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Grandes ideias simplórias para salvar (?) o mundo
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Repórter do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste

Catalina Leite ciência e saúde

Grandes ideias simplórias para salvar (?) o mundo

Você já deve ter acreditado em alguma grandiosa ideia com premissa simples para salvar o mundo — o problema é que a maioria delas não é tão eficaz quanto gostaríamos
Tipo Opinião
Na foto aérea, os dois barcos (canto superior da imagem) arrastam uma rede pelo Oceano, em projeto de coleta de plásticos da organização The Ocean Cleanup (Foto: The Ocean Cleanup)
Foto: The Ocean Cleanup Na foto aérea, os dois barcos (canto superior da imagem) arrastam uma rede pelo Oceano, em projeto de coleta de plásticos da organização The Ocean Cleanup

A imagem de tartarugas com canudos de plástico profundos nas narinas gera comoção em qualquer alma minimamente empática. A coceira no fundo do cérebro, onde talvez fique a consciência, nos mobiliza por segundos a solucionar o problema do plástico. Há de existir uma maneira!

No ímpeto de salvar o mundo, surgem ideias aparentemente geniais. Tipo usar dois barcos e uma gigantesca rede para coletar toneladas de lixo do Oceano. Até pensarmos um pouquinho mais e concluirmos que, peraí, talvez não seja tão simples assim.

Foi o que o comediante e escritor Alex Falcone me fez perceber com o quadro “Isso é uma fraude? Yep. O quê? Certamente não eles! Infelizmente, também sim”.

Tirando o nome gigantesco (mas muito engraçado, vai), o vídeo é bem objetivo ao demonstrar como algumas soluções, na verdade, estão mais para ações bem bonitas — e só. É o caso da The Ocean Cleanup.

The Ocean Cleanup é uma organização ambiental de engenharia sem fins lucrativos fundada em 2013. A missão dela é extrair a poluição plástica dos oceanos, e um dos principais modos para tal é arrastar uma rede na superfície do oceano e recolher o plástico.

O que Alex destaca no vídeo é como a ideia, por mais interessante que pareça, há vários poréns no projeto. Primeiro, uma das principais causas de mortandade de vida marinha é, surpresa, o arrasto por redes. Segundo, no processo de arrasto, incontáveis algas e caracois marinhos morrem. E, adivinha, eles também são cruciais para o ecossistema.

Além disso, a medida não atua em micro e nanoplásticos, muito menos no plástico que já afundou. É uma bola de neve de problemas ambientais envolvendo uma ideia que deveria salvar o mundo.

@alex_falcone

is The Ocean Cleanup a scam?

original sound - Alex Falcone

Deixo o vídeo do Alex para mais detalhes. Trouxe este exemplo para estimular a reflexão constante e profunda do tipo de ideias que apoiamos e o quão realistas e benéficas elas são.

Nós amamos histórias grandiosas e de superação. Adoramos pensar que os problemas do mundo podem ser resolvidos com um estalar de dedos, com uma obra ou máquina gigantes, com alguma tecnologia imaginada em ficção científica; preferencialmente algo que não exija uma mudança individual ou de paradigmas.

Infelizmente, a realidade não é essa. Não existe ação sem impacto, mas existem aquelas menos danosas que outras. E, pode apostar, as com consequências menos drásticas geralmente são as mais complexas. São aquelas que incomodam e pedem por uma mudança global.

Nós não precisamos de grandes ideias simplórias. Precisamos de ideias complexas, às vezes pequenas, mas imensamente difíceis de aplicar.

Você sabe sobre o que estou falando: reduzir produção, reduzir consumo. Mudar nossa forma de organização econômica e social. Viu? Não precisei de muitas palavras para explicar, mas ambos sabemos que elas demandam muito mais do que uma rede e dois barcos.

“Ué, mas por quê não manter as grandes ideias simplórias ao mesmo tempo?” Escolhendo um entre mil motivos: porque elas custam dinheiro. Vale a pena gastar recursos e tempo em projetos danosos ou comprovadamente inúteis?

Tudo bem perceber que você ingenuamente caiu em um discurso maquiado de verde. Estamos sujeitos à enganação a cada segundo. Mas ativamente acreditar em mentiras ou meias verdades só porque elas são bonitas tem outro nome.

Qual? Bom, eu deixo a resposta com você.

Foto do Catalina Leite

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