Recorde brasileiro em Tóquio foi feito por grupos marginalizados
Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Ana Marcela Cunha é representante de quatro eixos de destaque na Olimpíada de Tóquio-2020. Ela é mulher, é nordestina, é medalhista de ouro e é assumidamente lésbica.
Entre as cinco medalhas individuais do Brasil nos Jogos Olímpicos, quatro vieram de nordestinos — a maratonista aquática, além do surfista Ítalo Ferreira (RN), do canoísta Isaquias Queiroz (BA) e do pugilista Hebert Conceição (BA). Os dois baianos, diga-se, são negros, bem como boa parte da seleção masculina de futebol, que também tinha quatro nordestinos. O outro ouro individual veio de Rebeca Andrade, a "Daianinha de Guarulhos", uma mulher negra. O título remanescente, um bicampeonato, foi de uma dupla feminina, a fluminense Martine Grael e a paulista Kahena Kunze.
As mulheres brasileiras estrearam em Olimpíadas, timidamente, em 1932, com a pioneira da natação Maria Lenk. A primeira medalha veio só em Atlanta-1996, com uma até então e até hoje inédita dobradinha. Era no vôlei de praia, com Jacqueline Silva e Sandra Pires com ouro e Adriana Samuel e Mônica Rodrigues com a prata. Jackie Silva, a maior craque entre as quatro, é lésbica assumida, diga-se. Proibidas por décadas de jogar futebol, um esporte nacional até então relegado a metade da população, elas são hoje protagonistas olímpicas.
Mulheres, negros, nordestinos, LGBTs. Foi essa massa que lutou e conquistou um resultado histórico nos Jogos.
O Time LGBTQIA+
Segundo levantamento do site OutSports, eram ao menos 182 atletas LGBTs assumidos em Tóquio e 10% deles eram brasileiros. O time da diversidade sexual participou da conquista de 32 medalhas, sendo 11 de ouro. Seriam, num cálculo ligeiramente forçado, sétimo lugar no quadro de medalhas, acima inclusive do Brasil. Ana Marcela Cunha está entre as campeãs, a única do país. As meios de rede Carol "vegana" e Carol Gattaz entram com a prata do vôlei.
Destas 32 medalhas, de um total de 56 atletas, 53 são mulheres, dois são homens e uma é pessoa não binária. Nisso, fica claro que o ambiente feminino abraça com maior facilidade a diversidade sexual. Ou que existe um estigma menor para elas, o que não apaga o peso de encarar a parte retrógrada da sociedade a cada competição.
No ranking total, o Brasil foi o vice-líder, ao lado do Canadá, com 18 LGBTs. Um terço delas vêm do futebol (Andressa Alves, Bárbara, Marta, Formiga, Letícia, e Aline Reis), quatro são do vôlei (as duas Carol e Douglas na quadra, Ana Patricia na praia), duas do rúgbi (Isadora Cerullo e Marina Fioravanti), duas do atletismo (Geisa Arcanjo e Izabela da Silva), uma do surfe (a cearense Silvana Lima), uma da natação (nossa campeã Ana Marcela Cunha), uma do handebol (Babi) e uma do tênis de mesa (Caroline Kumahara).
Mais uma vez, o levantamento é do ótimo OutSports e se refere apenas àqueles publicamente assumidos. Quanto mais a sociedade avançar, mais eles serão. Nós seremos.
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