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Vereador que presidia associação assinou cheques de R$ 89 mil dias antes do motim
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Vereador que presidia associação assinou cheques de R$ 89 mil dias antes do motim

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Tipo Opinião
Sargento Reginauro, deputado estadual (Foto: ALEX GOMES, em 19/5/2019)
Foto: ALEX GOMES, em 19/5/2019 Sargento Reginauro, deputado estadual

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O vereador Sargento Reginauro (UB) assinou, em 11 e 17 de fevereiro de 2020, dois cheques em nome da Associação dos Profissionais da Segurança (APS) somando cerca de R$ 90 mil. As ordens de pagamento, com comprovantes que estão hoje de posse da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia que investiga o financiamento de associações de agentes da segurança do Ceará, foram emitidas apenas uma semana antes do início do último motim de policiais militares do Estado, em 18 de fevereiro daquele ano.

O cheque de maior valor, em R$ 49 mil, foi assinado por Reginauro em 17 de fevereiro, um dia antes de agentes amotinados ocuparem o antigo 18º Batalhão da Polícia Militar do Ceará, no bairro Antônio Bezerra, e declararem o início do movimento paredista. Os dois cheques foram sacados no mesmo dia e no mesmo horário, às 10h41min do dia 16 de março, cerca de duas semanas após o término da paralisação. A informação está em documentos requisitados pela CPI a instituições bancárias e que foram obtidos pela coluna.

Investigação e pagamentos

Atualmente, uma das linhas de investigação adotadas pela comissão é de que as associações teriam sido utilizadas como fonte de financiamento para atividades do motim. Na última terça-feira, 5, o relator do grupo, Elmano Freitas (PT), classificou movimentações como suspeitas e disse "não ter dúvidas" de que a APS teria funcionado como "braço político" do grupo ligado ao deputado federal Capitão Wagner (UB), principal pré-candidato da oposição de Camilo Santana (PT) ao Governo do Ceará, no Estado.

Ainda de acordo com o relator da CPI das Associações, a APS teria movimentado, em cinco anos, valores até R$ 2,3 milhões por meio de cheques sacados por dirigentes da entidade. Segundo documentos obtidos pela coluna, foram feitos pelo menos seis saques, somando R$ 194 mil, apenas em 2020. Um dos cheques, em R$ 15 mil, foi assinado por Reginauro em 31 de janeiro daquele ano, mesmo dia em que o governo anunciou detalhes do projeto de reajuste de policiais militares que motivou o motim. Dias depois, associações realizaram um protesto em frente à Assembleia Legislativa.

Outro lado

Procurado pelo O POVO, Sargento Reginauro não negou ter assinado os cheques, mas afirmou que não existe qualquer relação entre os pagamentos e o movimento paredista de 2020. "Se está a minha assinatura, certamente é minha. Mas não há relação, a associação não parou de funcionar, ou seja, a dinâmica utilizada para os pagamentos foi a mesma, não haveria de ser diferente naquele período só porque estava acontecendo uma paralisação (...) se teve algo na véspera, dois, três dias antes, é uma sequência ordinária dos fatos", diz.

Ele destaca que os recursos custeavam apenas as atividades normais da entidade, como alimentação de funcionários e prestação de serviços. Vereador de Fortaleza e integrante do grupo de Capitão Wagner, Reginauro deveria ter prestado depoimento à CPI na manhã de ontem, mas a oitiva acabou sendo adiada a pedido de integrantes do grupo.

"Eu só lamento que tenha sido adiado, eu estava realmente ansioso por esse momento, para responder aos questionamentos dessa CPI e destacar algumas questões desmontando a narrativa que eles estão tentando emplacar, de que as associações participaram desse movimento", afirma. Classificando a CPI como movimento político que tenta "desgastar" a imagem de Wagner, Reginauro destacou que a APS participou apenas das rodas de negociação entre a categoria e o governo, o que não configuraria qualquer ilícito militar.

Associação

Em nota, a APS destacou que prioriza a "transparência em suas ações" e disse que "toda contribuição mensal voluntária de seus sócios é investida em prol de serviços voltados para eles". Neste sentido, a entidade esclarece que já realizou mais de 36 mil atendimentos jurídicos, 8 mil atendimentos psicológicos e 4,6 mil hospedagens em seu hotel de trânsito. "Por isso é necessário, como em qualquer outra entidade que lida com responsabilidades financeiras, o uso do dinheiro em espécie no dia a dia".

 

Foto do Carlos Mazza

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