Publicado em 1865, Iracema veio suprir a fraqueza de nossas incipientes instituições e contornar a ausência de um glorioso passado medieval. Faltava às letras nacionais um personagem com força para virar mito, uma figura capaz de embalar lendas e histórias que cantassem a beleza de um povo, sua coragem e poder.
Naquela segunda metade do século XIX, anos de reinado de D. Pedro II, José de Alencar já ocupava posição de destaque entre os grandes da literatura nacional. O cearense já havia publicado alguns de seus romances urbanos - A Viuvinha, Lucíola e Diva - e a primeira de suas três obras indianistas, O Guarani.
Apostar na criação de uma índia guerreira, concebida de modo idealizado e à semelhança de um herói medieval, foi o grande trunfo de Alencar. “Historicamente, não vivenciamos a Idade Média, mas nem de longe isso quer dizer que caracteres medievais não chegaram até nós. E, como não tivemos um Dom Quixote, atribuímos aos indígenas os traços mais marcantes desse herói”, explica a professora Eugênia Tavares Martins.
Eugenia analisou a figura da índia em sua dissertação Iracema: A Alegoria da Mãe Genti(o)l, que reflete o papel de mãe atribuído à personagem como parte de um mito fundacional. “É, metaforicamente, a grande mãe dessa nação. Virginal, dotada de grande beleza física e heroica”, argumenta a professora.
Segundo ela, os três romances indianistas de Alencar compõem um cenário que coloca indígenas e colonizadores lado a lado, como agentes fundadores de uma nação.
Enquanto Ubirajara se passa no período pré-cabralino, com os índios livres, O Guarani trata da época de povoamento e convivência. A miscigenação - e daí advém o mito fundacional - aparece em Iracema.
Encarado como um romance fundacional, nacionalista por excelência, Iracema foi pensado de modo a - por meio da representação social e humana que propõe, naturalmente hiperbólica - traduzir a construção da nação brasileira.
“Ele criou índios perfeitos, esculturais, conhecedores de saberes não acessíveis aos comuns humanos, idealizando uma natureza linda, exuberante, um novo Éden onde o índio se embrenhava e trazia respostas para tudo e curas para todos os males”, acrescenta Vera Lúcia Albuquerque, professora de Teoria Literária da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O próprio Alencar, ainda no primeiro capítulo do livro, trata de imprimir à história o valor do mito, sugerindo que a narrativa teria sido difundida por meio da tradição oral: “Uma história, que me contaram nas lindas várzeas onde nasci, à calada da noite, quando a lua passeava no céu argenteando os campos, e a brisa rugitava nos palmares”.
O escritor gaúcho Paulo Scott, que em seu Habitante Irreal também trabalhou com uma protagonista indígena, acredita que a perenidade da obra de Alencar tem motivações que vão além da construção da lenda.
Atribui a importância do clássico à coragem do autor em desnudar, em meio ao romantismo que permeia a narrativa, a brutalidade do colonizador. “O livro é importante por revelar a violência inevitável do invasor. O leitor enfrenta o livro e percebe isso. Ele sabe que ali está algo que, no fundo, é irreparável”, justifica.
Indo além da criação espontânea de um mito fundacional, é impossível passar indiferente aos aspectos literários e estilísticos da prosa de Alencar.
“A novidade que Iracema trouxe não residia apenas na fusão de prosa e poesia, mas na variedade de gêneros e subgêneros que o escritor mobilizou na confecção do romance. É realmente espantosa a capacidade de Alencar em orquestrar com maestria tantas referências à tradição literária num livro tão enxuto”, explica Vagner Camilo, professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo (USP).
Para entender e desfrutar da obra de Alencar, reconhecendo sua importância em âmbitos diversos, é fundamental contextualizá-la dentro da escola romântica e como parte de uma literatura ufanista.
O escritor Sânzio de Azevedo conta que antes de introduzir o romance aos seus alunos de curso superior faz questão de apresentar o conceito do Zeitgeist, termo alemão que se refere ao conjunto de características de um determinado período de tempo.
