústria como parte do Programa de Inovação Industrial da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). A partir desse documento, a professora Ana Paula de Medeiros Ribeiro, à época pró-reitora de graduação, e sua comissão elaboraram um “Relatório Analítico e Propositivo” de 25 páginas para o Campus de Itapajé.

“Foi fácil retomar essa iniciativa porque já era uma meta prioritária do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da UFC. O que a gente fez foi alinhar melhor a criação dos cursos a partir do estudo do Observatório da Indústria que aponta os perfis profissionais que a indústria cearense precisa”, explica Ana Paula, atualmente ligada ao Centro de Ciências Agrárias da universidade.

A professora conta que, a partir de uma “profunda análise de viabilidade”, priorizaram cursos que seriam “mais requisitados pelo mercado”. Também pesou em sua decisão a capacidade de empregabilidade dos estudantes oriundos das graduações: “O aluno rapidamente entra no mercado de trabalho, e muitas vezes ele nem precisa sair de Itapajé, porque várias empresas, inclusive estrangeiras, aceitam trabalho remoto”.

 

 

Os bastidores: duas visões de mundo

O que muita gente externa à Universidade não sabe é que o projeto original do Campus de Itapajé era o oposto ao que foi apresentado por Ana Paula e executado por Cândido.

A professora Bernadete Porto, atual pró-reitora de extensão, foi a coordenadora da comissão formada em meados de 2017 para desenhar o projeto original de implementação do Campus. A ideia inicial do grupo de 13 professores era trabalhar com 10 licenciaturas (artes cênicas, ciências biológicas, física, geografia, história, letras, licenciatura intercultural indígena, matemática, pedagogia e química), e pelo menos 5 delas estariam ativas já na inauguração

“Havia uma proposta de interdisciplinaridade que desse conta desses cinco cursos, uma concepção que é defendida há muito tempo pela área da didática. Eram cursos que iriam preparar professores, com componentes de pesquisa e de extensão”, explica Bernadete.

O projeto original do campus contemplava dez cursos de licenciatura(Foto: Arlindo Barreto)
Foto: Arlindo Barreto O projeto original do campus contemplava dez cursos de licenciatura

Um dos professores que integrou essa comissão foi Orlando Luiz Araújo, ligado à Faculdade de Letras. Ele explica que a comissão teve o cuidado de “não criar um projeto descolado da realidade”, e que trabalharam “a partir de dados que indicavam a necessidade, naquele momento, de investir na formação de professores na região”.

Os dados citados por Orlando como norteadores do projeto desenvolvido pela comissão original foram retirados principalmente do “Perfil Municipal de Itapajé”, documento elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) em 2017. O estudo contempla aspectos geográficos, sociodemográficos, culturais, econômicos, financeiros e de infraestrutura do município.

O projeto do campus nasceu a partir da constatação, trazida pelo estudo da Ipece, de que o percentual de docentes com grau de formação superior no município estava consideravelmente abaixo da média cearense.

Projeto da comissão original foi guiado pela constatação de que o percentual de professores de Itapajé com formação superior era consideravelmente inferior aos índices estaduais(Foto: Ipece/Seduc)
Foto: Ipece/Seduc Projeto da comissão original foi guiado pela constatação de que o percentual de professores de Itapajé com formação superior era consideravelmente inferior aos índices estaduais

Em 2016, não tinham formação superior cerca de 10% dos docentes do ensino médio, 30% dos docentes do ensino fundamental e 70% dos docentes da educação infantil. O relatório do Ipece apontava que Itapajé precisava melhorar a formação de seus professores, e os cursos de licenciatura seriam fundamentais para a reversão desse quadro.

Seguiu-se a esse estudo uma solicitação de articulação, feita pela comissão de professores coordenados por Bernadete, à Secretaria de Educação de Itapajé e aos municípios circunvizinhos, para que estes também pudessem usufruir do acesso ao campus. “Em caráter emergencial, toda a região precisava das licenciaturas. Havia muito professor da rede pública dando aula sem formação”, resume a coordenadora.

