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"Asteroid City" se equilibra entre o emocional e o cerebral
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

"Asteroid City" se equilibra entre o emocional e o cerebral

Novo filme de Wes Anderson, "Asteroid City" reflete sobre criação artística e traumas a partir de refinado exercício metalinguístico
Tipo Notícia
Jason Schwartzman e Scarlett Johansson são alguns dos nomes que compõem o grande elenco do longa
Foto: divulgação Jason Schwartzman e Scarlett Johansson são alguns dos nomes que compõem o grande elenco do longa "Asteroid City", de Wes Anderson

"Asteroid City não existe. É um drama imaginário criado expressamente para esta transmissão. Os personagens são fictícios; o texto, hipotético; os eventos, uma fabricação apócrifa; mas juntos eles apresentam um relato autêntico do funcionamento interno de uma produção teatral moderna". Estas são algumas das falas da cena inicial de "Asteroid City", novo filme do cineasta Wes Anderson. Em preto e branco, a sequência mostra um homem em um palco, mas que se dirige diretamente à câmera, consciente do objeto que o registra.

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A maior parte do que se vê enquanto progressão narrativa no filme, porém, nem se apresenta esteticamente como este segmento inicial, nem se limita a este olhar aos bastidores de uma criação artística. O longa dá mais espaço e tempo para apresentar as tramas da peça teatral citada pelo "mestre de cerimônia", trazendo-a ao primeiro plano.

Estes primeiros momentos do longa já indicam, de partida, as camadas metalinguísticas que o estruturam: em resumo, ele é um filme que começa com uma transmissão televisiva fictícia sobre o processo de produção de uma peça teatral também fictícia dentro daquela ficção que, por sua vez, é o núcleo central do próprio filme.

Pode soar confuso — e não deixa de sê-lo de início —, mas "Asteroid City" consegue se equilibrar bem entre as escolhas mais "cerebrais" de formato e o lado emocional, que inclui não somente dramas humanos relacionáveis que passam por luto e trauma, mas também um humor direto e acessível.

Camadas à parte, o filme foca em acompanhar um grupo diverso que compartilha experiências singulares na tal Asteroid City, uma cidadezinha do deserto dos EUA que quase não tem moradores e cuja vida ronda em torno da história que o local tem com a astronomia.

 

Esteticamente, os segmentos dedicados aos acontecimentos da cidade — ou seja, ao conteúdo da peça teatral referida no princípio — seguem as características mais marcantes da filmografia do cineasta, como uso de cores dessaturadas e simetria. Na estrutura, "Asteroid City" varia entre estes momentos voltados à esta trama e outros trechos que compõem a transmissão televisiva inicial que revela
o processo de criação daquela peça.

Na cidadezinha, convenção de jovens com interesse em astronomia é o mote para que figuras como a atriz Midge Campbell (Scarlett Johansson) e Augie Steenbeck (Jason Schwartzman) cheguem ali. Eles, assim como outros pais, levam os filhos para participarem do evento que inclui encontros com grupos de cientistas, um concurso por uma bolsa de estudos e a apresentação de descobertas e apetrechos ligados ao tema.

Augie é pai de Woodrow e das trigêmeas Andromeda, Pandora e Cassiopeia. Sozinho com os quatro filhos, ele precisa lidar não somente com a perda recente da esposa por conta de uma doença, mas, principalmente, com a necessidade de informar a prole sobre o falecimento da mãe.

Jason Schwartzman e Scarlett Johansson são alguns dos nomes que compõem o grande elenco do longa "Asteroid City", de Wes Anderson(Foto: divulgação)
Foto: divulgação Jason Schwartzman e Scarlett Johansson são alguns dos nomes que compõem o grande elenco do longa "Asteroid City", de Wes Anderson

Já o tímido Woodrow precisa lidar com o próprio processo de luto, a socialização com os outros jovens e as demandas do evento em si. Ele se aproxima, em especial, de Dinah, filha de Midge — que por sua vez aproveita a reclusão no local para aprofundar a preparação de uma nova personagem e, neste percurso, se aproxima de Augie.

As trocas e questões ligadas às relações humanas postas na dinâmica entre as personagens ocorrem de maneira ao mesmo tempo paralela e interligada a uma abordagem de ficção científica: a convenção de jovens astrônomos acaba virando palco de uma série de eventos transformadores para as crenças das pessoas ali presentes sobre o espaço sideral.

Tanto o jogo interno das camadas ficcionais quanto os diferentes níveis da trama, em consonância, trabalham em prol de uma elaboração proposta por Wes Anderson sobre a criação artística e as fronteiras difusas entre as ideias de "verdadeiro" e "falso".

"Asteroid City" acompanha um grupo diverso que compartilha experiências singulares em uma cidadezinha do deserto norte-americano (Foto: divulgação)
Foto: divulgação "Asteroid City" acompanha um grupo diverso que compartilha experiências singulares em uma cidadezinha do deserto norte-americano

Apesar de manter a cartilha estética que é marca da carreira, Anderson parece levá-la a níveis que ficam no limite da autorreferência e até de uma espécie de autoparódia. Levando a artificialidade característica ao extremo, o cineasta aprofunda as ideias que parece buscar com o longa.

Nas ficções dentro de ficções, "Asteroid City" constrói um universo específico com cenários, formas de agir e situações peculiares e artificiais, entre o exagero e a sutileza. Nele, cada elemento transparece ser meticulosamente calculado ao passo em que, também, dá vazão à imprevisibilidade do sentimento, da criatividade e da vida.

Asteroid City

  • De Wes Anderson
  • 105 minutos
  • Quando: sessões terça, 15, e quarta, 16, às 14h45min e 20h45min
  • Onde: Cinépolis RioMar (rua Lauro Nogueira, 1355 - Papicu)
  • Mais informações: @riomarfortaleza@universalpicsbr

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