Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Nesse mambembe 7 de setembro que se foi, e que algum historiador terá de recontá-lo daqui uns anos quando pesquisar sobre o autoritarismo embusteiro do Capitano, fiquei pensando se patrulhei uma amiga querida.
Naquele amontoado verde e amarelo de gente livre suplicando pela volta de uma ditadura militar, uma amiga minha estava entre as arlecchinas, os pantalones, as brighellas e os dottores.
Numa foto, no shopping Aldeota - lugar do esquenta dos que marcharam contra a "corrupção de Dilma" em jornadas inesquecíveis na Praça Portugal, eis que a comadre parecia o Neymar fantasiado de patriota.
Lógico, amigo que sou da moça, não me contive e escrevi depois de receber a fotografia dela e de outros feitos de besta pelo Capitano movediço.
Fui pra cima. Perguntei o que havia acontecido para tamanha guinada às pautas do capitanismo fascista. Logo ela, ex-dirigente sindical de esquerda, pedir pela volta das senzalas e do Dops?
Não era possível que, de uma hora para outra, virasse a casaca e apoiasse os absurdos em que o país se meteu mais ainda no pós-golpe constitucional falocêntrico.
Ela também não me mandou flores. Cuspiu o amor ferido por Lula, mas não conseguia achar argumentos para desdizer absurdos. Disse que não defendia o Capitano e que seu voto seria do Ciro
Covid, negacionismo e morte de quase 600 mil brasileiros por falta de uma coordenação nacional. Vacinas atrasadas, mito do jacaré, imunidade de rebanho, o crime de Manaus, pregação contra o isolamento social, não à máscara.
E a inflação com o combustível pela hora da morte? A comida cara e os famintos com cartazes nos semáforos? Sem falar na energia elétrica que arrisca voltar ao querosene...
Perguntei também sobre as rachadinhas da família e do Queiróz? Se nunca leu sobre o derrame de dinheiro para o Centrão? E o escândalo das vacinas indianas e um dólar de propina por cada dose em milhões?
Tive de lembrar dos ministros da educação e o preconceito contra "deficientes" e pobres? O açoite à pesquisa científica? As armas em vez de feijão? As milícias? O pedido de fechamento do STF? Qual ácido ela havia bebido?
Era inacreditável tamanho cavalo-de-pau para berros antidemocráticos. Por mais ódio que tivesse ao também ao lamacento PT não justificava, três anos depois do caos instalado no Palácio do Planalto por um inepto, a mudança dela para o obscurantismo.
Pois bem, logicamente, ela também não me mandou flores. Cuspiu o amor ferido por Lula, mas não conseguia achar argumentos para desdizer absurdos. Disse que não defendia o Capitano e que seu voto seria do Ciro.
Minha amiga se render ao Capitano e ter ido para o mais antidemocrático dos 7 de Setembro! Nem o invasor dom Pedro I foi tão Pantaleão com as bestas do tempo dele
Também que não devia satisfação a mim nem a ninguém. E que era livre para se manifestar do jeito que quisesse e nunca reclamou do que eu escrevia. Verdade, mas nunca reportei contra a democracia nem a favor de intervenção militar.
Posso ter patrulhado a amiga, mas ela não é uma pessoa nefasta feito o Capitano. Vale tentar o resgate.
Um amigo de prédio, o Leopoldo, diz que admite um capitanista arrependido. Mas continuar apoiando a tentativa diária de implantação do autoritarismo de coice? Não, não.
Patrulhar os outros é horrível. Ainda mais que qualquer coisa vira um cancelamento ou uma polêmica idiota de rede social.
Tão assim essa história de patrulhar, que a Pablo Vittar levou bordoadas porque disse que "gostava de rola" e isso seria apologia ao "genitalismo". Porque há homens (trans) que não têm genitália masculina. Ok! Esse ponto de vista é novo para mim e alguém pode se sentir discriminado.
Só não é beleza minha amiga se render ao Capitano e ter ido para o mais antidemocrático dos 7 de Setembro! Nem o invasor dom Pedro I foi tão Pantaleão com as bestas do tempo dele.
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