O que você (nem eu) sabia sobre a indústria da moda
Repórter do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste
O que você (nem eu) sabia sobre a indústria da moda
O que um desfile de roupas feitas com materiais reciclados por artesãs beneficiadas por um programa da Cagece e uma série de reportagens me ensinaram sobre moda e meio ambiente
Comprar roupas é muito difícil. As numerações são aleatórias, os tecidos desconfortáveis, tudo desgasta rápido e é caro. Ah! E tem o fato da indústria têxtil ser uma das mais poluentes do mundo. Detalhes.
No começo do mês, o Programa Reciclocidades, da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), fez um desfile de moda em comemoração dos 15 anos de existência e me fez refletir sobre moda e meio ambiente.
O projeto atua na geração de trabalho e renda para mulheres em situação de vulnerabilidade social, com cerca de 80 mulheres participando de oficinas para transformação de material reciclável em itens passíveis de comercialização.
Daí surgiu a Coleção Mosaico, com peças produzidas em parceria entre as artesãs do programa e estilistas cearenses. As roupas são um arraso e não devem nada ao mundo da grife francesa e italiana.
Enquanto admirava as fotos do desfile, lembrei de uma série de reportagens produzidas pela jornalista Juliana Aguilera e publicadas na Carta Capital. A Juliana fala sobre a pauta ambiental e direitos sociais com muita propriedade, e com as matérias aprendi sobre o impacto da moda na poluição mundial.
Afinal, por mais que a gente imagine que têm noção do impacto das coisas que usamos no mundo, sempre falta um pedaço da história.
Eu tinha noção de como o descarte de roupas cria ilhas de lixo, principalmente em países do Sul Global e que por isso era interessante comprar menos e trocar mais. Eu sempre usei roupa usada da família, com orgulho.
Mas eu não sabia como a indústria da moda usa e abusa de combustíveis fósseis. De acordo com o Índice Global de Transparência da Moda, 1,35% do consumo global de petróleo vai para produção de fibras sintéticas, como poliéster, lycra e poliamida. Achou o número pequeno? “É mais do que a Espanha consome desse combustível fóssil em todos os setores econômicos”, indica matéria da Juliana no ClimaInfo.
Estamos diariamente vestindo plástico, sem nos preocupar com o descarte dele depois de um ano ou dois anos de uso — quando essas roupas começam a ficar podres e inutilizáveis.
Como se não bastasse, investir dinheiro em uma roupa mais cara, de algodão talvez, ainda é arriscar financiar o desmatamento e a degradação ambiental. A Juliana resume aqui:
“O algodão tradicional e o algodão BCI [...] utilizam grande quantidade de agrotóxicos. Ambos são produzidos na rotação de commodities como milho e soja, são ligados ao desmatamento ilegal e à contaminação do meio ambiente e de pessoas.”
Se comprar roupas já é difícil pela imposição de padrões de beleza, o desafio é triplicado quando temos consciência ambiental. Mas é importante ter para encontrar possibilidades fora da indústria, enquanto ela é forçada a mudar.
Investir em pequenas costureiras e artesãs como do Programa Reciclocidades, frequentar mais brechós, trocar roupas com a família, comprar menos… Acho que é uma boa meta para 2025.
Outra meta bacana é manter o exercício fino — mesmo que doloroso — de pensar e pesquisar como as coisas ao nosso redor são produzidas. Talvez você não soubesse que veste plástico, ou que não é qualquer algodão que é sustentável. Agora você sabe. E com esse conhecimento, é possível transformar o mundo.
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