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44ª Mostra: formas de elaborar politicamente
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

44ª Mostra: formas de elaborar politicamente

Documentários brasileiros "Tentehar - Arquitetura do Sensível" e "#eagoraoque" são frutos do intrincado emaranhado político contemporâneo do Brasil
Tipo Opinião
Filósofo Vladimir Safatle em cena de '#eagoraoque', filme de Rubens Rewald e Jean-Claude Bernardet (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Filósofo Vladimir Safatle em cena de '#eagoraoque', filme de Rubens Rewald e Jean-Claude Bernardet

A procura por elaborar o cenário de ascensão da extrema-direita e os contextos que permitiram que ele se estabelecesse no Brasil são as motivações primeiras dos documentários brasileiros “Tentehar - Arquitetura do Sensível”, de Paloma Rocha e Luís Abramo, e “#eagoraoque”, de Jean-Claude Bernardet e Rubens Rewald. Disponibilizados on-line na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, os filmes partem de terrenos irmanados para trilhar caminhos diferentes.

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“Tentehar” chega ao público pouco tempo depois de outro documentário dirigido por Paloma e Luís, “Antena da Raça”, ter sido lançado. A produção anterior parte de um corpus específico - uma série de arquivos de um programa apresentado pelo cineasta Glauber Rocha, pai de Paloma, em 1979 e 1980 - para tecer comentários e correlações entre aquele momento histórico do País e os desenrolares mais recentes. Já o novo filme se dedica totalmente ao contexto contemporâneo, variando entre registros de diferentes manifestações e outros momentos políticos que orbitam as eleições presidenciais de 2018.

Documentário de Paloma Rocha e Luís Abramo, 'Tentehar - Arquitetura do Sensível' está na 44ª Mostra
Foto: divulgação
Documentário de Paloma Rocha e Luís Abramo, 'Tentehar - Arquitetura do Sensível' está na 44ª Mostra

Sem seguir uma linha cronológica organizada, a produção passeia por tempos e locais distintos, indo do Maranhão, com reflexões do povo Guajajara sobre a vitória de Bolsonaro, à vigília Lula Livre em Curitiba, passando por Brasília no dia da posse do novo presidente e por São Paulo, em registro que acompanha a ida do autor João Silvério Trevisan ao local de votação dele no dia do segundo turno. Trabalhando em cima destes registros diversos entre si, o documentário busca tecer reflexões sobre paixões políticas, ideologia, aflição pelo futuro, resistência.

“#eagoraoque” também nasce de inquietudes relacionados ao contexto político no qual o Brasil se envolveu nos últimos anos. Bernardet, pesquisador e crítico de cinema importantíssimo para o cinema brasileiro, não somente assina a direção da obra, mas aparece também como ator. Aqui, a divisão é entre registros documentais e fictícios que tentam dar conta de questões como “como agir politicamente hoje? e “é possível mudar as coisas, as pessoas, a sociedade?”, para citar duas que compõem a sinopse do longa.

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No entanto, o protagonismo de fato vai para o filósofo Vladimir Safatle. Figura conhecida, ele foi colunista de grandes veículos de mídia, acumula participações na televisão e é referenciado como uma voz intelectual importante da esquerda no País. “#eagoraoque”, porém, opta por tensionar as contradições do personagem - e do que ele representa, nomeadamente um grupo branco, privilegiado, acadêmico e distante - em embate com pautas e realidades na qual a vivência prática desponta.

No filme de Bernardet e Rewald, sequências obviamente encenadas, outras menos identificáveis, performatividades e registros de entrevistas e falas públicas proferidas em diferentes contextos compõem um mosaico que representa os desafios de organizar resistências. Enquanto isso, “Tentehar” parte em busca respostas para entender o contexto e, daí, intentar mudá-lo. Elaborando cenários comuns de forma distinta, ambos os filmes esbarram nas dificuldades de avançar para além do discurso - um pela representação, o outro pela constatação.

Mostra SP

Quando: até 4 de novembro
Onde: filmes disponíveis na Mostra Play
Quanto: cada filme custa R$ 6. É possível adquirir somente por cartão de crédito com bandeiras Visa ou Mastercard. Cada longa comprado fica disponível na biblioteca do usuário por até três dias e, a partir do momento que se comece a assisti-lo, são 24 horas para terminá-lo
Mais informações: www.44.mostra.org

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