“A palavra crise, em chinês, é composta por dois caracteres: um representa perigo e o outro representa oportunidade". A célebre frase dita pelo então senador norte-americano John F. Kennedy em 1959, durante as tensões da Guerra Fria, não poderia ser mais atual.
Com o mundo passando por uma profunda crise na saúde, com fortes reflexos na economia e, no caso do Brasil, até mesmo na área política, o cenário não é dos melhores para a atividade econômica. Ainda assim, há quem esteja aproveitando o momento para se reinventar, adaptar processos e não somente sobreviver à pandemia, mas crescer em meio às dificuldades.
Em decorrência das mudanças nos hábitos de consumo por conta do isolamento social, algumas atividades registraram crescimento imediato durante a crise, como aponta uma pesquisa da consultora Bain & Company.
Segundo o levantamento, segmentos ligados ao entretenimento online, telemedicina e Educação a Distância (EAD), por exemplo, não apenas dispararam, como devem se manter em alta no pós-crise. A demanda por outros itens, como produtos de limpeza, internet banda larga e alimentos também cresceu consideravelmente, mas, conforme o estudo, deve passar por um processo de estabilização no longo prazo.
Para o economista Célio Fernando, apesar de ser um inimigo invisível, o coronavírus, ironicamente, "ressaltou uma cegueira universal nos olhos da sociedade", fazendo com que as pessoas enxergassem problemas que já existiam, mas que não recebiam a atenção adequada.
Neste cenário, diz, as empresas que souberam identificar essas lacunas e entender as novas demandas são aquelas que mais tendem a aproveitar o lado "oportunidade" da crise.
"Negócios que apostam na transformação digital e em logística certamente levarão vantagem, pois terão seus processos acelerados. Acredito ser possível transformar esse ambiente caótico em redenção, já que não é mais possível esconder o que havia de errado", complementa.
Ainda de acordo com o economista, o momento nunca foi tão favorável, por exemplo, aos setores ligados diretamente à tecnologia. "Há muitas oportunidades. Com todo mundo em casa utilizando internet e conectado a todo o momento, como fica a questão da cibersegurança? Temos toda uma cadeia em crescimento", destaca. Outro destaque é o setor de energias renováveis, posto que, em uma cenário de alta demanda como o atual, fica ainda mais evidente os benefícios da microgeração.
"A crise evidenciou as vantagens competitivas de alguns segmentos, mostrando aos consumidores que há opções mais baratas do que o convencional. Neste contexto, a geração fotovoltaica e eólica são grandes exemplos", avalia.
Uma evidência de que alguns segmentos seguem avançando em meio à pandemia é a própria oferta de empregos. A fabricante de pás eólicas Aeris, por exemplo, que está instalada no Complexo do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, contratou 274 novos funcionários entre março e abril, além de abrir 142 novas vagas em maio.
Apesar de o ritmo de contratações não ser o mesmo, o Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) também tem ofertado mais de 700 vagas por dia em todo o Ceará, a maioria obviamente ligada ao setor da saúde, mas também há oportunidades em áreas como logística e comércio essencial.
Segundo Grijalba Marques, gerente da unidade do IDT no Pecém, a própria Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), que não parou sua produção com a crise, segue recebendo currículos e contratando novos trabalhadores. "As atividades essenciais, sobretudo, estão contratando para dar suporte à demanda, que subiu bastante nos últimos meses", comenta.
De acordo com ele, atualmente os processos seletivos estão acontecendo via internet, com entrevistas via videoconferências e envios de currículos digitais. "Hoje, quem não tem e-mail ou um celular com WhatsApp, infelizmente, corre o risco de ficar fora do mercado", destaca.
Reportagens aborda o desempenho de empresas que aproveitam as novas demandas de consumo criadas durante a pandemia de coronavírus e conseguem alavancar seus negócios mesmo diante de um cenário adverso.
