Ana Márcia Diogénes é jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assessora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Por isso mesmo é que governos conservadores temem tanto a expansão do conhecimento
Foto: AURÉLIO ALVES
O Theatro José de Alencar completou 115 anos em 17 de junho de 2025
O que devia ser do cotidiano, às vezes chama a atenção por simplesmente acontecer. Foi o que se deu recentemente, quando estava lançando um livro numa cafeteria e bistrô.
O garçom, que atendia a mesa dos convidados para o lançamento, disse que tinha escutado a apresentação que fiz do livro, gostava do tema e queria adquirir. Depois do autógrafo fizemos foto juntos e, ao longo da noite, de vez em quando conversávamos sobre seus interesses literários.
O fato deveria ser tão comum a ponto de nem merecer ser citado aqui na coluna. Mas, infelizmente, não o é. O que temos como realidade é que o acesso à cultura, nas suas manifestações de literatura, música, teatro e outras mais, deveria ser ofertado, facilitado e estimulado para todas as pessoas.
É importante, claro, que a atenção também recaia nas gerações de jovens e adultos que nunca receberam estímulos na infância ou adolescência. Ao mesmo tempo, são inúmeras as pessoas de classe média e alta que não leem, frequentam teatro ou vão a exposições meramente porque não estão a fim. A música, pela popularidade talvez, segue outros caminhos.
O que trago para reflexão, diante do jovem garçom encantado por literatura, é que apesar do estímulo ser fundamental na promoção da democratização do acesso, não se pode decretar que uma pessoa vá gostar de ler, de ver teatro... Alguns não entendem como a cultura é transformadora.
Assim, é necessário que se promova a compreensão do porquê a cultura é importante na formação individual e coletiva.
Além de ser um direito humano previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição brasileira, ela é indispensável até para o desenvolvimento socioeconômico de um país. Quanto mais acesso à cultura, mais evolução, mais pertencimento à identidade de um povo. E mais a reflexão crítica da população se expande.
A indução da cultura ao crescimento psicológico, cognitivo e social, que resultam em qualidade de vida, mete tanto medo em governos conservadores, que comumente estes reduzem investimentos na área. Não à toa, a gestão do ex-presidente Bolsonaro extinguiu o Ministério da Cultura exatamente no primeiro dia da sua única gestão (2019-2022).
Há alguns anos me enviaram um vídeo de um homem em situação de rua que havia lido mais de 200 livros que recebera dos transeuntes. Enquanto isso, há os que compram livros pela aparência e não para serem lidos. Servem apenas como enfeite para que visitantes pensem que os anfitriões seriam cultos.
Neste mundo de contradições, resultado da distância monetária e, por conseguinte, social entre as pessoas - que alguns grupos da elite e de políticos fazem tudo para manter – nunca foi tão importante ler, ver exposições, ir ao teatro, ver filmes que questionem a sociedade. Não podemos deixar de pressionar pelas mudanças fundamentais, para que um dia não nos admiremos pelo que é um direito de todos.
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