Logo O POVO+
Entrevista: Tânia Dourado, mestre e doutora em linguística e comunicação, escritora e mentora de mulheres
Foto de Carol Kossling
clique para exibir bio do colunista

Carol Kossling é jornalista e pedagoga. Tem especialização em Assessoria de Comunicação pela Unifor e MBA em Marketing pela Faculdade CDL. Pautou sua carreira no eixo SP/CE. Fez parte da equipe de reportagem do Anuário Ceará e da editoria de Economia do O POVO. Atualmente é Editora de Projetos do Grupo de Comunicação O POVO

Entrevista: Tânia Dourado, mestre e doutora em linguística e comunicação, escritora e mentora de mulheres

Em exclusiva ao O POVO, a doutora aborda questões como empoderamento feminino, processo emancipatório, carreira das mulheres e desconstrução
Tipo Notícia
Tânia Dourado, mestre e doutora em Linguística e Comunicação; escritora; e mentora de mulheres (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Tânia Dourado, mestre e doutora em Linguística e Comunicação; escritora; e mentora de mulheres

Muitas questões envolvem o universo feminino e estão radicadas na cultura social que vivemos e na construção do patriarcado brasileiro. E isso envolve ações do dia a dia que podem sofrer as interferências comportamentais como realizar algo, dar materialidade a um sonho.

A mestre e doutora em linguística e comunicação, escritora e mentora de mulheres, Tania Dourado, debate essa e muitos assunto no curso Descontruindo Narrativas - O sucesso profissional que você tanto deseja alcançar passa por uma Mudança Discursiva exclusivo para mulheres. 

Entre as narrativas observadas pela doutora ao longo dos seus estudos, dito por muitas mulheres, estão que se sentem inseguras para tentarem o novo; têm medo de serem julgadas; acham que talvez já sejam tarde demais, que não dá mais tempo; acreditam que ainda não estão prontas, acham melhor estudar um pouco mais; pensam que é melhor adiar um pouco mais, na espera das crianças crescerem sentem-se culpada de pensar em si mesma.......

Para falar sobre isso, empoderamento feminino, processo emancipatório, carreira das mulheres e desconstrução, confira a entrevista exclusiva para O POVO.

O POVO - Por que é tão importante o empoderamento feminino desde a infância?

Tânia Dourado - Primeiro precisamos entender que empoderamento feminino é um processo coletivo para mudar as estruturas que sustentam as desigualdades de gênero na sociedade.

Trata-se de um processo emancipatório, intelectual e político que se propõe a questionar e desmontar práticas sociais e discursivas que naturalizam essas desigualdades e que afetam a vida da mulher em todos os níveis: psicologicamente, financeiramente e que colocam cotidianamente a vida dela em risco, tanto nos espaços privados quanto públicos.

E essa construção cultural de desigualdade começa desde a infância. Quando a filósofa Simone de Beauvoir afirma que “não se nasce mulher, torna-se”.

O que ela está nos dizendo é que, desde o nascimento, uma menina recebe uma espécie de cartilha que impõe determinados comportamentos e que estabelece quais lugares que ela vai poder ocupar no mundo.

Uma cultura sustentada por narrativas de subjugação e invalidação da inteligência e do talento feminino. Narrativas que estão por toda parte: nos brinquedos, nos contos infantis, nos programas de tv, nas músicas, nas cores, nos modelos de comportamento.

Narrativas que estimulam apatia e recato nas meninas e ousadia e liberdade nos meninos. Entre cinco e sete anos as meninas já estão convencidas de que determinadas profissões, que cargos de liderança, não
são para elas. Porque todas as narrativas e suas múltiplas representações afirmam isso.

Cabe, portanto, a nós adultos, nos comprometermos com a desconstrução dessas narrativas para que meninas e meninos possam crescer se sabendo livres e em igualdade de condições para desenvolverem todo o seu potencial nas mais diferentes áreas de conhecimento.

O POVO - Como a cultura comportamental influencia na carreira das mulheres?

Tânia - A cultura impacta todas as áreas da nossa vida e ela passa de uma geração para outra através das narrativas e de suas múltiplas linguagens. E tudo é narrativa. Meninas e mulheres crescem numa cultura
que atribui às mulheres uma inferioridade natural e, em contrapartida, legitima referências de sucesso, prestígio e poder masculinos.

Se é desde a infância que se forma o nosso modelo de mundo, determinando o nosso lugar e o lugar do outro nesse mundo. E se é o lugar historicamente dito como das meninas é o da subjugação e domesticação e de liberdade e poder para os meninos.

Logo, esse modelo impacta diretamente a carreira das mulheres. Um olhar mais apurado acerca da relação mulher e mercado de trabalho cabe na discussão que Simone de Beauvoir traz na introdução do Segundo Sexo, a de que vivemos “uma igualdade abstrata e uma desigualdade concreta.”

O POVO - Como as mulheres podem construir uma mudança disruptiva?

Tânia - Toda mudança é disruptiva. Rompe com um modelo antigo e abre espaço para novas práticas discursivas. Eu defendo a tese de que toda mulher precisa escrever. Precisamos unir nossas vozes, nossas histórias, validar nossas ideias.

Toda narrativa feminina é importante. Como diz Elena Ferrante, “nenhuma linha deve se perder ao vento.” Viemos de séculos de silenciamento feminino. Em alguns países, mulheres ainda são impedidas de frequentar a escola. Caso do Paquistão que se tornou mundialmente público a partir do atentado contra a
Malala.

A grande mudança começa com mulheres assumindo o comando da sua narrativa. Só assim, ela sai da condição de objeto e assume a posição de sujeito, ou seja, alguém que fala por si.

O POVO - De que maneira as mulheres podem conquistar mais cargos de liderança no mercado de trabalho?

Tânia - Se desidentificando das narrativas que a colocam em lugares estigmatizados, saindo das caixinhas com etiquetas: “essa profissão é para homens”; “essa profissão é para mulheres”.

Mas como mentora de mulheres em três continentes, posso afirmar que não é fácil. Para avançar na carreira, a mulher trava uma luta interna e diária de desconstrução de narrativas que internalizou e que se impõem entre ela e a materialização do que tanto deseja.

Mulheres ocuparão mais cargos de liderança à medida que a sociedade se organiza para desmontar esses estereótipos e preconceitos acerca do lugar da mulher na sociedade.

Lembrando que empoderamento não é um processo individual de transformação social. É um trabalho do coletivo que impacta a vida de todos e que precisa do comprometimento não apenas das mulheres,
mas dos homens também. 

Mais notícias de Economia

Foto do Carol Kossling

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?