Como a agricultura urbana, tema de curtas lançados no Cine São Luiz, pode mudar Fortaleza
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Foto: Reprodução / Still
"Semeando nas Dunas" traz experiências comunitárias da prática da agricultura urbana na Sabiaguaba
O processo de semeadura perpassa concreta e simbolicamente os dois curtas da produtora cearense Mar de Fogueirinha que têm lançamento nesta quarta, 29, a partir das 13 horas, no Cineteatro São Luiz. "Semeando nas Dunas" e "Ruderal" trazem exemplos de experiências de agricultura urbana em Fortaleza, indo do ato de plantar de fato ao simbolismo de disseminar outras ideias de relação com a Cidade, as comunidades, o capitalismo e o consumo.
Dirigidos por Camilla Osório de Castro e Rafaela Sawaki, os filmes terão exibição gratuita, além de debate com as realizadoras. A ação tem foco em estudantes da rede pública de Fortaleza, mas é aberta ao público.
Aproximando a ideia comumente ligada a regiões rurais com o espaço de uma cidade, a agricultura urbana é uma prática que busca estabelecer novas formas de consumir, cuidar e se relacionar, ligando-se à sustentabilidade e à coletividade.
Com formação em Engenharia Química e atuação em educação ambiental, Rafaela é adepta da prática na vida pessoal e, pelo desejo de tratar do tema pelo viéseducacional, criou o projeto dos curtas. A partir de contatos que acumulou tanto na prática da agricultura urbana quanto na atuação ambiental — Rafaela participou de ONGs da área e se aproximou de agricultores urbanos de Fortaleza após conhecer o conceito durante mestrado na Universidade de Campinas —, ela foi conhecendo as pessoas que viriam a ser as protagonistas dos filmes.
Em "Semeando nas Dunas", são destacadas histórias e figuras do territórioda Sabiaguaba, onde a agricultura urbana é prática comunitária em essência, fruto de saberes ancestrais compartilhados entre gerações. Já "Ruderal" traz relatos de três homens que se associaram à prática por desejos de mudar as próprias vidas e as de quem os cercam.
"Sinto um desejo muito grande de todas as pessoas que eu conheci que trabalham com agricultura urbana de estar em comunidade, em coletividade, de aprender uns com os outros", relata Camilla. "Ela é uma forma que as pessoas encontram de autocuidado, cuidado com o mundo. Que ações fazem Fortaleza poder ser sustentável, de fato uma cidade habitável, com ar puro, água limpa, saneamento básico, frutas e verduras que não estejam com veneno? A gente traz a agricultura urbana não como salvadora, mas como algo que pode fazer parte desse processo", complementa Rafaela.
Foto: Reprodução / Still
Curta "Ruderal" apresenta três histórias de praticantes de agricultura urbana em Fortaleza
O caráter coletivo da prática se destaca, na visão de Camilla, no simbolismo de um cajueiro citado em "Semeando nas Dunas". A árvore fica em via pública, mas é fonte comunitária, por exemplo, de adubo para as plantas dos moradores. "É em uma grande praça que todo mundo frequenta. Há essa relação comunitária de que você tem coisas que são de todo mundo. As plantas são de todo mundo, o cuidado é compartilhado", conta.
Compartilhamento, inclusive, é palavra-chave para o projeto — que, além dos dois filmes já produzidos, tem um terceiro em desenvolvimento, focado em experiências da região do Jangurussu e do Barroso. No compartilhar, está inserida, ainda, uma intençãopedagógica basilar.
"A gente sempre pensou neles com carátereducativo. É até uma discussão no cinema, muitas vezes se chama um filme de 'didático' como algo pejorativo, mas eles nasceram desse desejo e dessa demanda de compartilhar conhecimento, que encontram eco nas falas das pessoas com quem a gente conversou", relaciona Camilla.
"As histórias conectam pessoas. A partir do momento que escuta histórias, a gente consegue se conectar muito mais do que se fosse um vídeo informativo sobre o que é, como se produz e quais as técnicas da agricultura urbana. Histórias têm poder muito maior de transformar", dialoga Rafaela.
Até por isso, a oportunidade de exibição dos curtas no CineteatroSãoLuiz para estudantes da rede pública de diferentes bairros de Fortaleza é celebrada pelas diretoras. "O cinema tem a possibilidade de multiplicar, compartilhar, e é algo que a gente também faz em comunidade na hora que se senta na sala de cinema para assistir junto. O lugar do formativo é fundamental para o que esses projetos se propõem a ser e respeita muito o que aprendi com a agricultura urbana: o potencial subversivo e transformador de pequenas realidades", aponta Camilla.
"Quantos mais pessoas sabem que essa prática existe, que essas pessoas estão em Fortaleza fazendo diferente, é uma forma de fortalecer o movimento, faz mais pessoas conhecerem e poderem testar em casa. Cada um começa da forma que dá e pode ir transformando a sua pequena comunidade. Quem sabe isso não leve a proporçõesgrandes?", vislumbra Rafaela.
O que é
De acordo com as equipes dos curtas, a agricultura urbana (também conhecida como doméstica) é aquela realizada em espaços de casas em área urbana onde o principal cultivo é de frutíferas, hortaliças, temperos e ervas medicinais, seja para consumo próprio ou doação e troca entre a comunidade.
Exibição de "Semeando nas Dunas" e "Ruderal", seguida de debate
Quando: quarta, 29, a partir das 13h30
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500, Centro)
Entrada gratuita, mediante apresentação de documento com foto
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