“Alencar foi um escritor polêmico que ‘ousou mexer’ na língua portuguesa, acrescentando-lhe neologismos, conferindo-lhe um sabor local”, explica Vera Lucia. A professora da UFC concorda com Sânzio e defende que a obra precisa ser lida levando-se em conta as características do período em que está inserida.
“Há um contexto histórico-social que enriquece muito sua leitura. É importante que os leitores saibam que o livro foi escrito no Romantismo e que tem características próprias. Leitores que não são bem conduzidos pela prosa poética de Alencar podem acabar criando uma rejeição ao seu texto”, argumenta.
A professora de ensino médio Cícera Holanda encontrou um modo de contornar essa rejeição junto aos seus alunos. Ela realiza um trabalho prévio para que seus estudantes não precisem procurar textos adaptados da obra de Alencar. “A priori, eles não gostam da obra, porque acham que as sequências são muito demoradas, e é aí que eu entro”, explica.
Para começar, Cícera contextualiza o movimento romântico e mostra quais características inserem Iracema nessa escola. Semanalmente, realiza rodas de leitura seguidas de debate. Capítulo a capítulo, leem toda a obra em um intenso mergulho que dura dois meses.
“Eu tenho esse trabalho há mais de doze anos e percebi que, com qualquer obra, se você não apresentar o contexto histórico, os alunos não vão gostar”, explica.
Além disso, Cicera promove aulas especiais que refletem sobre a intertextualidade da obra com outras disciplinas, como história, geografia, filosofia e sociologia, contando inclusive com a participação dos professores dessas matérias.
Em uma das ocasiões, estenderam o contexto do romance para a atualidade e discutiram a especulação imobiliária na Beira Mar, adentrando na realidade dos alunos, muitos deles filhos de pescadores da região do Mucuripe.
Também já discutiram assuntos relacionados à prostituição e à figura do estrangeiro viajante que leva a cearense para seu mundo. “Não aceito releituras e filmes, eu gosto é do texto”, conclui.
O professor Vagner Camilo compartilha da ideia de que contextualização é fundamental. “Cabe sempre, no fim, ao professor, converter essa rejeição em interesse. E, para tanto, não creio que tenha de se valer de recursos paternalistas, de estratégias facilitadores que busquem trazer o livro para mais perto, perdendo de visa o horizonte a que ele reporta”, explica.
Vagner afirma ainda que para um completo entendimento da proposta de Alencar é preciso ir além do que está na superfície - o romance entre os protagonistas - e entender que seus artifícios e procedimentos desempenham uma função essencial dentro do projeto maior da obra.
“É preciso atentar para o fato de o romance trazer mais do que uma história de amor entre um branco e uma índia. A apreensão dessas outras dimensões de sentido depende, sem dúvida, de um leitor mais preparado”, afirma.
E assim, pela capacidade de criar um mito, por suscitar debates que continuam atuais e por refletir a genialidade de um autor com pleno domínio sobre as palavras, Iracema - a lenda, a obra, a índia - chega aos 150 anos com a força histórica e literária que só os clássicos podem conhecer.
Se em seus romances urbanos Alencar obedecia às convenções e normais socias da época, preferindo pincelar suas heroínas com toques realistas aos modos de um Balzac tupiniquim, sua fase indianista é dedicada à criação de entidades míticas.
“Iracema, índia livre como a natureza, corria pela floresta: a sociedade tribal não obedecia às regras urbanas, mas tinhas as suas próprias”, explica Vera Lucia.
Segundo a professora de Teoria Literária da UFC, a fase urbana de Alencar reunia mulheres, filhos, mucamas e agregados em uma sociedade patriarcal. Nesse contexto, as heroínas da cidade tinha um mundo próprios de etiquetas e requintes, valsas e saraus que limitavam sua força protagonista.
“Os índios não tinham conhecimento de nada disso. Eram autênticos, guerreiros e viviam da pesca”, argumenta Vera Lúcia.
Iracema foi uma das grandes transgressoras entre as heroínas de nosso romantismo. Se Madame Bovary desafiou a etiqueta burguesa ao desinteressar-se pelas suas convenções e entregar-se a um amor proibido, a índia demonstrou rebeldia ao abandonar seu povo e sua cultura.
