Vojvoda e a barreira invisível da mídia esportiva nacional
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Locutor esportivo da Rádio O POVO CBN. Radialista formado e acadêmico em jornalismo pela Universidade Estácio, já trabalhou em diversas rádios de Fortaleza, atuando como narrador e em outras funções, incluindo a parte técnica. Esta coluna trata sobre mídia esportiva e analisa os avanços das transmissões esportivas em todas as plataformas
Vojvoda e a barreira invisível da mídia esportiva nacional
Ele chegou como uma aposta e saiu como um símbolo. Juan Pablo Vojvoda não transformou apenas o Fortaleza — ele reposicionou o futebol nordestino no debate nacional. Sua despedida expõe mais do que saudade: escancara as distâncias que ainda existem na cobertura esportiva brasileira
Foto: créditos: Mateus Lotif / Fortaleza EC
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL: 15.07.2025: Juan Pablo Vojvoda dar adeus ao fortaleza. (créditos: Mateus Lotif / Fortaleza EC)
A saída de Juan Pablo Vojvoda do Fortaleza representa mais do que o encerramento de um ciclo. Ela escancara como a mídia esportiva nacional ainda enxerga — e trata — o protagonismo que vem de fora do eixo Rio-São Paulo. Um técnico estrangeiro que fez história no futebol nordestino, rompeu barreiras, conquistou títulos e levou o Fortaleza a competições internacionais de forma inédita. E mais: recusou propostas de clubes do chamado "eixo", optando por permanecer no Pici. Ainda assim, a maneira tímida e pouco aprofundada com que sua despedida foi tratada por muitos dos grandes veículos revela muito sobre o espaço — ou a falta dele — que se reserva à imprensa e ao futebol do Nordeste no debate esportivo nacional.
Nas ruas e redes sociais, os torcedores trataram a saída como um verdadeiro luto esportivo. E assim a mídia local cobriu. Emissoras regionais deram amplo destaque, portais do Nordeste estamparam manchetes, e os canais oficiais do clube investiram em conteúdos emocionais, técnicos e históricos. Mas o que se viu no noticiário nacional?
Houve, sim, cobertura, principalmente no campo digital. A mídia nacional tradicional registrou a despedida, com menor destaque. Basta comparar com casos semelhantes no eixo Rio-São Paulo para notar o contraste. Lembra das saídas de Tite no Corinthians em 2013 e 2016? Ou da saída de Dorival Júnior do Flamengo em 2022? Foram dias de repercussão intensa, bastidores detalhados, matérias especiais e espaço nobre nos telejornais. Se Abel Ferreira deixasse o Palmeiras hoje, não seria diferente: haveria plantão, análises táticas minuciosas e horas de debate. Já com Vojvoda, muitos veículos se contentaram com notas secas, sem se aprofundar no impacto que ele teve no futebol nordestino e brasileiro. Faltou contexto. Faltou sensibilidade. Sobrou frieza nos números.
A verdade é que o Fortaleza de Vojvoda foi muito mais do que um time competitivo. Até o ano passado, era referência nacional em gestão eficiente, identidade coletiva e valorização do talento regional. Enfrentou rivais com investimentos muito superiores, disputou a Libertadores, foi finalista da Sul-Americana e puxou para cima o sarrafo do futebol nordestino. Em países com cobertura esportiva mais equilibrada, isso viraria tema de documentário, estudo acadêmico ou série especial. No Brasil, ainda há uma barreira invisível: conquistas por mérito precisam gritar alto para serem reconhecidas, enquanto o rótulo de “grande” segue amarrado à tradição e à geografia. Um exemplo claro disso é que o último ato antes da saída do técnico foi mais uma derrota no Clássico-Rei — ele não vence o Ceará desde 2023 —, fato quase ignorado pela imprensa do eixo, que sequer contextualizou a relevância local do confronto. Também passaram batidos os bastidores agitados do clube, com mudanças na diretoria, cobranças da torcida e um ambiente de desgaste que vinha se acentuando.
É preciso reconhecer os méritos da mídia cearense e nordestina. Não apenas deu a devida dimensão à saída do técnico, como também ajudou a construir, de forma constante, sua imagem pública. Foi essa cobertura regional que garantiu que o nome Vojvoda ganhasse, aos poucos, espaço no debate nacional — ainda que a passos lentos.
A cobertura da despedida de Vojvoda escancara um desafio antigo: descentralizar o noticiário esportivo e compreender que relevância não está no CEP do clube, mas no peso das conquistas, no impacto coletivo e na história construída com trabalho, entrega e identidade.
A era Vojvoda termina. E, com ela, a imprensa nacional tem mais uma chance de repensar seus recortes. Ou seguirá refém da geografia, mesmo quando o brilho vem de outros pontos do mapa?
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