A comissão trabalhou por mais de um ano e chegou, inclusive, a elaborar os formulários de criação das disciplinas, última parte de um processo de concepção que passa pela estruturação dos componentes, das ementas, dos objetivos, das justificativas e das bibliografias básicas e complementares. Questões de acessibilidade também foram contempladas, assim como aquelas referentes ao alojamento dos professores - seriam 20 as vagas iniciais.

“Encerramos nosso trabalho e o material físico já começou a ser comprado: ares-condicionados, carteiras, itens administrativos. Deixamos tudo pronto, era questão de pouquíssimo tempo até o Campus começar a operar”, relembra Bernadete.

 

 

Uma mudança repentina

Até que, poucos meses depois, já sob a gestão de Cândido (empossado em agosto de 2019), veio, sem aviso, a surpresa pela mudança: “Eu fiquei sabendo porque vi a notícia na página da UFC. Nunca fomos consultados. A maior parte da comunidade só soube pela imprensa”, afirma a professora Bernadete.

O professor Orlando corrobora a versão de sua colega de comissão: “Eu nunca recebi nenhum comunicado dizendo que o projeto seria alterado. Fiquei sabendo por meio das redes sociais, já na inauguração. Não tivemos participação nos novos estudos”.

Outro professor ligado ao projeto original, que prefere falar sob a condição de anonimato, confirma a falta de diálogo no sentido de alterar o perfil do campus: “Fomos surpreendidos. Não teve reunião para discutir. Foi uma coisa de passar o trator por cima de tudo o que havia sido planejado”.

Professores da comissão original só ficaram sabendo sobre a inauguração do novo campus pelas notícias oficiais da universidade(Foto: UFC)
Foto: UFC Professores da comissão original só ficaram sabendo sobre a inauguração do novo campus pelas notícias oficiais da universidade

Quando esse novo campus foi apresentado pela gestão de Cândido ao Conselho Universitário (Consuni), no início de 2021, o processo de implementação do equipamento já estava adiantado. “Ele trouxe o projeto para o Consuni e já estava tudo feito e implementado, então aquilo foi mais como um referendo. Perdemos a votação por dois votos, porque ele tinha abolido os assentos dos 8 estudantes”, relembra o professor.

O POVO+ teve acesso a documento que reúne os votos do Consuni em relação ao novo projeto do Campus de Itapajé. Publicado em 12 de maio daquele ano, ele traz a assinatura de 20 conselheiros na afirmação de que estes não estariam “contra a criação de novos cursos” na área de tecnologia, e que tais graduações “seriam importantes para atender à demanda da região”. Eles destacam, porém, a necessidade de “complementações” e de novos debates, afirmando por fim que, dada a ausência de elementos essenciais para a tomada de decisão, declaram voto contrário ao projeto.

Vinte conselheiros da UFC declararam voto contrário ao projeto reformulado do Campus de Itapajé(Foto: Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFC)
Foto: Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFC Vinte conselheiros da UFC declararam voto contrário ao projeto reformulado do Campus de Itapajé

“Os professores da comissão original ficaram desolados. Mas compreendi que são concepções distintas de universidade que se materializam em projetos diferentes. De qualquer forma, me parece que seria muito bom, por exemplo, ter mantido as licenciaturas de matemática e física, alinhando-as aos tecnólogos”, comenta a professora Bernadete.

Outra professora que participou dessa reunião, e que também prefere se manter anônima, é mais contundente em sua crítica: “Ele (o ex-reitor) mudou todo o projeto para um perfil que segue a linha do empresariamento da educação, para entender interesses mercadológicos e não sociais”.

