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PL da Devastação: Câmara quer transformar Brasil em Brumadinho e Mariana
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Editora-adjunta do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste

Catalina Leite ciência e saúde

PL da Devastação: Câmara quer transformar Brasil em Brumadinho e Mariana

PL 2.159/2021, conhecida como o PL da Devastação, foi aprovado na madrugada desta quinta-feira, 17, um dia antes do recesso parlamentar. PL é retrocesso da legislação ambiental e coloca em risco toda a segurança do País
Tipo Opinião
Nesta foto de arquivo tirada em 28 de janeiro de 2019, os bombeiros recebem equipamento para abrir um veículo encontrado na lama enquanto buscam as vítimas do rompimento da barragem em uma mina de minério de ferro pertencente à gigante mineradora brasileira Vale, perto da cidade de Brumadinho, estado de Minas Gerais, sudeste do Brasil. (Foto: Mauro Pimentel / AFP)
Foto: Mauro Pimentel / AFP Nesta foto de arquivo tirada em 28 de janeiro de 2019, os bombeiros recebem equipamento para abrir um veículo encontrado na lama enquanto buscam as vítimas do rompimento da barragem em uma mina de minério de ferro pertencente à gigante mineradora brasileira Vale, perto da cidade de Brumadinho, estado de Minas Gerais, sudeste do Brasil.

Por 21 anos, a Lei Geral do Licenciamento, muito diferente do que é agora, circulou pela Câmara dos Deputados. Na conhecida lentidão para tratar de temas que pouco favorecem o agronegócio e outras classes dominantes, o projeto de lei (PL) foi transformado em um Frankenstein que agora conhecemos como PL 2.159/2021 — o PL da Devastação. E ele foi aprovado.

Por 267 a 116 votos, o PL foi aprovado de madrugada, um dia antes do recesso parlamentar. Os deputados reuniram-se de forma híbrida, no típico conluio de quem sabe que o melhor é fazer às escondidas, enquanto todos dormem.

Foi durante o governo Bolsonaro que se acelerou a apreciação do PL 2.159/2021, ultrapassando todos os ritos adequados em ordem e tempo.

Nessa brincadeira — porque essa é a palavra que uso para definir o que deputados e senadores têm feito com o Brasil —, o projeto estabeleceu que atividades de agricultura e pecuária estavam dispensadas de licenciamento.

Que empreendimentos considerados de “baixo ou médio risco” (lê-se, boa parte dos projetos de mineração atuais) poderiam se autolicenciar. Que empresas não precisariam mais ter a outorga de recursos hídricos. Que terras indígenas e quilombolas ainda aguardando homologação e titulação poderiam ser ignoradas nos processos.

Sinceramente, é o sonho de todo ruralista e acionista de projetos que, hoje, devem seguir um processo firme de licenciamento ambiental. Se para os ambientalistas acordar nesta quinta-feira, 17, foi um desgosto, para a classe dominante é festa. Com lagostas e champanhe.

A sessão para a votação de propostas legislativas começou no Plenário da Câmara dos Deputados nessa quarta-feira, 16, e se estendeu até a madrugada do dia 17(Foto: Reprodução/YouTube/Câmara dos Deputados)
Foto: Reprodução/YouTube/Câmara dos Deputados A sessão para a votação de propostas legislativas começou no Plenário da Câmara dos Deputados nessa quarta-feira, 16, e se estendeu até a madrugada do dia 17

Lembro de estar na frente da televisão quando vi o crime ambiental de Brumadinho (MG). Aquela lama alaranjada estendendo-se pelo rio, pelas casas e pela floresta como mercúrio. Gente assassinada com a pele saindo do corpo, levando até a melanina embora.

Gostam de chamar o que houve em Brumadinho e em Mariana (MG) de tragédia, mas o nome é crime mesmo.

Se o PL da Devastação não for vetado pelo presidente Lula (PT) integralmente, ou se o Supremo Tribunal Federal (STF) não julgá-lo inconstitucional — afinal, é um claro retrocesso de direitos —, o Brasil virará Brumadinho e Mariana.

Há quem pense que é uma frase de efeito. Cuidado. Brumadinho e Mariana separam-se por apenas quatro anos. E nem só de lama se faz um crime ambiental.

Veja como deputados cearenses votaram o PL da Devastação

Dos 22 deputados federais do Ceará, seis votaram a favor do PL, sete votaram contra e nove estavam ausentes da votação. Partidos que recusaram o projeto foram o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT). A favor, União e Partido Liberal (PL).

O Partido Social Democrático (PSD) foi o único que não alinhou os votos dos deputados no Ceará. O deputado Célio Studart votou contra, já o deputado Luiz Gastão a favor. Veja como votaram os deputados:

Votaram SIM

  • AJ Albuquerque (PP-CE)
  • Dayany Bittencourt (União-CE)
  • Dr. Jaziel (PL-CE)
  • Fernanda Pessôa (União-CE)
  • Luiz Gastão (PSD-CE)
  • Moses Rodrigues (União-CE)

 

Votaram NÃO

  • Célio Studart (PSD-CE)
  • José Airton (PT-CE)
  • José Guimarães (PT-CE)
  • Leônidas Cristino (PDT-CE)
  • Luizianne Lins (PT-CE)
  • Mauro Benevides Fo. (PDT-CE)
  • Robério Monteiro (PDT-CE)

 

Estavam AUSENTES

  • André Fernandes (PL-CE)
  • André Figueiredo (PDT-CE)
  • Danilo Forte (União-CE)
  • Domingos Neto (PSD-CE)
  • Enf. Ana Paula (Podemos-CE)
  • Júnior Mano (PSB-CE)
  • Matheus Noronha (PL-CE)
  • Nelinho Freitas (MDB-CE)
  • Yury do Paredão (MDB-CE)
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