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A batalha de figurinhas
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

A batalha de figurinhas

Tipo Crônica
Arte coluna demitre (Foto: Carlus)
Foto: Carlus Arte coluna demitre

Não sei se já criaram, mas poderia ter uma "figurinha" com cara do Mourão e do Salles dentro da juba do mico-leão-dourado, na Mata Atlântica. Um coçando o outro. O general vice-presidente da República, voltado para a Amazônia, e o ministro do meio ambiente são os patuscos da semana.

Pensando bem, melhor não ridicularizar o Leontopithecus rosalia. Não vale o picaresco com o bicho por causa de um governo que enxerga na florestas e indígenas empecilhos para a agricultura e o garimpo. Um retrocesso. Mourão e Salles são toscos, mesmo. Não fossem, não seriam do derrisório bolsonarista.

Falei em "figurinha" porque nunca vi um recurso de linguagem tão ridículo, viciante e divertido. Sim, os puristas não toleram o que foge da língua encalacrada nos compêndios, normas e gramáticas. Adoro dicionários e já sinto falta de um que aborde a significância de responder com "caretinhas" e outros atalhos da glossolalia virtual.

Não são os emojis. Também os considero intrigantes e sou usuário desta droga, mas são enlatadas de prateleira. Também dizem muito da pessoa que está emitindo e de quem está recebendo, porém não têm a pulsação das figurinhas criadas no bate-pronto de uma conversa. Principalmente as do Ceará.

Falo das miúdas narrativas criadas, geralmente, num piscar de olhos por fabuladores online. Não é o même. É a figurinha mal cortada ali, metade imagem, metade palavra. E que se torna corriqueira e até pandêmica.

Vivo agora, feito abestado, a "favoritar" as mais expressivas. Como um colecionador de álbuns da Disney, dos cards das copas do mundo ou de qualquer besteira que a indústria cultural me obrigou a consumir e achar que fazia parte de minha vida de criança fuleira.

As figurinhas criadas pelos autores cearenses são enredos à parte. Hitler de mão e braço esticados e escrito, logo abaixo, "aidentu" ou uma bandeja de ovos brancos e a palavra, logo acima, "meus"... são de lascar o cano e se mijar de rir. Deliciosas na comunicação não formal.

 

São centenas dessas porcariazinhas engraçadas que reinventam o comunicar-se, atalham a escrita e substituem os diálogos “sérios”

 

Sim, são manjadinhas e repetidas. Feito a do craque argentino do Barcelona que pode iniciar uma batalha sem fim de figurinhas, mesmo que o interlocutor mande a imagem do meia-atacante e, em amarelo, o dizer: "Por favor, não CoMessi".

O bom dessa história é tentar "cascaviar" a personalidade dos dialogantes. Já vi coisas cabeludas e constrangedoras. Claro, elas são faíscas do pensamento de quem replica e estão no corpo conectado. Isso não é novidade, o nosso inconsciente deep-matrix está cheio de hordas tocando o terror e destilando preconceitos.

Também recebo "figurinhas" fofas "disparando" coraçõezinhos, beijos metralhantes e até pênis. Uma outra, repassei e me repreenderam. Cristo crucificado saltando da cruz como se estivesse praticando "bungee jumping" no atual Brasil. E na frase: "Pra mim chega". Rsssssssss!!!!!

São centenas dessas porcariazinhas engraçadas que reinventam o comunicar, atalham a escrita e substituem os diálogos "sérios" em áudios envelopados de distância.

A última que favoritei em meu glossário de coisinhas bestas foi o Bob Esponja vestido a cara numa flor rósea, com uma cestinha na mão e semeando folhas de cannabis. Sucesso total, meus amigos maconheiros me mandaram extensos kkkkkkkkkkk e uma mulher bolando de rir!!!!

São sensacionais, esses "silabários" digitais. Difícil resistir ao despautério e não complementar o alfabeto escrito e conjugado com esses registros rupestres do futuro. Imaginou, daqui a 100 anos os paleontólogos da língua encontrando os fósseis virtuais da Era Whatsaapiana?

Virei uma figurinha dessas e nem sabia. Estou dentro de um coração, rindo na minha feiura e segurando uma garrafa do extinto refrigerante Crush. Crush, quando fui menino no Porangabuçu, tinha também uma significância anal. Hoje, é o paquera ou a moça que se deseja correspondência e, ao menos, um beijo de língua.

Pois bem, pra gente ir cuidar do domingo, têm algumas figurinhas que são azarentas. Uma que nunca mais enviarei é a do parlapatão Bolsonaro vestindo a camisa do Fortaleza. Já não gostava dela e nas duas vezes que usei para frescar com alguém, o Leão do Pici perdeu para o Ceará. "Desfavoritei" sem conversa. 

Foto do Demitri Túlio

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