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Existe amor na Beira Mar?
Foto de Demitri Túlio
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

Existe amor na Beira Mar?

Tipo Crônica
2102demitri (Foto: 2102demitri)
Foto: 2102demitri 2102demitri

Cosmeticamente falando, a Beira Mar está com uma maquiagem linda. Daquelas que você fita e se agrada beaucoup com os contornos e retornos sedutores.

O desenho nouveau já se sobrepõe à memória da penúltima Beira Mar e só fotografias e a experiência dos mais vividos irão chafurdar saudades.

Na primeira vez que repisei a Beira Mar, depois do redesenho, pensei em Miami. Aquele sol branco na pupila de uma mãe-da-lua. Nunca fui lá, é vero. Só experimentei com Al Pacino em Scarface e seu perturbado Tony Montana.

Nada a ver com Miami. É a Beira Mar de Fortaleza, uma das esquinas mais belas do Atlântico. Não é estapafúrdio bairrismo.

Quem é parido num mar desse não pode dizer que é infeliz. É fortunoso, mas há avaros que se apossaram das dunas quando existiam ali, da praia e até da maresia.

Há alguns dias resolvi andá-la de ponta a ponta, na área retocada. Pra olhá-la no ínfimo e saber o que sinto, agora, pela outra Beira Mar.

Vi que amor ainda me arrebata por causa do mar grande, por causa do mar aberto que mete medo e vontade de ir com ele. Mas continua a sensação de que se fosse o mar, eu ia embora de Fortaleza.

E carregava a praia, o sol e a maresia juntos. Não é muxoxo. São anos de maus tratos, de juras sem verdade e, costumeiramente, violência degradável.

Olhando bem de perto, a reforma não beneficiou o mar nem quem nele habita ou voando nas águas. Foi boa para quem caminha, pra quem vende, para quem navega, para quem vem de fora, pra quem joga frescobol, para os hotéis...

 

A gente se acostuma e termina apreciando. Resmunga, rumina, pesa, pondera e, no final, se contenta com o que "dão". Vai ter até roda gigante! Não sei o que o mar pensa...

 

Foi boa até para os carros que terão uma via panorâmica exclusiva, de 40 km a velocidade, entre a praia, os pedestres e os ciclistas. Pra que mesmo esse desnecessário? Basta a já existente no paralelo dos hotéis e dos condomínios de luxo...

E o mar, naquela beira do mundo, pouco recebeu e terá de engolir mais lixo, mais coco e cocô, urina e fumaça.

Ficou bonita, mas ainda insustentável para quem perdeu a rebentação e área de espraiamento no aterro de vários donos.

Basta a gente andar e sair mapeando as novíssimas e caducas construções. Pensei que velhos problemas seriam saneados (a palavra é apropriada).

Ainda há ilhas em que o Município, não se sabe por qual motivo, nem tocou. Quer um exemplo? Em frente ao Ocean Palace, há um oásis de nins indianos, pés de castanholas e coqueiros.

Embaixo deles a reforma passou longe e grandes barracas com jardins agradáveis e saneamento precário continuam do jeito que eram antes. É um pedaço público "particular"?

Vários quiosques e restaurantes (barraca não é o sinônimo apropriado) ganharam outro desenho arquitetônico. Mas outros permanecem como dantes. E há neles uma entulhada de madeiras, camburões, tralhas, pias, coisas e regos...

Mudou, porém falta tanto! Está bonita, mas abocanhou um pedaço do mar. Há bosta de cachorro rico no plástico ou no tênis e a Cidade que se rebola no lixo ainda desce para o Atlântico.

A gente se acostuma e termina apreciando. Resmunga, rumina, pesa, pondera e, no final, se contenta com o que "dão". Vai ter até roda gigante! Não sei o que o mar pensa...

 


Foto do Demitri Túlio

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