Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Nem sei por que os chilenos e os forasteiros tinham tanta necessidade dos poemas derramados por Pablo Neruda. Não eram todos, mas a maioria desejava as palavras e as frases aladas que os livrasse da brutalidade. A precisão de não ouvir mais o que feria.
"Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever por exemplo, a noite está estrelada e cintilam azuis, os astros, desde longe".
Uma poesia simples, até besta, mas algo tão vigoroso contra a ruindade sangrada pelas ruas de Santiago e no mapa todo.
Ou alguém que não escreve o ululante. Morre o corpo, os pés deixam de ir, os olhos não se abrem mais, mas alguns textos atravessarão cada noite escura na muralha
Pode ser, os chilenos estavam gastos de tanta machadada do fauno Gabriel González e de uma repressão que nunca fará nenhum sentido.
E olhe que Neruda, a impressão que tenho - mesmo admirando muito do que escreveu, tinha um ego maior do que as vinhas do Chile e da França. Um senador da República que chegou a pensar ser mais importante do que a história.
Era também do andar de cima, mas tinha empatia e também escrevia com oposição e persistência.
A delicadeza deixou de nos visitar, exageradamente há três anos, foi se desmilinguindo com tanta grosseria e a promessa de mais malfazer
Era um Aquiles. Ou alguém que escreve o não ululante. Morre o corpo, os pés deixam de ir, os olhos não se abrem mais, mas alguns textos atravessarão cada noite escura na muralha contra os perigos das Terras do Inverno.
"O vento da noite gira no céu e canta. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu a quis, e às vezes ela também me quis". Neruda confundia quem reprimia.
A delicadeza deixou de nos visitar, exageradamente há três anos, foi se desmilinguindo com tanta grosseria e a promessa de mais malfazer. E não teve um freio que fosse bastante.
É a falta do verso de Neruda soprado em casa e nas portas dos barracos agora surgentes no meio de quem mais comeu na pandemia
Um homem que não gosta de ninguém (nem dele nem das mulheres), que banaliza o morrer indigno, que mais mente do que vive e, por último, destroça o juízo dos outros ameaçando de morte as crianças alheias.
É a falta do verso de Neruda soprado em casa e nas portas dos barracos agora surgentes no meio de quem mais comeu na pandemia.
Eram quase nada os versos de Neruda, mas se pedia para o senador declamar onde o vissem. Amor político e ainda bem que lírico. Num incômodo para os bárbaros. Pode ser uma ficção de esquerda, mas existiu repressão e eles sempre tentam ressuscitá-la.
Feito agora, mas há muita gente cansada de tanto "ataque dos cães". Daí a carência de algum verso de paparico, algum abraço com blandície
"Nas noites como esta, a tive entre meus braços. Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. Ela me quis, às vezes eu também a queria. Como não haver amado seus grandes olhos fixos".
"Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela. E o verso cai na alma como ao pasto o orvalho". Para irritar mais ainda, anos depois, Pinhochet. A maldade encontra corpos disponíveis.
Feito agora, mas há muita gente cansada de tanto "ataque dos cães". Daí a carência de algum verso de paparico, algum abraço com blandície. Varrer a malevolência sentada no Trono de Ferro da praça e invasiva em quase todos os vivos, os "matados", morridos também.
O amor não desdenha dos adoecidos nem dispara zaps com mentiras. Está na Bíblia
E para Regina Duarte e os crédulos que apoiam a perversidade, dolosamente, vou com o próprio verso de seus Evangelhos. Coríntios 13:4-7.
O amor é bondoso. Não maltrata, não manda matar nem se arma.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal.
O amor não desdenha dos adoecidos nem dispara zaps com mentiras. Está na Bíblia.
O amor não se alegra com a injustiça, mas gozará sempre com a verdade. Até pode perdoar o deslize, mas nunca a ruindade.
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