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A fome de poder de Coriolanus Snow
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A fome de poder de Coriolanus Snow

"A cantiga dos pássaros e das serpentes" acompanha a trajetória do jovem Coriolanus Snow, conhecido como o presidente da capital Panem em "Jogos Vorazes"
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Novo livro da saga foi lançado há duas semanas
 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Novo livro da saga foi lançado há duas semanas

Mais de seis décadas antes de Katniss Everdeen ganhar a 74ª edição dos Jogos Vorazes, a capital Panem sofria com a impopularidade do evento anual. “O dia da colheita era terrível nos distritos, mas também não era bem uma comemoração na Capital. Como ele, a maioria das pessoas não tinha o prazer de relembrar a guerra”. Considerado um acontecimento violento e desnecessário, as pessoas ainda não compreendiam os motivos de sua realização.

Lançado no último dia 19 de junho, o novo livro da saga de Jogos Vorazes, “A cantiga dos pássaros e das serpentes”, aborda a visão de um dos maiores vilões da série: Coriolanus Snow. Ainda jovem, foi designado como um dos estudantes da Academia, escola destinada aos nobres de Panem, que se tornaram os mentores dos tributos da 10ª edição.

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Estabelecido à participante feminina do distrito 12, Lucy Grey Baird, Snow não pensava que havia chances de vencer. Porém, ela era midiática: artista, simpática e atraente. Com a esperança de conquistar o público, os dois se unem com estratégias - convincentes - para receber apoio.

Mas os jogos ainda tinham diversas questões a serem resolvidas. A partir de uma ideia de Coriolanus aos organizadores, a população teve a chance de enviar dinheiro para incentivar seus “tributos”. Agora, Panem começava a acompanhar o evento, apesar de ainda estar abismada com a brutalidade.

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Dividido em três partes, o livro aborda o início do crescimento autoritário de Snow, que viria a se tornar o presidente em “Jogos Vorazes”. Após a guerra que destruiu o país e foi o motim para o evento brutal, sua família havia perdido tudo. Sem dinheiro, Coriolanus vivia com a avó e a prima Tigris em uma mansão que não precisavam pagar. As refeições só aconteciam quando eram gratuitas, em situações sociais.

Tigris, que tem aparição nas primeiras franquias da saga, marca presença no novo livro
Tigris, que tem aparição nas primeiras franquias da saga, marca presença no novo livro (Foto: Reprodução/Pinterest)

Com a vontade incessante de manter a importância de seu sobrenome, Coriolanus queria agradar as autoridades a qualquer custo. “Ele não conseguia suportar a ideia de ser arrancado da sua própria casa. O apartamento era o único lugar ao qual ele pertencia inquestionavelmente, era o porto seguro, o forte de sua família”.

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Entretanto, algumas situações começam a atrapalhar o caminho para a glória. De repente, ele se encanta por Lucy Gray e inicia um relacionamento escondido. Sem querer, também se aproxima de Sejanus, um “novo rico” proveniente do Distrito 2 que detestava a capital.

Em “A cantiga dos pássaros e das serpentes”, a escritora se diferencia do formato de narração em primeira pessoa dos primeiros livros. A estratégia, porém, distancia o leitor do protagonista e dos motivos de suas decisões divergentes. Além da falta de conexão com Snow, tampouco é possível compreender outros personagens que trariam afinidade e densidade para a história. Tigris, Sejanus e Casca Highbottom, por exemplo, são pouco explorados para dar ênfase aos pensamentos de Coriolanus.

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A autora - talvez pela narrativa em terceira pessoa - perde a tensão tão recorrente em “Jogos Vorazes”. A história é exatamente como o personagem: fria e discordante. Com um enredo acelerado, os fatos acontecem rapidamente, sem deixar tempo para aproveitar o clímax. Apenas no fim é que o livro retoma a fórmula conhecida de aflição.

O livro, entretanto, cumpre uma função necessária: explicar (e trazer mais perguntas) sobre o universo distópico de Panem e dos 12 distritos. Elementos que não foram esclarecidos anteriormente surgem com naturalidade. A origem da música “The Hanging Tree”, a moda de transformar pessoas com aspectos animais, o modus operandi da capital, a crescente midiatização dos Jogos Vorazes e o símbolo do tordo são alguns dos aspectos abordados.

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Nessa constante conexão entre presente e passado, é possível perceber que “o show só acaba quando o tordo canta”. Como o espetáculo ainda não terminou, a adaptação cinematográfica de “A cantiga dos pássaros e das serpentes” já foi confirmada. Ainda sem data para lançamento, o filme terá direção de Francis Lawrence e produção de Nina Jacobson e Brad Simpson.

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