“Seu processo de sedução e de aproximação com o homem branco foi, de certo modo, responsabilidade dela mesma”, explica a professora Eugênia Tavares Martins, autora de Iracema: A Alegoria da Mãe Genti(o)l.
José de Alencar construiu uma grande transgressora e a colocou ao lado de um personagem masculino que jamais perde sua nobreza europeia. É daí que nasce seu projeto nacionalista.
“Ela conduz sua própria história e, quando se permite retroceder, o faz pelo mais nobre motivo, o amor. Não é um fruto do meio, e muito menos do darwinismo. É uma heroína”, acrescenta Eugenia.
Quando leu Iracema por primeira vez aos 12 anos, Francisca Ferreira ficou indignada: “Era uma paixão sem futuro. O Martim trouxe a discórdia, e ele já tinha uma noiva em Portugal”. Filha de Ipu, nascida e criada ouvindo as lendas de uma índia heroína, decidiu que queria contar a história da virgem antes de seu rompante de paixão.
Sua ideia a acompanhou por quase duas décadas: “queria mostrar a vida da criança, Iracema tomando banho de riacho, cuidando da fauna”.
Francisca formou-se em letras, tornou-se professora no município e assumiu a cadeira 29 na Academia Ipuense de Letras. Como docente, percebeu a rejeição que havia por parte dos estudantes e decidiu começar a escrever sua adaptação da obra.
Lançado em 2014, Iracema Curuminha apresenta “uma criança livre e despreocupada, com apreço pela família e que gosta de brincar com os bichos”, como define sua criadora.
Se seguisse os projetos de Francisca, Iracema não teria abandonado sua tribo para se entregar a um amor que já parecia fadado ao fracasso. “Se fosse por mim, ela ia pensar duas vezes antes de ir embora. Mas foi ela que seduziu ele, era uma índia danada, e tudo por conta de uma cisma, de uma paixão”, conta.
José de Alencar definiu a primeira fase do romantismo no Brasil com sua tríade O Guarani, Iracema e Ubirajara. Gonçalves Dias, em sua Canção do Exílio, exaltou bosques, aves e palmeiras da terra natal. Castro Alves cantou os índios e a natureza brasileira em sua poesia anti-escravocrata.
Quando o olhar ufanista e romântico deu lugar à patologia obscura do realismo-naturalismo, o índio perdeu sua posição. Chegou Machado de Assis, com seu defunto-autor e suas traições sugeridas, chegou Aluísio Azevedo, com seu cortiço povoado de personagens marginais, e Raul Pompeia, que mergulhou nos fantasmas de um adolescente ordinário.
Foi o modernismo do início do século XX que resgatou do limbo literário a figura indígena. O bom selvagem de Alencar ressuscitava como o herói sem escrúpulos de Mário de Andrade, um Macunaíma preguiçoso e zombeteiro que é quase paródia dos guerreiros românticos.
Na literatura contemporânea, o índio está quase sempre inserido em um contexto de clara simbologia política, como um elemento de informação antropológica.
Exemplo disso é Maíra, primeiro romance do antropólogo Darcy Ribeiro. Nele, o autor acompanha um protagonista que é levado de sua tribo por um missionário, compondo um quadro que permite discutir o desnorteamento da civilização indígena.
“A recepções aos romances indianistas tem sofrido alterações ao longo dos anos, especialmente pela crítica especializada, e a estética da recepção tem procurado captar essas diferenças em seus variados contextos e épocas”, explica Vera Lucia, professora de Teoria Literária da UFC.
Um dos autores que trabalharam a figura indígena na contemporaneidade foi o gaúcho Paulo Scott. É dele o elogiado Habitante Irreal, com uma trama que tem início na Porto Alegre de 1989.
Na história, um jovem estudante de direito insatisfeito com os rumos de seu partido político de esquerda tem sua vida cruzada por Maína, uma indiazinha de 14 anos que é encontrada por ele na estrada, sob uma forte chuva. A garota vivia com sua família em um assentamento à beira da rodovia, quase em estado de mendicância, o que já rompe com a figura imaculada do índio romântico proposto por Alencar.
