João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
A procura por elaborar o cenário de ascensão da extrema-direita e os contextos que permitiram que ele se estabelecesse no Brasil são as motivações primeiras dos documentários brasileiros “Tentehar - Arquitetura do Sensível”, de Paloma Rocha e Luís Abramo, e “#eagoraoque”, de Jean-Claude Bernardet e Rubens Rewald. Disponibilizados on-line na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, os filmes partem de terrenosirmanados para trilhar caminhosdiferentes.
“Tentehar” chega ao público pouco tempo depois de outro documentário dirigido por Paloma e Luís, “Antena da Raça”, ter sido lançado. A produção anterior parte de um corpus específico - uma série de arquivos de um programa apresentado pelo cineasta Glauber Rocha, pai de Paloma, em 1979 e 1980 - para tecer comentários e correlações entre aquele momentohistórico do País e os desenrolares mais recentes. Já o novo filme se dedica totalmente ao contexto contemporâneo, variando entre registros de diferentes manifestações e outros momentos políticos que orbitam as eleições presidenciais de 2018.
Sem seguir uma linha cronológica organizada, a produção passeia por tempos e locais distintos, indo do Maranhão, com reflexões do povo Guajajara sobre a vitória de Bolsonaro, à vigília Lula Livre em Curitiba, passando por Brasília no dia da posse do novo presidente e por São Paulo, em registro que acompanha a ida do autor João Silvério Trevisan ao local de votação dele no dia do segundo turno. Trabalhando em cima destes registrosdiversos entre si, o documentário busca tecer reflexões sobre paixões políticas, ideologia, aflição pelo futuro, resistência.
“#eagoraoque” também nasce de inquietudes relacionados ao contexto político no qual o Brasil se envolveu nos últimos anos. Bernardet, pesquisador e crítico de cinema importantíssimo para o cinema brasileiro, não somente assina a direção da obra, mas aparece também como ator. Aqui, a divisão é entre registros documentais e fictícios que tentam dar conta de questões como “como agir politicamente hoje? e “é possível mudar as coisas, as pessoas, a sociedade?”, para citar duas que compõem a sinopse do longa.
No entanto, o protagonismo de fato vai para o filósofo Vladimir Safatle. Figura conhecida, ele foi colunista de grandes veículos de mídia, acumula participações na televisão e é referenciado como uma vozintelectualimportante da esquerda no País. “#eagoraoque”, porém, opta por tensionar as contradições do personagem - e do que ele representa, nomeadamente um grupo branco, privilegiado, acadêmico e distante - em embate com pautas e realidades na qual a vivênciaprática desponta.
No filme de Bernardet e Rewald, sequências obviamente encenadas, outras menos identificáveis, performatividades e registros de entrevistas e falas públicas proferidas em diferentes contextos compõem um mosaico que representa os desafios de organizarresistências. Enquanto isso, “Tentehar” parte em busca respostas para entender o contexto e, daí, intentar mudá-lo. Elaborando cenários comuns de forma distinta, ambos os filmes esbarram nas dificuldades de avançar para além do discurso - um pela representação, o outro pela constatação.
Mostra SP
Quando: até 4 de novembro Onde: filmes disponíveis na Mostra Play Quanto: cada filme custa R$ 6. É possível adquirir somente por cartão de crédito com bandeiras Visa ou Mastercard. Cada longa comprado fica disponível na biblioteca do usuário por até três dias e, a partir do momento que se comece a assisti-lo, são 24 horas para terminá-lo Mais informações: www.44.mostra.org
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