Carol Kossling é jornalista e pedagoga. Tem especialização em Assessoria de Comunicação pela Unifor e MBA em Marketing pela Faculdade CDL. Pautou sua carreira no eixo SP/CE. Fez parte da equipe de reportagem do Anuário Ceará e da editoria de Economia do O POVO. Atualmente é Editora de Projetos do Grupo de Comunicação O POVO
De tempos em tempos é bom lembrar que a expectativa atual de vida dos homens brasileiros é de 73,1 anos e a das mulheres 80,1 anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fora isso, soma-se as mudanças no estilo de vida e na aposentadoria, o que faz a vida útil labora ser estendida aos chamados +40. E para que se tenha um bom nível de competitividade no mercado de trabalho, esse nicho voltou para a sala de aula para fazer novas graduações, ou mesmo se realizar o sonho da primeira, e as especializações. Infelizmente, esse mês o fato das três “jovens” estudantes de uma faculdade no interior de São Paulo ridicularizando a colega com mais de 40 anos chamou a atenção para o etarismo.
Quebra de estereótipos
A consultora de RH e Desenvolvimento Humano, Bernadete Pupo, costuma dizer que a discriminação por idade começa na seleção e compartilha uma situação que vivenciou quando um cliente solicitou a ela um candidato para a área financeira, cujo perfil limitava a idade até 39 anos. “Entre idas e vindas, entrevistei um profissional com 50 anos, que preenchia todos os requisitos, a exceção da idade. Conversei com o gestor cliente, que se recusou a vê-lo. Tentei mais uma, duas vezes, até que por fim, solicitei ao candidato que providenciasse um atestado de saúde, visto que esta era a preocupação da empresa”, conta. Por fim, frente a entrega de toda documentação, o gestor aceitou entrevistar o profissional que foi contratado. Para ela, o preconceito etário é algo que existe, mas se houver um movimento no sentido de se rever os antigos estereótipos, aos poucos, é possível se aproximar da igualdade de oportunidades.
Crescimento de matrículas
Na Unifametro, em Fortaleza, a diretora executiva, Ana Cristina de Holanda Martin, comenta que a aceitabilidade de alunos +40 é boa. Em geral, os cursos mais procurados são de Psicologia, Gastronomia, Educação Física, Estética e Nutrição. “A questão do etarismo deve ser visto como exceção, pois todos devem ter acesso à educação. De 2012 a 2021 o índice de pessoas +40 matriculadas subiu 171%, seja para fazer segunda ou terceira graduação ou pela necessidade de aprendizado para vida toda”, revela. Por lá, existem muitas famílias cursando junto.
Sem preconceito
A jornalista Cinthia Medeiros, 49, acha muito interessante a discussão em cima deste tema, justamente numa fase que ela resolveu cursar uma segunda graduação, após 28 anos de ter iniciado a primeira, por acaso, pois foi acompanhar o filho no Enem e passou. Hoje, ela cursa Licenciatura em Música na Universidade Federal do Ceará (UFC). “O etarismo partiu muito mais da minha parte, de uma vergonha minha que já está desconstruída do que dos meus colegas. Da parte deles, apenas na semana inicial senti uma invisibilidade em relação a eu estar lá, mas também foi descontruído. Hoje sou muito querida entre eles”, afirma. Além da nova experiência na faculdade ela recentemente participou de um programa de intercâmbio na Disney, nos Estados Unidos, que a faixa era entre 18 e 25 anos. Alguém da idade dela foi a primeira vez no Brasil.
Possibilidades em qualquer idade
A estudante do técnico em administração, Sonia Maciel, 53, que cura o segundo semestre optou primeiro em formar os filhos para depois se preocupar com sua própria formação. Infelizmente passou por hostilidade por parte de alguns colegas. “É lamentável ver uma juventude com esse tipo de comportamento. Diante da situação decidi estudar ainda mais e mostrar que todo mundo consegue aprender em qualquer idade”, destaca.
Mix de gerações
No Ceará, a gerente executiva de Seleção na MRH Gestão de Pessoas e Serviços, Valéria Mota, diz que o cenário mudou muito de 10 a 15 anos para cá. “Hoje, em 2023, eu percebo uma luz no fim do túnel. Muitas empresas já se preocupam com a diversidade de gerações com a pessoa com mais idade e mais experiência e sabedoria em contraponto com o jovem mais impaciente, mais ousado e determinada. Esse mix que acredito dá o crescimento”, reflete. Outro ponto é a questão da adesão das empresas ao ESG – ambiental, social e governança, em especial, ao respeito com as pessoas. Antigamente uma pessoa de 45 anos estava fechada para o mercado e hoje não. “Hoje você tem pessoas de 55 anos com plena energia, foco e determinação. Como a expectativa de vida aumentou as pessoas estão se cuidando mais e chegamos 60 anos com mais energia o que facilita a concentração.
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