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Os insetos são os novos bichos de companhia
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Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.

Os insetos são os novos bichos de companhia

Os insetos são os novos "bichos" de companhia de hoje, dos que surfam sobre a novidade, o diferente, a raridade. Uma mania mundial que rende milhões e põe em riscos o equilíbrio do meio ambiente
Os insetos são os novos bichos de companhia  (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Os insetos são os novos bichos de companhia

Vinte milhões de dólares ao ano. Esta estimativa da Interpol, sobre o tráfico mundial de insetos raros, vale o que vale — uma mera aproximação.

Certo mesmo é que não se sabe grande coisa sobre esta nova moda, a de comprar e ter em casa aranhas, formigas, escorpiões, borboletas, os coleópteros. Nem baratas e moscas escapam. Por uma formiga rainha, paga-se, no mínimo, trezentos dólares.

Por uma única espécime rara de borboleta, o preço pode subir além dos dois mil dólares. Vendidos nas redes sociais, e até pela eBay, quanto mais coloridos, mais atípicos, e mais raros forem os insetos, mais abre-se a bolsa de dinheiro.

Compradores do mundo inteiro enlouquecem, dispostos a pagar fortunas, na busca por estas criaturas — e nós, que fugimos de medo de uma abelha ou de uma tarântula, ficamos sem entender. O Japão e os Estados Unidos são grandes compradores. Mas não os únicos.

Para atender este mercado em franca expansão, abrem-se todos os dias novas lojas de insetos. Compradores, passando-se por turistas, desembarcam na África, na Ásia, na América do Sul, transformando agricultores locais em caçadores de insetos.

Sacos de ovos de louva-a-deus, moscas lanternas-amarelas, um pequeno inseto asiático rosa e branco parecido a uma pétala de orquídea, a centopeia mil-patas, o escorpião gigante da Tasmânia, o escorpião ditador, o escorpião cego das savanas e florestas húmidas, chamado de imperador por ser o maior do mundo.

Ou o besouro cego das cavernas da Eslovênia, que por ser um predador, foi batizado de Hitler e, por causa disso, quase toda a espécie foi extinta, tão popular que ficou como “inseto de estimação” entre membros da extrema-direita.

A mais espetacular operação foi descoberta recentemente no Kenya, onde belgas foram presos com cinco mil formigas rainhas escondidas em tubos de ensaio, destinadas à Europa e à Ásia — as formigas-veludos, por exemplo, fascinam os japoneses.

Na Bolívia e no Peru, além de se buscar insetos entre as ruínas de cidades perdidas, fazem-se brincos e colares com asas de borboletas, para alegria dos turistas. Mas, a captura destes insetos equivale a matar um rinoceronte, para se retirar o chifre. Ou a um elefante, para se roubar as presas. Não é porque a criatura é pequenina que o crime é menor.

Lembrando que 40% das espécies de insetos estão em risco, agravado pelas mudanças de clima e temperatura.

Fora do habitat natural — onde cada inseto tem uma razão de existir entre os outros bichos e árvores —, nestes novos países podem tornar-se perigosos para a fauna e a flora locais.

Fugindo de suas caixas domésticas, saltam para o terreno e se desenvolvem, muitas vezes sem controle, em um ambiente que, até estão, estava em equilíbrio. Formigas e abelhas trazidas de outros países têm exterminado formigueiros e colmeias nos países de chegada. Um desequilíbrio catastrófico.

Fenômenos de comportamento, moda, ou doidice, tenha o nome que tiver. Ter no movimento e na vida dos insetos um novo passatempo em casa — parece-me triste. Não porque são insetos o objeto desse desejo de visualização à Big Brother.

Mas, porque tem a ver com a posse, com o controle, com o prazer perverso de olhar o desespero de um bicho aprisionado. Ou talvez seja uma extrema solidão. Incapazes de conviver com outros seres humanos, passam a noite falando às baratas, e pensando ouvir respostas no bater de asas de uma mosca. Bem hajam a todos.

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