 

 

Conflito de versões

Questionado sobre não ter estabelecido diálogo com a comissão responsável pelo projeto original, o ex-reitor Cândido Albuquerque respondeu: “Por que teríamos que consultar? Nós fizemos um novo estudo a partir das provocações que recebemos. Eles tinham um enfoque, eu tinha outro”.

O ex-reitor ainda indica que o campus pode, no futuro, receber cursos que atendam às demandas de licenciatura: “Nada impede que agora eles façam mudanças lá, cursos de canto, dança… A universidade é um universo, não tem conflito. Eu achei que a tecnologia era mais importante para o desenvolvimento do município e da região”.

A professora Ana Paula de Medeiros Ribeiro, responsável pelo projeto que foi implementado, afirmou em conversa com O POVO+ que as disciplinas do projeto original não haviam sido enviadas ao MEC. Além disso, afirmou que, naquele momento, o Tribunal de Contas da União (TCU) estava cobrando que fossem iniciadas as atividades do campus, visto que o mesmo ainda estava inoperante e porque “era inadmissível que a UFC tivesse gasto tantos recursos e os equipamentos estivessem parados”.

O ex-reitor da UFC Cândido Albuquerque (na foto em visita ao Campus de Itapajé) priorizou o perfil tecnológico dos cursos do equipamento(Foto: Viktor Braga)
Foto: Viktor Braga O ex-reitor da UFC Cândido Albuquerque (na foto em visita ao Campus de Itapajé) priorizou o perfil tecnológico dos cursos do equipamento

A professora Bernadete, da comissão original, garante que ela mesma teria cadastrado os cursos junto à plataforma do Ministério da Educação e fornece ao O POVO+ cópia de parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), datado de setembro de 2018, com voto favorável ao credenciamento do Campus de Itapajé e à implementação de dez licenciaturas. Na ocasião, a decisão foi referendada, por unanimidade, pela Câmara de Educação Superior.

Atual reitor da UFC, o professor Custódio Almeida corrobora a afirmação de Bernadete e afirma categoricamente que “é mentira que estava tudo parado e estagnado” e que os cursos já haviam sido aprovados pelo CNE.

Além disso, Custódio garante que até os móveis já haviam chegado e estavam prestes a ser distribuídos para o campus. “A prova do que estou dizendo é que o que tem hoje em Itapajé é exatamente o que foi deixado em 2019: os dois prédios, didático e administrativo, prontos, e o teatro inacabado, que será terminado agora na minha gestão, porque já recebi os recursos. O que fez o projeto parar foi o fato de Bolsonaro não ter me nomeado reitor”, afirma.

Em setembro de 2018, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou o credenciamento do Campus de Itapajé e de suas dez licenciaturas(Foto: Ministério da Educação)
Foto: Ministério da Educação Em setembro de 2018, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou o credenciamento do Campus de Itapajé e de suas dez licenciaturas

 

 

Reflexos no município

O debate em torno dos projetos divergentes para o Campus de Itapajé, porém, restringe-se aos corredores e bastidores da Universidade. No município que recebeu o equipamento, as opiniões são, em sua maioria, conciliatórias e positivas: as fontes ouvidas pelo O POVO+ celebram os esforços feitos por Custódio, a quem enxergam como grande responsável pela implementação da proposta, e elogiam a argúcia de Cândido no redirecionamento do projeto para contemplar novas demandas surgidas durante o período de pandemia.

O vereador Bruno Francisco (Podemos), presidente da Câmara de Itapajé à época da elaboração do projeto original, acompanhou o processo de idealização e implementação do equipamento desde o princípio, no início dos anos 2010, quando o terreno onde hoje está o Campus foi doado, primeiro ao município de Itapajé, depois à Universidade.

Mais que servir como intermediário entre a família do doador - o empresário José Maria Melo - e a UFC, Bruno participou das visitas técnicas, acompanhou atentamente a elaboração dos dois projetos e mobilizou recursos para a finalização da estrutura do campus, às vésperas de sua inauguração, em 2021.

