Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Ainda irei à Parnaíba ver uma revoada de guarás. Passar duas horas desenhando a foto que vou cansar de olhar e achar a coisa mais bonita do mundo naquela sorte de encontro. Isso, para mim. Pois pode ser uma besteira para centenas de pessoas. E beleza!
Preciso dessa imagem nos olhos antes que eu tenha o azar da Covid me sumir num redemoinho repentino.
Boto a culpa no azar já que os dias passaram a ser desse jeito. Uma reza pela ventura, porque dificilmente me vacinarei contra o novo corona nesse ano e arrisco não estar aqui no 2022. Ficou mais incerta a providência.
Pode até acontecer. Depois do furacão Fachin-Lula e o efeito 2022 pressionando os cascos do fauno? Quem sabe?
Azar e sorte! Quem pode viver assim, meu São Longuinho? Depender de três pulinhos para futurar o alívio da gente reencontrar a vida, todo amanhecer, para mais 24 horas de espreita?
Tem gente que nem pensa nisso. Uns porque empancaram na cabeça um Deus que até vacina é. Passei a ter abuso de quem crê nessa entidade invisível - de qualquer credo - e fecha os olhos para quem defende arma e torturadores.
Eu rezo também, também me ajoelho num banco de igreja e me sinto bem. E acho que Santa Rita de Cássia me ajudou em algumas ocasiões extremas e em outras não veio em meu socorro. Tranquilo, um santo também deve ficar de saco cheio por ter de ser linha de frente numa pandemia.
Crer em Santa Rita de Cássia, em São Francisco do Cocó, em Nossa Senhora das Dunas, em Jurema do Mato, no Saci, na Cobra Coral é o corpo açoitado precisando se despregar do que é bruto e contamina.
Tem gente - feito o Tarcísio Matos no Albert Sabin, a Valéria Pinheiro no Ser Ponte e o Zé Cunha no Hospital das crianças do palato fissurado - que faço prece a eles pedindo graça.
São santos nem deuses, não. Mas fazem uma linha de frente parecida, aqui fora, com quem dentro dos leitos de Covid ressuscita os outros e, também, faz companhia pra morte alheia.
"Crer em Santa Rita de Cássia, em São Francisco do Cocó, em Nossa Senhora das Dunas, em Jurema do Mato, no Saci, na Cobra Coral é o corpo açoitado precisando se despregar do que é bruto e contamina"
É o que Lúcia Galvão disse pra mim, depois de ler uma entrevista com o secretário Cabeto, tem muito mais gente ajudando do que atrapalhando nesses meses de solidão e remédio para dormir.
É verdade, a pandemia nos embaça tanto o juízo que lemos a mesma entrevista e corremos só para o desespero. Tem esse povo todo sendo ponte para os outros.
Não está fácil. A morte chegou na sala de jantar e acuou todo mundo. Até essas pessoas que estavam ocupadas só em ganhar, em desmatar, em roubar, em torturar, em não vacinar...
Todo morto passou a ser de casa. De instante em instante, eles me chegam pra dizer que não estarão mais aqui na próxima Páscoa nem no próximo Clássico-Rei.
E é uma pena, seu Vavá! Sinto muito por seu filho Karlo levado sem sentido algum, nenhum. Não tenho como moer a dor do senhor, mas desejo paz em vossa paternidade.
"Painho... Vavá... Obrigado por tudo, as lembranças são as melhores coisas que vivemos juntos". Fique no abraço, Evaristo.
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