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#Exposed e as delicadezas no Jornalismo
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

#Exposed e as delicadezas no Jornalismo

Tipo Análise

Casos de assédio sexual cujas vítimas são adolescentes foram denunciados, nas últimas semanas, por meio de redes sociais. O movimento teve vigor em Fortaleza, disseminou-se pelo Interior e alcançou várias cidades pelo País. Unida pela tag (etiqueta virtual) #exposed, a mobilização reuniu casos de abuso sexual, assédio e agressões. A imprensa cearense vem noticiando as histórias há dias. Como se trata de tema sensível, é preciso mais atenção ao expor sem promover mais uma vitimização.

Esse é um dos pontos. As histórias precisam ser contadas na imprensa com cuidado, porque servem de alerta para que outros casos sejam reconhecidos e a situação de assédio não seja naturalizada.

O POVO está contando a história há cerca de duas semanas, desde quando o caso virou um dos mais comentados no País, na rede social Twitter, com o #exposedfortal, quando a Polícia passou a investigar um grupo de rapazes que estaria compartilhando fotos íntimas de moças sem o consentimento delas. Os casos se estenderam para denúncias de professores de escolas particulares do Estado, que estariam assediando alunas. Várias mensagens dos docentes enviadas às estudantes foram expostas na rede.

Em obediência ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), não devem ser divulgados nomes de vítimas, agressores, supostos agressores e quaisquer envolvidos no caso que possam levar à identificação da vítima. O POVO tem respeitado isso, como avisa nesta reportagem: https://is.gd/XOL41f

Professores envolvidos no caso foram demitidos das escolas, que emitiram notas de repúdio contra o assédio e informaram da saída. Os nomes das escolas, no entanto, não haviam sido divulgados até então pelo O POVO - o que gerou questionamento por parte de leitores. Argumentaram se haveria conflito entre o comercial e o editorial do jornal, visto que muitas escolas particulares são anunciantes do jornal.

Escolas

Fernando Barreto escreveu: "Não posso deixar de compartilhar com você meu incômodo com a postura do jornal, que me parece recorrente nestes casos em que anunciantes de expressão são atingidos por manchetes policiais. Omitir o nome das escolas que tiveram seus professores demitidos por envolvimento nesse episódio passa a ideia para o leitor de falta de imparcialidade". Domingos Brasil enviou: "São escolas de grandes empresários de Fortaleza, os mais ricos colégios do Estado. É por isso que não aparecem no jornal".

Há um acompanhamento do caso pelo jornal. No domingo passado, reportagem do DOM teve como assunto o assédio, as dificuldades para procurar ajuda e o medo (https://is.gd/tNmlPj). Na semana que passou, houve matéria sobre casos na rede pública de ensino (https://is.gd/UAmiCP), além de matérias nas redes sociais. Editoriais e artigos sobre o assunto também foram veiculados.

É importante que o tema continue em pauta na mídia, principalmente neste confinamento, para mostrarmos formas de enfrentamento e denúncia. Jornalismo também é olhar em perspectiva.

Finalmente, a matéria com o posicionamento de seis escolas particulares cujos professores foram citados por adolescentes como agressores foi publicada no portal O POVO Online (https://is.gd/DOXOXf) na sexta 26/6.

Sobre a citação dos nomes, a diretora de Redação Ana Naddaf comenta: "Os nomes de denunciantes e denunciados (incluindo as instituições educacionais) não foram citados nas matérias em respeito ao ECA. Em algumas matérias, não publicamos o nome das escolas porque não havia denúncias diretamente contra as mesmas e para preservar a identidade das alunas. E em outras matérias, citamos os nomes das instituições, como na que traz o posicionamento de várias escolas particulares de Fortaleza, incluindo suas notas públicas de repúdio ao assédio ou informando a demissão de professores".

Ana lembra que o tema é transversal, mobilizou várias editorias e gerou várias discussões internas. Está sendo analisado como pode estar permanentemente na cobertura. E justifica: "O assunto é importante não apenas pelas denúncias de assédio, abuso e estupro, mas para tratarmos de uma cultura ainda machista, sobre objetificação do corpo feminino, o conceito de consentimento, sobre relação de gênero e limite e respeito com o outro, ainda mais no espaço virtual".

Situações como essa, de delicadeza e tensão, exigem um olhar muito mais cuidadoso do Jornalismo. Há vítimas expostas e julgadas enquanto escancaram traumas enormes. Ao mesmo tempo, quando se envolve qualquer instituição, exige-se uma cobrança a fim de amainar os efeitos e evitar que aquele mal seja reverberado. Não se trata de uma simplória exposição das escolas nem de uma suposta responsabilização. Lembremo-nos que é do Jornalismo informar, mediar e cobrar. É o que esperam de nós.

Foto do Daniela Nogueira

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