Paulo Scott, que se inspirou na história de adolescentes indígenas que ameaçavam com suicidar-se no início dos anos 2000, em decorrência das invasões e expulsão de suas aldeias, não acredita que a temática indianista esteja fora de moda. “Não acho que os romances indianistas sejam datados.
O leitor estrageiro está muito atento a eles, e o leitor brasileiro, por ser preguiçoso - pouco curioso e incapaz de investigar temáticas mais complexas e diversas, talvez tenha alguma dificuldade de lidar com a atemporalidade de certos registros”, comenta.
“O que está superado é o indianismo nos moldes em que o Romantismo o forjou, como mito fundador, e para o fim a que se propunha, como afirmação identitária. O próprio século XIX tratou já de dar início à sua desconstrução, embora as obras que derivaram do indianismo romântico, e notadamente Iracema, permaneceram vivas, mesmo quando referidas de forma irônica ou crítica”, conclui o professor Vagner Camilo, da USP.
As observações presentes neste trabalho são um resumo do estudo que figura na edição dos 140 anos de Iracema, de José de Alencar (2005), organizada pela Profª Angela Gutiérrez e por mim, considerando que nem todos têm acesso a essa obra.
Em 2003 o poeta Virgílio Maia publicou, com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e com o apoio de Cláudio Giordano, a reprodução fac-similar da 1ª edição de Iracema, de José de Alencar, saída em 1865. O exemplar dessa edição, de Vianna & Filhos, era da biblioteca de José Mindlin. Relendo outras edições do romance, vemos que o texto lido por Machado de Assis e por ele considerado obra-prima sofreu diversas modificações.
Cotejando a edição príncipe, de 1865, com a 8ª, revista por Mário de Alencar (filho do autor) e editada em 1910, pela Livraria Garnier, podemos ver inúmeras modificações feitas pelo escritor, em busca de um texto definitivo. Seria cansativo enumerar todas as alterações, por isso destaco algumas de maior monta.
Logo no capítulo II, quando é feita a descrição da personagem que dá título ao livro, temos, na edição de 1910, este texto que todos conhecemos: “Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão”, etc.
Na edição original, Iracema era “Mais rápida que a corça selvagem”.
No capítulo III, ao receber Martim, diz Araquém, pai de Iracema: “Bem vindo sejas.” (1910). A saudação primitiva era “Bem vieste.” (1865)
Às vezes há apenas uma inversão, como esta, no capítulo IV: “surgiu o vulto de Iracema” que antes era “o vulto de Iracema surgiu”.
No capítulo VI, falando do idílio da índia, lê-se nas edições mais novas: “A fronte reclinara, e a flor do sorriso expandia-se como o nenúfar ao beijo do sol”, o que é bem superior ao texto original: “E a fronte reclinava, e a flor do sorriso desabrochava já para deixar-se colher”.
Por fim, o penúltimo capítulo do romance dizia, em 1865: “As jandaias cantavam ainda no olho do coqueiro; mas não repetiam já o mavioso nome de Iracema.”Nas outras edições, ficou apenas uma jandaia, como, aliás, estava no capítulo II do livro.
Todas as emendas foram oportunas.
Sânzio de Azevedo é professor, poeta e crítico literário.
Iracema tem sido, de todos os livros de José de Alencar, o mais atingido pela crítica, talvez porque constituísse, paradoxalmente, uma singularidade literária e, ao mesmo tempo, um repositório de influências ou supostas influências, como as que foram assinaladas com proveniência no romance indianista Atala (1801), do escritor francês Chateaubriand.
A crítica contemporânea empenhar-se-ia na restauração de um renome cuja sobrevivência estaria garantida nessa obra que se caracterizava, antes de tudo, pela autenticidade de seus temas nacionais e pela especificidade de seus meios de expressão.
