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Meningite, pólio, HPV: o risco de não vacinar crianças e adolescentes
Reportagem Seriada

Meningite, pólio, HPV: o risco de não vacinar crianças e adolescentes

Essencial para impedir que doenças erradicadas voltem, vacinação de pessoas entre 10 e 19 anos exige estratégias para barrar o ciclo de transmissão de doenças preveníveis e já erradicadas no Brasil, que se proliferam facilmente no ambiente escolar e durante a adolescência, quando a primeira relação sexual costuma acontecer. Pais e responsáveis têm papel fundamental para reverter a baixa cobertura vacinal no Brasil
Episódio 3

Meningite, pólio, HPV: o risco de não vacinar crianças e adolescentes

Essencial para impedir que doenças erradicadas voltem, vacinação de pessoas entre 10 e 19 anos exige estratégias para barrar o ciclo de transmissão de doenças preveníveis e já erradicadas no Brasil, que se proliferam facilmente no ambiente escolar e durante a adolescência, quando a primeira relação sexual costuma acontecer. Pais e responsáveis têm papel fundamental para reverter a baixa cobertura vacinal no Brasil
Episódio 3
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Tempo de descobertas e mudanças, a adolescência é um importante momento da vida. Considerada a transição da infância para a vida adulta, é marcada pelo desejo por independência, passar mais tempo fora de casa e se deparar com novas questões.

É geralmente nessa fase que os sentimentos afloram, a primeira relação sexual costuma acontecer e quando há o primeiro contato com drogas lícitas e ilícitas. Também nesse período é comum frequentar ambientes de aglomeração, viajar ou compartilhar objetos pessoais — situações que podem favorecer os riscos de adoecimento e tornar esses indivíduos mais suscetíveis a vírus e bactérias.

Diferente da vacinação infantil, que normalmente é a maior preocupação dos pais e se inicia ainda na maternidade, o calendário vacinal de adolescentes acaba passando despercebido, o que pode afetar essas pessoas que ainda não têm autonomia ou conhecimento suficiente para cuidar da própria saúde.


Segundo especialistas é difícil vacinar pessoas nessa faixa etária porque elas não possuem rotina de ir ao médico para prevenção(Foto: Agência Brasil)
Foto: Agência Brasil Segundo especialistas é difícil vacinar pessoas nessa faixa etária porque elas não possuem rotina de ir ao médico para prevenção

Seja por desconhecimento ou descuido, não vacinar crianças e adolescentes (faixa etária que compreende quem possui entre 10 e 19 anos) tem consequências para além do próprio organismo, já que são potenciais transmissores de doenças e facilitadores de surtos, às vezes assintomáticos, inclusive para grupos mais vulneráveis.

Isso porque muitos imunizantes que foram aplicados na infância precisam de doses de reforço na adolescência para que tenham máxima eficiência durante a vida, além da vacinação que já é característica dessa época contra Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) como o HPV "Incorporada de forma escalonada ao Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014, a vacina que protege contra o Papilomavírus Humano (HPV) é aplicada mesmo antes da adolescência porque é mais efetivo quando a imunização é feita antes do início da vida sexual." , por exemplo.

Essa é uma oportunidade, ainda, de analisar se todas as vacinas infantis foram feitas para que, caso não tenham sido, realizar a aplicação, por isso é necessário que haja uma atenção ainda maior por parte da família.

A adolescência é marcada por transformações físicas e psicossociais que estão associadas ao maior risco de adoecimento.(Foto: Agência Brasil)
Foto: Agência Brasil A adolescência é marcada por transformações físicas e psicossociais que estão associadas ao maior risco de adoecimento.

Imunizar esse público, porém, não é uma tarefa fácil — principalmente no Brasil, que vive uma queda acentuada na cobertura vacinal agravada pela pandemia de Covid-19, com o fortalecimento do negacionismo científico e do movimento antivacina no País.

Somam-se a isso a baixa frequência com que esse grupo visita unidades de saúde, o mito de que vacinas são destinadas exclusivamente a crianças e a influência negativa das fake news.

