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O medo de morrer pode abreviar a vida
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Ana Márcia Diogénes é jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assessora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza

O medo de morrer pode abreviar a vida

Exercícios e cuidados são importantes, mas o exagero e o desconhecimento sobre como proceder podem ser fatais
Imagem ilustrativa de apoio. A importância da atividade física (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Imagem ilustrativa de apoio. A importância da atividade física

Remédios, se ministrados de forma errada, podem matar ao invés de salvar. Foi o que pensei ao ler sobre dois casos recentes de pessoas que morreram enquanto faziam musculação em academias.

Exercícios físicos são indicados para evitar o sedentarismo, para prevenir doenças como diabetes, questões cardíacas, hormonais e inúmeras outras. Mas, o excesso deles e/ou a prática sem orientação especializada podem acarretar problemas bem maiores, inclusive o fim da vida.

Por outro lado, o medo de envelhecer tem levado mulheres e homens a cobrarem de seus corpos uma conta que eles nem sempre conseguem pagar com saúde.

Não há aqui qualquer crítica às crescentes possibilidades de se usar o desenvolvimento científico e tecnológico para criar atalhos no nosso relógio biológico. O que trago para reflexão são os excessos.

Anos atrás presenciei uma conversa inusitada. Uma avó, com menos de 40 anos, ensinava a neta pequena a chamá-la de tia. Chegou a criar a desculpa de que era porque queria que a menina não estranhasse as “tias” da escola-creche onde ia estudar.

Quanto mais ela tentava convencer a criança de que era como uma tia da escolinha, mais a criança ria e dizia vovó. A história acabou em choro.

O que venho percebendo é que o medo de envelhecer pode destruir o caminho inteiro por conta de um atalho que impressiona e pressiona: o mito da eterna juventude.

O natural de quem está vivo é ter o corpo em constante declínio, decorrente do tempo. Se não nos acostumarmos a esta certeza, passaremos a vida tateando o impossível, que é não morrer.

Ter cuidados consigo mesmo faz bem à alma e ao corpo. Quem quer evitar rugas precoces tem que preservar a pele da exposição intensa ao sol; quem quer barriga tanquinho precisa aliar boa alimentação a exercícios específicos. Isso é saudável.

O que não faz bem ao corpo e à mente é ter hábitos invasivos à saúde e depois agendar cirurgias anuais para corrigir os efeitos.

No caso das academias - e aqui não entrando no que motivou as mortes recentes – estas costumam ficar lotadas antes de feriados prolongados, devido à tentativa dos seus usuários de disciplinar o que os maus hábitos acarretaram.

E há também os que faltam alguns dias e querem compensar dobrando a quantidade de exercícios a fazer. Só que corpo não é agenda, em que se risca o que não é feito e desloca de um dia para outro.

O que acontece é que de um dia para outro o corpo simplesmente não aguenta mais tudo o que não fizemos por ele: seja como prevenção, seja quando ele começou a dar sinais de que precisava de mudanças.

Se queremos mesmo viver mais e melhor é importante buscar, em profundidade, o que pode nos fazer seguir. Não será só tentando enganar o tempo que vamos nos dar bem. Melhor treinar nosso bom senso primeiro.

Foto do Ana Márcia Diógenes

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