"Pedro": projeto de curta produzido na Comunidade de Santa Filomena abre financiamento coletivo
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
"Pedro": projeto de curta produzido na Comunidade de Santa Filomena abre financiamento coletivo
Cineasta e fotógrafo Leo Silva lança campanha de crowdfunding para o curta "Pedro", um filme baseado em memórias das brincadeiras de rua na comunidade do Grande Jangurussu
Canos, pedrinhas e bolas de encher são alguns elementos que constituem as brincadeiras daquelas meninas e meninos que ocupam as ruas para se divertir. É a partir deste cenário identificável e nostálgico que se constrói “Pedro”, novo projeto de curta-metragem do realizador e fotógrafo Leo Silva. Mergulhando em memórias pessoais da infância na Comunidade de Santa Filomena, no Grande Jangurussu, em Fortaleza, o artista propõe contar uma história que é sobre ele, mas também sobre tantas outras e outros. A partir de hoje, 30, o curta entra em campanha de financiamento coletivo para arrecadar recursos para concretização, pagamento da equipe e, também, doação de parte do valor ao projeto social Meninos de Deus, que promove o desenvolvimento através do esporte.
O mote do roteiro foi a crônica “Futebol de rua, cano, bola de encher e carimba”, escrita pelo próprio Leo. “Ela surge em meio a um devaneio. Estava em um processo de pensar sobre minha infância e comecei a escrever me remetendo aos meus amigos da época, muitos dos quais não estão mais vivos”, divide à coluna.
O texto literário descreve uma cena de várias brincadeiras infantis que é interrompida pelo aparecimento de “fardados” que, com armas que não são de “brinquedo”, fazem os meninos “com artefatos de cano” correrem.
“A gente brincava de polícia e ladrão, carimba, bila, futebol. Uma das que mais tinha era mesmo polícia e ladrão e, enquanto a gente estava brincando, do outro lado acontecia o real”, relaciona o diretor.
A intenção no curta, porém, não é dar ênfase a situações de violência ou tensão, mas sim focar na memória, nas brincadeiras e no cotidiano do personagem principal. “Não tive uma infância prolongada porque tive que trabalhar, mas os poucos momentos que vivi estão rascunhados na memória e nos pensamentos, então vez ou outra mergulho na saudade de estar brincando, rever a galera”, compartilha.
Apesar da proposta do projeto vir de lembranças pessoais, Léo explica que ele não é necessariamente autobiográfico. “É um mergulho interno, mas tentando dar outro sentido dentro do filme”, elabora.
É como ajuda a elucidar a produtora Vitória Helen: “O filme busca retratar essa vivência de brincadeiras de rua e afetividade com o espaço e por mais que o cenário seja a comunidade do Santa Filomena, algumas dessas coisas perpassam a vida de boa parte das pessoas que moram em bairros de periferia”, aponta ela, que é moradora do Curió.
Outro aspecto relevante na relação de identificação é que, no curta, a grande maioria da equipe é formada justamente por residentes da região do Grande Jangurussu e outras periferias da Capital. “Algo que nós nos preocupamos muito com relação às produções audiovisuais, em geral, é como o trabalho está inserido no espaço. Temos um cuidado de trazer uma narrativa o mais aproximada possível da realidade, demonstrando o cotidiano do bairro”, explica Vitória.
O elenco é formado por Veronizia Sales e Pedro Nunes, que representam mãe e filho no curta, além de já terem sido fotografados por Leo em um projeto anterior. “Fotografar a comunidade e conversar com a galera faz com que eu fique à vontade para propor que eles sejam os atores. Tanto eles quanto a equipe se viram nessa narrativa, conhecem meu trabalho e, quando propus, acharam supermassa”, conta o diretor.
“Fizemos umas cenas (para a campanha de financiamento) e foi muito massa. Eles não têm contato com teatro ou algum tipo de encenação, mas conseguiram se soltar. São pessoas que estão se colocando para ser atores que trazem alguma conexão com as vidas delas no real”, destaca Leo. “O roteiro e as lembranças partiram de mim, mas não são mais só meus”, resume o cineasta.
Objetivos da campanha
A partir de hoje e até o dia 16 de agosto, estará no ar a campanha de financiamento coletivo do curta “Pedro”. A meta inicial do crowdfunding é arrecadar R$ 8.800 em esquema “tudo ou nada” — ou seja, é necessário atingir o valor para que os recursos sejam repassados.
A intenção desta primeira meta é pagar despesas de pré-produção, por exemplo, mas também haverá doação de parte do que for arrecadado para os Meninos de Deus, projeto social que atende adolescentes e crianças em vulnerabilidade social no Grande Jangurussu.
A iniciativa foi apresentada recentemente em outro filme dirigido por Leo Silva, o documentário “Uma História de Amor, Esperança e Fé”. Uma segunda meta, esta flexível — não inviabilizada caso não seja atingida —, é chegar a R$ 18 mil para despesas de produção, pós-produção e doação.
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