O resultado são números preocupantes e o perigo cada vez maior de epidemias com doenças graves, preveníveis e já erradicadas em território brasileiro, como é o caso da meningite, que em 2022 vitimou a famosa cantora de forró Paulinha Abelha.

 

Cobertura vacinal da vacina Meningocócica ACWY entre adolescentes de 11 e 12 anos no Brasil (2019-2022)


“O Brasil, considerado um país pioneiro em campanhas de vacinação, desde 2016, vem apresentando retrocessos nesse campo. Praticamente todas as coberturas vacinais estão abaixo da meta. Por isso, o objetivo é retomar os altos percentuais de proteção”, afirmou o Ministério da Saúde ao anunciar o cronograma do Programa Nacional de Vacinação de 2023.

Diante do cenário de baixas coberturas vacinais, desabastecimento, risco de epidemias de poliomielite e sarampo, além da queda de confiança nas vacinas, o Ministério realizou, ao longo do mês de janeiro de 2023, uma série de reuniões envolvendo outros ministérios.

“É importante ressaltar que para todas as estratégias de vacinação propostas, as ações de comunicação e de comprometimento da sociedade serão essenciais para que as campanhas tenham efeito. A população precisa ser esclarecida sobre a importância da vacinação e os riscos de adoecimento e morte das pessoas não vacinadas”, informou a pasta, chefiada pela ministra Nísia Trindade.

 

 

Segundo o Ministério da Saúde, as vacinas direcionadas a adolescentes são hepatite B, HPV, Meningocócica ACWY, febre amarela, tríplice viral e dupla adulto (dT), o que pode variar de acordo com a situação do calendário de cada indivíduo.

Além dessas, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), entidade científica que atua junto aos órgãos públicos no estímulo à imunização, também recomenda os imunizantes contra Covid-19, Varicela (catapora) e Influenza (gripe).

As vacinas do Programa Nacional de Imunização (PNI) são oferecidas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e disponíveis de forma paga em clínicas privadas. Confira o calendário de vacinação de crianças e adolescentes: 

 

De acordo com Monica Levi, presidente da SBIm, incluir os mais jovens na vacinação contra Covid (duas doses + reforço, pelo menos) é uma conduta de saúde pública e contribui para que a pandemia seja combatida de forma efetiva.

Além da hospitalização, a manifestação da doença em crianças e adolescentes não vacinados pode desencadear sintomas persistentes e Covid longa, o que pode prejudicá-los por toda a vida com sequelas neurológicas, respiratórias, cardiovasculares ou outras complicações irreversíveis, como a morte.

“Essa doença mata mais do que todas as outras para as quais existem vacinas juntas. Se você comparar mortes por meningite, rotavírus, por exemplo, proporcionalmente têm uma incidência menor. Ela (Covid) leva a complicações variadas como depressão, perda de memória, além de sequelas desconhecidas que ainda estão sendo descritas ao longo do tempo”, sublinha.

 

Cobertura vacinal da vacina contra Covid-19 entre crianças e adolescentes de 5 e 17 anos no Brasil (2021-2022)
 


Conforme salienta Monica, o adolescente tem um papel importante na cadeia de transmissão, mas “sempre foi difícil vacinar essa faixa etária porque ela não frequenta médico, só vai quando tem pontualmente quando tem alguma doença. Não é uma rotina do ponto de vista de prevenção. Eles precisam ser levados e estimulados”.

No caso do imunobiológico que protege contra o Papilomavírus Humano (HPV), ela explica que o ideal é que seja aplicada antes mesmo da adolescência, pois é mais efetivo quando a imunização é feita antes do início da vida sexual. Na prática, no entanto, “é difícil levar as crianças de 9 anos para tomar essa vacina”.

A presidente da SBIm ressalta, ainda, que a vacinação de crianças e adolescentes é obrigatória e um direito que está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

 

Cobertura vacinal da vacina contra HPV no Brasil (2014-2022)

 
 
 

 

Atingir a meta de vacinação de crianças e adolescentes passa por duas vias: postos de saúde e escolas

A meta de cobertura vacinal para HPV e Meningo ACWY é de 80% e para Covid-19 é 90%, de acordo com o Ministério da Saúde, e os principais parceiros para alcançar esse percentual são o Ministério da Educação, os governos estaduais e as gestões municipais.

