Repórter do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste
Você já deve ter acreditado em alguma grandiosa ideia com premissa simples para salvar o mundo — o problema é que a maioria delas não é tão eficaz quanto gostaríamos
A imagem de tartarugas com canudos de plástico profundos nas narinas gera comoção em qualquer alma minimamente empática. A coceira no fundo do cérebro, onde talvez fique a consciência, nos mobiliza por segundos a solucionar o problema do plástico. Há de existir uma maneira!
No ímpeto de salvar o mundo, surgem ideias aparentemente geniais. Tipo usar dois barcos e uma gigantesca rede para coletar toneladas de lixo do Oceano. Até pensarmos um pouquinho mais e concluirmos que, peraí, talvez não seja tão simples assim.
Tirando o nome gigantesco (mas muito engraçado, vai), o vídeo é bem objetivo ao demonstrar como algumas soluções, na verdade, estão mais para ações bem bonitas — e só. É o caso da The Ocean Cleanup.
The Ocean Cleanup é uma organização ambiental de engenharia sem fins lucrativos fundada em 2013. A missão dela é extrair a poluição plástica dos oceanos, e um dos principais modos para tal é arrastar uma rede na superfície do oceano e recolher o plástico.
O que Alex destaca no vídeo é como a ideia, por mais interessante que pareça, há vários poréns no projeto. Primeiro, uma das principais causas de mortandade de vida marinha é, surpresa, o arrasto por redes. Segundo, no processo de arrasto, incontáveis algas e caracois marinhos morrem. E, adivinha, eles também são cruciais para o ecossistema.
Além disso, a medida não atua em micro e nanoplásticos, muito menos no plástico que já afundou. É uma bola de neve de problemas ambientais envolvendo uma ideia que deveria salvar o mundo.
Deixo o vídeo do Alex para mais detalhes. Trouxe este exemplo para estimular a reflexão constante e profunda do tipo de ideias que apoiamos e o quão realistas e benéficas elas são.
Nós amamos histórias grandiosas e de superação. Adoramos pensar que os problemas do mundo podem ser resolvidos com um estalar de dedos, com uma obra ou máquina gigantes, com alguma tecnologia imaginada em ficção científica; preferencialmente algo que não exija uma mudança individual ou de paradigmas.
Infelizmente, a realidade não é essa. Não existe ação sem impacto, mas existem aquelas menos danosas que outras. E, pode apostar, as com consequências menos drásticas geralmente são as mais complexas. São aquelas que incomodam e pedem por uma mudança global.
Nós não precisamos de grandes ideias simplórias. Precisamos de ideias complexas, às vezes pequenas, mas imensamente difíceis de aplicar.
Você sabe sobre o que estou falando: reduzir produção, reduzir consumo. Mudar nossa forma de organização econômica e social. Viu? Não precisei de muitas palavras para explicar, mas ambos sabemos que elas demandam muito mais do que uma rede e dois barcos.
“Ué, mas por quê não manter as grandes ideias simplórias ao mesmo tempo?” Escolhendo um entre mil motivos: porque elas custam dinheiro. Vale a pena gastar recursos e tempo em projetos danosos ou comprovadamente inúteis?
Tudo bem perceber que você ingenuamente caiu em um discurso maquiado de verde. Estamos sujeitos à enganação a cada segundo. Mas ativamente acreditar em mentiras ou meias verdades só porque elas são bonitas tem outro nome.
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