
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Dizem que viajar é bom porque conhecemos novas culturas, aprendemos com elas e voltamos renovados. Mas, no caso daquele amigo que se autointitula “Machista Normal”, viajar serve para confirmar que ele está absolutamente certo sobre tudo.
Marrocos foi um “ensaio antropológico”, como ele gosta de dizer entre uma tacinha de vinho e outra (sim, agora ele toma vinho porque “é cultural”). Voltamos ao Brasil com histórias de tapetes artesanais que quase comprou, camelos que quase montou e sem especiarias que certamente o deixariam com azia.
Ele ficou eufórico quando descobriu que tinha direito à sala VIP, aquele pequeno paraíso de sofás de couro sintético e refrigerantes liberados. Ele pesquisou, viu vídeos no YouTube e fez questão de chegar cinco horas antes do voo só para “aproveitar tudo o que está incluso”. Sim, cinco horas! Ele me arrastou junto, porque “a gente está pagando, então tem que valer a pena”.
A sala VIP do aeroporto marroquino é como qualquer outra, só que um pouco mais sofisticada. As pessoas fingiam estar acostumadas àquele ambiente com tapetes felpudos, luz indireta e poltronas que faziam o sofá da casa parecer um tamborete, mas o Machista Normal não fingia. Ele era uma criança no Natal.
O verdadeiro choque foi o buffet. Parecia um farto buffet de casamento, com pratos locais (sim! O cuscuz marroquino impunha sua onipresença) e internacionais. E o Machista Normal, que acredita piamente que a frase “coma à vontade” é um desafio pessoal, se jogou com entusiasmo.
Primeiro, ele começou com o básico: tâmaras recheadas com amêndoas. Uma, duas, três… Na décima, ele já estava dizendo:
— Tâmara é a uva-passa que deu certo. Vou levar algumas no bolso para o voo.
Mais adiante, encontrou o hummus, o babaganoush e o pão pita quentinho. Ele mergulhava o pão nos molhos como se estivesse fazendo um teste de qualidade.
— Isso aqui é o quê? Purê de grão-de-bico? Tá aprovado. Vou pegar mais. — Voltava ao buffet com o prato vazio em questão de minutos.
Experimentou também as tagines. Havia uma com cordeiro e ameixas, outra com frango e limão confitado. Ele se serviu como se estivesse alimentando uma família de cinco pessoas.
— Que carne macia! Isso aqui eles devem fazer na pressão, igual feijoada, não é possível.
E aí, entre uma mordida e outra, olhou para mim e disse:
— Sabe o que é? Eles oferecem tudo isso porque acham que o turista vai comer pouco. Mas eu sou brasileiro. Aqui, eles é que vão sair no prejuízo.
Tudo ficou ainda mais surpreendente quando descobriu uma ala com salgadinhos ocidentais, incluindo algumas improváveis iguarias brasileiras.
— Tem pão de queijo, meu Deus! Pão de queijo! E canudinho! — ele dizia enquanto empilhava pratinhos e taças de uma espécie de guaraná local numa bandeja improvisada.
Foi aí que uma moça brasileira se fez notar. Ela estava sentada em uma poltrona próxima, com um notebook no colo, fingindo trabalhar, mas claramente fascinada pelacena. O Machista Normal percebeu e deu um sorriso que ele considerava irresistível.Levantou o copo de suco de laranja como quem diz: — Saúde!
Ela devolveu o sorriso. Pronto. Ele tinha certeza: era paquera.
Para impressioná-la ainda mais, ele voltou ao buffet e empilhou mais pães de queijo no prato. Voltou para a mesa e mordeu o primeiro com elegância, arqueando o lábio superior e mostrando os dentes, dando uma piscadela para a moça.
Ela, agora abertamente olhando, riu. Ele não teve dúvidas. Limpou a boca com o guardanapo, se aproximou e disse:
— Vi que você estava me olhando.
Ela arqueou as sobrancelhas.
— Olha Tio, eu estava só tentando entender como você conseguiu comer 35 pães de queijo. Nunca vi ninguém fazer isso antes!
Eu, que assistia tudo de camarote, não consegui segurar o riso. Ele, sem saber onde enfiar a cara, murmurou alguma coisa sobre carboidratos serem importantes para viagens longas e voltou ao balcão.
— Não dá pra confiar numa mulher que conta pão de queijo. Isso é invasão de privacidade— me confessou na fila de embarque.
E assim, ele voltou para casa, com a barriga cheia e o ego um pouco vazio.
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