Editora-adjunta do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste
Enquanto Israel segue bombardeando palestinos, a Câmara dos Deputados deve votar o PL da Devastação a qualquer momento. Caso aprovado, PL marca o retrocesso da política ambiental brasileira
Foto: Eyad BABA/AFP
Israel já exterminou mais de 70 mil palestinos. Estudo de Harvard recém-publicado sugere que o número de mortos é maior, chegando a 377 mil palestinos — metade deles, crianças
Há dois tipos de postagens nas minhas redes sociais no momento: uma mobilizando o público para combater o Projeto de Lei (PL) 2.159/2021, ou o PL da Devastação; outra denunciando os consecutivos crimes de guerra de Israel e o genocídio na Palestina. Você deve se perguntar o que elas têm em comum.
Ocorre que entendo que o Brasil vive uma guerra ambiental. Assim como vejo as mães e os pais palestinos carregam seus filhos mortos — ou pedaços deles —, eu vejo povos indígenas e quilombolas assassinados com uma bala na cabeça. Vejo corpos de animais carbonizados no Brasil, assim como assisto aos vídeos de casas (e as pessoas enterradas nos escombros) também pegarem fogo.
Nos últimos dias, Israel matou dezenas de crianças e fuzilou centenas de palestinos enquanto eles procuravam comida e água. O povo de Gaza morre de fome e de sede porque Israel, em estratégia de guerra, enterrou rios, arrancou árvores e danificou cerca de 57% da infraestrutura hídrica de Gaza.
Do lado de cá, os rios assoreados ou contaminados com agrotóxicos também adoecem e matam os brasileiros humanos e animais. Comunidades tradicionais não podem mais mariscar e pescar nos mangues, porque tudo está morto ou desviado pela carcinicultura. Paira a fome e a insegurança alimentar.
Os correntões que derrubam árvores e bichos no Cerrado e na Amazônia, assassinando toda a vida que estiver no caminho, lembram os tratores de militares e de colonizadores sionistas destruindo os remanescentes das casas de Gaza.
Para alguns, a vida de um ser humano é superior à vida de uma planta ou de um animal. Talvez o genocídio não toque essa gente porque consideram o povo originário da Palestina, assim como diz o alto-comando de Israel, animais. Mas opiniões não apagam fatos.
Acho, sim, que o Brasil está em guerra contra a natureza e, por consequência, contra quem a protege. A jornalista Juliana Aguilera, em reportagem no ClimaInfo, descreveu bem porque o ambientalismo deveria se preocupar com a escalada colonialista, genocida e ecocida de Israel na Palestina.
Com o PL da Devastação, as empresas passam a dominar o processo de licenciamento ambiental. Se forem consideradas de "baixo ou médio risco", basta preencherem a Licença por Adesão e Compromisso (LAC), um formulário autodeclaratório, sem estudos prévios de impacto ambiental, nem medidas compensatórias.
O PL também retira a exigência do empresário de ter a outorga de recursos hídricos e dispensa o licenciamento de atividades de agricultura e pecuária. É literalmente a boiada passando. Os tanques de guerra brasileiros estão prontos.
Você pode acessar o site pldadevastacao.org para saber mais sobre o PL e enviar, em caráter de protesto, um e-mail para o presidente da Câmara, Hugo Motta.
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