Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Daqui para o fim seria a terceira tentativa de crônica ou narrativa fora do padrão. Buscando a palavra, a frase luminosa, a imagem construída e a fala escrita como se tivesse ouvindo perto
O destino que se cumpriu, talvez, e ter amado com tudo. Ter sentido o calor de ser todo. Vou de Milton, Lô Borges e Venturini numa sexta que não amanheceu, o dia inteiro, por causa da chuva e uma madrugada de relâmpagos e trovoadas. Hoje já é domingo e amanhã segunda, depois terça, quarta... E lá se vão.
Sim, todo amor é sagrado e se alimenta de detalhes, de prazeres e desconstrói coisas. "Coisas" como sinônimo delirante de quando não encontro a palavra para falar de mergulhos amorosos e cotidianos.
A gente tange o amor a vida inteira para nos fazer companhia. Andar na rua encostados, comprar um mimo besta e terminar ou começar o dia com quem se bem quer. Dormidos em conchinha e mau hálito também. Há jeitos de não ser indelicado e atalhar os incômodos.
"É que a chuva molhou o texto porque havia muitos rios voadores na madrugada "
Depois que fui à Belém, molhada 24 horas, vi que sou do sol. Não sou nem do mar desmedido daqui. Solar mesmo, o calor de ter nascido debaixo dele e o ano quase todinho amorenado na parte descoberta do corpo. É que a chuva molhou o texto porque havia muitos rios voadores na madrugada.
A chuva não precisa afogar nada, nem conselhos de quem está fora nem palavras arremessadas feito boias marinheiras. Quando a saudade apertar não negarei. Vai, volta, encrua e torna. E, depois, voa passageira em borboleta. Encasula-se, rebenta e vira outra possibilidade para os amadores.
Confesso, à leitora e ao leitor, estou tentando pegar as pontas dessa crônica para amarrar uma narrativa pelo menos domingueira. Queria mesmo, era o texto sobrenatural e arrebatador na cara. Mas não é assim, não desce um cavalo toda vida.
"Daqui pra frente começa mais uma tentativa de crônica. Uma perseguição ao texto que não se pretende melancólico na transição nem no dia em que chora chuva"
Ainda mais quando a chuva deixa o céu anoitecido e tive de acender as luzes da cozinha e da sala de estar que virou uma Redação. Um dia sem sol, pra dentro, desesperador para quem mora nas beiras da Cidade gambiarra.
Daqui pra frente começa mais uma tentativa de crônica. Uma perseguição ao texto que não se pretende melancólico na transição nem no dia em que chora chuva. Não mesmo. São abraços e viagens de ventanias. A gente chora porque tem choro dentro e ele sangra açude.
Porque se chamavam sonhos e os sonhos não envelhecem e de tudo se faz canção. Em meio a tantos gases lacrimogênios ficam calmos, calmos, calmos, calmos...
"Os textos crônicos de sentimentalidades não são ridículos. Nem os de amor. É a disponibilidade do abraço na hora do encontro para a generosidade da leitura<br>"
O coração vai se desassombrando, mesmo sem nenhum nem o outro preso pelo visgo do olhar.
Foi ver o azul do mar pela primeira vez. E quando eu dei por mim nem tentei fugir. Sempre será amor.
Daqui para o fim seria a terceira tentativa de crônica ou narrativa fora do padrão. Buscando a palavra, a frase luminosa, a imagem construída e a fala escrita como se tivesse ouvindo perto.
"Estou indo comprar um sorvete, mesmo na chuva que não para e insistente. Vou olhar se acho alguma prosa pelas calçadas e nos bueiros cheios de lixo da Cidade mal-amada"
Os textos crônicos de sentimentalidades não são ridículos. Nem os de amor. É o estado de abraço na hora do encontro para a generosidade da leitura.
Estou indo comprar um sorvete, mesmo na chuva que não para e insistente. Vou olhar se acho alguma prosa pelas calçadas e nos bueiros cheios de lixo da Cidade mal-amada.
Fui atrás de açúcar, é verdade. Duas bolas de coco queimado, coco com alguma coisa aveludada dentro e as outras duas fico na dúvida.
"Estou indo comprar um sorvete, mesmo na chuva que não para e insistente. Vou olhar se acho alguma prosa pelas calçadas e nos bueiros cheios de lixo da Cidade mal-amada"
Tem pitanga? Não. Tem brownie, senhor! Agradecido. Estou abusado, o estômago está na repugnância. Deixou de aceitar tudo.
A crônica querendo brotar! Olha aí, no fim, a macumbaria da escrita. Feito o amor que rosna, aperreia, columeia, desanuvia, dá voltas, desapruma e toma tento de outros jeitos.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.