A história da criação do primeiro time de futebol gay do Rio de Janeiro é contada no curta-metragem Soccer Boys. O título do filme é uma referência ao nome do time, BeesCats Soccer Boys (um delicioso trocadilho que remete a “Biscates só quer boys”). Dirigido pelo cineasta Carlos Guilherme Vogel, o documentário vem rodando o circuito de festivais de cinema -, no começo de julho, concorreu em um festival dedicado a filmes sobre futebol na Colômbia -, e está disponível no site do Canal Futura.
Nesta entrevista exclusiva ao O POVO, Vogel conta como surgiu a ideia do filme e fala suas intenções ao realizá-lo.
O POVO – Como você tomou conhecimento do BeesCats?
Carlos Guilherme Vogel – Eu fiquei sabendo do BeesCats quando eu li uma notícia sobre a primeira Champions Ligay, que aconteceu aqui no Rio de Janeiro em novembro de 2017. Eu fiquei sabendo do campeonato, me interessei, fui ler um pouco sobre o que era, e tomei conhecimento do BeesCats, que era o primeiro time (de futebol) gay do Rio. E me interessei, porque eu achei que tinha alguma coisa ali que precisava ser falada.
Assista ao trailer de Soccer Boys
"SOCCER BOYS" TRAILER from Carlos Guilherme Vogel on Vimeo.
OP – Como surgiu a ideia do filme?
Vogel – Eu tenho alguma coisa com futebol... Sempre uso algumas referências em meus roteiros. Enfim, já tinha feito um documentário, um tempo atrás, sobre futebol também. É um documentário sobre um bar em Copacabana onde a torcida do Internacional se reúne. O filme procura falar um pouco sobre essa questão de identidade cultural, essa identificação que a gente busca, enquanto ser humano, por um espaço, por um grupo. E através deste espaço, que é o Copinha, eu contei a história da torcida do Internacional, dos gaúchos que vêm morar no Rio de Janeiro e fizeram daquele bar um ponto de encontro e aquilo ali transcende. Não é só a paixão pelo esporte, pelo futebol, mas outras relações se estabelecem ali. Então, eu tinha vontade de fazer mais alguma coisa pelo futebol e achei que seria interessante desenvolver alguma coisa com relação a essa questão do papel do gay no futebol. Por que não existem jogadores gay?, por exemplo. Abertamente, declaradamente gays. O que existe por trás disso? Na verdade, eu fiquei interessado em tentar investigar isso, descobrir um pouco mais sobre essa questão.
OP – Como foi sua abordagem ao time?
Vogel – Eu entrei em contato pelo Facebook com o pessoal da Ligay, conversei com o André (Machado), que é o mesmo cara que fundou o time. Minha primeira ideia era um documentário sobre a Ligay, mas acabei conhecendo o André, trocando uma ideia com ele, sabendo um pouco mais sobre a história do BeesCats e foi natural me aproximar um pouco do time. E acabei descobrindo quais histórias eu poderia contar, que coisas eles teriam a dizer sobre essa questão do gay no esporte.
OP – Como foi a recepção dos jogadores à ideia de serem filmados?
Vogel – A recepção deles foi muito boa. O pessoal se interessou. A gente até perguntou para o André se teria algum problema, se alguém teria algum problema de aparecer no filme e ele falou: “Não, não tem problema nenhum. Aqui todos os viados gostam de aparecer” (risos). A gente acabou criando esse vínculo e realmente foi uma coisa bem divertida, bem leve de se fazer. Foi um trabalho muito interessante.
OP – Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou?
Vogel – A primeira dificuldade foi tentar viabilizar financeiramente. Aí, quando finalmente saiu a aprovação do projeto, que a gente fez para um edital do Canal Futura, já era o prazo que a gente tinha para fazer. A gente tinha pouco tempo para fazer o filme. Na verdade, a gente acabou filmando a Taça da Diversidade, que aconteceu em junho do ano passado (2018) em São Paulo, no mesmo fim de semana da Parada Gay, inclusive. Então, a gente teve muito pouco tempo para se organizar para filmar, esse foi nosso maior desafio, fazer em pouco tempo e com pouco dinheiro. O edital era R$ 10 mil, com R$ 10 mil a gente teve que viajar, contratar seguro de equipamento para filmar em lugar público, isso consome uma parte do dinheiro que você tem. Mas é isso, é o que tinha para fazer.
OP – Como está a carreira do filme?
Vogel – O filme está indo bem. A ideia é que ele estreasse na televisão primeiro, mas houve um atraso na data de estreia, que estava prevista para outubro do ano passado. A gente entregou em setembro para o Futura e ele só estreou em abril. Ele está disponível no site do Futura também. E tem feito uma carreira bacana em festivais. Eu acho que o mais importante de tudo foi falar desta questão da homofobia no esporte. A gente tem um relato muito interessante do Douglas (Braga), que é um dos jogadores do time, e foi jogador da categoria de base de clubes de futebol. Ele viveu uma boa parte da adolescência dele em clubes de futebol se preparando para ser um jogador profissional. E o filme conta um pouco dessa relação dele, como ele começou a encarar a questão descoberta da sexualidade e como isso interferiu na decisão dele com relação a carreira que ele estava correndo atrás. E fala um pouco também deste movimento do gay ocupando espaço no futebol. E o interessante é que o BeesCast não joga apenas campeonatos direcionados ao público gay, com equipes gays. Não, eles jogam o torneio regional da cidade do Rio de Futebol Society, eles jogam contra times héteros, participam de igual para igual. Na verdade é uma busca por espaço, mas que não se pretende ficar num núcleo gay fechado.
Clique aqui e assista ao filme Soccer Boys
Festivais e Mostras
26º Festival Mix Brasil (SP)
22ª Mostra de Cinema de Tiradentes (MG)
7º FestCine Curta Pinhais (2019)
II Festival Mimoso de Cinema (BA)
Cine Jardim (PE)
DIGO Festival Internacional da Diversidade Sexual e de Gênero de Goiás
Berro! Comunicação e Expressão LGBT – UERJ (RJ)
Tercer Tiempo - Festival Mundial de Cine Fútbolero (Colômbia)