A afluência de professores e alunos tem ajudado a aquecer a economia interna de Itapajé(Foto: Ribamar Neto)
Foto: Ribamar Neto A afluência de professores e alunos tem ajudado a aquecer a economia interna de Itapajé

O vereador elogia o currículo atualizado do campus, destacando que, apesar da flagrante necessidade de professores com formação superior na rede municipal (carência que motivou a formatação da proposta original), o projeto foi reformulado para uma nova configuração de mundo pós-pandemia.

“Por causa da pandemia, acredito que houve a necessidade de que essa área tecnológica crescesse. As empresas começaram a investir mais em tecnologia, e isso abriu a demanda de formar pessoas para esse mercado, não só no município, mas no Estado e no mundo”, reflete.

O deputado federal Danilo Forte (União), que tem ligação familiar e afetiva com o município e que desde a primeira fase do projeto, em 2013, vem destinando, via emenda, recursos federais para a execução das obras, acredita que a mudança no perfil do campus veio atender às demandas de um setor de tecnologia que, à época, começava a “tomar corpo” na região. “E para mim, o mais importante, naquele momento, era que o campus começasse a funcionar”, afirma.

 

 

Atual diretor do Campus de Itapajé, o economista e professor Márcio Veras Corrêa destaca, como sugerido pelo deputado e, anteriormente, pela professora Ana Paula Ribeiro (responsável pela atualização do projeto original na gestão de Cândido), que os três cursos inaugurados possuem empregabilidade elevada.

“Os cursos possibilitam a ruptura do conceito de geografia do emprego, porque na área de TI (Tecnologia da Informação) você pode trabalhar facilmente, de forma remota, em sua casa. Os alunos, que trabalham para empresas dos Estados Unidos e de outros países, continuam residindo na região, gerando o máximo de progresso para Itapajé”, resume Márcio, que acabou de ser reconduzido para o cargo pelo professor Custódio.

De cima para baixo, da esquerda para a direita: Campus de Crateús, Campus de Quixadá, Campus de Itapajé, Campus de Russas e Campus de Sobral. (Fotos: Igor Ribeiro, Viktor Braga e Ribamar Neto)

Assim como Márcio, o vereador Bruno reconhece que, desde sua instalação, e apesar de seu pouco tempo de funcionamento, o Campus de Itapajé tem ajudado a aquecer a economia do município. “A cidade tem muito mais gente de fora, entre professores, técnicos e alunos, e eles consomem, compram no comércio, deixam dinheiro no município”, afirma.

Sobre a possível implementação de licenciaturas, projeto que deve ser retomado por Custódio em sua gestão, Bruno é otimista. “O Custódio é um grande parceiro e amigo de Itapajé, ele sonhou esse sonho junto com a gente, e eu acredito muito nessa ampliação da oferta de cursos”, afirma o vereador.

 

 

O futuro do campus de Itapajé

Perguntando sobre planos e projetos para o Campus de Itapajé durante sua gestão como reitor, Custódio Almeida afirmou que uma de suas prioridades é a finalização das obras do teatro que integra o equipamento e garantiu que as reformas serão retomadas, já nos próximos meses, com a ajuda de recursos destinados pelo deputado federal Danilo Forte.

O deputado afirmou a O POVO+ que enxerga com otimismo a reaproximação de Custódio - a quem chama de “fonte inesgotável de ideias” - ao Campus de Itapajé. “Esse retorno me alimentou a expectativa de que a gente pode avançar muito”, comentou.

Em maio último, o deputado indicou emenda no valor de R$3,1 milhões para a conclusão das obras do teatro universitário do campus, impressionante estrutura com área de cena de 10 metros de largura e capacidade de público de 286 lugares que foi projetada ainda no início dos anos 2000 com consultoria de técnicos e artistas da Rede Globo (o empresário José Maria Melo, proprietário original do terreno do campus, era amigo da família Marinho).