Segundo Alfredo Bosi (Dialética da Colonização), Alencar modelou a figura do índio em um regime de combinação com a franca apologia do colonizador. Bosi afirma que Iracema apaixona-se por Martim de tal modo que rompe com a sua nação Tabajara, depois de violar o segredo da jurema.
Nos romances indianistas de Alencar, a entrega do índio ao branco é incondicional, faz-se de corpo e alma, implicando sacrifício e abandono da sua pertença à tribo de origem, gerando uma partida sem retorno.
Daí, porque o crítico fala em complexo sacrificial na mitologia romântica desse escritor, em obras cujas tramas narrativas ou dramáticas se resolvem pela imolação voluntária dos protagonistas: o índio, a índia, a mulher prostituída, a mãe negra- induzindo a ideia de que a nobreza dos fracos só se conquista pelo sacrifício de suas vidas.
Flávio Kothe (O cânone imperial) considera que Martim fala a língua indígena, mas todo diálogo entre ele e Iracema transcorre em português, como se fosse apenas uma convenção conveniente para tornar o livro acessível ao leitor.
“Por mais que o autor e o leitor queiram colocar-se do lado do índio, eles estão, pela língua, do lado do conquistador, que já não aparece mais, então, como invasor” (p. 227). Kothe também questiona a índia maravilhosa idealizada por Alencar, pois, sendo cearense, deveria “ser baixinha, barriguda, banguela e de cabeça chata”.
Entretanto, Alencar tende a fazer dela uma figura mítica, que se funde com a floresta. Seria, antes, uma enluarada Artemis ou Diana caçadora – uma espécie de sacerdotisa greco-romana, adjetivada de tal forma que leva o leitor a pensá-la americana – reprodução de uma escultura ou de um quadro europeu.
Antonio Candido considera, em A educação pela noite e outros ensaios, que a contribuição típica do Romantismo para a caracterização do escritor é o conceito de literatura empenhada ou de missão.
O poeta romântico não apenas retoma, em grande estilo, as explicações transcendentes do mecanismo de criação, como lhes acrescenta a ideia de que sua atividade corresponde a uma missão de beleza, ou de justiça, graças à qual participa de certa categoria de divindade.
A ideia de que a América constituía um lugar privilegiado se exprimiu em projeções utópicas: esse estado de euforia transformou-se em sentimento de afirmação nacional e em justificativa ideológica. A linguagem, favorecida pelo Romantismo, se faz linguagem de celebração: o céu do Brasil era mais azul, suas flores mais viçosas, sua paisagem mais inspiradora.
A ideia de pátria se vinculava estreitamente à de natureza porque ambas conduziam a uma literatura que compensava o atraso material e a debilidade das instituições por meio da supervalorização dos aspectos regionais, fazendo do exotismo razão de otimismo social.
Roberto Schwarz, no ensaio “A importação do romance e suas contradições em Alencar”, inserido no livro Ao vencedor, as batatas, considera que a obra desse escritor é uma das minas da Literatura Brasileira e tem continuidade no Modernismo.
De Iracema alguma coisa veio até Macunaíma: as andanças que entrelaçam as aventuras, o corpo geográfico do país, a matéria mitológica, a toponímia índia e a História branca. Schwarz conclui, afirmando que, de modo geral, a desenvoltura inventiva e brasileirizante da prosa alencariana ainda hoje é capaz de inspirar grandes obras.
Esse tema tem sido objeto de polêmica da intelectualidade contemporânea, como Schwarz (1998), Rouanet(1994), Bosi(1992), Candido (2002), Coutinho (2009), Kothe (2000), Lira Neto (2006), Moraes 2005, 2009), Gutiérrez (2009), Schwamborn (1990 e 1998) – para citar apenas alguns leitores críticos que consideram essa problemática comum a todas as culturas que passaram pela experiência de colonização e que construíram seu lugar de fala a partir de uma posição considerada, de antemão, como subalterna.
Vera Lucia Albuquerque de Moraesé - professora de Teoria Literária da Universidade Federal do Ceará (UFC) e autora do livro Entre Narciso e Eros:o discurso amoroso em Alencar, que foi agraciado com o prêmio Osmundo Pontes da Academia Cearense de Letras.