Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Tinha quase certeza de que o general, com quem me relaciono há anos, ligaria durante o "corso de tanques" militares em frente ao Palácio do Planalto. "Corso" é palavra dele.
O problema, durante a conversa, é que o general não conseguia conter a risota. "Palhaçada, fantochada. Perdoem-me os clowns e a palhaçaria sagrada". E ria, descangalhadamente, feito um Pantalone diante de "tamanha parlapatice".
Sim, os pantalones riem quando são feitos de bestas pelos Zannis. "E imaginar", ressentiu o general se mijando de rir, "que votei num pacóvio desse?".
E desembestou a gargalhar sem freios por causa do "anedótico desfile bufão de tanques" das Forças Armadas.
"Jornalista", interrompeu o riso, "esse néscio não conseguiu desmoralizar o Exército quando foi um tenente medíocre. E, agora, está tendo êxito".
"E bradou feito um zombeteiro. "Ou as Forças Armadas retomam a dignidade ou irão sucumbir com Ele no chiqueirinho dos civis bocós, suspirou o cinco estrelas"
"O pior", meu amado repórter, "ele conta com conivência de oficiais superiores se submetendo ao cafona de uma coação canguinha. Nem para autoritário esse Coringa serve. E ainda expôs o mequetrefe de uma frota de blindados fumaçantes".
E voltou a rir abestadamente numa zombaria que eu, mesmo, fiquei constrangido. O general é um desses eleitores arrependidos que antes chorava, feito Pierrot, a cada esterco desfechado pelo mais mitômano dos presidentes da República.
Entre uma fala dele e uma descarga de graçola desmedida, o general reafirmou que a maior parte de sua vida foi devotada ao Exército brasileiro. E mais importante que o EB, apenas a finada mãezinha. Nem o pai, outro general histórico, nem o tataravô - um veterano da Guerra do Paraguai eram páreos.
Aqueles homens, vestidos de tanques, atravessando o monumento do comunista Niemeyer até Formosa "me deu dó", frescou enquanto punha um zíper nas gargalhadas.
O Exército, ressaltou o general do meu afeto, era outro antes da blague Pazuello e do Charlatão.
E bradou feito um zombeteiro. "Ou as Forças Armadas retomam a dignidade ou irão sucumbir com Ele no chiqueirinho dos civis bocós", suspirou o cinco estrelas.
"Não merecemos esse Il Capitano", me ensinou o general e corri ao dicionário na mesma hora. Ele nunca foi um capitão de farda e de fato. Quando o Exército o inocentou, em 1988, para o futuro, ele incorporou a farsa ao mito.
"Meu querido repórter, você acha que o finado general Tibúrcio e a tropa fariam parte daquele "corso de tanques" para entregar um convite a um truffaldino?"
No mundo militar, "Il Capitano" é aquele personagem fanfarrão. Um arrogante que constrói falsas verdades porque ninguém o conhece. E, fora da máscara, ele se revela um Truffaldino.
Veja, "o genocídio da Guerra do Paraguai, as torturas e o desaparecimentos de presos políticos da ditadura 64/85, por exemplo, me encabulam".
"Mas meu querido, o Exército tem um Lattes irretocável de serviços prestados. Vou recordar um episódio que está nos porões da história com reconhecimento miúdo. Deu-se no tempo da escravidão de gente negra no Brasil, deu-se em Fortaleza".
O 15º Batalhão do Exército foi punido por ser, quase todo, abolicionista entre 1881 e 1884. Foi quando estouraram as históricas Greves do Jangadeiros sob a lideranças do liberto José Luiz Napoleão, da negra Tia Simoa, do negro Francisco José do Nascimento e de outros trabalhadores do leva e traz de escravizados.
"Tão revolucionário esse brioso quartel que acabou transferido, a mando do Império, de Fortaleza para Belém do Pará. Você acha que o Exército não debelaria as duas greves?", questionou.
"Os fardas" criaram até o Clube Militar Abolicionista por conseguir enxergar a situação desumana e insuportável que não poderia mais perseverar no País. Praças e oficiais não moveram esforços contra a decisão dos jangadeiros de fechar o Porto de Fortaleza.
"E entre eles, estava o general Antônio Tibúrcio Ferreira de Souza e Pedro Borges. Borges era médico do Exército e, por castigo, foi transferido para o Rio Grande do Sul".
Meu querido repórter, você acha que o finado general Tibúrcio e a tropa fariam parte daquele "corso de tanques" para entregar um convite a um truffaldino?
"Só se fosse num entrudo. E não haveria general para galhofas". Ele mesmo respondeu.
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