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62 dias no rastro da biologia
Reportagem Seriada

62 dias no rastro da biologia

Os biólogos Fabiane Fish e Dagoberto Port narram o deslumbramento de Trindade

62 dias no rastro da biologia

Os biólogos Fabiane Fish e Dagoberto Port narram o deslumbramento de Trindade
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A biologia é um sacerdócio e uma das grandes recompensas que se tem nesta atividade é a oportunidade de conhecer lugares fantásticos. Um destes lugares é a Ilha da Trindade. Após quatro dias de viagem, a bordo do Navio de Desembarque de Carros de Combate “Almirante Sabóia” (segundo maior navio da Marinha do Brasil), chegamos ao nosso destino em 18/02/2013. A primeira sensação que se tem, ao ver a ilha é de deslumbramento. Trindade surge “do nada”, no meio do oceano, com seu relevo majestoso.

Após o desembarque, sempre arriscado, fomos aos poucos conhecendo a Ilha e seus ocupantes. Devido ao relevo acidentado e ao isolamento, todos os deslocamentos devem ser feitos com o acompanhamento de “trilheiros” (militares da marinha) e observando-se, rigorosamente, as regras de segurança existentes.

Nosso trabalho na ilha foi avaliar os eventuais impactos da instalação e uso da Estação Científica (Ecit) no ambiente, principalmente em relação às aves. Passamos 62 dias na ilha, durante os quais andamos literalmente por todos os seus recantos.

Avistamos lugares incríveis, que foto nenhuma vai representar adequadamente, mas que ficarão para sempre em nossa memória. Por outro lado, registramos também cenas não muito agradáveis, como os impactos já sofridos pela ilha, destacando-se, principalmente, a perda da sua cobertura vegetal e os processos erosivos decorrentes do solo exposto.

O dia-a-dia segue uma rotina que tem variações dependendo do trabalho a ser realizado. No nosso caso, consistia em deslocamentos por terra, pelas diversas trilhas da ilha, em busca de registros das aves (visualizações diretas, locais de alimentação, repouso e nidificação, comportamentos).

Alguns deslocamentos foram feitos também por água, no entorno da ilha, para chegar a locais inacessíveis por terra. Iniciávamos nosso trabalho sempre ao nascer do Sol (aproximadamente às 4h30min) e encerrávamos no final da tarde.

Com relação às refeições, o café da manhã e a janta eram sempre no refeitório geral dos militares e o almoço, normalmente, era no campo, o famoso “catanho”. O grande foco do nosso trabalho foi registrar a avifauna da Ilha, que tem “moradores” permanentes, como a grazinade-trindade e as fragatas, e outros que são visitantes ocasionais, como as garças e o vira-pedras.

Em 20/4/2013 terminou nosso trabalho (aventura) na Ilha da Trindade, embarcamos no Navio Hidroceanográfico Faroleiro “Almirante Graça Aranha” e após cinco dias de viagem chegamos novamente ao continente, felizes pelo retorno e por podermos reencontrar nossos entes queridos, porém tristes por termos deixado a “Fantástica Ilha da Trindade”.

(O trabalho foi desenvolvido para o “Programa de Eficientização da Estação Científica da Ilha da Trindade”, numa parceria da Universidade Federal do Espírito Santo (Laboratório de Planejamento e Projetos) e Universidade do Vale do Itajaí(Laboratório de Biologia).

Fabiane Fisch, bióloga, mestre em Geologia, doutoranda em Ciência e Tecnologia Ambiental; e Dagoberto Port, biólogo, mestre em Biologia, doutorando em Ciência e Tecnologia Ambiental

 

Estudo

Uma das atividades dos biólogos Dagoberto Port e Fabiane Fisch era pesquisar a rotina das aves em Trindade. Um território com sete espécies permanentes de aves. Leia mais no capítulo Ilhéu das aves.

Peixes

A fotógrafa Luciana Otoch registrou outra face da vida na ilha. Fez flagrantes do cotidiano da fauna marinha existente no entorno de Trindade. Cardumes de várias espécies.

Segurança

35 Militares da Marinha do Brasil guarneciam o Posto Oceânico da Ilha de Trindade quando partimos de lá, no dia 25/3/13. O comando era do capitão-de-corveta Mauro Medeiros, que estava no ilhéu desde dezembro de 2010. Ele partiu em abril deste ano.

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