Há cerca de duas décadas, a necessidade de contribuir com a renda familiar esbarrou na resistência do marido da microempreendedora Inês de Sousa Costa, hoje com 56 anos. Sem poder trabalhar fora de casa, ela decidiu colocar o primeiro pé no mercado de trabalho em paralelo aos afazeres domésticos. Voltou então a costurar - ofício aprendido com a mãe -, fabricando enxovais de bebê em domicílio, no município de Redenção.

Um negócio que começou no “boca a boca”, como ela costuma dizer. As indicações de amigos e vizinhos foram tornando-a conhecida no segmento. As encomendas começaram a aumentar, mas ela só pôde intensificar a atividade econômica após a morte do esposo, em 2002. “Na realidade, ela tinha um marido um pouco machista que tinha a mentalidade de que a mulher não poderia trabalhar fora de casa”, lembra a filha, Rivânia Sousa, 36. “E, foi nesse período (após a morte do marido), quando ela ficou sozinha comigo, que intensificou o trabalho nos enxovais para seguir comigo e terminar de me criar”, conta.

Memórias que dona Inês não verbaliza. Ela gosta mesmo é de lembrar como começou a ganhar reconhecimento dos produtos feitos pelas mãos minuciosas, ainda na década de 1990. “Aos pouquinhos, no boca a boca, outras pessoas foram começando a pedir, foram gostando, dizendo uns aos outros”, rememora como a produção começou a ganhar velocidade. “Aí, descobri o Crediamigo (programa de microcrédito urbano do Banco do Nordeste) por meio de uma cliente”, complementa.

Com o empréstimo, ela conseguiu comprar a primeira máquina de costura para a confecção e matéria-prima. As vendas, que antes eram feitas somente por indicação, puderam alcançar novos clientes com a maquineta de cartão de crédito concedida pelo BNB. “Me deu mais confiança para vender para mais pessoas e ter o dinheiro ali garantido”, reafirma.

Assim, o negócio foi crescendo. A casa foi perdendo espaço para os tecidos, fitas e demais aviamentos. Improvisou, na sala, a área para atender os clientes e mostrar o trabalho. Já era hora de ampliar e foi construindo uma loja ali mesmo, que também foi ampliando até que já havia mais onde fazer morada.
Hoje, ela mostra com orgulho como a sala e um quarto se transformaram num estabelecimento com uma vitrine, ar-condicionado, muitas mercadorias expostas, além da revenda de móveis, como berços, e roupas infantis. “Eu vi que o maior vendedor é o olho. Antes, eu fazia só por encomenda, agora, quando tenho um tempinho, deixa algumas peças já prontas”, detalha.

Rivânia, que esteve ao lado nesta caminhada, ajuda a gerenciar o negócio, divulgar nas redes sociais e realizar as entregas. “Vi que era o que ela fazia para a minha subsistência e ingressei, e amo o que faço. Nosso sistema é único, no sentido de que cada um é único, não é aquele fabril, em que sai mil roupas iguais, cada enxoval é único, extrai tudo do jeito que a pessoa planeja, e isso prazeroso”, pontua.
Atualmente, ela já faz empréstimos fora da linha do Crediamigo. A última aquisição com foi uma máquina de bordado informatizada. A produção hoje também conta com costureiras terceirizadas, que fazem o fechamento dos produtos.

Dona Inês não está sozinha. Dos atuais clientes do Crediamigo, 67% são mulheres e 62% têm renda familiar mensal inferior a R$ 3 mil. A análise da idade dos clientes do Programa revela que a maior parte, cerca de 37%, estão na faixa etária entre 36 a 50 anos. Em sua maioria, os financiamentos vão até R$ 2 mil, podendo chegar ao teto de R$ 21 mil.