Um dos principais nomes do cinema italiano é uma cearense. Nascida em Uruburetama e filha do político Soares Bulcão e de Hosana Sousa Bulcão, Florinda Soares Bulcão ganhou o mundo sob o nome Florinda Bolkan. Despontando no final dos anos 1960, trabalhou com importantes nomes do cinema italiano como Luchino Visconti, Elio Petri e Vittorio De Sica. Para marcar os 80 anos de Florinda, comemorados na segunda, 15, o V&A revisita a trajetória da artista e passagens dela pelas páginas do O POVO.

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Na edição de 21/6/1972, por exemplo, o percurso de êxito da atriz era destaque. Àquela altura, Florinda já havia chamado a atenção pela participação pontual em "Os Deuses Malditos" (1969), de Luchino Visconti, atuado no premiado "Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita" - vencedor no Oscar e no Festival de Cannes - e vencido dois troféus de Melhor Atriz no David di Donatello, a principal premiação do audiovisual da Itália.

A matéria, que destacou Uruburetama como "o berço de uma das mais famosas estrelas do cinema contemporâneo, que contracena com astros famosos como Richard Burton ou Kirk Douglas", narra os percursos da atriz. "Florinda ficou no Ceará até os 17 anos. Depois, Rio de Janeiro para 'aprender inglês e melhorar de vida'. (...) Aprendeu mais o francês e, num concurso, conseguiu um lugar na Varig onde chegou a inspetora de vôos e encontrou o caminho da Europa", narra o texto.

Ela adentrou os circuitos do maior polo cinematográfico da Itália em 1968 depois que "descobriu e foi descoberta pela que viria a ser sua fada madrinha, a condessa Cicogna que a apresentou a Viscontti (sic) e abriu-lhe as portas do fechado clube dos ídolos de Cinecittà", segue a matéria. A condessa é Marina Cicogna, produtora com quem Florinda teve relacionamento amoroso por décadas. Prima de Luchino Visconti, ela fez a ligação entre os dois.

Em 1968 e 1969, Florinda fez pontas em sete filmes, tendo recebido um prêmio especial de atuação no David di Donatello por "Momentos Eróticos" e "Numa Noite… Num Jantar". Os dois troféus de Melhor Atriz viriam em breve por "O Anônimo Veneziano" (1970) e "Caros Pais" (1973). Ela foi a primeira vencedora estrangeira e uma das 15 atrizes multipremiadas no evento.

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A matéria de 21/6/1972 marcava o início da visita de Florinda ao Ceará. Na edição do dia 22, O POVO noticiava: "Entre 'flashes', luzes e aplausos da multidão que se aglomerou dentro e fora do Cine São Luiz, Florinda Bolkan - a menina de Uruburetama - foi recebida pelos cearenses (...)". Na exibição do sucesso "O Anônimo Veneziano" no São Luiz, "ela trazia nos lábios um sorriso rasgado, expontâneo (sic), que traduzia todo o contentamento de quem está matando saudades".

A "filha mais ilustre" de Uruburetama visitou também o município. O jornalista Edmundo de Castro, enviado à cidade, escreveu: "Aqui, como não poderia deixar de ser, tudo gira em torno desse acontecimento", reportou. A visita de Florinda chegou a fazer a festa do padroeiro São João, comemorada no período, "perder a importância".

Mais tarde, em 1976, Florinda voltou ao Estado natal com ainda mais sucessos na carreira, como "Amargo Despertar" (1973), "Flávia - A Freira Muçulmana" (1974) e "O Heróico Covarde" (1975). O POVO de 6 de abril resumia: "Florinda, o sucesso". A partir dos anos 1980, ela começou a atuar em produções do Brasil, com destaque para "A Rainha da Vida", minissérie da TV Manchete gravada em Aquiraz e onde contracenou com Fagner.

Nos anos 1990, um novo desejo se impunha: dirigir e roteirizar uma história cearense. Foi o que ela dividiu ao Vida&Arte em 14/2/1997, em entrevista à jornalista Christiane Viana. "Tinha que ser no Ceará (...). Eu gosto da idéia de vir pro Ceará, que eu amo, e mostrá-lo da maneira que eu conheço", destacou. "Eu Não Conhecia Tururu" foi lançado em 2000 no Festival de Gramado.

Longe das câmeras por quase 15 anos, retornou com "O Sonho de Uma Família" (2019). É fácil encontrar matérias recentes sobre Florinda em veículos jornalísticos italianos. Os assuntos tratados variam entre memórias do apogeu e atualizações da situação da atriz.

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Hoje, ela divide a vida com a princesa Anna Chigi e dedica-se a um empreendimento turístico nos arredores de Roma. Uma impressão constante é a simplicidade da artista - traço que, como registra O POVO, a atriz traz consigo há décadas: "Como foi que ela chegou a ocupar lugar tão importante no cinema europeu? Essa é a pergunta que frequentemente me fazem", escreveu em 15/7/1977 o jornalista Hermenegildo de Sá Cavalcante. "As causas mais remotas do seu sucesso podem estar nesta sensibilidade (...), na sua determinação e, paradoxalmente, na sua simplicidade", tentou desvendar.

Florinda Bolkan em fotos e fac-símiles de edições do O POVO:

Florinda Bolkan em 5 filmes

"Os Deuses Malditos" (1969)

No drama de Luchino Visconti, a atriz faz apenas uma participação. Foi o cineasta, porém, quem ajudou Florinda a conseguir os primeiros papéis, sendo uma espécie de "padrinho" artístico

"Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita" (1970)

Florinda é uma das personagens centrais do filme de Elio Petri, que venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e também foi premiado no Festival de Cannes

"Amargo Despertar" (1973)

Florinda protagoniza o penúltimo filme de Vittorio de Sica que fala de uma história de amor de uma mulher doente. Pelo papel, ela recebeu reconhecimento de associações de crítica dos EUA

"Eu Não Conhecia Tururu" (2000)

O filme marcou a estreia da artista na direção e roteiro. Nele, ela se voltou ao Ceará, contando a história de quatro irmãs que se reencontram no casamento de uma delas

"O Sonho de Uma Família" (2019)

O drama familiar de uma menina que sonha que os pais voltem a ficar juntos marcou o retorno de Florinda Bolkan ao cinema depois de quase 15 anos sem atuar. O filme está disponível para aluguel ou compra na Apple TV, Now, Google Play e YouTube