Custódio Almeida, reitor da UFC, participa de inauguração do Restaurante Universitário do Campus de Itapajé(Foto: Viktor Braga)
Foto: Viktor Braga Custódio Almeida, reitor da UFC, participa de inauguração do Restaurante Universitário do Campus de Itapajé

Apesar da mudança radical realizada pelo antigo reitor em relação ao projeto concebido, Custódio afirma que pretende “consolidar” e “apoiar fortemente” os três cursos que atualmente estão em operação.

Um dos cursos implementados durante a gestão de Cândido, o de Segurança da Informação, acabou de receber, no último dia 26 de setembro, nota máxima na avaliação do MEC. O curso foi o primeiro, entre os três em funcionamento no Campus, a receber a visita de avaliadores do Ministério.

Retomando as diretrizes surgidas a partir do estudo do Ipece que apontava a necessidade de formação superior dos professores da rede pública, Custódio afirma: “Eu não desisti da ideia de levar para lá os cursos de licenciatura, porque, nas escolas básicas, eles têm essa carência”.

Caso se cumpram os novos planos de Custódio, serão instaladas no município as licenciaturas em Biologia, Física, História, Letras, Matemática e Teatro.

Apresentação musical no auditório do Campus de Itapajé(Foto: Arlindo Barreto)
Foto: Arlindo Barreto Apresentação musical no auditório do Campus de Itapajé

“Obviamente tenho minhas ideias, mas essas ideias só serão institucionais quando forem ratificadas e consolidadas coletivamente, quando chegar, inclusive, aos conselhos superiores da universidade”, explica Custódio, reforçando que qualquer um de seus planos para Itapajé será debatido antes da previsão de futuras reformas e instalações.

Se depender da prefeita de Itapajé, dra. Gorete Caetano (PSD), o plano das licenciaturas deve ser implementado. Em entrevista ao O POVO+, a gestora reconheceu a importância dos cursos de tecnologia, mas afirmou que “em municípios do interior, os cursos voltados para a área educacional desempenham um papel relevante no mercado de trabalho, devido à crescente demanda por profissionais qualificados”.

“Acreditamos que ambos os tipos de cursos têm seu espaço e relevância, mas para aproveitamento da rede municipal de ensino, a prioridade é da área educacional”, completou a prefeita.

Parte da equipe de técnicos e professores do Campus de Itapajé(Foto: Arlindo Barreto)
Foto: Arlindo Barreto Parte da equipe de técnicos e professores do Campus de Itapajé

O professor Márcio Veras, diretor do Campus, além de ser favorável a essa retomada das licenciaturas, prevê o fortalecimento dos braços sociais do equipamento. “Nosso compromisso com a sociedade é grande. Hoje, temos mais de 40 alunos envolvidos em projetos de extensão, ajudando estabelecimentos locais que, até então, não faziam uso de tecnologia”, afirma.

Ele também assume como missão a consolidação de um “conceito de distrito de inovação” que transforme Itapajé em um polo industrial, em um berço de inovação tecnológica. “Vamos atrair empresas, mudar o cenário, movimentar a economia. Daqui a dez anos, aquilo ali vai ser uma coisa sensacional”, promete.

 

 

>> Ponto de vista

A UFC Campus Itapajé e sua missão institucional

Por Márcio Veras Corrêa

O dia 27 de agosto de 2021 representou um marco significativo na história de Itapajé e na vida de todos os cidadãos itapajeenses, sobretudo a geração que está ingressando na vida universitária e que vislumbra na educação o caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional. Nesta data, foi inaugurado o Campus da UFC Jardins de Anita, em Itapajé.

O Campus da UFC em Itapajé foi concebido a partir do sonho de um homem visionário, sensível às necessidades econômicas e sociais da cidade em que nasceu, José Maria Melo, e recebeu o nome Jardins de Anita em homenagem a sua amada, que inspirou essa iniciativa e que veio a falecer tragicamente, não presenciando toda a beleza da estrutura arquitetônica erguida nas terras de Quintino Cunha.

