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Mostra de Tiradentes: vencedores do Ceará a Minas Gerais
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Mostra de Tiradentes: vencedores do Ceará a Minas Gerais

Dirigido por Pedro Diógenes, cearense "A Filha do Palhaço" foi escolhido melhor filme pelo júri popular, enquanto o mineiro "As Linhas da Minha Mão", de João Dumans, foi agraciado pelo júri oficial
Tipo Análise
Equipe de
Foto: Léo Lara / divulgação Equipe de "A Filha do Palhaço", que venceu prêmio do júri popular na Mostra de Tiradentes

Depois de oito dias de programação dedicada ao audiovisual brasileiro independente — com exibição de 134 filmes de 19 estados divididos em 57 sessões, no total —, a 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes anunciou os filmes vencedores. Entre os longas, o destaque foi para "As Linhas da Minha Mão", de João Dumans, que venceu o Troféu Barroco de melhor filme da Mostra Aurora, concedido pelo júri oficial. Já pela votação popular, foi destacada a produção cearense "A Filha do Palhaço", de Pedro Diógenes. A cerimônia se desenrolou na noite do último sábado, 28.

A Mostra Aurora é formada por longas-metragens realizados por cineastas cuja carreira ainda está no começo, com até três produções no formato na filmografia, e que tragam questões estéticas e narrativas que apostem em experimentações. O longa de Dumans, por exemplo, é um documentário experimental que apresenta reflexões da atriz Viviane de Cassia Ferreira sobre arte e loucura. 

Entre os sete longas selecionados para a Mostra Aurora em 2023, havia a coprodução Ceará-Rio de Janeiro "A vida são dois dias", de Leonardo Mouramateus, diretor e roteirista fortalezense radicado em Lisboa. Além dele e do longa vencedor, também compuseram a mostra "Cervejas no Escuro" (PB), de Tiago A. Neves; "Peixe Abissal" (RJ), de Rafael Saar; "Solange" (PR), de Nathalia Tereza e Tomás von der Osten; "Vermelho Bruto" (DF), de Amanda Devulsky; e "Xamã Punk" (RJ), de João Maia Peixoto.

"As Linhas da Minha Mão", de João Dumans, venceu o Troféu Barroco da Mostra Aurora em 2023
Foto: divulgação
"As Linhas da Minha Mão", de João Dumans, venceu o Troféu Barroco da Mostra Aurora em 2023

Já o cearense premiado, "A Filha do Palhaço", é uma ficção que acompanha o reencontro de um pai e uma filha adolescente após anos de separação. Na trama, Renato (Démick Lopes) é um humorista que trabalha em churrascarias, bares e casas noturnas como a personagem Silvanelly. A obra foi exibida na Mostra Praça, que estabelece encontro direto entre o público e o cinema ao promover sessões a céu aberto na cidade.

O espalhafato da personagem interpretada por Renato nos palcos se contrapõe aomal jeito do homem na lida com a filha Joana (Lis Sutter), uma adolescente com quem ele teve pouco contato ao longo do crescimento e que surge na casa dele para passarem uma semana juntos. O filme tem no elenco, ainda, nomes como Ana Luiza Rios, Jupyra Carvalho e Jesuíta Barbosa.

A vitória do longa de Pedro Diógenes concedida pelo voto popular na Mostra de Tiradentes deste ano traz um aspecto simbólico de ligação entre as trajetórias do próprio diretor e a do evento mineiro.

Em 2010, o longa cearense "Estrada para Ythaca" foi vencedor da Mostra Aurora na 13ª edição do festival. A obra tem direção de Pedro em parceria com Guto Parente, Luiz Pretti e Ricardo Pretti e a vitória do filme do Coletivo Alumbramento na época despontou como um dos principais paradigmas da produção contemporânea de audiovisual do Ceará.

Da vitória por uma produção experimental e de risco com "Ythaca" para o triunfo concedido pelo público de "A Filha do Palhaço" — ressaltando o potencial de ligação dele com as plateias, dado relevante para a carreira comercial do longa, que tem previsão de estreia em 2023 —, esse percurso depõe, naturalmente, sobre a diversidade da produção de Pedro, que seguiu e segue realizando obras de maneira independente e/ou com apoio de investimentos públicos e explorando potenciais da linguagem.

Depõe, também, acerca da multiplicidade do próprio cinema cearense, vista ainda pelas presenças constantes de filmes do Estado na competição de Tiradentes ao longo dos anos: "A Colônia", de Virgínia Pinho e Mozart Freire, em 2022; "Rodson ou (Onde o Sol não Tem Dó)", de Cleyton Xavier, Clara Chroma e Orlok Sombra, em 2021; "Canto dos Ossos", de Petrus de Bairros e Jorge Polo, e "Cabeça de Nêgo", de Déo Cardoso, em 2020; "Tremor Iê", de Elena Meirelles e Lívia de Paiva, para citar poucos e somente longas.

A presença da produção do Estado neste ano foi ainda mais robusta, com não somente os dois longas citados, mas também oito curtas espalhados em diferentes mostras do evento. "Lalabis", da diretora  Noá Bonoba, e "KENZO ou o triunfo da auto-desintegração", dirigido por Pedrokas, disputaram a Mostra Foco, principal do formato em Tiradentes.

Leia também | Confira matérias e críticas sobre audiovisual na coluna Cinema&Séries, com João Gabriel Tréz

Além deles, foram também exibidas "Quinze Primaveras", de Leão Neto, na Mostra Praça; "Do Tanto de Telha no Mundo", de Bruno Brasileiro, e "Soberane", de Wara, na Mostra Panorama; "Barra Nova", de Diego Maia, na Mostrinha; e "As lavadeiras do Rio Acaraú transformam a embarcação em nave de condução", de kulumym-açu, e "Mecanismo", de Isaac Morais, Gabriel Lima e Maria Beatriz, na Mostra Formação. 

Entre os curtas premiados, "Remendo" (ES), de Roger Ghil, despontou com o troféu do júri oficial e o Prêmio Canal Brasil de Curtas. A votação popular, por sua vez, premiou "Nossa Mãe era Atriz" (MG), de André Novais Oliveira e Renato Novais de Oliveira, da produtora Filmes de Plástico — conquista que destaca, por sua vez, a produção mineira, que já vinha forte da premiação em 2022 de "Sessão Bruta", de As Talavistas e ela.ltda.

O júri oficial da edição de 2023 foi formado pela montadora e cineasta Cristina Amaral; a cineasta e professora Dácia Ibiapina; a pesquisadora e professora Ester Marçal Fér; o jornalista e pesquisador GG Albuquerque; e o crítico, pesquisador e professor Luiz Carlos Oliveira Jr.

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