44ª Mostra SP: Maturidade pessoal e reflexões coloniais no drama de guerra "Mosquito"
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
44ª Mostra SP: Maturidade pessoal e reflexões coloniais no drama de guerra "Mosquito"
Coprodução Portugal-Brasil-França apresenta trama de amadurecimento em plena guerra, optando por abordagem mais pessoal e tentativa de reflexões políticas e coloniais
A coluna está acompanhando a 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece de forma on-line em 2020. A maioria dos filmes poderá ser adquirida a partir desta quinta, 22, por R$ 6. Para seguir nossa cobertura, confira as postagens por aqui e também as edições imprensas e o Instagram do Vida&Arte!
Partindo da participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial, "Mosquito", de João Nuno Pinto, apresenta um jovemsoldado que se perde, sozinho, em Moçambique. Entre realidade e alucinações, precisa enfrentar uma série de desafios e questões. A obra portuguesa está disponível on-line na programação da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Então colônia portuguesa, Moçambique recebeu inúmeros militares do País para defender as terras de invasões alemãs em meio ao conflito. Apesar desse cenário geral, o longa se desenrola mais pelo lado silencioso e reflexivo da guerra. Muito devido, inclusive, ao fato de que Zacarias acaba ignorado e esquecido pelo próprio pelotão após contrair malária.
A partir deste contexto insólito destinado ao personagem, as fronteiras entre fatos e alucinações vão se borrando, bem como a própria noção de linearidade do filme. As experiências sensoriais e visuais mais soltas lembram até o longa brasileiro "Sertânia", de Geraldo Sarno.
Zacarias, na ânsia de servir ao poder português, procura grandes batalhas, mas, no lugar delas, encontra desafios que vão da necessidade de tomar responsabilidade pelas próprias ações a encontros intensos com habitantes locais. Cada passo e momento vivido pelo personagem liga-se de maneira forte e inevitável a questões coloniais, raciais e políticas.
Um dos encontros mais significativos neste sentido é o que acontece quando o soldado é preso por um grupo de mulheres moçambicanas que se comunicam numa língua própria e vivem numa dinâmicamatriarcal. É uma sequência narrativa longa e que coloca em campo debatescentrais para uma história como essa. Questionando em português “onde estão os homens” do local, Zacarias exige a elas que seja libertado por ser um “homem branco”.
O filme parece crítico às estruturas, mas não desenvolve propriamente respostas a elas. Ele mesmo, em essência, reforça as mais que comuns narrativas que partem do ponto de vista do homembranco e colonizador.
Em meio à jornada pessoal de Zacarias, há a construção de momentos que sugerem pretensas lições aprendidas pelo personagem referentes às tensões coloniais evidentes daquelas relações, mas latentesao olhar colonizador. O desenrolar destes momentos resvalam em culpa e tentativadeconciliação. São, em si, tentativas do próprio filme de minimamente dar conta do tema.
Mostra SP
Quando: das 20 horas de 22 de outubro até 4 de novembro Onde: filmes disponíveis na Mostra Play Quanto: cada filme custa R$ 6. É possível adquirir somente por cartão de crédito com bandeiras Visa ou Mastercard. Cada longa comprado fica disponível na biblioteca do usuário por até três dias e, a partir do momento que se comece a assisti-lo, são 24 horas para terminá-lo Mais informações:www.44.mostra.org
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