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Transformação pelo crédito
Reportagem Seriada

Transformação pelo crédito

Produtores rurais de Ibaretama, distante 141 km de Fortaleza, mostram que as transformações fincadas pelo microcrédito ganham faces e vozes
Episódio 1

Transformação pelo crédito

Produtores rurais de Ibaretama, distante 141 km de Fortaleza, mostram que as transformações fincadas pelo microcrédito ganham faces e vozes
Episódio 1
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Pouco mais de 141 km separam Ibaretama, no Sertão de Quixeramobim, da Capital Fortaleza. Para além do traçado geográfico, há o distanciamento das oportunidades de quem vive numa pequena cidade. Quem percorre de passagem por lá, observa moradores sentados à beira de uma estrada carroçável, os olhares curiosos acompanham os carros dos desconhecidos, e dois ou três gados ocupam a maioria dos quintais avistáveis. Um posto de saúde lotado, algumas igrejas espalhadas e nenhuma agência bancária.

O município é um braço da maior produção de leite do Ceará, que fica em Quixeramobim. E é por meio da pecuária leiteira que, há gerações familiares, muitos trabalhadores rurais obtêm renda na região. Mas começar ou mesmo seguir adiante esse negócio por ali tem desafios desde os logísticos ao capital. “Quando preciso fazer alguma coisa no banco, tenho que ir até Quixadá (cidade a 27,7km de Ibaretama)”, relata o produtor Amilka Queiroz, 25.

Amilka Queiroz(Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima Amilka Queiroz

Aos 18 anos, Amilka teve de fazer uma escolha: continuar os estudos para entrar em uma universidade ou o trabalho dos pais. Achou que o certo era ficar. Fez cursos no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), aprendeu mais sobre o ofício, e fez um empréstimo via o programa Agroamigo, do Banco do Nordeste (BNB). O primeiro crédito de R$ 4 mil foi usado para comprar duas vacas. O segundo, de R$ 5 mil, mais um animal e ração.

Hoje, ele tem uma criação de 15 bovinos próprios, somados aos 45 dos pais, e produz cerca de 105 litros de leite por dia. A venda do produto é o que mantém a casa, esposa e dois filhos. Essa é uma trajetória que se repete nas falas dos produtores rurais: o ganha-pão repassado de pai ou mãe para filho, o primeiro empréstimo para aquisição ou ampliação do rebanho e os seguintes para manutenção e melhorias na infraestrutura.

Também foi assim para o Rogério Mateus Lima, 35, que começou a produzir há dois meses, e para Janiel Rabelo, 31, que iniciou na atividade há 13 anos. Ambos precisaram do Agroamigo para fazer a roda da economia girar. Juntos, eles fazem parte de um grupo de aproximadamente 67 trabalhadores da Associação de Produtores de Vargem de Cima - entidade sem fins lucrativos responsável por orientar os cooperados e intermediar a venda de toda produção para a Betânia Lácteos.

São mais de 70 mil litros de leite fornecidos por quinzena. Edvanda Azevedo, 43, presidente da Associação, explica que o microcrédito tem um impacto positivo sobre a geração de emprego e renda local. Do total de filiados, 45 atuam na bovinocultura, o restante fica na apicultura. Destes, mais de 25 utilizam o microcrédito para manter a atividade.

“O financiamento traz esperança para o pequeno produtor melhorar a renda familiar, porque pode aplicar na atividade que ele já tem, melhorando, assim, o rebanho e a qualidade dos seus produtos, aplicando na compra de ração para alimentar o gado e investindo na propriedade. É assim que o pequeno produtor vai aos poucos melhorando a qualidade de vida de sua família”, explica.

Além do BNB, agora a associação aguarda a chegada da Cresol para prestar o serviço de financiamento de custeio agrícola, pecuário e para investimentos na propriedade, e, com isso aumentar a possibilidade de crédito para as famílias rurais.

Ibaretama(Foto: LUCIANA PIMENTA)
Foto: LUCIANA PIMENTA Ibaretama

Perfil do Crediamigo

No BNB, a pecuária e o policultivo de grãos lideram as operações do Agroamigo, totalizando por mais de 82% dos financiamentos, seguido da agricultura (13%), serviços (4%) e extrativismo (1%). Segundo a instituição, quando se comparam os agricultores com mais tempo no Programa com os recém-ingressos, os resultados mostram que os primeiros tiveram aumento de estoque de animais em 18%, bem como produção agrícola 28% superior aos que estão iniciando suas atividades com o Agroamigo.

O valor médio por operação contratado no início das atividades do programa em 2005, quando foi criado, era de R$ 963,34. Com a ampliação gradual dos limites de financiamento, a expansão da quantidade de clientes atendidos e o atendimento aos agricultores familiares do Grupo Variável a partir de 2012, este valor teve incremento, chegou a R$ 5.009,18 no final de 2018. O projeto atende em média 470 mil agricultores por ano, com uma carteira de 1,2 milhão de operações e R$ 2 bilhões de crédito aplicados em 2019. Desde sua criação, em 2005 foram aplicados R$ 16,9 bilhões.

A composição por gênero da carteira do Agroamigo, em 2018, registrou um percentual de 47% do gênero feminino correspondente a 528 mil mulheres produtoras rurais com apoio no desenvolvimento de atividades produtivas. 59% dos clientes ativos do Programa eram também beneficiários do Cadastro Único do Governo Federal. O apoio creditício do Agroamigo a esses beneficiários insere-se no eixo de ações e programas complementares que objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação de vulnerabilidade.

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