Após a doação do terreno, e de grande parte das edificações existentes, para a Universidade Federal do Ceará, o Campus passou por algumas adaptações estruturais, ganhando um novo impulso por meio do envolvimento da gestão superior da universidade, permitindo, assim, iniciar suas atividades com o padrão de excelência acadêmica amplamente reconhecido da UFC.

O diretor do Campus de Itapajé, professor Márcio Veras Corrêa, foi reconduzido ao cargo pelo reitor Custódio Almeida(Foto: Viktor Braga)
Foto: Viktor Braga O diretor do Campus de Itapajé, professor Márcio Veras Corrêa, foi reconduzido ao cargo pelo reitor Custódio Almeida

A caminhada até aqui foi construída de modo colaborativo, envolvendo representantes do poder público e da sociedade civil de Itapajé. Contamos com o decisivo empenho e envolvimento de todos aqueles que compreendiam a relevância da implantação de um campus universitário como um elemento propulsor de transformações nas organizações e na vida dos indivíduos e da sociedade. A computação, aliada a áreas de estudos com sofisticados conhecimentos e ampla capacidade de integração com o mercado de trabalho, foi o mote inicial dos cursos abertos, e que hoje estão em fase de reconhecimento pelo MEC, tendo o curso de Segurança da Informação atingido a nota máxima. Neste sentido, gostaria de destacar o apoio do deputado federal Danilo Forte, da prefeita Gorete Caetano, dos vereadores Bruno Francisco e Haroldo Mota e do empresário dr. Francisco Bastos.

Após dois anos de sua implantação, na gestão do magnífico reitor prof. Custódio de Almeida, o campus da UFC em Itapajé inaugura o tão sonhado restaurante universitário, na presença de toda a comunidade acadêmica e administração superior da UFC. Assim, mais uma vez, a UFC tem buscado materializar ideias e sonhos em projetos reais, que se firmam e robustecem cada vez mais, beneficiando toda a sociedade cearense.

Muitos sabem que a educação é o maior e mais consistente investimento que alguém possa realizar. É amplamente sabido, pela literatura acadêmica, que a conclusão de um curso de nível superior impacta positivamente não somente na remuneração dos indivíduos, mas também em seu bem-estar, seu poder de criticidade e discernimento, sua participação política e seu envolvimento nos destinos sociais e culturais de sua região. Se levarmos em consideração a qualidade do ensino, como aquela reconhecidamente ofertada pela UFC, logo percebemos o tamanho do impacto da abertura do Campus Jardins de Anita.

Somos ainda muito jovens, entretanto nosso esforço e legado já podem ser sentidos na região e dentro da própria universidade. Hoje nosso campus é composto por 157 alunos, distribuídos em 3 cursos. Sua grande maioria é da região. Temos cerca de 40 alunos envolvidos em projetos extensionistas diversos, em uma amplitude de temas que vão do letramento e inclusão digital, ao empreendedorismo e à conexão da cultura com as tecnologias de informação e comunicação. Temos, ainda, alunos e professores envolvidos em projetos de pesquisa financiados pela UFC e pelos principais órgãos de fomento do Estado e do nosso querido país. Nossa bandeira é única e clara. Participar de todos os editais que são abertos em nossa área de atuação e, desta forma, retribuir, para toda a sociedade, todo o investimento e esforço realizado.

Acredito que nosso futuro é brilhante e próspero. Reconheço a capacidade, envolvimento e espírito público do nosso Reitor, dos nossos parceiros e daqueles responsáveis pelos destinos da política de financiamento da educação no Brasil. Que possamos, daqui a muitos anos, retornar às salas de aula do Campus Jardins de Anita para contabilizarmos todos os avanços alcançados.

Márcio Veras Corrêa, economista, professor e diretor do Campus de Itapajé

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