Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.
Os belos pratos florais, de se pendurar na parede, foram as primeiras cerâmicas portuguesas que eu conheci. Hoje abriu-se para mim o mundo dos pratos, jarros, canecas, potes, saladeiras, toda uma arte da cerâmica que começou com a presença romana e árabe, em Portugal
Foto: Arquivo pessoal
Olaria Patalim
Se a inspiração veio da ideia da comida no peso, bem nossa, não sei dizer. Mas em Portugal, temos a cerâmica no quilo, e vale a pena. Confesso, não resisto a estas belezas.
Decoradas com esmaltes, padrões coloridos e tons vibrantes, estes pratos, canecas, potes, saladeiras, jarros ganharam o mercado mundial e viajam em caminhões cheios para países da Europa e em aviões, para os Estados Unidos.
Eu, que tenho o costume de visitar os ceramistas — em Lisboa, no Porto, em Coimbra, Estremoz, Alcobaça — tenho visto o cenário mudar, e para melhor. Não são mais os pratos de flores do tempo de nossa avó, pendurados na parede, são peças únicas, modernas, que mudam de estilo e cores, a depender da região.
Em Corval, num pequeno povoado de Reguengos de Monsaraz, visito sempre a Olaria Patalim, onde, até pouco tempo atrás, acumulavam-se louças de todas as cores e motivos pelo chão, sobre tábuas, nas mesas, na desarrumação de uma produção que não para.
Se vais além da área dos pratos, encontras outras belezas. Dois fornos antigos, que datam do tempo dos primeiros ceramistas da Península Ibérica.
Os romanos trouxeram para cá o uso do torno do oleiro, e com as novas técnicas, produziam em grande escala para todas as partes do Império. Depois chegaram os árabes, trazendo a novidade dos azulejos, faianças e porcelanas.
A faiança é um tipo de cerâmica mais antiga e porosa, por isso precisa ser esmaltada para se tornar impermeável e durável. Já a porcelana surgiu na China e é utilizada em louça de mais qualidade.
Em Corval, no exato lugar onde, no passado, trabalharam oleiros romanos e árabes, temos hoje o seu Joaquim, o oleiro mais antigo da fábrica. Tem vontade de pensar na aposentadoria, mas não acha jovens interessados numa formação.
Afinal, não é coisa que se aprenda em um curso — são anos, até se aperfeiçoar o gesto. Parece fácil, vendo o trabalho no torno, mas não é. Joaquim tem a mão e olho treinados, mas sabe que pequenas imperfeições fazem parte da história da peça. Eu gosto.
A família, que já vem nisso, de geração a geração, agora dividiu a fábrica em duas, os clientes não param de chegar e as peças rareiam nas tábuas e mesas, com o volume da exportação. A saída para mim é buscar mais longe, em Caldas da Rainha, uma terra ligada ao nome Bordalo Pinheiro, onde o preço das lojinhas de louças me faz voltar para casa de braços cheios.
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