Dra. Monica Levi é presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Dra. Monica Levi é presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)

“Quando você não consegue levar o público aos postos, os postos precisam ir até o público. Os países que têm as maiores coberturas contra o HPV trabalharam com essas duas vias: os postos de saúde e as escolas”, pontua Levi.

Essa também é a avaliação da coordenadora de Imunização da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Vanessa Soldatelli, que destaca que a ação está no planejamento da pasta: “A gente faz a vacinação nas escolas para ir até eles no local de inserção, no espaço onde convivem mais perto. É uma população que precisa ser extremamente estimulada para receber a vacinação”.

“As vacinas dos adolescentes, para os que fizeram o esquema infantil, são só os reforços. Quando completam 9 anos começam a receber a vacina contra o HPV, com segunda dose após um intervalo de seis meses, e a partir de 11 anos também recebem a vacina ACWY, de dose única. Então são completados os esquemas e feitas essas próprias para os adolescentes”, enfatiza.

Haver uma consciência coletiva sobre a importância de estar com a caderneta de vacinação atualizada também se justifica, segundo Soldatelli, para que saibam contra o que estão se prevenindo: no caso do HPV, doenças como o câncer vaginal, do pênis, da orofaringe, anal, além do câncer do colo de útero, que é uma das maiores causas de morte entre mulheres.

Vanessa reforça que essa fase propicia a transmissão de doenças como meningite, ainda, pelo compartilhamento de bebedouros, copos, garrafas de bebida e cigarro, por exemplo.

“A gente precisa fazer esse trabalho de conscientização, não só entre os adolescentes mas entre os adultos e os idosos. A vacina previne doenças, então a gente precisa receber antes de adoecer para evitar hospitalizações e óbitos”, acrescenta.

 

 

Retorno às aulas é momento de colocar as vacinas em dia

Período das férias e da volta às aulas, o início do ano demanda atenção especial de pais e responsáveis nesse sentido. No Ceará, a atualização da caderneta vacinal é obrigatória no ato de matrícula e rematrícula de estudantes de até 18 anos.

“Você que é pai, mãe ou responsável, na oportunidade do período que estarão organizando as documentações de seus filhos para realizar a matrícula na escola, verifique também a caderneta de vacinação, apresentando-a à instituição de ensino. Só assim você conseguirá comprovar que a pessoa que tanto ama está protegida”, indica Ana Rita Cardoso, orientadora da Célula de Imunização (Cemun) da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

A imunização individual reduz a transmissibilidade de doenças e ajuda na proteção coletiva. Pela capilaridade territorial, as escolas tornam-se estratégicas no avanço da vacinação, aponta Ana Rita.

 

Covid-19: "Dia D" de vacinação em escolas municipais de Fortaleza continua nesta quinta-feira, 9(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Covid-19: "Dia D" de vacinação em escolas municipais de Fortaleza continua nesta quinta-feira, 9

“Além do vínculo com a população, a instituição de ensino é onde se possibilita uma abordagem mais ampla sobre saúde e no combate a doenças, com orientações e sensibilização de famílias quanto à importância de manter a caderneta vacinal em dia”, diz.

O cenário de baixa cobertura exige uma estratégia de resgate de não-vacinados, especialmente crianças e adolescentes. “No cenário epidemiológico apresentado mundialmente, a função da vacina é proteger a população contra uma infecção mais grave, evitando a sobrecarga de unidades de saúde e, principalmente, a ocorrência de óbitos”, sublinha.

A obrigatoriedade a nível estadual existe desde julho de 2019, pela Lei Nº 16.929, e vale para instituições públicas e privadas de educação infantil ou de ensino médio. A ausência do item não será impeditivo para a realização da inscrição, mas as escolas deverão acompanhar e verificar os documentos dos estudantes em um prazo de até 30 dias.

 

Vacinação da 4ª dose para pessoas a partir de 18 anos teve início nesta quarta-feira, 20, em Fortaleza(Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Vacinação da 4ª dose para pessoas a partir de 18 anos teve início nesta quarta-feira, 20, em Fortaleza


 

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